sábado, 30 de agosto de 2014

E a Hóstia se faz carne.


Por Lizandra Danielle.

Era dia 18 de agosto de 1996, como de costume Pe. Alejandro Pezet foi para sua paróquia, no centro de Buenos Aires, para celebrar a Missa das sete da noite. Tudo estava muito bem, até quando uma mulher se dirigiu ao padre durante a comunhão e afirmou que havia encontrado uma hóstia em um candelabro da igreja, provavelmente se tratava de uma hóstia profanada. O padre foi até o local, recolheu a hóstia e a mergulhou em um recipiente com água, exatamente como as regras da Igreja ordenam. O recipiente foi guardado no sacrário da igreja para que a hóstia pudesse ser totalmente dissolvida.

Uma semana depois do ocorrido, no dia 26 de agosto o padre foi até a igreja para eliminar a água do recipiente onde a hóstia profanada tinha sido colocada. Ao abrir o sacrário uma surpresa, a límpida água que se encontrava no recipiente há uma semana se tornara um líquido avermelhado e a hóstia em uma massa sanguinolenta.

E outro fato incrível é que na época, o bispo de Buenos Aires, que acompanhou todo o processo de pesquisas em torno do milagre, era Jorge Bergoglio, atual Papa Francisco.

Provas científicas

As pesquisas então começaram a serem feitas. A conselho do bispo Bergoglio, fotos profissionais foram tiradas e a hóstia foi enviada a um laboratório da cidade. Dias depois saem os resultados das análises, a amostra tratava-se de:

a) Um pedaço de tecido miocárdio humano (tecido do coração);
b) Com presença de células vermelhas e brancas de sangue;
c) As células se mantinham vivas como se ainda estivessem no corpo humano.

Essas informações foram guardadas em segredo por três anos. Desafiando as leis naturais, a hóstia se manteve intacta, como se não fosse atingida pelos fatores físicos. E é importante ressaltar que nenhum produto químico ou armazenamento próprio foi usado com o intuito de evitar o processo de decomposição.

Dr. Ricardo Castañón Gómes
recolheu fragmentos para serem analisados
Em 1999 o Dr. Ricardo Castañón Gómes foi chamado para que as investigações fossem retomadas. Ricardo recolheu um fragmento da hóstia e enviou para um laboratório de Nova Iorque, Estados Unidos. Para não haver influência em relação ao resultado das análises, Dr. Ricardo não informou que a amostra se tratava de um fragmento de uma hóstia convertida em carne. Pouco tempo depois o resultado foi apresentado e para a confirmação de todos: o fragmento era parte do tecido muscular de um coração humano. Para maior espanto, mesmo depois de tantos anos, as células continuavam vivas como se ainda estivessem presentes em um corpo humano vivo.

A busca por respostas não terminou por aí. Em 2004 o Dr. Gomez contatou o Dr. Frederic Zugibe e pediu para avaliar uma amostra e percebeu-se que quanto mais se pesquisava, mais os resultados eram assustadores. A declaração do médico foi:

"O material analisado é um fragmento do músculo cardíaco que se encontra na parede do ventrículo esquerdo, músculo é responsável pela contração do coração. O ventrículo cardíaco esquerdo bombeia sangue para todas as partes do corpo. O músculo cardíaco tinha uma condição inflamatória e um grande número de células brancas do sangue, o que indica que o coração estava vivo no momento da colheita da amostra, já que as células brancas do sangue morrem fora de um organismo vivo. Além do mais, essas células brancas do sangue haviam penetrado no tecido, o que indica ainda que o coração estava sob estresse severo, como se o proprietário tivesse sido espancado."

Assustador!!

"Como e por que uma hóstia consagrada pode mudar seu caráter e converter-se em carne viva e sangue humano? Seguirá sendo um mistério inexplicável para a ciência, um mistério totalmente fora de minha competência". Dr. Zugibe

De fato, mais uma vez, se trata de um milagre eucarístico. Milagre este, que completa 18 anos, dia 26 de agosto.


Esse milagre ainda não foi comprovado pela Igreja, mas o processo já está sendo analisado e recebe o acompanhamento de Papa Francisco que o presenciou desde o início. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Mônica e Agostinho.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Dois santos admiráveis celebramos nessa semana: Santa Mônica (dia 27) e Santo Agostinho (dia 28), do século IV.

Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Região de Cartago, na África, filho de Patrício, pagão, e Mônica, cristã fervorosa. Segundo narração dele próprio, Agostinho bebeu o amor de Jesus com o leite de sua mãe. Infelizmente, porém, como acontece muitas vezes, a influência do pai fez com que se retardasse o seu batismo, que ele acabou não recebendo na infância nem na juventude. Estudou literatura, filosofia, gramática e retórica, das quais foi professor. Afastou-se dos ensinamentos da mãe e, por causa de más companhias, entregou-se aos vícios. Cometeu maldades, viveu no pecado durante toda a juventude, teve uma amante e um filho, e, pior, caiu na heresia gnóstica dos maniqueus, para os quais trabalhou na tradução de livros.

Sua mãe, Santa Mônica, rezava e chorava por ele todos os dias. “Fica tranquila”, disse-lhe certa vez um bispo, “é impossível que pereça um filho de tantas lágrimas!” E foi sua oração e suas lágrimas que conseguiram a volta para Deus desse filho querido transviado.

Agostinho dizia-se um apaixonado pela verdade, que, de tanto buscar, acabou reencontrando na Igreja Católica: “ó beleza, sempre antiga e sempre nova, quão tarde eu te amei!”; “fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós!”: são frases comoventes escritas por ele nas suas célebres “Confissões”, onde relata a sua vida de pecador arrependido.

Transferiu-se com sua mãe para Milão, na Itália. Dotado de inteligência admirável, a retórica, da qual era professor, o fez se aproximar de Santo Ambrósio, Bispo de Milão, também mestre nessa disciplina. Levado pela mãe a ouvir os célebres sermões do santo bispo e nutrido com a leitura da Sagrada Escritura e da vida dos santos, Agostinho converteu-se realmente, recebeu o Batismo aos 33 anos e dedicou-se a uma vida de estudos e oração. Ordenado sacerdote e bispo, além de pastor dedicado e zeloso, foi intelectual brilhantíssimo, dos maiores gênios já produzidos em dois mil anos da História da Igreja. Escreveu numerosas obras de filosofia, teologia e espiritualidade, que ainda exercem enorme influência. Foi, por isso, proclamado Doutor da Igreja. De Santo Agostinho, disse o Papa Leão XIII: “É um gênio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros de seu tempo”. Sua vida demonstra o poder da graça de Deus que vence o pecado e sempre, como Pai, espera a volta do filho pródigo.


