quinta-feira, 30 de julho de 2015

Na noite do caminho, eu Te espero...


Por Dom Henrique Soares.

A Ti, Senhor, elevo minha alma e meus olhos!
A Ti, ó Eterno, elevo minha alma, meus olhos, meu afeto, minhas mãos!
Que é o homem, que somos nós, sem elevar os olhos a Ti?
Estaríamos suspensos no Nada, presos no Absurdo, num tremendo Vazio,
Grito sem eco, pergunta sem resposta, sede sem saciedade!
Que é este pobre filho de Adão, este tão limitado e quebradiço vaso de pó da terra, sem abrir-se a Ti, Infinito, Saudade do nosso coração?
A Ti, meu Deus, elevo a minha alma
– e respiro, e encontro paz, e compreendo que, apesar das mil contradições da existência e dos outros mil perigos do caminho da vida, tudo tem sentido e nossa corrida não é uma corrida em vão...
Confio em Ti, Deus fidelíssimo, que prometes sem precisares prometer e, prometendo, não trais jamais;
Pelo contrário, fazes sempre mais que aquilo que prometes!
Confio em Ti de todo o meu coração,
confio em Ti para todas as vissicitudes e incertezas do caminho,
confio em Ti por toda a minha vida;
a Ti quero sempre elevar meus olhos e desejo fazer de minha existência um canto de amor a Ti
– ainda que, às vezes desafinado e desencontrado...
Assim, ó Senhor Santo e Eterno
– Deus único e verdadeiro,
saudade da minha alma,
paixão do meu coração,
sonho de minhas noites tristes,
repouso de minhas buscas –
assim, que eu não seja desiludido na minha esperança,
decepcionado na minha confiança: confio em Ti!
Não se riam de mim meus inimigos,
não se riam de mim a impiedade, a descrença, o materialismo, a mediocridade, o acomodamento no que é raso e sem ideal;
não se ria de mim a minha escuridão interior que, às vezes, deseja sufocar a luz de Teu Cristo, que fizeste um dia brilhar gozosamente no meu coração!
Ó Deus santo de Israel,
ó Sorriso de Abraão,
Fortaleza e Luta de Jacó,
Ó Amigo de Moisés,
Sustento de Davi,
terno Amor de Jeremias,
Ó Três Vezes Santo de Isaías,
ó Pureza Esplendorosa de Ezequiel,
Amparo de Jó, Esperança de Qoélet,
Exultação da Virgem Santa,
Sonho do casto José,
Zelo de João Batista, alegre Fidelidade de Simeão,
Ó Sustento da Humanidade,
Saudade da criação toda,
Ó Paz e Tormento do pobre coração humano,
Eu elevo meus olhos a Ti, eu confio em Ti,
A Ti me entrego
e em Ti espero:
Que eu não seja envergonhado,
Pois não será desiludido quem em Ti coloca sua esperança!


segunda-feira, 27 de julho de 2015

A cruz, a foice e o martelo


Dom Fernando Arêas Rifan*
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

       Em sua visita à Bolívia, no começo deste mês, o Papa Francisco recebeu do presidente Evo Morales uma cruz em forma de foice e martelo, símbolo do comunismo, tendo nela Jesus Crucificado, símbolo do cristianismo. Era uma réplica da escultura criada pelo jesuíta espanhol Padre Luis Espinal, ligado à Teologia da Libertação, como forma de diálogo ou mesmo simbiose entre o comunismo e o catolicismo.

        Ao ver o rosto constrangido do Papa, lembrei-me do constrangimento de Dom Antônio Santos Cabral, arcebispo de Belo Horizonte, ao ser convidado por Juscelino Kubicheck para benzer a Igreja da Pampulha, em forma de foice e martelo. O arcebispo recusou, dizendo que a obra modernista de Oscar Niemeyer ia de encontro ao aceitável pela Igreja.

        Deixando de lado a análise da impertinência do insólito presente de Evo Morales, consideremos apenas o significado de tal crucifixo em forma de foice e martelo.

        Na entrevista no avião, o Papa explicou que o Pe. Luis Espinal pertencia à linha da Teologia da Libertação que utilizava a análise marxista da realidade. Segundo o Papa, Espinal era um entusiasta dessa análise da realidade marxista e também da teologia usando o marxismo. O Papa lembrou que, nesse tempo, o Superior Geral da Companhia de Jesus mandou uma carta a toda a Companhia sobre a análise marxista da teologia, dizendo que isso não podia, não era justo, pois são coisas diferentes. E o Papa Bergoglio lembra os documentos da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o assunto (CDF Libertatis nuntius e Libertatis conscientia).

      Alguns tentaram justificar a amálgama entre marxismo e cristianismo, alegando que se poderia “batizar Marx” assim como Santo Tomás de Aquino “batizou” Aristóteles. Mas esses se esquecem de que Aristóteles era pagão, tinha uma filosofia natural, mas não era anticristão, ao passo que Marx, sua filosofia, sociologia, materialismo dialético, negação da propriedade, etc. são visceralmente antinaturais e anticristãos. Impossível ser batizado! Coisas irreconciliáveis!

        O documento citado pelo Papa Francisco relembra a advertência do Papa Paulo VI: “Seria ilusório e perigoso o esquecimento do íntimo vínculo que os une de forma radical, aceitar os elementos da análise marxista sem reconhecer suas relações com a ideologia, entrar na prática da luta de classes e de sua interpretação marxista deixando de perceber o tipo de sociedade totalitária que conduz esse processo” (Octogesima adveniens, 34).


        “Essa concepção totalizante (de Marx) impõe sua lógica e leva ‘as teologias da libertação’ a aceitar um conjunto de posições incompatíveis com a visão cristã do homem... A nova hermenêutica, inserida nas ‘teologias da libertação’ conduz a uma releitura essencialmente política da Escritura... A luta de classes como caminho para uma sociedade sem classes é um mito que impede as reformas e agrava a miséria e as injustiças. Aqueles que se deixam fascinar por este mito deveriam refletir sobre as experiências históricas amargas às quais ele conduziu...” (Libertatis nuntius).

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Um mundo onde não cabem nem “Bergoglios” e nem “Ratzingers”.


Por Felipe de Oliveira Ramos

"Tu és Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam"

O discurso contemporâneo tenta colocar a figura de Jesus Cristo como figura subversiva que, atualizada a nossos tempos, acabaria por ser a favor de certas “pautas”, e irremediavelmente incomodaria aqueles que estão contra essas “pautas”.

