terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um Apoio onde apoiar a vida.

Por Dom Henrique Soares. 

Estava lendo um trecho do Segundo Livro das Crônicas. Deparei-me com uma frase que me impressionou, de tão real. Era a dura censura de um profeta, um tal de Hanani, ao rei Asa, de Judá. O governante tinha pedido ajuda ao rei de Aram na sua luta contra o rei Baasa, de Israel. Procurou ajuda noutro rei e não no Senhor... No aperto, foi lógico: procurou o apoio nos exércitos de um rei amigo. No entanto, as palavras de reprovação do Profeta Hanani são tremendas: “Porque te apoiaste no rei de Aram e não no Senhor teu Deus, as forças do rei de Aram escaparão de tuas mãos” (2Cr 16,7).

É isto mesmo, e se repete tanto, ainda hoje, ainda agora, comigo e com você, caro Leitor meu: toda vez que nos apoiamos em nossos cálculos, em nossas muletas, sejam de que tipo for, terminamos perdendo tudo. Sim, porque nossas muletas, nossos apoios humanos, nossas falsas seguranças nos escapam! O que é perene realmente, a não ser o Senhor?

Pense, Leitor! Pense e pense novamente: o que é perene nesta vida? O que é consistente neste mundo? O que é realmente garantido, assegurado? A resposta é tremenda: nada! Nada fora de Deus se sustenta realmente e nos assegura a vida! Tudo aquilo em que pomos nossa segurança e nosso tesouro de modo absoluto, nos escapa das mãos, como as forças e os exércitos do rei de Aram faltaram ao Rei Asa, de Judá! É a insustentável leveza do ser, sua fugacidade radical, aquela dolorosa constatação do Eclesiastes: “Vaidade das vaidades: tudo é vaidade!” (Ecl 1,1), tudo é fugacidade, é inconsistência...

É de nós mesmos, um vício nosso, fruto do nosso pecado original: a teimosia em buscar seguranças, alicerces e certezas certas fora de Deus e até contra Deus... No entanto, somente ele, o Senhor, é nossa certeza, somente ele, a Realidade real, que nunca nos faltará e pode ser apoio e rochedo da nossa incerta existência!

Cada vez que eu ou você buscarmos apoio absoluto, certo e garantido nas coisas que passam, ouviremos, dolorosamente, a terrível constatação: “Porque te apoiaste nessas coisas, nessas pessoas, nessas situações, e não no Senhor teu Deus, as forças dessas coisas, dessas pessoas, dessas situações escaparão das tuas mãos”, porque tudo passa. Só Deus permanece, só Deus basta!


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

24/12/2013 - Natal do Senhor - Papa Francisco.

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Terça-feira, 24 de Dezembro de 2013


1. «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).
Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum facto emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz reflectir sobre este mistério: o mistério doandar e do ver.

Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. Porque fiel, «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e momentos de povo errante.

E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1 Jo 2, 11). Povo em caminho, mas povo peregrino que não quer ser povo errante.

2. Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).

A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós.

3. Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. É lei do peregrino velar, e eles velavam. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade: Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil.

Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). Assim disseram os anjos aos pastores: «Não temais». E repito também eu a todos vós: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a misericórdia: o nosso Pai perdoa-nos sempre. Ele é a nossa paz. Amen.

O Estado delinquente.

Por Ives Gandra Martins

O Estado deve indenizar por danos morais todo criminoso que não tiver direito a cumprir sua pena nos estritos limites da condenação

Todo criminoso deve ser punido. Cabe ao Poder Judiciário condená-lo, após o devido processo legal e respeitada a ampla defesa. É o que determina a lei suprema (artigo 5º, incisos LIV e LV).

Nas democracias, o processo penal objetiva defender o acusado, e não a sociedade, que, do contrário, faria a justiça com as próprias mãos.

O condenado deve cumprir a sua pena nos estabelecimentos penais instituídos pelo Estado, em que o respeito à dignidade humana necessita ser assegurado.

Quando isso não ocorre, o Estado nivela-se ao criminoso. Age como tal, equiparando-se ao delinquente, da mesma forma que este agiu contra sua vítima.

A função dos estabelecimentos penais é a reeducação do condenado, para que, tendo pago sua pena perante a comunidade, retorne à sociedade preparado para ser-lhe útil.

Os cárceres privados constituem crime. Quem encarcera pessoas, tirando-lhes a liberdade, deve ser punido e sofrer pena que o levará a experimentar o mesmo mal que impôs a outrem.

E o cárcere público? Quando um criminoso já cumpriu o prazo de sua pena e tem direito à liberdade, mas o Estado o mantém encarcerado, torna-se o ente estatal um delinquente como qualquer facínora.

Todo condenado deve cumprir sua pena, mas nunca além daquela para a qual foi condenado. Se o Estado o mantém no cárcere além do prazo, torna-se responsável e deve ser punido por seu ato. Como não se pode encarcerar o Estado, deve-se pelo menos pagar indenizações à vítima pelos danos morais causados.