Sua mãe, Santa Mônica, é o exemplo da mulher forte, de oração poderosa, que rezou a vida toda pela conversão do seu filho, o que conseguiu de maneira admirável. Exemplo para todas as mães que, mesmo tendo ensinado o bom caminho aos seus filhos, os vêm desviados no caminho do mal. A oração e as lágrimas de uma mãe são eficazes diante de Deus. E a vida de Santo Agostinho é uma lição para nunca desesperarmos da conversão de ninguém, por mais pecador que seja, e para sempre estarmos sinceramente à procura da verdade e do bem.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Perversão da adoção.


Por Carlos Ramalhete

Nada é mais cruel que crianças em bando, especialmente na escola. Afinal, uma das coisas que a escola – com seus uniformes, sua separação por idade etc. – ensina é a rejeitar o diferente. Uma criança que tenha qualquer diferença vai certamente sofrer bastante, por mais que professorinhas bem-intencionadas tentem lutar contra o “bule”, a chaleira e a leiteira. Esse comportamento, que já é parte da natureza humana, é exacerbado na escola.

Pois agora, além dos problemas de sempre – gordurinhas a mais ou a menos, cor de cabelo, espinhas, nomes estranhos... –, o STJ acaba de acrescentar mais um, ao fazer com que um pobre menino, já vitimado pelo medonho sistema de “abrigos” para órfãos, se veja com uma certidão de nascimento em que constam dois “pais”. Ele foi entregue em adoção formal a dois homens.

Família constituída por pai-homem, mãe-mulher e filho.
Uma cena cada vez mais atacada pelo Estado em seus excessos.
Os pais de uma criança já esticam ao limite seus poderes naturais ao criar empecilhos para os filhos. Conheço uma moça que há décadas (é, não é tão moça assim) tem de explicar que se chama Kristiany, com “k” no começo e “y” no fim.

Uma mãe até pode entregar seus filhos para que uma dupla de amigos do mesmo sexo ou uma comunidade religiosa ou hippie os crie. Ela vai estar criando uma dificuldade para a criança, mas ainda estará dentro dos limites de seu poder de mãe. Esticando-os, é verdade, mas dentro dos limites.

Quando o Estado o faz, contudo, não está mais agindo dentro de seus limites. O Estado não pode registrar como “mães” de uma criança todas as freiras de um convento em que ela seja criada, nem como “pais” uma dupla do mesmo sexo. Uma certidão de nascimento em que constem os nomes do pai e mãe adotivos é uma mentira piedosa, que serve para evitar constrangimentos.

Por outro lado, por mais que haja quem tente “desconstruir a família tradicional”, continua sendo biologicamente impossível ser filho de 20 freiras ou dois barbados. Uma certidão em que constem dois “pais” e nenhuma mãe – ou 20 “mães” e nenhum pai – é um absurdo patente, um abuso de autoridade por parte do Estado.


O Estado reconhece a família porque é nela que a vida é gerada. Um homem e uma mulher se unem, geram filhos e os criam, e é do interesse de toda a sociedade que isso funcione bem. Quando falta uma família, o Estado pode entregar a criança a outra família, que a adota como nela houvesse nascido. Conventos, comunidades hippies e uniões de pessoas do mesmo sexo, contudo, podem ser modos de convívio agradáveis para quem neles toma parte, mas certamente não são famílias. Isso é abuso, não adoção.

sábado, 23 de agosto de 2014

Governo do Brasil condena guerra na Faixa de Gaza, mas se omite diante do genocídio dos cristãos no Oriente Médio.


Por Ivanaldo Santos

Inicialmente é preciso deixar bem claro que toda forma de guerra e toda forma de violência e de negação da dignidade da pessoa humana precisam ser rejeitadas. No lugar das guerras e da violência é preciso criar uma cultura de paz e de convivência entre os contrários.

Realizado esse esclarecimento é preciso observar que o atual governo do Brasil, no campo diplomático, tem uma postura no mínimo dúbia. Isso acontece porque a diplomacia brasileira condena algumas guerras e, diante de violências e massacres de maiores proporções, simplesmente se cala e se omite.

Diante da atual ofensiva das formas de segurança de Israel a Faixa de Gaza o governo brasileiro emitiu uma nota oficial condenado “energicamente” a guerra e o “uso desproporcional da força” por parte do exército de Israel. Além disso, o governo brasileiro convocou o embaixador de Israel no Brasil para prestar esclarecimentos sobre os rumos dos combates e, por conseguinte, sobre as vítimas civis. Vários seguimentos da impressa nacional e internacional deram ênfase a postura tomada pelo governo do Brasil diante da guerra na Faixa de Gaza.

Em tese, a mesma postura deveria ter sido tomada pelo governo do Brasil diante do atual genocídio dos cristãos e de outras minorias étnicas e religiosas no Oriente Médio, especialmente na Síria e no Iraque.

A situação dos cristãos no Oriente Médio e de outras minorias (curdos, yazidis, etc), especialmente no Iraque e na Síria, nunca foi fácil. Trata-se de uma minoria religiosa e, muitas vezes, étnica. No entanto, até o final da década de 1990 essa minoria gozava de certa tranquilidade e, apesar de todas as discriminações, as comunidades cristãs viviam em relativa paz.

O problema se agravou a partir de 2003 com a invasão do Iraque por uma coalisão militar liderada pelos EUA. Grupos extremistas islâmicos viram essa invasão como uma forma do Ocidente ajudar os cristãos e, por causa disso, lançaram uma violenta onda de perseguição e morte a essa minoria. A situação piorou com a eclosão da guerra civil na Síria em março de 2011. A guerra civil na Síria trouxe a toma uma onda de violência extremista, de fundamentalismo islâmico e de perseguição aos cristãos.