De fato, Jesus Cristo mesmo tomado apenas como ser histórico é aquele que dá claridade e visibilidade à lei e “rompe” – seria mais correto falar de amadurecimento e perfeição da lei -, de certa forma, com a lei dada por Moisés aos homens, segundo o coração duro daqueles que estavam com ele. Mas Cristo vai muito além do que isso: Ele incomodaria a você e a mim mesmo, Ele diria coisas e colocaria diante de nós questões que nos tirariam do eixo. Jesus não esteve e nem está comprometido com uma pauta ideológica, mas sim com a verdade, e como diria Santo Agostinho, "a verdade tem poucos amigos".

Por dizer a verdade, sabemos onde Cristo foi parar, e hoje acabaria morrendo da mesma forma, não por causa de um lado conservador ou um lado progressista, não por uma direita ou uma esquerda, mas por que a verdade incomoda o ser humano, tira-o do seu eixo de estagnação. Queremos enfim, a preguiça das ideias relativas, das opiniões infundadas e das relações superficiais; Cristo quer dinâmica das verdades concretas, das opiniões cheias de sentido (significado e também DIREÇÃO) e das relações pessoais e íntimas (empatia, fraternidade, caridade, justiça).

Não seria surpresa que os dois últimos papas de nossa Igreja tenham sido ao mesmo tempo tão louvados e odiados pela maioria das pessoas. Esse misto entre admiradores e perseguidores de ambos acabou por criar um clima nada católico dentro da Igreja. Considero-a uma divisão que só existe nos olhos daqueles que insistem em criar uma profunda cisão no seio da Igreja. Bento XVI e Francisco podem ter perfis diferentes, mas, fica claro a qualquer observador atento que ambos sempre tiveram e têm o mesmo objetivo: mostrar o perigo do pensamento moderno para a fé e para a dignidade humana.

Embora visto como conservador, Bento XVI não deixou de lado os temas sociais, e muitas vezes se posicionou de forma clara como pontífice da Igreja. Não havia, no entanto, uma perseguição ao Papa Emérito nesse sentido: seu viés intelectual e teológico sustentava de forma sólida tudo que dizia, e até hoje muitos abrem os ouvidos para ouvi-lo movidos pelo respeito e reconhecimento a esse grande homem da razão. Bento XVI foi a misericórdia de Deus em sua divina providência, conservando a Igreja nas mãos de um homem que soube defender a doutrina, a teologia e os dogmas da fé cristã, diante de um mundo que perdia a fé e relativizava tudo.

Agora, temos o Papa Francisco. Se atacavam Bento XVI chamando-o de conservador, à Francisco atacam-no chamando-o de comunista. As suspeitas surgirem graças ao seu viés mais pastoral, e por Francisco ser um fiel seguidor da Doutrina Social da Igreja. É novamente um presente da providencia divina que coloca Francisco, homem da verdadeira caridade, à frente da Igreja em um tempo em que precisamos reaprender com Ela e com a palavra de Cristo sobre o sentido da verdadeira caridade, e das implicações de vivermos esse amor. Diante da crise no mundo, Francisco afirma-se e reflete de forma cada vez mais profunda a respeito de sua responsabilidade como pontífice da Igreja de Cristo. O meio pelo qual Ele encontrou para curar os males do mundo é o caminho do exemplo, da vida como evangelho último, e talvez o único evangelho que alguém poderá ler na vida. Em resumidas palavras: o que comove o mundo é o exemplo.


Francisco e Bento XVI não estão opostos, pois seus esforços são para combater os problemas no mundo. Francisco incomoda por que lembra ao mundo que ele se tornou egoísta e que ser egoísta é uma falta de caráter, mesmo no mundo em que se esconde o egoísmo por trás do "amar a si mesmo", "se você não gostar de si não vai gostar de mais ninguém" e etc.; Bento XVI incomoda o mundo por lembrar a eles da verdade, não só da verdade de que Cristo é amor (suas cartas DEUS CARITAS EST e CARITAS IN VERITATEM lembram-nos desse papa apaixonado pelo Deus amor), mas a verdade de que a lógica do mundo não está em conformidade com a de Cristo: "o mundo vos odiará por que primeiro odiou a mim” (Jo 15,18). No mundo egoísta e relativista em que vivemos, quase nunca haverá espaço para homens como Francisco e Bento XVI: amantes de Deus e da verdade, apóstolos dos últimos dias, que precisam lembrar ao mundo muitas das coisas que ele esqueceu.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Autoridade da encíclica.


Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

           A última encíclica do Papa Francisco, “Laudato si”, sobre o cuidado da casa comum, contém importantes ensinamentos para o mundo de hoje. Alguns, porém, poderiam contestar, dizendo que não se trata de um dogma de fé e seus ensinamentos são discutíveis. 

           Há diversos graus de autoridade nos ensinamentos da Igreja. No primeiro grau, estão as verdades divinamente reveladas, ensinadas de forma solene pelo Magistério infalível, que exigem de nós assentimento pleno e irrevogável de fé. No segundo grau, estão as verdades relacionadas com o campo dogmático ou moral, necessárias para guardar e expor o depósito da fé, propostas de modo definitivo pela Igreja, a que devemos também um assentimento pleno e irrevogável, baseado na fé da assistência do Espírito Santo ao Magistério. No terceiro grau, estão os ensinamentos que o Romano Pontífice ou o Colégio Episcopal propõem quando exercem o magistério autêntico, ainda que não entendam proclamá-los com um ato definitivo.

            É nesse terceiro grau que se enquadra a Encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco.

           A esses ensinamentos do terceiro grau do Magistério, ou seja, do Magistério simplesmente autêntico, ainda que não tenham sido definidos com um juízo solene nem propostos como definitivos pelo Magistério ordinário e universal, “é exigida uma religiosa submissão da vontade e da inteligência. Esta não pode ser puramente exterior e disciplinar (silêncio respeitoso), mas deve colocar-se na lógica e sob o estímulo da obediência da fé” (Donum Veritatis, 23). Infelizmente há uma pressuposta equação falsa em voga: ensinamento magisterial não definitivo é igual a não obrigatório.

         “Porque o ensinamento não infalível da Igreja, embora não de maneira absoluta, é também assistido pelo Espírito Santo. Muito se enganaria, pois, quem cuidasse que ele nos deixa inteiramente livres de assentir ou de discordar. Não obrigar sob pena de heresia, está longe de equivaler a não obrigar de todo... Nem basta acolher este ensinamento com um silêncio respeitoso; impõe-se uma adesão intelectual” (Penido – O Mistério da Igreja, VII).

        “Nem se deve crer que os ensinamentos das encíclicas não exijam, por si, assentimento, sob alegação de que os sumos pontífices não exercem nelas o supremo poder de seu magistério. Entretanto, tais ensinamentos provêm do magistério ordinário, para o qual valem também aquelas palavras: ‘Quem vos ouve a mim ouve’ (Lc 10,16)” (Pio XII, Humani Generis, 20) .