A tese vale também para aqueles que forem condenados a regimes abertos ou semiabertos e acabarem por cumprir a pena em regimes fechados, por falta de estrutura estatal, pois estarão pagando à sociedade algo que lhes não foi exigido, com violência a seu direito de não permanecerem atrás das grades. Nesses casos, devem também receber indenização por danos morais.

A tese de que todos são iguais e não deve haver privilégio seria correta se o Estado mantivesse estabelecimentos que permitissem um tratamento pelo menos com um mínimo de respeito à dignidade humana. Como isso não ocorre, a tese de que todos devem ser iguais e, portanto, devem "gozar" das péssimas condições que o Estado oferece é simplesmente aética, para não dizer algo pior. Em vez de o Estado dar exemplo de reeducação dos detentos, a tese da igualdade passa a ser garantir a todos tratamento com "igual indignidade".

Enquanto a Anistia Internacional esteve no Brasil, pertenci à entidade. Lutávamos, então, não só contra a tortura, mas contra todo o tratamento indigno aos encarcerados, pois não cabe à sociedade nivelar-se a eles, mas dar-lhes o exemplo e tentar recuperá-los.

Por isso, ocorreu-me uma ideia que sugiro aos advogados penalistas e civilistas --não atuo em nenhuma das duas áreas--, qual seja, a criação de uma associação, semelhante àquela que Marilena Lazzarini criou em defesa dos consumidores, para apresentar ações de indenização por danos morais em nome das pessoas que: 
a) cumpram penas superiores àquelas para as quais foram condenadas; 
b) cumpram penas em regimes fechados, quando deveriam cumpri-las em regime aberto ou semiaberto; 
c) cumpram penas em condições inadequadas.

Talvez assim o Estado aprendesse a não nivelar-se aos delinquentes. Sofrendo o impacto de tais ações, quem sabe poderia esforçar-se por melhorar as condições dos estabelecimentos penais, respeitar prazos e ofertar dignidade no cumprimento das penas.


Todo criminoso deve cumprir sua pena, mas nos estritos limites da condenação e em condições que não se assemelhem às dos campos de concentração do nacional-socialismo.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NATAL HOJE E SEMPRE!


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem  à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi, como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo: JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria, em Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador! Ele é Emanuel, Deus Conosco”. Este é o solene anúncio oficial do Natal, feito pela Igreja na primeira Missa da noite de Natal!

O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a ser um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance. Jesus é Deus entre nós, o “Emanuel – Deus conosco”. Assim, o Natal traz lições para todas as épocas do ano.

São Francisco de Assis inventou o presépio, a representação iconográfica do nascimento de Jesus, para que refletíssemos nas grandes lições desse maior acontecimento da história da humanidade, seu marco divisor, fonte de inspiração para pintores e místicos.

Que tal se fizéssemos um Natal contínuo, pensando mais no divino Salvador, na sua doutrina, no seu amor, nas virtudes que nos ensinou, unindo-nos mais a ele pela oração e encontro pessoal com ele, imitando o seu exemplo, praticando a caridade, convivendo melhor com nossa família...

Desse modo a mensagem do Natal vai continuar durante todo o Ano Novo, que assim será abençoado e felizFELIZ NATAL E ABENÇOADO ANO NOVO!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Cristologia, Pneumatologia e Eclesiologia – Uma primeira aproximação

Por Sávio Laet

A unção é um mistério. Cristo, do grego χριστός (khristós), significa ungido. Por isso, no começo do cristianismo, dizia-se cristão, não propriamente aquele que “seguia” a Cristo. Na verdade, muitos “seguiram” Jesus: Judas e toda uma multidão que depois pediu a sua crucificação. No princípio do cristianismo, dizia-se cristão, quem participava da unção de Cristo. Neste sentido, já no século III, São Cirilo, Bispo de Jerusalém, afirmava aos recém-batizados e crismados: “Feitos, pois, partícipes de Cristo, não sem razão, sois chamados cristos (...) vós vos tornastes cristos (...)”[1]. Antes dele ainda, no século II, São Teófilo, Bispo de Antioquia, explicava a um pagão: “Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus[2]. A bem da verdade, os cristãos não recebem uma unção diversa da de Cristo. Eles participam da Unção do próprio Cristo. Tentemos entender este pensamento dos primeiros padres. O Salmo 133 (132) fala de como é bom a irmãos viverem juntos. E quando quer descrever esta união, fá-lo da seguinte forma: “É como óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão, descendo sobre a gola de suas vestes” (Sl 133 [132], 2). Pois bem, Orígenes, grande escritor cristão que viveu no século III, aproveitando este Salmo, afirma que o cristianismo nasce da unção que desce de Cristo Cabeça para o seu Corpo, constituindo-o e vivificando-o, enquanto pelo “bom odor” (II Cor 2, 15) desta unção, pelo “seu perfume” (II Cor 2, 14), torna agradável aos irmãos viverem juntos:

Por isso, sendo Cristo ‘cabeça da Igreja’ (Cl 1, 18), a ponto de Cristo e a Igreja formarem um só corpo, o ‘óleo fino derramado sobre a cabeça’, desceu ‘pela barba, a barba de Aarão’, tipo do homem perfeito, e este óleo chegou descendo ‘sobre a gola de suas vestes’ (Sl 133, 2).[3]

Ora, o sacerdote Aarão representa Cristo, nosso Sumo Sacerdote, e a barba de Aarão, sua gola, suas vestes representam, de algum modo, a Unção de Cristo descendo sobre o Seu Corpo Místico, que é a Igreja. Mas o que é esta unção, de tão bom odor, de perfume sem igual, que nos une, nos congrega e nos faz Igreja? Santo Ireneu, no século II, ao explicar a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 4, 18) na qual Nosso Senhor retoma um texto do profeta Isaías, afirma que quando dizemos, Cristo, esta palavra nos remete a três realidades: aquele que ungiu, aquele que foi ungido e a própria unção. E afirma ainda: quem ungiu é o Pai, o ungido é o Filho e a unção é o próprio Espírito Santo. Nas suas palavras:

O nome de Cristo, com efeito, indica alguém que ungiu, aquele que foi ungido e a própria unção: quem ungiu é o Pai, quem foi ungido é o Filho, que o foi no Espírito, que é a unção. Como diz o Verbo pela boca de Isaías: ‘O Espírito de Deus está sobre mim, porque me ungiu’, indicando ao mesmo tempo o Pai que ungiu, o Filho que foi ungido e a própria Unção que é o Espírito.[4]

Destarte, é esta Unção que faz a Igreja, que nos une a Cristo, que nos torna cristãos, que nos torna cristos e, finalmente, que nos insere na comunhão trinitária. De fato, não sendo esta Unção outra que não a de Cristo, uma vez que a Unção de Cristo é o próprio Espírito Santo, temos que quem nos faz cristãos e igreja é o Espírito Santo. E há mais. Como a unção do Senhor é um evento trinitário, tornados membros de Cristo pelo Batismo, somos inseridos no mistério da Trindade, porque Cristo é inseparável da Trindade. Com efeito, quem diz Cristo, diz toda a Trindade, porque quem unge é o Pai, o ungido é o Filho e a unção é o próprio Espírito Santo. Para isso já apontava São Basílio, Bispo de Cesaréia, no século IV:

Ora, nomear a Cristo é confessar a todos, pois designa a Deus que unge, ao Filho que foi ungido, e a unção que é o Espírito Santo. Assim ensinou Pedro, segundo os Atos: “Jesus de Nazaré, Deus o ungiu com o Espírito Santo”.[5]

Esta teologia já estava presente nos padres latinos. São Paulo dizia aos cristãos de Roma: “(...) recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16). De sorte que o conhecimento que temos de Deus pelo Espírito Santo é distinto do conhecimento natural e mesmo teológico que podemos alcançar do Altíssimo. É um conhecimento essencialmente trinitário, filial e amoroso. Celebra Agostinho:

Uma coisa é considerar Deus enquanto Deus, e outra é considerar Deus enquanto Pai. Quando considerais Deus enquanto Deus, considerais o criador, o onipotente, o espírito perfeitíssimo, eterno, invisível, imutável. Quando considerais Deus enquanto Pai, tem de se considerar também o Filho. Deus não pode considerar-se Pai, se não tem o Filho, nem pode considerar-se Filho se não tem Pai.[6]

O cristianismo é, assim, um evento trinitário desde a sua origem. A Igreja é um acontecimento trinitário desde a sua fundação. Ela é obra da Trindade, porque nos insere no mistério do Deus Trino. É muito importante notar, então, que o cristão não é aquele que admira a Cristo, que tenta imitá-lo enquanto “humanista”, mas sim quem tem o Espírito de Cristo. Di-lo-á o Apóstolo: “(...) quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele” (Rm 8,  VIII).

Mas quem é o Espírito Santo? São seus dons (Is 11, 1-2), seus carismas (I Cor 12), seus frutos (Gal 5, 22-23)? Não! Para tentarmos vislumbrar quem é esta pessoa, mister é que nos adentremos no seio da Trindade. Ora, nesta vida, só há um modo de “ver” a Trindade. Di-lo-á Santo Agostinho: “Pois bem, sim, tu a vês, a Trindade, se vês a caridade[7]. Desde toda a eternidade, o Pai só sabe fazer uma coisa, a saber, ser Pai, isto é, amar o Filho, gerando-O. Por outro lado, deste toda a eternidade o Filho só sabe ser Filho, ou seja, amar o Pai que O gera. Há, pois, algo no Pai que é incomunicável, vale dizer, a Sua paternidade. De sorte que o Pai não pode deixar de ser Pai. Por isso, Ele subsiste, é uma pessoa. Outrossim, o Filho não pode deixar de ser Filho. A Sua filiação é, portanto, incomunicável. Por isso também Ele subsiste, é uma pessoa. De sorte que nem o Filho pode ser o Pai e nem o Pai pode ser o Filho. Sabélio estava deveras enganado.