A vida dos cristãos piorou ainda mais com o anuncio da criação do chamado Estado Islâmico (EI) no dia 30/06/2014. Os extremistas ligados ao Estado Islâmico e a outras facções fundamentalistas têm sistematicamente perseguidos os cristãos. Os cristãos são expulsos de suas casas, as mulheres cristãs são estupradas, milhares de cristãos foram enforcados, fuzilados e até mesmo crucificados. Tudo isso pelo fato dessas pessoas serem cristãs. As casas dos cristãos são destruídas, suas igrejas, mosteiros, conventos e outras estruturas religiosas são destruídos, padres são assassinados e freiras e monjas estupradas, crianças cristãs estão sendo vendidas como escravas ou obrigadas a se casarem com militantes extremistas. Os líderes do Estado Islâmico deram apenas três opções para os cristãos permanecerem em suas casas na região do Iraque e da Síria, sendo elas: a conversão forçada ao Islã, a morte ou então pagarem um imposto muito elevado pelo fato de não serem seguidores de alguma doutrina radical do Islã.

Até o presente momento não se têm, com precisão, os números de quantos cristãos foram assassinados e de quantos fugiram de suas casas e comunidades. No entanto, os números preliminares são assustadores. Antes de 2003, ano da invasão ao Iraque pela coalisão militar, o Iraque tinha 1,5 milhão de cristãos. Hoje, após várias ondas e perseguição, calcula-se que existam apenas 400 mil. Na Síria que, antes do início da guerra civil, tinha uma população estimada de 3 ou 4 milhões de cristãos, hoje esse número caiu pela metade. Por causa desses tristes números, o massacre e a expulsão dos cristãos do Iraque e da Síria poderá ser o pior genocídio que a humanidade presenciou nas últimas décadas. O genocídio dos cristãos no Oriente Médio poderá superar o genocídio de Ruanda que, em 1994, matou mais de meio milhão de membros da minoria tutsis e membros de outros grupos étnicos.

O surpreendente de tudo isso é que o Brasil, ao menos oficialmente, é um país de maioria esmagadoramente cristã.  Por isso, o atual governo do Brasil deveria, além de condenar a guerra na Faixa de Gaza, deveria ter condenado o massacre dos cristãos no Oriente Médio. Espera-se uma postura mais diplomática e mais humanizada por parte do atual governo do Brasil. Espera-se que esse governo ajudasse os cristãos e outras minorias éticas e religiosas do Oriente Médio a escaparem do massacre perpetrado pelo Estado Islâmico e por outras facções fundamentalistas e extremistas.


Por fim, é bom relembrar que, nos últimos anos, o governo do Brasil tem tido uma postura um tanto quanto discriminadora com relação aos cristãos. O maior grupo humano no Brasil não tem encontrado muito apoio dentro do governo federal do Brasil. Recentemente tivemos mais um capítulo dessa postura discriminatória, ou seja, quando o governo do Brasil correu para ajudar os palestinos na Faixa de Gaza, uma justa atitude, mas não foi capaz de ajudar os cristãos, coirmãos do povo brasileiro, que estão sendo massacrados no Oriente Médio.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

As vocações.


Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

O mês de agosto é o mês das vocações, especialmente as sacerdotais, pois nele se comemora o dia do padre, dia de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, patrono dos párocos e modelo para todos os padres do mundo.

Vocação vem do latim “vocare”, chamar. É um chamado de Deus para uma vida a ele consagrada. A vocação sacerdotal é um chamado de Deus para a vida no sacerdócio, cujo carisma especial é a dedicação ao ministério do culto divino e da salvação das almas. Jesus mesmo nos mandou rezar pelas vocações: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: ‘A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois ao Senhor da messe que envie trabalhadores para sua colheita!” (Mt 9, 36-37). 

Na Missa com os Bispos, Sacerdotes, religiosos e seminaristas na Catedral do Rio, durante a JMJ, o Papa Francisco nos falou sobre a necessidade de ter sempre presente a nossa vocação: “Creio que é importante reavivar sempre em nós este fato, para o qual amiúde fazemos vistas grossas entre tantos compromissos cotidianos: ‘Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi’, diz Jesus (Jo 15,16). É um caminhar de novo até a fonte de nosso chamado. Por isso um bispo, um sacerdote, um consagrado, uma consagrada, um seminarista, não pode ser um desmemoriado. Perde a referência essencial do início de seu caminho. Pedir a graça, pedir à Virgem Maria - ela tinha boa memória - a graça de termos na memória esse primeiro chamado. Fomos chamados por Deus e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a ele... É precisamente a ‘vida em Cristo’ que garante nossa eficácia apostólica e a fecundidade de nosso serviço... Não é a criatividade, por mais pastoral que seja, não são os encontros ou os planejamentos que garantem os frutos, embora ajudem e muito, mas o que garante o fruto é sermos fiéis a Jesus, que nos diz com insistência: ‘Permanecei em mim, como eu permaneço em vós’ (Jo 15,4)”.

Há muitas vocações especiais na Igreja. Na vida religiosa, temos o chamado à profissão dos conselhos evangélicos, na qual se segue mais de perto a Cristo, numa vida totalmente consagrada a Deus, à construção da Igreja e à salvação do mundo, a fim de se alcançar a perfeição da caridade, preanunciando assim a glória celeste.


O Concílio Vaticano II sublinhou uma verdade da Tradição da Igreja: a vocação universal à santidade: “O Senhor Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição que fossem, a santidade de vida, de que ele próprio é autor e consumador... Todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade..., são convidados e obrigados a tender para a santidade e perfeição do próprio estado... ‘Os que se servem deste mundo, não se detenham nele, pois passa a figura deste mundo’ (1 Cor 7,31)” (Lumen Gentium, cap. V).

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O método PPP.

Por Pe. Luiz Carlos Lodi.

Na proximidade das eleições, é preciso oferecer aos cristãos um critério sólido para escolher os candidatos.

Se um edifício tem uma fachada linda, paredes bem resistentes, pilares grossos, mas não tem alicerce, ninguém de bom senso se atreverá a morar nele.

Assim, há candidatos com muitas qualidades humanas: capacidade de administração, boa retórica, boas relações com o público, preparo intelectual, mas nenhum cristão pode votar neles se houver falhas no que há de fundamental: o respeito à vida e à família.

Para escolher um candidato, é preciso examinar três coisas: primeiro, o seu Partido, segundo o seu Passado e, por último, as suas Promessas. É importante observar a ordem deste PPP. As Promessas estão em último lugar. Não devemos dar importância a elas se o Partido do candidato é antivida ou se o candidato no seu Passado favoreceu a cultura da morte.

