Por Dom
Henrique Soares.
Na Liturgia Latina,
o mais belo e significativo símbolo pascal é o Círio. Ele simboliza o próprio
Cristo ressuscitado.
Em geral, não é
muito valorizado por falta de catequese litúrgica, mal gravíssimo da Igreja
latina atual.
Nunca se deve, no
âmbito da Liturgia, utilizar uma imagem de Cristo Ressuscitado. Numa procissão
sim, pois não se trata de um ato litúrgico, mas gesto da religiosidade popular.
Por que representar
o Ressuscitado por uma vela gigante?
Nos evangelhos, o
Cristo ressuscitado não pode ser descrito ou representado: Seu aspecto é
glorioso, Ele não pode mais ser visto, apreendido pelos sentidos, a não ser que
Se faça ver. O Ressuscitado não voltou a esta vida, ao estado e à fisionomia
que tinha antes, nos dias de Sua humilhação. Ele agora é Senhor, é Adon, como o
Adonai, o Senhor Deus, Ele agora é Kyrios! Por isso mesmo a Igreja O representa
no Círio, para deixar claro que Ele agora é todo Misterioso, todo Senhor
glorioso na Sua santíssima humanidade divinizada.
O Círio Pascal!
Virgem, como é
Virgem o Ressuscitado, Novo Adão, Princípio da nova criação.
Nele se inscrevem o
Alfa e o Ômega, primeira e última letras do alfabeto grego, pois o Ressuscitado
é Princípio e Fim da história e de todas as coisas.
Uma grande cruz com
cinco cravos domina todo o Círio, pois a Ressurreição é fruto da Paixão, de
modo que o Ressuscitado traz e trará para sempre no Seu corpo glorioso as
gloriosas chagas, como troféus.
Vem também inscrito
os algarismos do ano em curso, pois, na Santa Liturgia, o Mistério Pascal
torna-se presente, continuamente contemporâneo a cada geração de cristãos e
atuante na vida da Igreja. A Igreja e cada cristão encontram realmente, na
Liturgia pascal, o Vencedor da Morte, feito Senhor e Cristo!
O fogo que consome o
Círio e ilumina as trevas é símbolo do próprio Espírito Santo, no qual o Pai
ressuscitou o Filho Amado; Espírito que vivifica, aquece, ilumina! É este
Espírito o grande Dom que o Ressuscitado faz continuamente à Sua Igreja,
vivificando-a, iluminando-a, aquecendo-a de Vida divina e transfigurando-a como
presença do Reino de Deus neste mundo e semente de Vida Eterna.
Por isto mesmo, o
Círio deve ser conservado com respeito sagrado. Será sempre incensado ao início
das missas de Tempo Pascal nas quais se use o incenso (não é incensado nem ao
Evangelho nem ao ofertório).
Deve ficar próximo
ao ambão, como sinal eloquente da luz de Cristo ressuscitado que ilumina as
Escrituras.
Somente é retirado
após as segundas vésperas da Solenidade de Pentecostes. Deve ser, então,
colocado no Batistério, ao lado da pia batismal.
Existe um belo
costume de se retirar alguns fragmentos da cera do Círio e colocá-los num
pequeno relicário precioso - de ouro ou prata - que é levado no pescoço, como
medalha, em geral com a imagem do Cordeiro do Apocalipse, e se chama Agnus Dei.
Que bela relíquia: um pequeno fragmento da cera do Círio, imagem Daquele que
esteve morto, mas agora vive e vivifica para sempre!
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