Mas em todo amor – assevera o Doutor de Hipona – precisamos distinguir três realidades: “(...) o que ama, o que é amado e o mesmo amor[8]. E ainda: “São portanto três os elementos: o que ama, o que é amado e o amor[9]. Ora, já sabemos que quem ama é o Pai e que o amado é o Filho, o qual, obviamente, também ama o Pai enquanto Filho. Agora bem, quem é, então, o amor que procede do Pai e do Filho? As Sagradas Letras dizem por duas vezes: “Deus caritas est (Deus é amor)” (I Jo 4, 8 e 16), e é claro que isto se aplica às três pessoas. Entretanto, mais propriamente, quem é o amor subsistente? Não há que se negar: é o Espírito Santo. É ele aquele “terceiro elemento” que faltava. Ele é o Amor do Pai pelo Filho e do Filho pelo Pai. Pelo que conclui o Bispo de Hipona: “Pode-se concluir, então, que o Espírito Santo é o Deus-Amor[10]. E ratifica que, na passagem de São João, o evangelista refere-se propriamente ao Espírito Santo: “Refere-se, portanto, ao Espírito, onde se lê: ‘Deus é Amor’”[11].

Mas demos um passo a mais. No término de sua Oração Sacerdotal, Nosso Senhor diz algo inaudito: “(...) a fim de que o amor com que me amaste esteja neles (...)” (Jo 17, 26). Em outras palavras, Nosso Senhor pede ao Pai para que o Amor com que Ele (i.é., o Pai) O ama, vale lembrar, o Espírito Santo, esteja nos seus. Ora, isto realmente ocorreu. Celebra São Paulo: “(...) o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (...)” (Rm 5, 5). De fato, este Amor, que procede do Pai, que gera, e do Filho, que é gerado, agora está em nós, em nossos corações. E este Amor incriado cria em nós um amor criado, porém, sobrenatural, qual seja, a virtude infusa da caridade, pela qual livremente amamos a Deus por Deus e ao próximo por Deus.

Todavia, o que é o amor e qual o seu efeito próprio?  Responde o santo Bispo, numa pergunta retórica: “O que é, portanto, o amor, senão uma certa vida que enlaça dois seres (...)?”[12]. Pois bem, este é, por assim dizer, o principal efeito da caridade que o Espírito Santo difunde em nossos corações, a ponto de sabermos que temos o Espírito se permanecemos em Deus e Deus em nós: “Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu seu Espírito” (I Jo 4, 13). De modo que o Espírito Santo, o Amor em pessoa, por meio do hábito infuso da caridade, enlaça-nos ao Deus Trino, une-nos a Deus, faz Deus habitar em nós e faz com que nós participemos daquele vínculo inefável da Trindade:

A caridade, portanto, que vem de Deus é Deus, é propriamente o Espírito Santo, pelo qual é difundido em nossos corações o amor de Deus, mediante o qual, toda a Trindade habita em nós.[13]

Ademais, é este Amor que nos une uns com os outros, quando todos estamos em comunhão com a Trindade. É o Espírito Santo quem faz a Igreja, ao nos tornar partícipes do enlace indizível do amor trinitário. Destarte, não é que a Igreja possua uma unidade, a Igreja é uma unidade, um enlace de amor, uma união vital entre Deus e os homens e os homens e Deus, e o autor desta comunhão é Deus mesmo, o Espírito Santo. Tanto é assim, que o Doutor de Hipona, num Sermão sobre o Evangelho de São João, diz com meridiana clareza: “Se amamos a Igreja, temos o Espírito Santo. E amamo-la se persistirmos na sua união e caridade[14].

Mas como era o relacionamento entre Cristo e o Espírito Santo? Santo Ireneu, Bispo de Lião, no século II, dizia que o Espírito Santo desceu sobre o Filho do Homem para acostumar-se a viver entre os homens, para familiarizar-se a habitar neles. Do Espírito, diz ele: “Eis a razão por que ele desceu também no Filho de Deus, feito filho do homem, acostumando-se com ele a habitar nos homens e repousar entre eles, a habitar nas criaturas de Deus (...)”[15]. São Basílio, por sua vez, no século IV, afirmava que o Espírito Santo era o companheiro inseparável de Nosso Senhor:

Em primeiro lugar, estava junto da carne do Senhor, enquanto unção, e dele sendo inseparável (...). (...) Em seguida, em toda a atividade de Cristo o Espírito estava presente. Estava também por ocasião da tentação do diabo. (...) Mantinha-se inseparável de Jesus quando este fazia os milagres. (...) O Espírito não o deixou após a sua ressurreição.[16]

Na Igreja primitiva não foi diferente. O Espírito estava presente em tudo e atuante. Nos Atos, participou das decisões do Concílio de Jerusalém: “(...) pareceu bem ao Espírito Santo e a nós (...)” (At 15, 28). Paulo e Timóteo foram “(...) impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra na Ásia. Chegando aos confins da Mísia, tentaram penetrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus não permitiu.” (At 16, 6 e 7). O Espírito separava os missionários: “Disse-lhe o Espírito Santo: ‘Separai para mim Barnabé e Saulo, para a obra à qual os destinei’.” (At 13, 2). Conduzia cada fiel: “Disse então o Espírito a Filipe: ‘Adianta-te e aproxima-te da carruagem’”. (At 8, 29). Em uma palavra, a Igreja nascente era uma Igreja guiada pelo Espírito Santo.