1º) O Partido

A Igreja, justamente por ser católica, isto é, universal, não pode estar confinada a um partido político. Ela “não se confunde de modo algum com a comunidade política[1] e admite que os cidadãos tenham “opiniões legítimas, mas discordantes entre si, sobre a organização da realidade temporal[2].

Isso não significa, porém, que os fiéis católicos podem filiar-se a qualquer partido. Há partidos que abusam da pluralidade de opinião para defender atentados contra a lei moral, como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo. “Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas[3].

Um exemplo de um partido incompatível com a moral cristã é o Partido dos Trabalhadores (PT). No 3º Congresso do PT, ocorrido entre agosto e setembro de 2007, foi aprovada a resolução “Por um Brasil de mulheres e homens livres e iguais”, que inclui a “defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público[4]. Todo candidato filiado ao PT é obrigado a acatar essa resolução. O Estatuto do PT põe como requisito para ser candidato pelo Partido “assinar e registrar em Cartório o ‘Compromisso Partidário do Candidato ou Candidata Petista’” (art. 140, c)[5]. Tal assinatura, diz o Estatuto, “indicará que o candidato ou candidata está previamente de acordo com as normas e resoluções do Partido, em relação tanto à campanha como ao exercício do mandato” (art. 140, §1º). Se o político contrariar uma resolução como essa, que apoia o aborto, “será passível de punição, que poderá ir da simples advertência até o desligamento do Partido com renúncia obrigatória ao mandato” (art. 140, §2º). Em 17 de setembro de 2009, dois deputados petistas (Luiz Bassuma e Henrique Afonso) foram punidos pelo Diretório Nacional. O motivo alegado é que eles “infringiram a ética-partidária ao ‘militarem’ contra resolução do 3º Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto[6].

Não deve causar espanto que o PT aprove o aborto, uma vez que já no artigo 1º de seu Estatuto, tal partido se declara defensor de uma doutrina inúmeras vezes condenada pela Igreja: o socialismo[7].

Convém aqui recordar o ensinamento dos dois Papas canonizados pelo Papa Francisco: João XXIII e João Paulo II.

São João Paulo II explica que “o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social. [...] O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral[8].

O socialismo vê na criança por nascer algo que está subordinado à vontade da sociedade. Se for proveitosa para a sociedade, que nasça. Se for trazer ônus ao Estado, se trouxer mais custos que benefícios, que seja abortada.

Explica-se assim como há uma afinidade estreita entre o socialismo e a causa abortista. Não é à toa que o primeiro país do mundo a legalizar o aborto foi a Rússia, em 1920, logo após a revolução comunista de 1917. Não é à toa também que durante a vigência do nazismo (nacional socialismo), a Alemanha legalizou a prática do aborto com fins de purificação da raça (eugenia). Não é à toa que na China, que se tornou comunista desde a revolução de 1949, o aborto não é só permitido, mas até obrigatório como meio de controle de natalidade. E não é à toa que em Cuba, sob o regime dos irmãos Castro, ocorrem anualmente cerca de 66 abortos provocados para cada 100 partos![9]

Poderia haver um tipo de socialismo tão suave que pudesse ser aceito pelos cristãos? A essa pergunta, São João XXIII responde negativamente, recordando os ensinamentos de seu predecessor Pio XI: “Entre comunismo e cristianismo, o Pontífice declara novamente que a oposição é radical. E acrescenta não poder admitir-se de maneira alguma que os católicos adiram ao socialismo moderado[10].

Eis a lista dos partidos políticos brasileiros que se declaram comunistas ou socialistas:

Partido dos Trabalhadores (PT) - 13
Partido Comunista Brasileiro (PCB) - 21
Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB - 23
Partido Comunista do Brasil (PC do B) - 65
Partido da Causa Operária (PCO) - 29
Partido Democrático Trabalhista (PDT) - 12
Partido da Mobilização Nacional (PMN) - 33
Partido Pátria Livre (PPL) - 54
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) - 50
Partido Socialista Brasileiro (PSB) - 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) - 16
Partido Verde (PV)[11] – 43

Exclua, portanto, os candidatos cujos números começam por 13, 21, 23, 65, 29, 12, 33, 54, 50, 40, 16 e 43.

Não votar em tais candidatos – mesmo que sejam seus amigos – é um ato de correção fraterna. Votar neles é ser cúmplice do erro que eles cometeram ao filiar-se a um partido anticristão.


2º) O Passado

Excluídos os candidatos pertencentes aos partidos acima, é preciso agora examinar o passado de cada candidato. Se ele já foi parlamentar, deve-se examinar como foi o seu voto nas questões relativas à vida e à família. Verifique, por exemplo[12]:

1) se em 02/03/2005 ele foi um dos deputados que votou contra ou a favor do artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a destruição de embriões humanos.

2) se em 13/08/2008 ele foi um dos deputados que assinaram o Recurso 0201/08, de José Genoíno (PT/SP), solicitando que o projeto abortista PL 1135/91 não fosse arquivado, mas primeiro fosse apreciado pelo plenário da Câmara.

3) se em 28/05/2009 ele foi um dos deputados que assinaram a PEC 367/2009, pretendendo dar um terceiro mandato (pró-aborto) ao presidente Lula.

4) se em 19/05/2010 ele foi um dos deputados que votaram contra o Estatuto do Nascituro na Comissão de Seguridade Social e Família.

5) se em 22/04/2014 ele foi um dos senadores que votaram a favor da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação.


3º) As Promessas

As promessas de defender a vida desde a concepção até a sua morte natural etc., ainda que sejam feitas por escrito e assinadas, só têm algum valor se o candidato já venceu as duas etapas anteriores: o Partido e o Passado. É totalmente inútil, por exemplo, que um candidato petista (que, portanto, já assinou o Compromisso Partidário do Candidato Petista em defesa do aborto) venha agora assinar um outro compromisso em defesa da vida. Cuidado, portanto, com os “pró-vida” de última hora!

