quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O dia do nascituro.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

            Por determinação da 43ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em 2005, celebra-se, em todo o Brasil, de 1 a 8 de outubro, a Semana Nacional da Vida e no dia 8 de outubro o Dia do Nascituro, ou seja, o Dia pelo direito de nascer. “A Semana Nacional da Vida e o Dia do Nascituro são ocasiões para que toda a Igreja continue afirmando sua posição favorável à vida desde o seio materno até o seu fim natural, bem como a dignidade da mulher e a proteção das crianças” (Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da CNBB). Uma data esquecida, mas que vale a pena recordar. Nascituro, o que está para nascer, é o que todos fomos um dia, no útero de nossa mãe, onde teve início nossa existência, graças a Deus.

             Foi escolhido o dia 8 de outubro, por ser próximo ao dia em que se celebra a Padroeira do Brasil (12 de outubro), cujo título, ao evocar a concepção, lembra o fruto correspondente: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus que se fez homem, Jesus Cristo, nascituro em seu seio, que faz João Batista exultar de alegria no ventre de Isabel (Lc 1,39-45).

              A propósito, diante da atual banalização da vida e de opiniões favoráveis ao aborto, defendido por inúmeras pessoas influentes, é importante lembrar que a Igreja compreende as situações difíceis que levam mães a abortar, mas, por uma questão de princípios, defende com firmeza a vida do nascituro, como bem nos ensina S. João Paulo II na Carta Encíclica "Evangelium Vitae" (Sobre Valor e a Inviolabilidade da Vida Humana): “É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas essas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (n. 58). E, usando da prerrogativa da infalibilidade, o Papa define: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores, em comunhão com os Bispos – que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que... apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina - declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal”(n. 62).


        Agradeçamos ao Criador pelo dom da vida que nos deu, e renovemos o nosso compromisso de lutar pela vida daqueles que, como nós fomos também, ainda não têm voz, mas que são chamados a um dia agradecerem a Deus por tão grande dom. Lutemos pela vida, contra o aborto.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Corrupção, mal antigo.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

        A corrupção financeira, ou seja, o conseguir ilicitamente benefícios através do dinheiro e vice-versa, provém da ambição humana do poder. Pois o dinheiro traz poder. E o poder é o que atrai, seduz, pois, com ele, pensa-se, consegue-se tudo. Quanta gente, pelo dinheiro, por amor do cargo ou posição, pela sede de poder, trai sua consciência e acaba prevaricando!

        Mas, sempre há condições, na maioria das vezes ilícitas, para se conseguir com facilidade, sem trabalho, dinheiro e poder. Não foi essa a tentação do Diabo a Jesus: “Tudo isso te darei (todos os reinos do mundo e a sua glória) se, prostrando-te diante de mim, me adorares” (Mt 4, 9)?

        “Feliz o homem que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro! Quem é esse para que o felicitemos?” (Eclo 31, 8-9).  É a exclamação do livro do Eclesiástico. “Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), nos ensina Jesus. Servir ao dinheiro significa transforma-lo em deus, com disposição de a ele tudo sacrificar: honra, consciência, virtude, o próximo, etc.

        “Aqueles que ambicionam tornarem-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor do dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições” (I Tim 6,9-10), nos adverte São Paulo.

        O exemplo clássico de ambição, de “servir ao dinheiro” foi Judas, que vendeu Jesus aos seus inimigos. Judas certamente não queria a morte de Jesus. Queria sim lucrar com sua entrega, com seu poder, vendendo-o aos inimigos, recebendo deles o dinheiro, pensando que Jesus iria deles se libertar, como já o fizera antes. O amor do dinheiro o cegou a ponto de não enxergar a loucura que estava praticando e levando-o depois ao desespero.

        Outro exemplo de ambição do poder, ligado ao dinheiro, também ocorreu na Paixão de Cristo com Pilatos, o governador romano a quem competia julgar Jesus. Declarando por nove vezes sua inocência e tentando libertá-lo, sucumbiu ao terrível argumento dos inimigos de Jesus: a perda do cargo e, consequentemente, do dinheiro a ele inerente: se Pilatos libertasse Jesus, eles o acusariam perante César, e seu cargo correria perigo. Então Pilatos, contra a sua convicção, deixou-se vencer pela força do dinheiro e traiu sua consciência condenando Jesus, por ele proclamado inocente. Corrupto! Também corruptos foram os chefes dos sacerdotes quando deram propina aos guardas para que mentissem sobre a Ressurreição de Jesus (Mt 28,12-15).