Esta realidade mudou? Certamente não, uma vez que São João no-lo afirma: “(...) a unção que recebestes dele (i.é., de Cristo) permanece em vós” (I Jo 2, 27). De fato, a Igreja continua sendo conduzida pelo Espírito Santo como outrora. Como o foi de Nosso Senhor e dos primeiros cristãos, o Espírito prossegue sendo o companheiro inseparável da Igreja pelos séculos. Aliás, a promessa desta assistência perene é do próprio Senhor: Ele (i.é., o Espírito Santo) “(...) permanecerá convosco para sempre” (Jo 14, 16). Com efeito, como em Cristo o Espírito Se sentiu à vontade entre os homens, assim na Igreja de Cristo, por ela e nela o Espírito continua acostumando-se a habitar em cada homem e a repousar entre eles. De sorte que é pela e na Igreja que Deus nos dá o Espírito Santo. Já no século II, Santo Ireneu afirmava sem pestanejar: “Onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus ali está a Igreja e toda a graça”[17]. Em outras palavras, o Espírito habita na Igreja e a Igreja habita no Espírito. São inseparáveis! Por isso, estar em comunhão com o Espírito é estar em comunhão com a Igreja e estar em comunhão com a Igreja é estar em comunhão com o Espírito.

No entanto, para entendermos melhor esta estreita solidariedade entre a Igreja e o Espírito, temos que compreender que a Igreja é um prolongamento de Cristo. Com efeito, só somos cristãos na medida em que somos ungidos, uma vez que Cristo significa ungido. E como não há outra unção senão a Unção de Cristo, que é o Espírito Santo, só somos Igreja na medida em que temos o Espírito de Cristo. De fato, o mesmo Espírito Santo que esteve em e com Nosso Senhor é o que está em nós e conosco. É a mesma Unção. Sim, nós recebemos a Unção de Cristo. De modo que hoje o Cristo total é: Nosso Senhor, nossa Cabeça, e nós, Sua Igreja, Seus membros. Portanto, O Ungido total é: Nosso Senhor, O Ungido, e a Sua Igreja, partícipe da Sua Unção. Celebra Santo Agostinho:

Daí se vê que somos o corpo de Cristo (Christi corpus nos esse), porque todos somos ungidos (quia omnes ungimur). E todos nele somos de Cristo, e somos Cristo (Christus sumus), porque de certo modo o Cristo total é Cabeça e corpo (totus Christus caput et corpus est).[18]

Agora faz todo sentido: como pode haver Unção, se não estamos inseridos no Corpo místico do UNGIDO? E o que é este Corpo, senão a Igreja? Num Sermão sobre o Evangelho de São João, Santo Agostinho é taxativo: “Quem não está em Cristo, não é Cristão (Qui in Christo non est, christianus non est)”[19]. Mas estar em Cristo é estar na Igreja, que é o Corpo de Cristo. Daí o Doutor de Hipona dizer noutro Sermão: “Cristo é a cabeça do corpo místico, e não deixa de estar também no corpo. Cristo está todo na cabeça e no corpo[20]. Numa Carta endereçada a Bonifácio, que estava preocupado com a influência dos hereges donatistas, o Santo Doutor é ainda mais claro:

 (...) não busquem o Espírito Santo, a não ser no Corpo de Cristo [non quaerant Spiritum sanctum, nisi in Christi corpore]. Só a Igreja Católica é o Corpo de Cristo [Ecclesia catholica sola corpus est Christi]. Fora deste corpo, a ninguém vivifica o Espírito Santo [Extra hoc corpus neminem vivificat Spiritus sanctus] (...). Não têm, pois, o Espírito Santo, os que estão fora da Igreja [Non habent itaque Spiritum sanctum, qui sunt extra Ecclesiam].[21]

Noutro Sermão, Santo Agostinho volta-se para o seu rebanho e afirma a mesma coisa valendo-se duma analogia forte: assim como o homem resulta da união de alma e corpo, e um corpo sem alma não é mais um corpo e sim um cadáver, assim o Corpo de Cristo, se fosse possível imaginá-lo sem o Espírito de Cristo, não seria mais o Corpo de Cristo. Neste sentido, se diz com razão que a Igreja vive do Espírito Santo. Mas, por outro lado, assim como o homem não é um espírito puro e o espírito do homem, ao menos neste mundo, não pode viver senão animando um corpo humano, assim o Espírito Santo não age e não vivifica senão o Corpo de Cristo. Neste sentido, o Espírito de Cristo não habita a não ser na Igreja de Cristo, que é o Corpo de Cristo. É uma analogia, mas diz algo do mistério:

Quem quiser viver do espírito de Cristo, faça-se corpo de Cristo. Só o corpo de Cristo pode viver do espírito de Cristo. Entendei o que eu disse, meus irmãos. Vós sois homens; tendes o espírito e tendes corpo. Tendes espírito a que se chama alma, e é por esta que sois homens. Sois compostos de alma e corpo. (...) Que responde o que vive? Sim, é o meu corpo que vive do meu espírito. Quereis também viver do Espírito de Cristo? Permanecei no corpo de Cristo. O meu corpo viverá do vosso espírito? O meu corpo vive do meu espírito, e o vosso corpo vive do vosso espírito. O corpo de Cristo não pode viver senão do espírito de Cristo. Quem quer viver, tem onde viva, e tem donde viva. Aproxime-se, acredite, incorpore-se para ser vivificado. (...) Una-se ao corpo, viva para Deus, e viva de Deus.[22]

Noutro Sermão ainda, o Santo Doutor fala de cada membro em particular. Da mesma forma que o corpo não pode viver sem a alma, também nenhum membro separado do corpo pode ser vivificado pela alma que anima aquele corpo do qual se separou. Por exemplo, se sua mão ou qualquer outro membro for separado do seu corpo, seca. Analogamente, nenhum fiel pode continuar a ser vivificado pelo Espírito, *exceto para converter-se, se for cortado do Corpo de Cristo, que é a Igreja. A bem da verdade, separado do Corpo de Cristo, nenhum “fiel” pode dizer-se propriamente cristão, pois só se é cristão quando se participa da Unção de Nosso Senhor, que é o Espírito Santo, o qual não anima senão a Igreja, Corpo de Cristo:

Eu digo que o vosso espírito é a vossa alma. Esta só vivifica os membros que estão na vossa carne. Se cortais um só que seja, já este não é vivificado pela vossa alma, porque já não faz parte da unidade do vosso corpo. Disse-vos isto, para que amemos a unidade e receemos a separação. O cristão nada deve recear tanto como ser separado do corpo de Cristo. Se chega a separar-se do corpo de Cristo, não é seu membro; se não é seu membro, não é animado pelo seu Espírito.[23]

Agora bem, é claro que o fato de estarmos na Igreja não nos desobriga de buscarmos estar mais unidos a Cristo e de estarmos, assim, ainda mais repletos do Espírito de Cristo, pelo que ainda hoje podemos ouvir a exortação de São Paulo às igrejas: “(...) não entristeçais o Espírito Santo de Deus (...)” (Ef 4, 30), “Não extingais o Espírito (...)” (I Ts 5, 19). Sempre o Bispo de Hipona nos socorre. Ele fala claramente de um ter e não ter o Espírito Santo. Pode-se ter o Espírito Santo, mas não O ter como se deve, isto é, abundantemente. Por isso, é importante que não só quem não O tenha peça-O para recebê-LO, mas também que quem já O tenha peça-O para tê-LO mais abundantemente.  Por isso, acerca do Espírito Santo na vida dos discípulos antes de Pentecostes, afirma o Doutor de Hipona:

Tinham e não tinham. Não o tinham na medida em que haviam de ter. Tinham, numa medida mais restrita, aquele que havia de lhes ser dado numa medida maior. (...) Portanto, o Espírito Santo é prometido ao que não o tem. E não é em vão que é prometido também ao que já o tem. Ao que não o tem, é prometido para que o tenha, e ao que o tem, é prometido para que o tenha mais abundantemente.[24]

Assim sendo, não devemos nos despreocupar de pedir o Espírito Santo para a nossa santificação, para que nos tornemos mais Igreja, para que estejamos mais estreitamente unidos a Cristo. Santo Tomás expressa isso dum modo maravilhoso. Para ele, todo ato de cada fiel deve ser feito sob a moção do Espírito, isto é, deve provir do Espírito. Num texto pouco conhecido do grande público, o Santo Doutor faz sugestiva analogia, de resto, consagrada pela Tradição:

De fato, assim como na vida corporal o corpo não é movido senão pela alma pela qual vive, assim na vida espiritual todo movimento deve ser do Espírito Santo.[25]

Isto não quer dizer, em absoluto, que o Espírito Santo tire a liberdade de nossos atos, como se Ele próprio agisse em nós como em robôs,  mas, criando em nós o hábito da caridade, faz com que a nossa vontade seja capaz de agir conforme a vontade de Deus.