Anápolis, 13 de agosto de 2014.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis


[1] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 76.
[2] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 75.
[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 2246, citando “Gaudium et Spes, n. 76.
[4] Resoluções do 3º Congresso do PT, p. 82. in: http://old.pt.org.br/arquivos/Resolucoesdo3oCongressoPT.pdf
[5] Partido dos Trabalhadores. Estatuto, art. 140, c in: http://old.pt.org.br/arquivos/ESTATUTO_PT_2012_-_VERSAO_FINAL_registrada.pdf
[6] DN suspende direitos partidários de Luiz Bassuma e Henrique Afonso. Notícias. 17 set. 2009, in: http://www.pt.org.br/portalpt/documentos/dn-suspende-direitos-partidarios-de-luiz-bassuma-e-henrique-afonso-254.html
[7] “Art. 1º - O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs [...] com o objetivo de construir o socialismo democrático”.
[8] JOÃO PAULO II, Encíclica Centesimus annus, 1991, n. 13.
[9] Cf. Anuario Estadístico de Salud 2013, p. 166, in: http://files.sld.cu/dne/files/2014/05/anuario-2013-esp-e.pdf
[10] João XXIII, Encíclica Mater et magistra, 1961, n.º 31
[11] O PV não se declara socialista, mas em seu Programa defende o homossexualismo e a legalização do aborto (cf. http://pv.org.br/wp-content/uploads/2011/02/programa_web.pdf).
[12] Pode-se verificar isso clicando em “Como votaram”, no sítio do Pró-Vida de Anápolis: www.providaanapolis.org.br

domingo, 17 de agosto de 2014

A segregação não interfere no progresso intelectual do aluno; antes, auxilia. E o Colégio São Bento provou isto no ENEM.


Por Evelyn Mayer

No ano de 2011, pela quarta vez consecutiva, o colégio fluminense São Bento conquistou o primeiro lugar no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A prova é aplicada pelo Ministério da Educação com o intuito de avaliar o desempenho de estudantes da rede pública e privada em todo o país, bem como, por esta avaliação, ajudar os estudantes a ingressarem em faculdades por meio de bolsas de estudos, também estas criadas pelo Governo Federal.

Contudo, o colégio foi alvo de críticas. A professora da Universidade de São Paulo (USP) Cláudia Vianna, especialista em gênero e educação, afirmou que "não é possível desenvolver a personalidade integral do aluno onde há segregação". Pensamento como este também se aplica ao defender a não-aplicação do método “Homescholling” (ensino doméstico) em que os pais dedicam-se em educar os filhos, ensinando-lhes as disciplinas próprias em um ensino regular, só que em casa. Ou seja: os pais passam a ser os professores e ensinam aos filhos conforme suas próprias ideologias e concepções sobre as disciplinas.

Discordo em muito da afirmação da professora Vianna por um motivo muito simples: sua afirmação é falaciosa!

Em entrevista à Revista Exame (veja aqui: http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/primeiro-colocado-do-enem-remete-ao-seculo-19-diz-professora-da-usp), Vianna alegou: “É muito complicado dizer que a segregação garante qualidade. Vivemos num mundo misto que aliás, mostra que as meninas têm mais sucesso que os meninos. Que desenvolvimento é esse que só dá certo quando eu separo? Qual a mensagem que você passa? Como se propõe a prepará-los para o mundo que é misto? Que principio é esse que não trabalha com o heterogêneo?", questionou.” Avaliando estas afirmações, nota-se que a professora Vianna não é clara com o que diz. Ou – pior! – não leu a própria entrevista que deu.

O Colégio São Bento está, pela quarta vez consecutiva, em primeiro lugar no resultado do ENEM. A metodologia do colégio não está embasada no Anarquismo, no Positivismo, nas ideologias Freirianas ou Boffianas; ao contrário: o colégio baseia-se numa educação católica, onde a qualidade não está na interação entre meninos e meninas, mas sim, em que o menino seja formado em sua integralidade. É até injusto ver a professora dizer que a metodologia é do século XIX, haja vista a educação  em que meninos e meninas interagem é “recente”. Se você questionar os seus pais – ou, talvez, os seus avós – se surpreenderão ao ver que muitos deles estudaram em escolas cujas metodologias eram de alunos separados conforme o gênero. A qualidade ou adequação ao mundo misto ficou prejudicada por isso? Você, conhecendo seus pais e avós, comungaria da afirmação da professora Vianna? Minha mãe estudou nesta metodologia e não teve nenhum problema em socializar-se com meninos, muito menos ficou prejudicada em sua feminilidade. Minha irmã estudou em um colégio de freiras no final do século XX e também não obteve problema algum de interação ou formação integral.

Pensar que a segregação impede a qualidade é o mesmo que dizer que meninos e meninas dependem um dos outros para aprenderem. Ora, isso não é verdade, afinal, meninos e meninas criam seus primeiros referenciais em casa: pai, mãe, avó, tio, irmãos... logo, ela não precisa necessariamente da escola para socializar-se. Ao contrário: indo à escola, a criança leva consigo sua noção de socialização, vivida primeiramente em casa.

A professora cita que neste mundo misto em que vivemos, as meninas têm mais sucesso que os meninos. Fica vaga esta afirmação, já que a professora não mostra em qual contexto ela se aplica. Quais são as pesquisas que afirmam ou teorizam esta ‘verdade’? Contrapondo o argumento da professora da USP, a Universidade de Otago comparou o desempenho escolar de mais de 900 meninos e meninas no ensino médio de escolas mistas e separadas na Nova Zelândia (ver aqui: http://www.ogalileo.com.br/noticias/nacional/meninos-tem-nota-melhor-se-nao-estudam-com-meninas-mostra-pesquisa). Conforme a pesquisa, quando os alunos estudam em uma escola em que todos os alunos possuem o mesmo gênero, as chances de competirem justamente são maiores. E por quê? Porque os meninos tendem, principalmente na adolescência – graças aos hormônios! – a não se concentrarem nas aulas, perdendo o tempo ‘analisando’ as colegas de classe. Quando estão em uma sala onde só há meninos, conseguem concentrar-se melhor nos estudos.

Se levarmos em conta o que Vianna propõe, o sucesso das meninas de hoje não está em sua capacidade intelectual, mas pela efervescência masculina. Seria isso justo?

 

Observando o que propõe a pesquisa da Universidade de Otago, separando dá-se aos alunos de ambos os sexos o privilégio e a oportunidade de um aprendizado mais concentrado nas disciplinas, no conhecimento; a escola e os professores conseguem preparar devidamente seus alunos, seja na formação humana quanto na profissional e intelectual. A mensagem que se passa é a de que o aluno entende que lá ele está para aprender e não para namorar, sabotar ou exibir-se.


Falaciosa também é a afirmação de Vianna que o colégio São Bento prima tão somente pela heterogeneidade. Na própria entrevista a coordenadora do mesmo (ou seja, uma mulher!) menciona sobre os benefícios de uma educação segregada. O colégio também conta com algumas professoras. Isso não é convívio com o universo feminino?