        “Com relação ao ensinamento do Magistério em matéria em si não irreformável, a vontade leal de se submeter deve ser a regra... Neste âmbito de intervenções de tipo prudencial, aconteceu que alguns documentos magisteriais não fossem isentos de carências. Os Pastores nem sempre colheram prontamente todos os aspectos ou toda a complexidade de uma questão. Mas seria contrário à verdade se, a partir de alguns casos determinados, se inferisse que o Magistério da Igreja possa enganar-se habitualmente nos seus juízos prudenciais, ou não goze da assistência divina no exercício integral da sua missão” (Donum Veritatis 24/5/1990, 24).

sábado, 18 de julho de 2015

A deseducação da pátria.


Denilson Cardoso de Araújo

Disse Dilma que educação seria prioridade suprema, com ações de governo formadoras, cidadãs, éticas e republicanas: pátria educadora. É... O que a Dilma fala não se escreve. Mas não ria. Tente não chorar com o capítulo atual da crise das escolas e universidades brasileiras.

Nem direi da amalucada combinação de o MEC lançar o Plano Nacional de Educação, e depois vir a Secretaria de Assuntos Estratégicos gerar o Pátria Educadora conflitando com coisas do PNE. Muito cacique para pouca educação. Dá frio na espinha. Estou com Tania Zagury: “Só de ouvir falar em reforma na educação, sinto arrepios”.

Como fazer educação com esse recorde de professores com depressão? Com o desengajamento afetivo de mestres massacrados por exigências de desempenho irreais, classes selvagens, famílias algozes, direções incapazes, secretarias omissas e governos capatazes?

Que educação se quer, com o grau máximo de violência entre alunos e de alunos contra professores, sexo em salas de aula e tráfico de drogas nos pátios, que faz crescer o clamor por câmeras de segurança, detectores de metal e polícia dentro da escola?

Que educação faremos, com esses currículos inchados de temas transversais, modismos pedagógicos, modernidades decrépitas, projetos de escolas suíças para fazer de conta em escolas etíopes? De tão fora da realidade, o que ocorre no ensino parece realidade paralela, surrealismo sem dono.

Como educar em escolas com cara de presídio - como é o clamoroso caso da Escola Jandira Bordignon, em Quitandinha, a cuja equipe heroica mando meu abraço - e escolas com cara de barraco, pardieiros espetados em barrancos, saletas de aula, becos de aula, fazendo vezes das salas faltantes? De tão vexatórias, levam alunos a tirar o uniforme na saída, para não serem apontados na rua.

Que educação teremos, em escolas sem quadras, a educação física desperdiçada no queimado pueril, sem, por exemplo, o atletismo – esporte barato e eficaz porta de acesso social a pobres, desde a Jamaica até aos guetos norte-americanos?

Como educar se quebramos as bússolas do senso de autoridade e do respeito, ao martelo das nefastas interpretações do ECA? Professores com medo de alunos, porque crianças e adolescentes lhes chegam desses criadouros de egoístas exigentes que se tornaram as desorientadas famílias.

Que educação é possível na escola onde os problemas sociais do entorno são tão graves que a equipe escolar é estimulada a suprir tudo, dar colo à comunidade e maior amor a alunos, como se um punhado de palavras carinhosas e alguns abraços pudessem suprir as profundas carências deixadas pela falta de serviços públicos decentes?

Que educação teremos com o número de alunos aumentado só para ficar bem na foto dos índices da UNESCO? Reduzir a idade de acesso escolar, usar o Bolsa Família para incrementar a matrícula, não ajuda à escola desprovida de adequados recursos e corretas políticas, que acaba virando um depósito superlotado de gente desmotivada.

Parodiando Bordieu, educação virou causa-ônibus: todos a favor, multidão na causa aglutinadora, que vira senha para o nada e para os desmandos. O governo, que não é ético, nem republicano, nem tem prática cidadã, deseduca. Atira para todos os lados sem acertar alvo algum. Sugiro a meta primária. Resgatar a autoridade do professor e a responsabilidade da família. Sem isso, não se vai a lugar algum. A não ser ao bueiro do meio milhão de notas zero no ENEM.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Pensando em voz alta...


Por Dom Henrique Soares.

A Igreja precisa sempre se converter, sim. Mas, não ao mundo pagão.

A conversão da Igreja deverá ser sempre mais a Cristo, com todas as Suas exigências. Somente assim ela será sal e luz.

Não são uma doutrina e uma moral feitas sob medida para o mundo que prestarão um serviço à humanidade! Uma Igreja sob medida não serviria para mais nada a não ser para ser jogada fora e pisada pelos homens!

A verdade é Cristo – e é o homem quem deve converter-se a Ele, não Ele ao homem.

Os primeiros cristãos encantaram o mundo não facilitando as coisas, mas crendo no Senhor e amando-O de todo o coração, até a morte quando preciso.

Ouso sonhar com uma Igreja cada vez mais fascinada por Cristo, que apresente o escândalo do Seu Evangelho sem medo nem meias palavras.

Sonho com uma Igreja de cristãos que não tenham medo de ser diferentes, de viver radicalmente na Palavra do Senhor e na fidelidade à Sua Igreja. Seremos, certamente, minoria, aquele pequeno rebanho que servirá de luz, sal e referencial para o mundo.

No nosso meio podemos ver isso claramente: o futuro da Igreja não está em multidões descomprometidas, mas naquelas comunidades pequenas, mas fervorosas, dispostas à santa loucura por Cristo – a loucura dos santos, a loucura do amor. E só o amor encanta, só o amor faz os santos, só o amor merece fé!

Jesus e o jovem rico.
E os demais, que não aceitam um Evangelho assim? Entreguemo-los à misericórdia de Deus, que tem Seus caminhos, como Jesus entregou o jovem rico, deixando-o ir embora livremente por não aceitar Suas exigências.


A nós, o Senhor dirá sempre: “Vós também quereis ir embora?” Uma coisa é certa: o Evangelho não está para negócio. Não se negocia o tesouro de grande valor, não se concede abatimento ou desconto naquilo que Cristo nos entregou como a maior riqueza da nossa existência!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Fala, Pedro!

(toda a Igreja espera a palavra do Papa sobre a família)

Por Pe. Luiz Carlos Lodi

A controvérsia sobre a circuncisão

O Concílio de Jerusalém.
Paulo e Barnabé estavam em Antioquia da Síria quando chegaram alguns vindos da Judeia (conhecidos como judaizantes) e disseram aos cristãos não judeus: “se não vos circuncidardes segundo a norma de Moisés, não podereis salvar-vos” (At 15,1). Houve então uma grande controvérsia, e todos resolveram dirigir-se a Jerusalém onde, na época, estava Simão Pedro. Diante da discussão acesa da assembleia, Pedro levantou-se e fez um discurso argumentando que não é pela circuncisão, mas “pela graça do Senhor Jesus que nós [judeus] cremos ser salvos, da mesma forma como também eles [os gentios]” (At 15,11). A Escritura prossegue dizendo: “Então, toda a assembleia silenciou” (At 15,12). A palavra de Pedro, a quem Jesus deu o poder e missão de confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22,32) pôs fim a uma discussão que parecia interminável.