        Chamamos de corruptos os políticos, mas nos esquecemos de que corrupto é alguém que é corrompido por outro. Esse outro, que corrompe os políticos, acaba sendo o povo que o elege. Pois elegem por interesse, elegem aquele que os beneficia ou poderá beneficiar, votam quando vão lucrar alguma coisa. Então, só os políticos é que são corruptos ou é também o povo, nós mesmos, que os elegemos na base da corrupção?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O péssimo tempero e o gosto ruim da comida pronta. Uma correlação necessária.


Por Emanuel Jr.

Essa semana vi sendo publicada à exaustão a imagem do cadáver da criança que morreu afogada, sendo recolhida à beira da praia.

Não sou insensível, como penso que a totalidade dos que aqui estão lendo também não o são e, por isso mesmo, entendem que a imagem é chocante, mas é um pequeno detalhe do que vem acontecendo faz tempo. E olha que não estou falando só de imigrações forçadas.

Quanto a essas imigrações, a hipocrisia é gigantesca: primeiro porque já morreram mais de 200.000 pessoas sendo quase 10.000 crianças exatamente como aquela; segundo porque essas várias que já morreram não tiveram nenhum minuto de mídia pelo simples fato de que não interessava e agora passou a interessar devido a uma foto e um vídeo chocantes e bem feitos com essa exata intenção; terceiro porque as mesmas pessoas que ignoravam tudo isso se sentido indignadas a mais do que precisava com um leão, são as que mais choram um problema que nunca pararam pra pensar nos motivos e que se esquecerão em quatro ou cinco dias, sobrando apenas uma leve e inconveniente lembrança de uma criança na praia.

Crianças como aquela morrem aos montes aqui do nosso lado devido a nossa negligência de achar que precisamos nos preocupar com quem está do outro lado do mundo e não com quem está perto, afinal fica mais fácil eu mandar um doação ou mostrar indignação com algo com o qual não tenho o mínimo controle, do que me envolver com algo que posso fazer alguma diferença de verdade e que está ao alcance das mãos. Não vou nem mencionar o problema de milhares de abortos que são exatamente assassinatos de crianças que não são recolhidas a beira da praia, mas na lata de lixo. Não estou minorando o problema que acontece lá, apenas estou constatando fatos. É claro que o problema de lá é sério, não sejamos, também, hipócritas de mudar o alvo.

Por lá, depois de muito se trabalhar para conseguir algo, agindo certo ou errado, mas agindo, alguns países da Europa, especialmente a Alemanha que é o principal alvo do imigrantes, conseguiram estabelecer um alto padrão de vida e construir seu país a custa de esforço e sacrifícios de todos os tipos. A Alemanha então tem uma história tenebrosa de nazismo, socialismo e absurdos do tipo.

Não vejo qualquer reflexão sendo feita por esse prisma, seja porque não interessa esse lado da história, o que denota má-fé ao analisar fatos sem levar em conta o máximo de possibilidades; seja porque sequer pensaram no assunto, o que é a pior opção, pois o fazem devido a total incapacidade de pensar além do que veem a frente do nariz.

No Brasil, hoje, vivemos fenômeno parecido sem precisar de imigração de ninguém, embora tenhamos alguns casos haitianos pululando por aí. Por aqui vemos uma imigração interna da nação dos que trabalham para a nação dos que, por um motivo ou outro, vivem as custas desses que trabalham. Até onde vamos chegar com isso? Anos atrás eu e alguns conhecidos já falávamos e conversávamos com esse nível de questionamento, hoje vejo gente que nunca imaginei questionar isso, questionando. Vi esse tipo de questionamento nessas manifestações de domingo, mas não vejo nenhum tipo de luz dos governos federal e estaduais que fomentam esse tipo de prática. Não vejo nenhum tipo de entendimento ou pelo menos esforço em olhar esse lado. Parece que nossos governos estão funcionando exatamente como aquele tipo de analista, citado lá em cima, que não consegue ver a situação por absoluta incapacidade e incompetência.


E nós? Conseguimos ver todas essas questões com o fio que liga todos esses fatos ou vamos continuar achando que cada coisa está em seu devido compartimento não existindo ligação nenhuma entre o péssimo tempero e o gosto ruim da comida pronta?