O que talvez falte à professora da USP é compreender o que a Universidade de Otago já o fez: a segregação auxilia no processo de ensino-aprendizagem. Ganham todos: meninos, meninas, professores (as), sociedade. Ponto a mais para a Igreja Católica, que com tanta eloquência vem há séculos lutando por uma educação de qualidade. Qualidade esta que não se aplica em teorias modernas, mas sem consistência. Antes, sua metodologia é a formação do ser humano em sua tridimensionalidade. Esta sim é uma metodologia que ultrapassa qualquer teoria pautada em revolução.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

07/07/2014 - Capela Santa Marta com vítimas de abusos sexuais por parte do clero. Papa Francisco.

SANTA MISSA NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
COM ALGUMAS VÍTIMAS DE ABUSOS SEXUAIS POR PARTE DO CLERO
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Segunda-feira, 7 de Julho de 2014

A imagem de Pedro, cujo olhar, vendo Jesus sair desta sessão de duro interrogatório [no Sinédrio], se cruza com Jesus e chora, vem-me hoje ao coração ao cruzar o vosso olhar, o olhar de tantos homens e mulheres, meninos e meninas; sinto o olhar de Jesus e peço a graça do seu chorar.

A graça de a Igreja chorar e fazer reparação pelos seus filhos e filhas que traíram a sua missão, que abusaram de pessoas inocentes com os seus desvarios. E hoje sinto-me agradecido a vós por terdes vindo aqui.

Há tempos que sinto no coração um profundo pesar, vendo um sofrimento escondido durante tanto tempo, dissimulado numa cumplicidade que não encontra explicação, até que alguém se deu conta de que Jesus olhava e depois outra pessoa notou o mesmo e mais outra se apercebeu disso mesmo... e animaram-se a sustentar este olhar. E aqueles poucos que começaram a chorar, contagiaram a nossa consciência fazendo-a chorar por este crime e pecado grave. Sinto no meu coração angústia e pesar pelo facto de alguns padres e bispos terem violado a inocência de menores – e a sua própria vocação sacerdotal –, abusando deles sexualmente. Trata-se de algo mais que actos ignóbeis; é uma espécie de culto sacrílego, porque estes meninos e meninas tinham sido confiados ao carisma sacerdotal para os conduzir a Deus e eles sacrificaram-nos ao ídolo da sua concupiscência. Profanaram a própria imagem de Deus, pois foi à imagem d’Ele que fomos criados. A infância – todos nós o sabemos – é um tesouro. O coração jovem, tão aberto e cheio de confiança, contempla os mistérios do amor de Deus e mostra-se disponível de uma forma única para ser alimentado na fé. Hoje, o coração da Igreja contempla os olhos de Jesus nestes meninos e meninas e quer chorar. Pede a graça de chorar perante estes actos execráveis ​de abuso perpetrados contra os menores; actos que deixaram cicatrizes para a vida inteira.

Sei que as vossas feridas são uma fonte de profunda e muitas vezes implacável pena emotiva e espiritual e até mesmo de desespero. Muitos daqueles que sofreram esta experiência, procuraram compensações na dependência. Outros experimentaram sérios distúrbios nas relações com pais, cônjuges e filhos. Particularmente grave foi o sofrimento das famílias, já que o dano provocado ​​pelo abuso atinge estas relações vitais.

Alguns sofreram mesmo a terrível tragédia do suicídio de um ente querido. A morte destes filhos amados de Deus pesa sobre o coração e sobre a minha consciência e a de toda a Igreja. A estas famílias, apresento os meus sentimentos de pesar e de amor. Jesus, torturado e interrogado com a paixão do ódio, é levado para outro lugar e olha; olha para um dos seus – aquele que O renegara – e fá-lo chorar. Pedimos esta graça, juntamente com a da reparação.

Os pecados de abuso sexual contra menores por parte de membros do clero têm um efeito devastador sobre a fé e a esperança em Deus. Alguns há que se agarraram à fé, enquanto, a outros, a traição e o abandono corroeram a sua fé em Deus. A vossa presença aqui fala do milagre da esperança que prevalece sobre a mais profunda escuridão. É, sem dúvida, um sinal da misericórdia de Deus o facto de termos hoje esta oportunidade de nos encontrarmos, de adorar o Senhor, de nos fixarmos olhos nos olhos  e de buscar a graça da reconciliação.

Diante de Deus e do seu povo, sinto-me profundamente consternado pelos pecados e os crimes graves de abuso sexual cometidos por membros do clero contra vós e humildemente peço perdão.

Peço perdão também pelos pecados de omissão por parte dos responsáveis da Igreja que não responderam de forma adequada às denúncias de abuso apresentadas por familiares e por aqueles que foram vítimas de abuso. Isto causou ainda ulterior sofrimento àqueles que foram abusados e pôs em perigo outros menores que se encontravam em situação de risco.

Por outro lado, a coragem que vós e outros demonstraram fazendo emergir a verdade foi um serviço de amor, projectando luz sobre uma terrível obscuridade na vida da Igreja. Não há lugar, no ministério da Igreja, para aqueles que cometem abusos sexuais; e comprometo-me a não tolerar o dano infligido a um menor por quem quer que seja, independentemente do seu estado clerical. Todos os bispos devem exercer o seu serviço de pastores com o máximo cuidado para salvaguardar a protecção dos menores, e prestarão contas desta responsabilidade.

Vale, para todos nós, o conselho que Jesus deu para quantos dão escândalo: …a mó do moinho e mar (cf. Mt 18, 6).

Além disso continuaremos a vigiar sobre a preparação para o sacerdócio. Conto com os membros da Pontifícia Comissão para a Protecção dos Menores, todos os menores independentemente da religião a que pertençam: são os pequeninos que o Senhor olha com amor.

Preciso que me ajudem a fazer com que possamos dispor das melhores políticas e procedimentos na Igreja universal para a protecção dos menores e para a habilitação de pessoal da Igreja na realização de tais políticas e procedimentos. Devemos fazer tudo o que for possível para garantir que tais pecados não mais se repitam na Igreja.