A controvérsia sobre a anticoncepção

Concílio Vaticano II.
O Concílio Vaticano II (1963-1965) estava trabalhando na elaboração da Constituição Gaudium et spes (sobre a Igreja no mundo de hoje), quando surgiu entre os Bispos uma discussão acesa sobre a licitude do uso de meios anticoncepcionais (em particular, a pílula recém-inventada) para regular a procriação. O Papa Beato Paulo VI resolveu então chamar a si a questão, tirando-a do debate conciliar. Segundo nota de rodapé colocada na própria Gaudium et spes, “algumas questões, que necessitam de investigações mais aprofundadas, foram por ordem do Sumo Pontífice confiadas à Comissão para o estudo da população, família e natalidade, para que, terminados os estudos, o próprio Papa decida”[1]. Corria o ano 1964 quando o Beato Paulo VI chamou a si o estudo da matéria. Em dezembro de 1965, o Concílio terminou, sem que o assunto fosse resolvido. Em fins de 1966, o relatório da Comissão foi posto nas mãos do Papa, mas seus membros não haviam chegado a um consenso. Foi somente em 25 de julho de 1968 (quatro anos, portanto, após o Papa ter chamado a si a questão) que foi publicada a belíssima encíclica Humanae vitae sobre a regulação da procriação. Como era de se esperar, o documento não modificava a doutrina moral da Igreja, mas reafirmava o que já havia dito Pio XI na encíclica Casti conubii, ou seja, que “qualquer ato matrimonial [quilibet matrimonii usus] deve permanecer aberto à transmissão da vida”[2]. A anticoncepção foi, portanto, explicitamente condenada como meio de regular a procriação.

No entanto, os quatro anos de silêncio do Beato Paulo VI causaram um enorme dano ao mundo cristão. Enquanto Pedro silenciava, falsos profetas alardeavam que a doutrina da Igreja já havia mudado ou estava para mudar, e já davam, “antecipadamente”, permissão para os casais fazerem uso da pílula anticoncepcional. Quando finalmente Pedro falou por meio da Humanae vitae, a mentalidade contraceptiva já se havia espalhado entre os cristãos. Houve uma rebelião por parte de teólogos, bispos e até de episcopados inteiros contra o ensinamento perene do Magistério. E até hoje sentimos os efeitos do prolongado silêncio de Pedro sobre esse tema da moral conjugal.

A controvérsia sobre os divorciados “recasados”

Em 2013, o Papa Francisco resolveu convocar duas assembleias do Sínodo dos Bispos: uma extraordinária entre 5 e 19 de outubro de 2014 e outra ordinária entre 4 e 25 de outubro de 2015. O objetivo era discutir Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização. Na verdade, trata-se de um Sínodo sobre a família dividido em duas fases com a distância de um ano.

Sínodo dos Bispos sobre a Família - 2014.
A Assembleia de 2014 foi marcada por uma grande tensão. O relator geral do Sínodo, Cardeal Péter Erdö, no dia 13/10/2014, leu um relatório intermediário (Relatio post disceptationem) que continha várias ideias estranhas à doutrina da Igreja, incluindo o acesso dos divorciados em segunda união (“recasados”) ao Sacramento da Comunhão. Essa tese havia sido apresentada pelo Cardeal Walter Kasper no consistório de cardeais realizado em fevereiro de 2014. No entanto, em setembro de 2014, cinco cardeais[3] se uniram para publicar o livro Permanecendo na verdade de Cristo: Matrimônio e comunhão na Igreja Católica[4]refutando os argumentos de Kasper. Em 13/10/2014, quando a tese de Kasper apareceu no relatório do Cardeal Péter Erdö, houve uma grande reação entre os Padres Sinodais. Estes então se dividiram, por idioma, em dez círculos de trabalho e alteraram profundamente o texto inicial. Acrescentaram três tópicos dogmáticos sobre “A família no desígnio salvífico de Deus”, “A família nos documentos da Igreja” e “A indissolubilidade do matrimônio e a alegria de viver juntos”. Ao falar da misericórdia, não deixaram de falar da verdade, uma vez que ambas “convergem em Cristo”. No documento final (Relatio synodi), publicado em 18/10/2014, pôde-se ver o quanto o pensamento dos Padres Sinodais estava distante do relatório inicial. Dos 62 parágrafos, três não obtiveram os dois terços dos votos necessários para a sua aprovação: os de número 52 e 53 (sobre o acesso dos divorciados “recasados” ao sacramento da Comunhão) e o de número 55 (sobre a acolhida às pessoas com tendência homossexual). No entanto, curiosamente eles não foram excluídos do texto. Isso significa que tais temas poderão vir à tona novamente na Assembleia de outubro de 2015.

E o que disse o Papa Francisco sobre tudo isso? Em seu discurso de conclusão do sínodo, em 18/10/2014, o Santo Padre advertiu sobre a tentação de quem, “em nome de uma misericórdia enganadora, liga as feridas sem antes as curar e medicar” e a tentação de “descuidar o ‘depositum fidei’ [depósito da fé], considerando-se não guardiões mas proprietários e senhores”[5]. Entretanto, não fez nenhuma condenação explícita às teses kasperianas que circularam durante o Sínodo. O silêncio de Pedro permitiu que os meios de comunicação social passassem a divulgar que a Igreja havia mudado, ou estaria mudando sua prática de não admissão dos divorciados “recasados” à Comunhão Eucarística. Acerca disso, declarou o Cardeal Raymond Burke, na época prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, ao jornal eletrônico BuzzFeed News que “a falta de clareza [do Papa] sobre o assunto certamente causou um grande dano”[6].

No entanto, não é preciso um grande estudo para que o Santo Padre resolva a questão. Basta reafirmar o ensinamento de São João Paulo II na sua Exortação Apostólica Familiaris consortio, também esta fruto de um sínodo sobre a família celebrado em 1980. Após falar da misericórdia com que devem ser tratados os divorciados que contraem nova união, a Exortação diz:

A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fieis seriam induzidos em erros e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio[7].

De fato, convidar tais divorciados “recasados” à Comunhão eucarística seria, nas palavras de São Paulo, torná-los “réus do Corpo e do Sangue do Senhor” (1Cor 11,27), seria fazê-los “comer e beber a própria condenação” (1Cor 11,29). Eles que, segundo as fortes palavras de Cristo, “cometem adultério” (Mc 10,11-12), de nenhum modo serão beneficiados por receberem indignamente o sacramento do altar.