Pensemos, agora, que a Igreja como Corpo de Cristo é um mistério pneumático. Com efeito, diz-nos São Paulo: “(...) fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo (...)” (I Cor 12, 13). Sim, é o Espírito que nos torna cristãos, que nos torna Igreja e nos faz Corpo de Cristo. Aos seus, dizia São Basílio: “E não constitui obra do Espírito, de maneira evidente e sem contradição, a boa organização da Igreja?[26]. Ora, como todo corpo vivo é dotado dum princípio de vida que o anima, também a Igreja tem o seu princípio de vida: o Espírito Santo. É Ele quem realiza aquela união vital que faz com que a Igreja se torne uma só pessoa mística com Cristo. O Espírito é a vida da Igreja. É o Espírito Santo que torna a Igreja um Corpo. O Espírito é, pois, a alma da Igreja. De fato, sem o Espírito Santo, não há Igreja, porque é o Espírito Santo quem faz a Igreja, isto é, um corpo vivo e coeso e não um mero agregado de homens. Como um corpo sem alma é morto, assim a Igreja sem o Espírito Santo seria morta. Como um corpo sem alma não é mais um corpo, mas sim um cadáver, assim a igreja, sem o Espírito Santo, seria uma igreja cadavérica. Na verdade, melhor seria dizer: não há Igreja sem o Espírito, como não há propriamente corpo humano sem alma. Santo Agostinho é claríssimo:

O que a alma é para o corpo humano, o Espírito é para o Corpo de Cristo, que é a Igreja (Quod autem est anima corpori hominis, hoc est Spiritus Sanctus corpori Christi, quod est Ecclesia). O Espírito Santo faz em toda a Igreja o que a alma faz em todos os membros de um só corpo (hoc agit Spiritus Sanctus in tota Ecclesia, quod agit anima in omnibus membris unius corporis).[27]

Santo Tomás não é menos claro:

Observamos que em cada homem há uma só alma e um só corpo, mas muitos membros. Assim também a Igreja Católica é um só corpo com muitos membros. A alma que vivifica este corpo é o Espírito Santo (Anima quae hoc corpus vivificat, est spiritus sanctus).[28]

A propósito, o Doutor Comum vai mais longe. Querendo expressar que é o Espírito quem torna a Igreja um corpo vivo, que a faz palpitar, vicejar e pungir, afirma que, no Corpo Místico de Cristo, o Espírito Santo faz as vezes do coração:

Assim o Espírito Santo, que vivifica e une invisivelmente a Igreja (qui invisibiliter Ecclesiam vivificat et unit), é comparado ao coração (cordi comparatur Spiritus Sanctus)”.[29]

Sim, o Espírito Santo é o coração da Igreja.

Mas o Espírito derrama em nossos corações a caridade, o amor (Rm 5, 5). E o amor nos une. Com efeito, em todo amor, se há amor, há uma espécie de casamento, no qual dois se tornam um, sem que cada qual deixe de ser o que é. Volvemos a uma passagem já citada do Bispo de Hipona: “O que é, portanto, o amor, senão uma certa vida que enlaça dois seres (...)”?[30] Noutra passagem da mesma obra, ratifica: “(...) o amante e o que é amado fazem um só[31]. Ora, a Igreja surge justamente deste enlace vital e amoroso de Cristo com os seus, fazendo deles uma só pessoa mística, mas sem que um deixe de ser Deus e outro deixe de ser criatura. São Paulo afirma: “(...) aquele que se une ao Senhor, constitui com ele um só espírito” (Co 6, 17). E, ao falar do matrimônio, o Apóstolo explica aos de Éfeso: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se ligará à sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja.” (Ef 5, 31-32). De fato, é precisamente por realizar, de algum modo, aquela união que acontece entre Cristo e a Igreja, que o matrimônio é um sacramento indissolúvel, como indissolúvel é a união de Cristo e a Igreja. Esta imagem é reforçada quando, na Primeira Epístola aos Coríntios, o Apóstolo fala de Cristo como sendo “(...) o último Adão (...)” (I Cor 15, 45). A Tradição, ao refletir que Eva fora feita a partir da costela de Adão adormecido (Gn 2, 21-22) e que, unindo-se a Adão, tornou-se uma só carne com ele (Gn 2, 24), concluiu, iluminada pelo Espírito Santo, que, sendo Cristo o “novo Adão”, a nova Eva não poderia ser outra senão a Igreja, a qual nasceu do lado aberto de Cristo adormecido na Cruz. De fato, a Igreja nasce quando, do lado aberto de Cristo, jorram sangue e água (Jo 19, 34), símbolos dos sacramentos. A Igreja nasce de Cristo e nasce sacramental, nasce da água regeneradora do Batismo e da Eucaristia. Santo Agostinho propõe a analogia com meridiana clareza:

Cristo uniu-se à Igreja, para serem uma só carne. (...) Adão dorme para se formar Eva; Cristo morre para se formar a Igreja. Eva é formada do lado de Adão, enquanto este dormia; depois da morte de Cristo, o seu lado é aberto pela lança, brotando daí os sacramentos com que é formada a Igreja.[32]

A Igreja havia de sair de Cristo enquanto dormia na cruz; havia de nascer do lado de Cristo que dormia. Foi do lado de Cristo que dormia, do seu lado aberto pela lança, que manaram os sacramentos da Igreja.[33]

Percebamos que a Igreja nasce de Cristo totalmente despojado. A Igreja nasce dum coração aberto!