Irmãos e irmãs, sendo todos membros da família de Deus, estamos chamados a entrar na dinâmica da misericórdia. O Senhor Jesus, nosso Salvador, é o exemplo supremo, o inocente que carregou os nossos pecados na cruz. Reconciliarmo-nos é a própria essência da nossa identidade comum de seguidores de Cristo. Voltando-nos para Ele, acompanhados pela nossa Mãe Santíssima aos pés da cruz, peçamos a graça da reconciliação com todo o povo de Deus. A doce intercessão de Nossa Senhora da Terna Misericórdia é uma fonte inesgotável de ajuda no nosso percurso de cura.

Vós e todos aqueles que sofreram abusos por parte de membros do clero, sois amados por Deus. Rezo para que, quanto resta da obscuridade que vos atingiu, seja curado pelo abraço do Menino Jesus e, ao dano que vos foi causado, suceda uma fé e uma alegria renovadas.

Obrigado por este encontro e, por favor, rezai por mim, para que os olhos do meu coração vejam sempre com clareza o caminho do amor misericordioso, e Deus me conceda a coragem de seguir este caminho para o bem dos menores.


Jesus sai de um julgamento injusto, de um interrogatório cruel e fixa os olhos de Pedro e Pedro chora. Nós pedimos-Lhe que nos olhe, que nos deixemos olhar e possamos chorar, e que nos dê a graça da vergonha, para podermos – como Pedro, quarenta dias mais tarde – responder-Lhe: «Tu sabes que Te amamos» e ouvir a sua voz: «Volta ao teu caminho e apascenta as minhas ovelhas e – acrescento eu – não permitas que algum lobo entre no rebanho».

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A semana da família.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Teve início com o dia dos pais, a Semana Nacional da Família, de 10 a 16 de agosto. O tema deste ano é “A espiritualidade cristã na família: um casamento que dá certo”. “São gestos de espiritualidade que podem fazer a grande diferença na convivência dos esposos, no crescimento dos filhos na fé, na renovação da alegria pelo amor que se renova no dia a dia pelo dom da graça de Deus”, explica Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB.

A Igreja sempre deu enorme importância à família, tratando-a como “Igreja doméstica e santuário da vida”, porque ambas nos transmitem a Fé: “tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé” (C.I.C. n.171).

“A família é a base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que os guiarão durante toda a vida”, dizia São João Paulo II.  O Papa Bento XVI, no Encontro Mundial das Famílias, em Valência, Espanha, afirmou que “esta é uma instituição insubstituível segundo os planos de Deus e cujo valor fundamental a Igreja não pode deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de responsabilidade e alegria”.

Naquele memorável encontro mundial das famílias, refletiu-se no tema “a transmissão da Fé na família”. “Nenhum homem se deu o ser a si mesmo nem adquiriu sozinho os conhecimentos elementares da vida. Todos recebemos de outros a vida e as verdades básicas para ela, e estamos chamados a alcançar a perfeição em relação e comunhão amorosa com os demais. A família, fundada no matrimônio indissolúvel entre um homem e uma mulher, expressa esta dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se de maneira integral”. E o Papa emérito corroborava seu ensinamento com os exemplos bíblicos de Ester e de São Paulo: “Ester confessa: ‘No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, escolheste Israel entre todos os povos’ (4, 16). Paulo segue a tradição dos seus antepassados judeus prestando culto a Deus com consciência pura. Louva a fé sincera de Timóteo e recorda-lhe: ‘a tua fé, que se encontrava já na tua avó, Loide, e na tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontre também em ti’ (2 Tm 1, 5). Nestes testemunhos bíblicos a família compreende não só pais e filhos, mas também avós e antepassados. Assim, a família se nos apresenta como uma comunidade de gerações e garantia de um patrimônio de tradições”.


E o Papa Francisco nos recorda o quanto “é importante que os pais cultivem as práticas comuns de fé na família, que acompanhem o amadurecimento da fé os filhos” (Carta Enc. Lumem Fidei, 53).   E nos ensinou a rezar assim: “Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, escolas autênticas do Evangelho e pequenas Igrejas domésticas”.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O primogênito.


Por Paul Medeiros Krause.

Há um pequeno trecho do evangelho de São Lucas que costuma escandalizar algumas pessoas pouco afeitas à interpretação das sagradas escrituras. Parece mesmo que o Divino Espírito Santo gosta de chocar e confundir alguns espíritos mais suscetíveis e sempre prontos a arrancar os cabelos diante de qualquer dificuldade interpretativa. É o seguinte: “e ela deu à luz seu filho primogênito” (Lc 2, 7).

A Bíblia de Jerusalém traz a seguinte nota ao trecho citado: “No grego bíblico, o termo não implica necessariamente a existência de irmãos mais novos, mas sublinha a dignidade e os direitos da criança”.

Certamente, muitos lembram-se da passagem de Esaú e Jacó, em que o primeiro, por um prato de lentilhas – figura do pecado, em que trocamos a graça de Deus por qualquer bagatela criada -, cede ao segundo o seu direito de primogenitura. Recordamo-nos, também, do episódio em que Jacó se disfarça de Esaú, com a cumplicidade de sua mãe, para receber a bênção paterna, destinada ao filho primogênito.

Deus põe à prova a nossa confiança. Ele não aprecia espíritos excessivamente desconfiados, inseguros. Pouco ou nada adiantaria o Espírito Santo ter inspirado a redação da Bíblia se Ele também não suscitasse uma espécie de “Suprema Corte Constitucional” que nos fornecesse uma “interpretação conforme à Constituição” do texto sagrado. Essa “Suprema Corte Constitucional”, que nos interpreta a Bíblia conforme à revelação de Deus, conforme Deus, é a Igreja Católica.

Os teólogos da libertação dizem que o verdadeiro intérprete da Bíblia é o povo, oprimido pela hierarquia católica. Mas eles, os teólogos da libertação, possuem também duas imagens representativas no evangelho: Judas, ladrão dos direitos divinos, que quis roubar o dinheiro do perfume que ungiu Jesus, sob pretexto de ajudar os pobres, e Jesus Barrabás (“Bar-Abbas”, filho do pai. “Bar” significa filho; Bartimeu é o filho de Timeu. Segundo muitos manuscritos antigos, Barrabás chamava-se Jesus), o Jesus agitador, assassino, revolucionário, que pega em armas para promover justiça social. Os teólogos da libertação são os que agitam o povo para escolher o Jesus mundano, revolucionário, o Jesus “Che Guevara”, em lugar de Jesus Cristo que veio salvar o povo dos seus pecados.