O Sínodo ordinário de outubro de 2015 aproxima-se e, com ele, novas discussões. No entanto, o que a Igreja espera, com grande expectativa, é a Exortação pós-sinodal que será feita pelo Papa, recolhendo diversas propostas feitas pelos Cardeais em ambas as assembleias. É possível que, em tal Exortação, Pedro venha a presentear-nos com um belíssimo tratado sobre o matrimônio cristão, contendo uma refutação explícita dos ensinamentos de Kasper. Mas é possível que, até lá, por causa da demora, um enorme dano já tenha sido causado na mente dos fieis.

Anápolis, 10 de julho de 2015
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis


[1] CONCÍLIO VATICANO II, Gaudium et spes, n. 51, nota 14.
[2] PAULO VI, Humanae vitae, n. 11.
[3] Os cardeais autores foram Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Raymond Leo Burke, na época Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica; Walter Brandmüller, presidente emérito do Comitê Pontifício de Ciências Históricas; Carlo Caffarra, Arcebispo de Bolonha e um dos teólogos mais próximos a São João Paulo II em questões de moralidade e família; e Velasio Di Paolis, Presidente emérito da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé.
[4] Lançado nos EUA livro escrito por cinco cardeais sobre a doutrina da Igreja sobre o matrimônio, ACI, 16 set. 2014, in:http://www.acidigital.com/noticias/cardeais-publicam-livro-em-defesa-da-doutrina-da-igreja-sobre-o-matrimonio-58216/
[7] S. JOÃO PAULO II. Familiaris consortio, 1981, n. 84.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Autorização para matar.


Por Carlos Ramalhete

Um americano viajou à Irlanda, e lá ficou surpreso com a quantidade de pessoas com o que antigamente se chamava mongolismo e hoje é chamado “Síndrome de Down”. Raríssimas na sociedade americana, estas pessoas a quem Morris West se referiu como “aqueles a quem Deus deu a graça da eterna inocência” são muito mais comuns na Irlanda.

A razão da diferença proporcional é simples: nos EUA, eles são mortos. Mortos em condições controladas e assépticas, em clínicas esterilizadas, assim que o pré-natal faz com que os pais saibam que o filho é assim. Já na Irlanda, onde o aborto é proibido, a pena de morte não é aplicada de modo tão automático.

Aqui no Brasil estamos no meio-termo: muitos – não todos – são mortos; ilegalmente, mas não menos fatalmente. Mas ressurge a ideia, já proposta pelo nazismo, de que o Estado pode declarar que há vidas humanas sem valor. Vários juízes já deram autorização para que fossem abortados bebês com má-formação do crânio ou do cérebro, considerando que a condição deles seria “incompatível com a vida”, e por isso a vida que eles têm pode ser exterminada. Agora, ao que se diz, a questão vai para o Supremo Tribunal.

Eu poderia citar casos, como o do funcionário francês que vive, trabalha e criou dois filhos apesar de ter uma má-formação cerebral que lhe valeria a pena de morte se seu caso houvesse sido julgado por um desses juízes, ou o da menininha Vitória, que nasceu sem crânio e vive, ri e alegra seus pais em São Paulo desde que nasceu, há um ano e meio. Mas não interessa.

O que apavora é que a possibilidade de problemas, ou mesmo de morte precoce, possa valer uma autorização automática para matar.

Ora, todos nós morreremos. O mais saudável dos seres humanos pode morrer amanhã, e pessoas com doenças graves podem viver longos anos, muitas vezes criando coisas que perduram para sempre. Matar agora por ser provável que se morra amanhã é um passo gigantesco e apavorante: é considerar que se pode matar, que se pode julgar que uma vida presente não tem valor. Hoje podem ser crianças doentes. Amanhã podem ser idosos, como já ocorre na Holanda. Depois de amanhã, podem ser as crianças com o sexo “errado”, como já ocorre na China, podem ser os homossexuais, podem ser quaisquer pessoas que se julgue não serem “produtivas o bastante”. O céu, ou melhor, o inferno é o limite.


O perigoso é passar por esta primeira porta, é achar que se pode declarar que uma vida não tem valor. Se existe a permissão para matar, quem é a vítima é apenas um detalhe.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Nossa Senhora do Carmo.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

          Celebraremos a festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo ou do Carmo, devoção antiquíssima na Igreja, muito difundida pelo uso do Escapulário em sua honra.

        Quase na divisa com o Líbano, o monte Carmelo, com 600 metros de altitude, situa-se na terra de Israel. “Carmo”, em hebraico, significa “vinha” e “El” significa “Senhor”, donde Carmelo significa a vinha do Senhor. Ali se refugiou o profeta Elias, que lá realizou grandes prodígios, e depois o seu sucessor, Eliseu. Eles reuniram no monte Carmelo os seus discípulos e com eles viviam em ermidas. Na pequena nuvem portadora da chuva após a grande seca, Elias viu simbolicamente Maria, a futura mãe do Messias esperado.

        Assim, Maria foi venerada profeticamente por esses eremitas e, depois da vinda de Cristo, por seus sucessores cristãos, como Nossa Senhora do Monte Carmelo.

        No século XII, os muçulmanos conquistaram a Terra Santa e começaram a perseguir os cristãos, entre eles os eremitas do Monte Carmelo, muitos dos quais fugiram para a Europa. No ano 1241, o Barão de Grey da Inglaterra retornava das Cruzadas com os exércitos cristãos, convocados para defender e proteger contra os muçulmanos os peregrinos dos Lugares Santos, e trouxe consigo um grupo de religiosos do Monte Carmelo, doando-lhes uma casa no povoado de Aylesford. Juntou-se a eles um eremita chamado Simão Stock, inglês de família ilustre do condado de Kent. De tal modo se distinguiu na vida religiosa, que os Carmelitas o elegeram como Superior Geral da Ordem, que já se espalhara pela Europa.


        No dia 16 de julho de 1251, no seu convento de Cambridge, na Inglaterra, rezava insistentemente o santo para que Nossa Senhora lhe desse um sinal do seu maternal carinho para com a Ordem do Carmo, por ela tão amada, mas então muito perseguida. A Virgem Santíssima ouviu essas preces fervorosas de São Simão Stock, dando-lhe, como prova do seu carinho e de seu amor por aquela Ordem, o Escapulário marrom, como veste de proteção, fazendo-lhe a célebre e consoladora promessa: “Recebe, meu filho, este Escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo aquele que morrer com este Escapulário será preservado do fogo eterno. É, pois, um sinal de salvação, uma defesa nos perigos e um penhor da minha especial proteção”. O Papa Pio XII, na carta dirigida a todos os carmelitas, em 11 de fevereiro de 1950, escreveu que entre as manifestações da devoção à Santíssima Virgem “devemos colocar em primeiro lugar a devoção do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo que, pela sua simplicidade, ao alcance de todos, e pelos abundantes frutos de santificação, se encontra extensamente divulgada entre os fiéis cristãos”. Mas faz uma advertência sobre sua eficácia, para que não seja usado como superstição: “O sagrado Escapulário, como veste mariana, é penhor e sinal da proteção de Deus; mas não julgue quem o usar poder conseguir a vida eterna, abandonando-se à indolência e à preguiça espiritual”.

domingo, 12 de julho de 2015

Louvado sejas...


