Por Denilson Cardoso de
Araújo
A Lei da Palmada não
só é desnecessária, como é ruinosa para um país que vive crise sem precedentes
no trato com suas crianças e adolescentes.
"Alô? Aqui é a
Xuxa" foi a frase mais ouvida na quarta-feira, dia 16/10/2013, em Brasília.
Xuxa metralhou telefonemas aos integrantes da CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) da Câmara de Deputados. Tentava a aprovação do Projeto que, propagado
de forma nefasta como “Lei da Palmada”, já impõe ao imaginário popular caráter
coercitivo que não poderia ter, pois só projeto é.
Se você está
localizado no tempo e no espaço, saberá que a Xuxa é signo de triste modo de
televisar para crianças. Deu gerações estragadas na sexualização precoce e no consumismo
desenfreado. Individualismo black-bloc, não cidadão. Faz a sociedade clamar por
limites. Estragado o ontem, se quer agora demolir o amanhã.
Mas o prestígio da
apresentadora parece não ter sido suficiente para afrontar o jogo de chantagens
que é da rotina parlamentar. Arrancaram o tema da pauta. Mas, em Comissão
Especial, venceu por unanimidade. Foi a plenário. A polêmica o pôs na CCJ. Lá
aprovado, volta ao plenário. Repetindo-se o infeliz resultado, Senado.
Vencendo, se gabarita à sanção do governo autor da Lei. Há que resistir!
Pela péssima ideia,
alteram-se o ECA e o Código Civil, para vedar
“qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos
moderados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos”. O infrator da
'futura' norma será submetido a medidas de aconselhamento e orientação a pais e
a filhos previstas no Art. 129 do ECA.
O que ofende
profundamente na proposta, além da generalização que passa recado errado à
população (afrouxem!), é seu caráter populista. Imagina famílias ideais à
margem do conceito base que deve reger a elaboração legislativa. Lei é feita
para o cidadão médio. Eu o conheço. Nas
centenas de palestras aos pais, sempre faço a pesquisa. Ergam as mãos os
que foram educados com palmadas! Quase unanimidade. Quantos acham que lhes
foram úteis? A enxurrada de mãos se repete.
Equívoco, basear-se, a
proposta, no “Comentário nº 08” do Comitê dos Direitos da Criança, da ONU. Que
agrega países de analfabetismo famélico, nações que sangram rostos de meninos
ou promovem circuncisão de meninas. Visando coibir o mais grave, recorre-se ao
extremo. Para não sangrar crianças,
proíba-se a palmada! Ora! Generalização descabida, como a que faz a ONU
entender ser “criança”, o menor de 18 anos! E o tal documento diz que é
“'corporal' ou 'físico' qualquer castigo no qual força física é usada com
intenção de causar algum grau de dor ou desconforto, por mais leve que seja”.
Educação verdadeira,
que dá os tão reclamados limites, sempre é desconforto! Até dor. Em algum
momento, contenção física (segurar pelo braço, sacolejo veemente) se fará necessária.
Abomino socos, pontapés, chicotes, tamancos, varas de amoreira, fios elétricos,
panelas, pedaços de pau, arames, varas de bambu. Não falo de quebrar dentes,
provocar hematomas, arranhões, quebraduras. Crimes, covardias! Já vedados! A
lei brasileira, a par de proibir torturas, penaliza especificamente maus-tratos
a crianças e adolescentes. Impõe dever geral de garantir a “a integridade
física, psíquica e moral da criança e do adolescente”, “pô-los a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor” e de “qualquer forma de violência, crueldade ou opressão"
(arts. 17, 18 e 5º do ECA).
O Código Penal é
bastante para coibir abusos. O artigo 136 prevê detenção ou reclusão, conforme
o resultado do ilícito, a todo o que “abusar de meios de correção ou
disciplina”. E o art. 129 sanciona lesão corporal praticada contra
descendentes. Sempre com agravante se a vítima é menor de 14 anos.
Além disso, o poder
familiar é exercido na intimidade do lar, constitucionalmente garantida. Não
digo que dentro de casa tudo pode ocorrer, claro que não. Mas as vedações estão
postas, à farta. Abusos possuem remédios legais eficazes. A minúcia pretendida
remeterá ao arbítrio do intérprete o que é “moderação”. Porta do abuso
hermenêutico e da educação permissiva (tudo o que este país – desesperadamente
- não precisa!), levando-nos à seara suicida de achar que educação não pode
impor desconforto!
A dificuldade
(desconforto!) é que nos erige. Palma da mão em bumbum de criança é elemento
indispensável no arsenal pedagógico das famílias. Se será ou não usada é
história outra. Mas deve estar disponível. A Lei da Palmada não só é
desnecessária, como é ruinosa para um país que vive crise sem precedentes no
trato com suas crianças e adolescentes. Somos ridículos: por não dar palmadas
necessárias, acabaremos visitando filhos na prisão. Telefone para o seu
deputado. Se não ele só escuta a Xuxa.
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