Ora, diz-nos o evangelho, toda autoridade vem de Deus. (Quem entregou Jesus a Pilatos tem pecado maior). Autoridade, não autoritarismo. Cristo deu as chaves do reino dos céus a Pedro e constituiu apóstolos. É, pois, a hierarquia católica sim que detém condições, lançando mão de todos os meios próprios, históricos, linguísticos, espirituais, para fixar a correta interpretação do texto bíblico.

 “Não vos deixarei órfãos”, disse Jesus. Nem mesmo em questões interpretativas. A Igreja que é nossa mãe e mestra toma-nos pelas mãos e nos explica carinhosamente a palavra do Pai.

Pois bem, meus amigos. Feita essa digressão, convém recordar que na Bíblia não há palavras ociosas. Às vezes, um mesmo trecho bíblico possui infinitos sentidos lícitos possíveis, que não contrariam o ensinamento da Igreja. Sempre há sentidos espirituais muito profundos ocultos em cada uma das palavras do texto sagrado.

Se aquele pequeno trecho de São Lucas realça a dignidade do recém-nascido, também chamado depois por São Paulo de “primogênito da criação”, “o novo Adão”, há também outros sentidos possíveis de ser encontrados nele.

De fato, Jesus Cristo foi o filho primogênito de Maria. O princípio do evangelho de São Lucas já indica o que a Igreja com tanta sabedoria intuiu: que Maria é nossa mãe. No Evangelho de São João não está dito: “Mulher, eis teu filho!” e “Eis tua mãe” (Jo 19, 26-27)?

Diz São Luís Maria Grignion de Montfort, no “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”:

“Conforme a explicação de alguns Santos Padres o primeiro homem nascido em Maria é o homem-Deus, Jesus Cristo; o segundo é um homem puro, filho de Deus e de Maria por adoção. Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu nela, os predestinados, que são membros deste chefe, devem também nascer nela, por uma consequência necessária. Não há mãe que dê à luz a cabeça sem os membros ou os membros sem a cabeça; seria uma monstruosidade da natureza. Do mesmo modo, na ordem da graça, a cabeça e os membros nascem da mesma mãe, e, se um membro do corpo místico de Jesus Cristo, isto é, um predestinado, nascesse de outra mãe que Maria, que produziu a cabeça, não seria um predestinado, nem membro de Jesus Cristo, e sim um monstro na ordem da graça.”

Acrescenta São Luís Maria:

“Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatural, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus e os predestinados têm Deus por pai, e Maria por mãe; e quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai.”


Por isso, meus irmãos, meditemos sempre com profunda veneração nessas palavras de São Lucas: “e ela deu à luz seu filho primogênito”. Não nos perturbemos ante a sua abundância de sentido. Nós somos os outros filhos de Maria.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O filho na boca do tigre.


Por Denílson Cardoso de Araújo

Lidar com crianças e adolescentes exige precaução. Não esperar o mal, mas antecipar-se à sua mera ameaça. Isso dá vigília, alma alerta, olheira em plantão. Vale a pena. Pois a dor do descuido é sempre cruel. Bem o sabe o pai do zoológico de Cascavel que incorreu nessa falta de precaução.

Aos 11 anos, seu filho já devia ser consciente de limites que, claramente, desconhecia. Derramou-se em insana brincadeira à volta do tigre. Uma hora, fera que é, o felino Hu reacendeu os instintos de selva, onde a lei dita que meninos provocando presas de tigre dilacerados serão.

Consta que o pai primeiro incentivou a brincadeira suicida! Quando viu o braço do filho na boca do tigre, atirou-se na área reservada, para socorrer o atacado. Hoje, aos prantos, o pai se desculpa com o mundo. E lembra que o filho, já sem braço, ainda teve fôlego de revelar o bom coração (apto, portanto, a acolher educação e limites), dizendo: não matem o tigre.


Após a instigação irresponsável, o pai teria convocado o filho. Que não obedeceu. Filho tem que obedecer a pai e mãe! É da necessidade de sobrevivência e desenvolvimento de crianças e adolescentes, é do bom senso, e – acima de tudo, por mais que digam o contrário – é da lei! Código Civil: pais devem exigir de suas proles respeito, obediência e serviços. Exigir.

No caso, temos um filho de pais separados. Problema dos tempos, o caso comprova. Pais separados tendem a afrouxar disciplinas. Certa culpa se instala, e não quer o pai, que não detém a guarda, gastar fim de semana a ser antipático disciplinador. Um erro caro. Ao mesmo tempo, a mãe guardiã, a quem sobra o encargo disciplinar, além de padecer tolerâncias hormonais femininas que retardam o pronto castigo, também não quer ser a vilã nessa história em que o pai visitante é sempre o divertido parque de diversões. Ou permissivo zoológico.

Exigir obediência, respeito e serviços significa determinar. De modo claro e audível. Fazer lei familiar. E lei só tem eficácia, assim sabe o acadêmico de direito, se sanção existir. Sanção é castigo. Pedagogia da consequência, hoje tão esquecida. Quando aquele pai mandou frouxamente o filho sair da frente da jaula da fera e não foi atendido, devia ter arrancado o menino de lá, se necessário arrastando-o pela orelha. Na situação de extremo perigo, não há diálogo possível. Primeiro, a disciplina e o socorro, depois, a conversa. Ele podia espernear, reclamar, gritar, dar-se uma cena. E daí? Ah, não quero cair em “bocas de Matilde”, como pai ditador. Então. Para evitar maledicentes, prefere o filho na boca do tigre?

Ser pai ou mãe produz indescritível prazer afetivo. Mas implica responsabilidades graves e irrenunciáveis. Preços altos, que precisam ser pagos. Inclusive o da incompreensão social aqui e ali, até o da inimizade do filho que recebe disciplina necessária.

Tem pai e mãe nesta cidade que, se não está empurrando a prole para a jaula da fera, passivamente assiste ao filho brincar com a cabeça dentro da boca do tigre. Presenteiam meninos com games proibidos, permitem filhas de comportamento cachorra, autorizam álcool a meninos curiosos, consentem sexo precoce, dão vista grossa ao pífio rendimento escolar, e deixam filhos se desperdiçarem na maconha pública dos gramados desolados de autoridade.


Levante-se. Vá arrancar seu filho da boca do tigre. Em alguns casos, talvez tenha que arrastá-lo pela orelha. Faça. E dialogue. Mas faça.