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal  São João Maria Vianney

“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. Assim se exprimia São Francisco de Assis, no seu célebre “Cântico do Irmão Sol” ou “Cântico das criaturas”, no qual expressa o seu louvor a Deus através de suas obras. Inspirado nesse cântico, o Papa Francisco escreveu sua encíclica “Laudato si”, sobre o zelo que devemos ter com as criaturas que Deus nos deu, sobre o cuidado da casa comum, “a nossa irmã, a terra”.

Numa posição de equilíbrio entre os ambientalistas e ecologistas com visão apenas naturalista da questão e os gananciosos pelo dinheiro que visam apenas o lucro sem se preocuparem com os danos ambientais, ambos muitas vezes esquecidos da centralidade e dignidade da pessoa humana, o Papa adota uma correta posição teológica e antropológica diante do problema da natureza criada por Deus e dada ao homem, rei da criação. O Papa nos lembra que “esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou” (n. 2).

“Se o ser humano se declara autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba porprovocar a revolta da natureza” (n. 117).

Desta encíclica, cuja leitura integral recomendo a todos, ressalto alguns pontos significativos, como, por exemplo, quando o Papa condena os defensores da contracepção e do controle artificial da população: “Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas econômicas a determinadas políticas de ‘saúde reprodutiva’” (n. 50).


O Papa defende, sobretudo, a vida humana: “Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades” (n. 120). “Além disso, é preocupante constatar que alguns movimentos ecologistas defendem a integridade do meio ambiente e, com razão, reclamam a imposição de determinados limites à pesquisa científica, mas não aplicam estes mesmos princípios à vida humana. Muitas vezes justifica-se que se ultrapassem todos os limites, quando se faz experiências com embriões humanos vivos. Esquece-se que o valor inalienável do ser humano é independente do seu grau de desenvolvimento. Aliás, quando a técnica ignora os grandes princípios éticos, acaba por considerar legítima qualquer prática. Como vimos neste capítulo, a técnica separada da ética dificilmente será capaz de autolimitar o seu poder” (n. 136).

sábado, 11 de julho de 2015

20/10/1991 - Papa São João Paulo II. Visita Apostólica ao Brasil. Homilia de Salvador

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II 
AOS FIÉIS DE SÃO SALVADOR DA BAHIA NO DOMINGO DAS MISSÕES
Domingo, 20 de Outubro de 1991

Nossa alma espera no Senhor (Sl 33 (32), 20). 

Senhor, esteja sobre nós a tua graça
”(Sl 22).

1. Assim reza o Salmista. Assim ergue a Deus o seu grito em nome do seu povo, do Povo que o Senhor e Deus verdadeiro escolheu e envolveu com sua graça. Muitas vezes, Deus deu a conhecer a este Povo a graça da sua eleição e vocação na história de toda a grande família humana. Dizia a este Povo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do país Egito, da condição de escravidão: não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20, 2-3). Assim falava Deus ao povo eleito estabelecendo com ele um Aliança e manifestando-lhe sua vontade, por meio de Moisés, no sopé do monte Sinai.

“Senhor, esteja sobre nós a tua graça”. Será só em nome do seu povo - Israel - que o Salmista eleva o seu grito ao Senhor? Não estará presente no seu grito a voz de todos os povos e de todos os homens em toda a terra? À espera do Senhor, não estão as almas de todos? Não esperavam pelo Senhor, o Deus verdadeiro, as almas de todos os homens e povos, que habitavam no grande Continente americano, antes mesmo que aqui desembarcassem os Apóstolos chamados pelo Senhor - os apóstolos da graça e da salvação?

2. “Esteja sobre nós a tua graça”...

A graça, isto é, o amor da divina eleição, abraça todos os homens no Verbo eterno: o Filho consubstancial ao Pai. Do Pai e do Filho, procede eternamente o Espírito, Sopro salvífico de amor, com o qual Deus envolve e penetra toda a criação e, de modo peculiar, as almas dos homens criados à imagem e semelhança de Deus.

Isso acontece, por obra do Filho que se fez Homem, o divino Emanuel: “Cresceu como um rebento diante dele e como uma raiz em terra árida” segundo as palavras do profeta Isaías (Is 53, 2). Cresceu na história da humanidade como o Filho da Virgem de Nazaré, Maria, a qual, em virtude do Espírito Santo, O concebeu e O deu à luz. N’Ele, o Deus eterno e inefável deu cumprimento às esperanças do homem: “O olhar do Senhor vela sobre quem o teme, sobre quem espera na sua graça” (Sl 33 (32), 18); em Cristo, Deus e Homem se deteve em cada homem “para livrá-lo da morte e nutri-lo no tempo da fome” (Sl 33 (32), 19).

Cumpriu-se tudo isso por obra da cruz, como anunciava o mesmo profeta Isaías, quando afirmava: “Aprouve ao Senhor prostrá-lo com padecimentos. Quando se oferecer, a si mesmo, em expiação... cumprir-se-á por meio dele a vontade do Senhor. O justo meu servo justificará a muitos, tomará sobre seu dorso suas iniqüidades” (Is. 53, 10-11).

Assim, pois, o Filho consubstancial ao Pai, Deus nascido de Deus e Luz nascida da Luz, como Homem nascido de uma Virgem, tornou-se servo: servo da santidade de Deus, servo dos desígnios eternos e salvíficos de Deus. Servo da nossa eterna salvação, de nós homens, de todos os homens.

Quando contemplamos o Crucificado, cumpre-se aquilo que Isaías profetizava. Aqui, diante de nós está Cristo: “Desprezado, rejeitado pelos homens, homem das dores”(Is 53, 3). Ei-lo diante de nós, o Cristo, servo da eterna salvação do homem, de todos os homens, povos e nações.

Deste modo Ele se tornou, como proclama o Apóstolo na Carta aos Hebreus, sumo sacerdote, o único sumo sacerdote de toda a história do Cosmos, da história do homem no mundo, em todos os Continentes.

3. Ao ordenar aos seus apóstolos com persuasiva clareza, “Ide” (Mc 16, 15), e ao assegurar-lhes “Eu estarei convosco” (Mt 28, 20), o Messias crucificado e morto, mas ressuscitado, os constituía, sem reserva e sem retorno, arautos, testemunhas e comunicadores da graça salvífica, outrora invocada pelo Salmista, prometida pelos profetas, agora garantida por Ele, Filho do Pai Eterno. Aos quatro horizontes correram os Doze, portadores da salvação e impelidos no mais íntimo de si próprios pela urgência de anunciá-la como “boa notícia” e como fonte de vida.

