sábado, 3 de maio de 2014

São João Apóstolo e Evangelista.


Por Ana Maria Bueno.

"Atrevo-me a dizer que a flor das Escrituras são os Evangelhos e a flor dos Evangelhos é o de São João. Mas ninguém saberá compreender o seu sentido se não repousou no peito de Jesus e recebeu Maria como Mãe. Para ser João, é preciso poder, como ele, ser mostrado por Jesus como outro Jesus. Com efeito, se Maria não teve outros filhos além de Jesus, e Jesus diz a Sua Mãe: 'Eis aí teu filho', e não 'eis aí outro filho', então é como se Ele dissesse: 'Aí tens Jesus, a quem tu deste a vida'. Efetivamente, qualquer pessoa que se identificou com Cristo já não vive para si, mas Cristo vive nele (cfr Gal 2,20), e visto que nele vive Cristo, dele diz Jesus a Maria: 'Eis aí o teu filho: Cristo'"
(Orígenes - In Ioann. Comm. 19,26-27 - Bíblia de Navarra pag 1113)

São João, o Apóstolo, por El Greco c. 1600,
Museu do Prado, Madrid.
Se existe um apóstolo de Nosso Senhor que nos leva a amar os tempos apostólicos e reconhecer o valor de um testemunho, este é São João Evangelista. Como uma águia, ele percorre os mistérios divinos para nos revelar Jesus Messias, o Filho de Deus, que vem a este mundo, encarnado no seio da Virgem, para nos obter a vida eterna. São João com maestria, guiado pelo Divino Espírito de Deus, nos leva ao cume da divindade de Cristo, vislumbra a Verdade e a devolve para nós, os agora seguidores de Cristo, fazendo-nos crer e desejar ser também testemunhas fiéis e perseverantes deste Filho amado de Deus.

Foi o apóstolo que mais captou a essência de Deus e ao dizer: "Deus é amor", revelou um Deus que ama, que é misericórdia e que age na história dos homens, justamente porque o ama. Mostra-nos um Deus efetivo porque "Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único". João revela o amor concreto de Deus: Jesus Cristo, o Verbo que se faz carne e salva o homem decaído pelo pecado. Sim, Jesus nos amou e amou até o fim e nos convida a amar a todos "como Ele nos amou". Aqui se mostra - e João o faz muito bem - , a essência do Cristianismo: O pai que é amor, o Filho que corresponde a Ele se entregando como vítima de expiação e nós, que recebemos a graça, haveremos de responder também amando.

Sua pequena idade, seu amor a Jesus, sua intimidade com Ele e com sua Santíssima Mãe, - porque coube a ele leva-la para casa, quando Nosso Senhor foi crucificado -, a visita ao túmulo vazio, a visão do Ressuscitado, sua presença na transfiguração e o fato de ele mesmo se chamar de o "discípulo amado", fazem deste apóstolo uma inspiração para nós e motivo de louvores a Deus por dar tão grande graça a um homem, além de fazer dele um dos principais discípulos do Senhor e sua testemunha fiel.

João de Patmos, por Alonso Cano, 1640
São João era natural de Betsaida, cidade da Galileia, nas margens do famoso lago de Tiberíades. Era pescador, filho de Zebedeu e Salomé e tinha como irmão, Tiago, o Maior. João teve a graça de ter uma família envolvida com Cristo - disposta a servi-lo e amá-lo, tanto que o Evangelho de São Marcos mostra sua mãe prestando grande ajuda a Nosso Senhor, chegando com Ele até o Calvário. (Mc 15, 40-41). O exemplo dos pais, o ter sido discípulo de São João Batista e o coração de jovem, disposto a amar, aliado à graça de Deus, eram ingredientes fortes o suficiente para seu sim a Cristo e quando chamado por Ele não teve dúvidas: deixou tudo e O seguiu. Seguiu com ardor de menino, ardor de jovem, errando às vezes, mas manifestando ardentemente seu amor e desejo de mudança, tanto que teve afetos e aconchegos que a nenhum outro foi dado. 

A sua pequena idade lhe rendeu alguns contratempos com Nosso Senhor, mas nada que sua bondade e misericórdia não pudessem colocar no lugar tamanha petulância, afinal, foi por conta de seus arroubos de bravura, como querer mandar fogo do céu ou em não permitir que alguém que não andasse com eles falassem em nome do Senhor, que foi apelidado por Cristo, juntamente com seu irmão - como Boanarges - filhos do trovão. Mas sua docilidade no ouvir e em efetivamente crescer, tanto que vemos lendo seus escritos, a grandeza espiritual com que ele foi cumulado, fez de São João o apóstolo mais espiritual que nos mostra os santos Evangelhos e que finalmente teve a honra de em suas visões contemplar a Deus.