Também, às costas da América, há 500 anos, às costas da terra que chamaram Vera Cruz e Santa Cruz, antes de chamá-la Brasil, foram chegando em levas sucessivas, os mensageiros e ministros da graça da Salvação. Sacerdotes do clero diocesano, franciscanos e dominicanos, carmelitas e mercedários, beneditinos e jesuítas, precederam muitos outros. Eles assumiram corajosamente estas terras imensamente vastas, como campo de sua missão. Eles deram início, sem a mínima demora, à tarefa da evangelização por eles entendida como anúncio claro e explícito de Jesus Cristo, seu nome, sua pessoa, sua boa nova salvífica, suas normas de vida. Mas também para conviver com os habitantes destas plagas, defendendo seus direitos e promovendo sua dignidade de seres humanos. A gesta destes homens, teve rasgos de heroísmo, de solidariedade humana e, ao mesmo tempo, ardores de caridade sobrenatural, de fé contagiante, de zelo apostólico abrasador.

Evocando esta epopéia missionária da primeira evangelização aqui, neste solo generoso e sob o céu da Bahia, não posso deixar de pronunciar um nome que é todo um programa: o do Padre José de Anchieta, merecidamente cognominado “o Apóstolo do Brasil”. Eu tive a íntima satisfação de elevar às honras dos altares, beatificando-o na Basílica Vaticana, poucos dias antes da minha primeira viagem ao Brasil, este filho de Tenerife que, entrando na Companhia de Jesus e vindo pouco mais que adolescente à Terra da Santa Cruz, aqui viveu vida santa e apostolar, toda dedicada à educação humana e cristã dos índios em meio a sofrimentos e tribulações de toda ordem. Como Superior da Companhia, ele passou anos da sua existência nesta Cidade do Salvador, antes de morrer, consumido pela fadiga mais do que pela idade, junto ao mar de Reritiba, no Estado do Espírito Santo, que ontem visitei.

4. Aqui onde teve início e primeiros desdobramentos a obra evangelizadora, mais do que questionar o passado, devemos interrogar-nos sobre o presente. Mais do que perguntar-nos como foi, que obstáculos enfrentou, que limites e condicionamentos conheceu a primeira evangelização, devemos e queremos deixar-nos interpelar pela segunda evangelização da qual somos protagonistas.

A indagação que deve provocar-nos de modo particular neste Domingo de outubro, tradicionalmente consagrado às Missões, é uma das que registrei na recente Encíclica Redemptoris missio. Vós, baianos, homens e mulheres, anciãos, adultos, jovens, adolescentes e crianças, letrados ou de pouca instrução, vós, de que modo continuais a obra dos vossos pais na fé? Que é feito da missão e da evangelização, que deve apresentar-se como nova evangelização, em Salvador e na Bahia de hoje?

Aqui na Bahia oferece-se de imediato, evidente, iniludível, o “mundo” dos que se afirmam cristãos e católicos por origem familiar, pelos sacramentos que receberam, pela prática mais ou menos freqüente das normas e preceitos da Igreja. Entre eles, há os mais empenhados na comunidade eclesial, na sua vida e atividade, como também os que padecem da insuficiente formação religiosa e são, por isso, vulneráveis às superstições, ao sincretismo religioso, ao fascínio de grupos ou correntes religiosas incompatíveis com a fé católica. Este mundo religioso de grandes proporções, no qual se insere a complexa realidade da religiosidade popular com suas várias facetas, tem urgente necessidade de perseverante e cuidadoso atendimento e clama por ele com uma resignação urgida de dramático sofrimento espiritual.

Um outro “mundo”, não menos necessitado é dos indiferentes; dos que foram católicos num passado mais ou menos recente, mas por falta da presença ativa de Pastores, pela turbulência da vida, pela influência dos estudos e leituras, pela negligência, abandonaram toda prática religiosa. É muito grande o número dessas pessoas ligadas à sua fé original, somente pelo tênue vínculo de uma prática religiosa esporádica.

Há também o “mundo” dos marcados pelo ateísmo ideológico ou pelo ateísmo prático - do hedonismo e do consumismo -, pelo secularismo, pela total ausência de um referencial religioso. Fazem parte deste “mundo”, predominantemente elementos das classes superiores, sobretudo jovens ou jovens-adultos das Universidades, engajados em atividades decisionais na sociedade. Sente-se a urgente necessidade de inserir o Evangelho neste “mundo” do qual, queiramos ou não, provêm em grande parte os grandes rumos da vida política, social, econômica e cultural de uma Cidade, de um Estado, de um País.

5. Mas o Domingo das Missões, desperta na nossa consciência também o dever missionário “ad gentes”.

O senso desse dever, quando vivido com certa plenitude, produz hoje um resultado: as Igrejas mesmo pobres, dão da sua pobreza a outras mais pobres ainda. Neste sentido, o documento de Puebla traz esta afirmação de enorme alcance: nosso Continente é missionário, no sentido de precisar ainda, e muito, da contribuição missionária de outros países. É missionário também porque, no interior do próprio País, missionários de uma região mais dotada de recursos e de pessoas dão a outras mais carentes; é missionário enfim, porque já se começa a enviar missionários “ad gentes” a outros Continentes.

Estou informado de que já centenas de sacerdotes, leigos e religiosos brasileiros aceitaram a missão “ad gentes” e hoje estão em terras distantes, comprometidos com a ação missionária em todas as suas dimensões. Ofereço o meu mais claro e vigoroso incentivo, de um lado ao programa “Igrejas-irmãs”, válido instrumento do mandato missionário no interior do próprio País, e, de outro lado, aos programas de “missões ad gentes” a partir do Brasil.

6. Sinto, neste ponto da homilia, o impulso interior de dirigir-me a toda a Igreja peregrina no Brasil inteiro. Peregrina nos Estados e Territórios que não me foi ainda possível visitar, a cujos Pastores, Governantes e Povo envio daqui a minha Bênção Apostólica mais escolhida: o pequeno e querido Sergipe, geograficamente próximo da Bahia e eclesialmente unido no Regional Nordeste III, com sua Arquidiocese e dioceses sufragâneas. Acre e Rondônia, Amapá e Roraima. Peregrina em cada cidade, aldeia e povoação; em cada Comunidade Eclesial de Base, Paróquia e Diocese. Em cada fábrica, mina, gleba ou fazenda, escola ou universidade. Em cada família acalentada pela felicidade e pela alegria, ou batida pela dor e pelo luto. Peregrina nos hospitais e nas prisões, nos estádios e nos lugares de divertimento honesto e sadio. A esta Igreja peregrina na esperança, comunhão de fé, amor, oração e serviço mútuo entre Pastores e fiéis, exorto: “Sê no meio do mundo, testemunha fiel e confiável da imensa ternura de Deus para com a Humanidade!”.

À Igreja que se constrói cada dia na Arquidiocese de Salvador e no Estado da Bahia, ao seu Cardeal Arcebispo, Dom Lucas Moreira Neves e aos demais Bispos, Presbíteros e Diáconos, pessoas consagradas e leigos, quero deixar, por ocasião deste segundo encontro, a expressão da minha afeição e a minha Bênção Apostólica, especialmente para os mais pobres e carentes, os mais necessitados e esquecidos. O Filho de Deus, o Senhor do Bonfim, a cujos pés me prostrei em adoração esta manhã, abençoe Salvador e a Bahia, os responsáveis pelo bem comum e toda a população.

7. Encontrando-nos, pois, neste momento histórico - verdadeiro “kairos” - da evangelização e da missão “ad gentes”, é preciso escutar as palavras dirigidas por Jesus Cristo aos Apóstolos, e em particular aos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João: “Podeis beber o cálice que eu bebo e receber o batismo com o qual sou batizado?” (Mc 10, 38).

Podeis tomar parte da cruz salvífica da redenção? Estais dispostos a perseverar sob o poder do Espírito de verdade, mesmo passando pelos trabalhos e sofrimentos, mediante o ministério da palavra e da caridade? Sob o poder do Espírito que se doa aos corações humildes e fortes?

E Cristo continua: Não penseis nas honrarias deste mundo, nas grandezas terrenas. “Quem quiser ser grande no meio de vós, deve tornar-se vosso servo” - servo de todos. “O Filho do homem, com efeito, não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos” (Mc 10, 43-45).

Um dia Cristo perguntou aos Apóstolos: “Podeis?” - e estes responderam: “Podemos” (Mc 10, 39).

Hoje, o mesmo Cristo vos pergunta - a vós, baianos, a vós, brasileiros -, a vós que sois o Povo de Deus e a Igreja do Deus vivo: “Podeis colocar-vos, para o vosso bem e o bem de vossos irmãos e irmãs, ao serviço da minha palavra e dos meus sacramentos, da minha Boa Nova de salvação, ao serviço da Esperança que vim trazer e do Amor que vim acender para que abrase o mundo? Podeis, vós jovens, renunciar aos ídolos do ter, do poder e do prazer e dar testemunho de perfeita adesão a mim, aceitando seguir-me pelos caminhos da vida consagrada e do ministério diaconal e presbiteral? Podeis abraçar o chamado que, neste sentido vos faço: “Vem e segue-me!”, como diz a cada um dos Doze? Podeis entregar o melhor de vossa vida aos pobres, aos doentes, aos marginalizados, aos pecadores, aos distantes de Mim e de meu Pai?


Seja a vossa resposta também: “Podemos, Senhor! Não por nossa capacidade, mas por vossa graça. Podemos, tudo podemos em vós que nos dais força!”(Cfr. Fl 4, 13).

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Estado laico não dá direitos políticos só a ateus e agnósticos.


Por Ives Gandra Martins

Há uma profunda confusão dos que, sem terem valores religiosos, defendem a tese de que no Estado laico todo cidadão que acredita nesses valores religiosos não tem o direito de manifestar-se, devendo prevalecer os valores dos ateus e agnósticos.

Nessa equivocada visão, a esmagadora maioria da população, que acredita em Deus e professa tais valores, deveria silenciar-se sobre suas crenças, pois estas poderiam ter reflexos políticos. Em outras palavras, como disse um líder de não crentes, defender famílias múltiplas, abortos, uniões de pares do mesmo sexo é ideologia e não se confunde com religião.

No Estado laico a ideologia é perfeitamente admitida, mas defender fidelidade conjugal, a vida humana desde a concepção, casamento entre homem e mulher é defender posições religiosas, que não se compaginam com o Estado laico.

Todos os que embarcam nesta incorreta concepção de Estado Laico brasileiro sequer leram o prólogo da Constituição de 1988, que diz: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa o Brasil".

Ora, todo o Poder Executivo, todo o Poder Legislativo, todo o Poder Judiciário, todo o Estado brasileiro, todos os direitos fundamentais reconhecidos foram promulgados sob a proteção de Deus.

O Estado laico brasileiro, portanto, é um Estado democrático de direito constituído sob a proteção de Deus. Todos os poderes dados pela Constituição a presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados, vereadores, ministros, desembargadores, juízes, membros do Ministério Público e advogados foram dados sob a proteção de Deus.

Para tais cidadãos, de rigor, o único caminho, a meu ver, é criar uma nova Assembleia Constituinte para reformular o preâmbulo da Carta e dizer que a Constituição Brasileira passa a ser promulgada sem a proteção de deus.

Vale a pena, todavia, de forma didática esclarecer o que é Estado laico. Trata-se de Estado em que as instituições religiosas não devem interferir nas instituições políticas. São instituições que cuidam de aspectos diferentes da vida humana.

Estado laico não é aquele em que só ateus e agnósticos possuem direitos políticos. No Estado laico, ateus, agnósticos, que são a esmagadora minoria, e os que professam alguma crença religiosa têm os mesmos direitos de cidadania.

Ora, se têm os mesmos direitos, têm o direito de defender suas posições, de votar em quem acredita nos mesmos valores. E, como na democracia as decisões são tomadas pela maioria, respeitado os direitos da minoria, tem direito de fazer prevalecer seus valores de ética, princípios morais, defesa de direitos fundamentais da dignidade humana na conformação das leis. As leis devem ser feitas pela maioria - com respeito ao direito das minorias -, pois é ela que representa a maior parte da população.

O cidadão que acredita em Deus não é um castrado político, mas um cidadão com todos os direitos das minorias ateia ou agnóstica.

Nada mais legítimo que representantes da maioria rezem um "Pai Nosso" na Câmara dos Deputados, numa demonstração de respeito aos seus valores. Da mesma forma que a minoria sempre prestigiou os seus, inclusive através de representantes da homossexualidade, de defensores do aborto, exercendo o direito de manifestar-se e até mesmo levar seus cartazes às sessões da Câmara ou do Senado.


Felizmente, o Brasil é uma plena democracia, onde as instituições religiosas não influenciam as instituições políticas e onde tanto a maioria que acredita em Deus, como a minoria que não acredita tem o pleno direito de defender, através de seus representantes, suas ideias, perante os poderes constituídos. Nossa democracia é tão extraordinária que os ateus e agnósticos têm o pleno direito de participar de todas as instituições Políticas instituídas sob a proteção de deus. Exercem, pois, seus direitos sob a proteção de deus.