 Jesus, Nosso Senhor, deu a ele muitos motivos de verdadeira amizade e confiança, afinal, o próprio São João se designa o discípulo amado que se deitou em seus ombros, esteve com Ele em momentos especiais e, por último, o  fato de ter recebido a graça especialíssima de levar A Virgem Santíssima para casa. Tal como Cristo, conviveu intimamente com sua mãe, e com certeza, esta intimidade fez de São João este apóstolo tão amado, tão sensível aos mistérios divinos e em consequência, cresceu em santidade perseverando até o fim.

As Escrituras nos mostram que São João teve uma relação muito íntima com São Pedro, tanto que já o conhecia mesmo antes do chamado de Nosso Senhor. A preparação da Ceia Pascal lhes foi confiada (LC 22,8), e na noite da paixão, diz a Tradição que provavelmente é São João que introduz Pedro na casa do Sumo Sacerdote e são eles, que juntos vão ao sepulcro na manhã da Páscoa. Não podemos nos esquecer também que São João, num gesto de docilidade e reconhecimento de autoridade, quem permitiu que São Pedro testemunhasse primeiro a Ressurreição do Senhor ao ver o  sepulcro vazio. E foi São João, a reconhecer Jesus, na beira do lago, quando este já ressuscitado vem para o meio deles. Estar ao lado do chefe dos apóstolos, foi primordial para seu crescimento e para a condução de sua vida e de seus ensinamentos.

São João, escultura de Donatello.
São João é descrito por São Paulo como uma das colunas da Igreja de Jerusalém, onde teve papel importante na condução do primeiro grupo de cristãos. Juntamente com São Pedro, percorreu cidades, foi ao Sinédrio  para defender o poder e a veracidade de seu testemunho; esteve com ele também muitas vezes no Templo para rezar.  São João foi usado por Deus não para fundar comunidades, mas para levá-lo aos homens, "um verdadeiro comunicador da fé", como nos diz o Santo Padre Papa Bento XVI em uma de suas audiências (5 de julho de 2006)

A Igreja Oriental o chama de "o Teólogo", justamente por sua capacidade de mostrar de forma visível o invisível, de trazer ao homem de uma forma acessível, o belo, o santo, as coisas divinas. A devoção a ele se consolidou a partir da cidade de Éfeso, onde lá trabalhou  Teve construída em sua homenagem, pelo imperador Justiniano, uma basílica onde é muito venerado. É representado já em idade avançada em ato de profunda contemplação, como se convidasse a todos ao silêncio onde é possível se aproximar do mistério de Deus.

O amor é o grande tema desenvolvido por São João, justamente porque viveu ao lado dele e soube ver e compreender, pela graça de Deus, seu poder e manifestação real. São João em todos os seus escritos nos convida a todos a desejar a Deus, não O temer e ter total confiança de receber o perdão caso pequemos, afinal, foi ele mesmo que nos disse que se pecarmos, é bom que saibamos que temos um justo, um intercessor, um redentor, que nos perdoa sempre e que nos leva a Deus, pela sua bondade e misericórdia. Impossível  ler São João e não desejar ver a Deus.

Nosso Senhor ainda lhe dá uma graça especialíssima, ser o autor de um dos livros mais instigantes da Bíblia - o Apocalipse - e ele, ao contrário do Evangelho e de suas cartas, leva seu nome. Atesta sua fidelidade para podermos acreditar em sua verdade porque narrou coisas inimagináveis, mas reais, porque são inspiradas pelo próprio Deus.

São João estava em Patmos, ilha do mar Egeu, deportado "por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus (Ap 1,9), e fala às sete Igrejas da Ásia, que enfrentavam perseguições e dificuldades internas. Como um pai fala a elas com um zelo pastoral impressionante, solidificando sua fé e levando a todas a buscarem o bem, a justiça, a fidelidade a toda prova.

A figura impressionante que São João nos faz ver em Apocalipse é Jesus como Cordeiro de pé, como que imolado, diante do trono onde Deus está sentado. Esta figura nos mostra Jesus vencedor, porque já está ao lado do trono e tem todo poder em suas mãos, pois venceu a morte, violenta é certo, mas a venceu pela sua Ressurreição. Por isso apesar de imolado, está em pé e viverá para sempre porque todo poder lhe pertence.  Esta imagem não é um convite para que as comunidades e os homens resistam firmes na fé? Afinal, Cristo pela Cruz, pelo sofrimento, pela ressurreição vence a morte, e os seus, se fieis forem, vencerão também.

São João mostra também a Mulher vestida de Sol e perseguida, figura da Igreja e de Maria, ambas perseguidas pelo mundo e pelo demônio porque trazem Deus ao mundo. Eles os rejeitam para destruí-los, mas o poder e a mão de Deus está sobre ambos que, apesar de toda luta, vencerão ao final de todas as coisas. São João é o verdadeiro apóstolo da esperança na luta, porque viu a vitória e nos convida a dizer como ele "Vem! Senhor Jesus!


São João Evangelista - Rogai por nós!

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