Mas não é só com o Senhor que nos enlaçamos, este enlace de amor estende-se aos membros entre si do Corpo de Cristo, por sua comunhão com Cristo. Assim, os primeiros cristãos “(...) punham tudo em comum (...)” (At 2, 44) e eram “(...) unânimes (...)” (At 2, 46) em tudo quanto faziam. “A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma” (At 4, 32). “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum.” (At 4, 32). Não havia paupérrimos entre eles: “Não havia entre eles necessitado algum” (At 4, 34). E não se tratava dum “comunismo”, porque não havia um martelo ou uma foice abolindo a “propriedade privada”, mas livremente acontecia: o que é meu é seu também. Não deixa de ser meu, mas é seu também, por um enlace de amor. Portanto, não é um meu que deixa de ser meu e passa a ser seu, mas espontaneamente é um meu que passa a ser seu também, por um enlace de amor. Isso é ser Igreja e isso provém da caridade, dom de Deus. Despojado de “ideologias”; antes, reconhecendo na riqueza um bem e na pobreza também, São Basílio, Bispo de Cesaréia, no século IV, não deixava de dizer ao seu rebanho:

Por que tu és rico e aquele é pobre? Certamente para que tu pudesses receber a recompensa da bondade da fiel administração e aquele pudesse conseguir o magnífico prêmio da paciência. (...) Quem é o avarento? Aquele que não se contenta com aquilo que lhe é suficiente. Quem é o ladrão? Quem tira aquilo que é de outro. Não és avaro? Não és ladrão, tu que fazes tua a propriedade que recebeste para administrar? Quem espolia alguém que está vestido é tido como ladrão; e quem, podendo fazê-lo, não reveste quem está nu merecerá outro nome? O pão que tu reténs pertence ao faminto, o manto que guardas no armário é de quem está nu; os sapatos que apodrecem em tua casa pertencem ao descalço; o dinheiro que tens enterrado é do necessitado.[34]

São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla no século IV e início do V, exortava os seus a se decidirem. Qual riqueza prefeririam? O Reino dos Céus ou os bens temporais? (Mt 13, 24)? Perguntava à assembleia: quem são vocês? Aqueles que, encontrando o tesouro do Reino num campo somente, vendem todos os demais bens, ou aqueles que preferem ficar com tudo, mas não com o Reino? (Mt 13, 44) Quem são vocês? O negociante que vende todas as pérolas finas para ficar com o Reino, a verdadeira pérola, ou aqueles que preferem ficar com as pérolas deste mundo, a saber, o dinheiro, a fama, o poder, as honras?  (Mt 13, 45-46)  Na verdade, o santo Bispo desejava que os seus descobrissem onde estava o coração deles, “(...) pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração” (Mt 6, 21). Estava o coração daquela assembleia em Deus ou no Dinheiro? Aos dois não pode servir! Diz o próprio Senhor: “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mt 6, 24). Para o Santo Bispo, as riquezas são um bem, contanto que não as guardemos aqui na terra, “(...) onde a traça e o caruncho corroem e onde os ladrões arrombam e roubam (...)” (Mt 6, 19). As riquezas, para que sejam um bem, devem ser como que transportadas, pelas boas obras de caridade, para o Céu, “(...) onde nem a traça, nem o caruncho corroem e os ladrões não arrombam nem roubam (...)” (Mt 6, 20). São João Crisóstomo pensava, para usar uma figura familiar a nós, que, assim como quando entramos num país temos que fazer a conversão do nosso dinheiro para a moeda daquele país, analogamente, as riquezas terrenas devem ser convertidas em riquezas celestes, isto é, *pela graça, devem converter-se em boas obras para com os irmãos. *Claro está, portanto, que a caridade é amor sobrenatural, dom de Deus, e as obras de caridade são as obras feitas por amor a Deus e aos irmãos. De sorte que só as obras feitas com este amor, dom de Deus, são, por assim dizer, “tesouros válidos” no Céu!  Só desta forma as riquezas poderão santificar-nos para o Céu: “Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus (...)” (Lc 12, 33). Do contrário, se acumularmos, se optarmos pela usura, só nos restará a sorte do insensato, a saber, daquele “(...) que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus” (Lc 12, 20). Afirma Crisóstomo:

Menosprezemos [prezemos menos], portanto, as riquezas para não sermos desamparados por Cristo, desprezemo-las para consegui-las. Pois se as conservarmos na terra, certamente as perderemos na terra e no céu. Se as distribuirmos liberalmente, em ambas as vidas usufruiremos de grande opulência. Quem, portanto, quer enriquecer, empobreça a fim de se tornar rico. Gaste para coligir; dissemine para acumular. (...) Semeemos também nós, cultivemos o campo celeste, a fim de colhermos com abundância e conseguirmos os bens eternos, pela graça e amor aos homens (...).[35]

O Bispo de Constantinopla está certo de que, ou somos liberais, ou algo ou alguém vai dilapidar as nossas “riquezas temporais”: as traças, a ferrugem, a doença, os herdeiros, etc. E é impressionante como ele usa uma imagem muito simples: aquele que empresta ao pobre, dá a Deus! É como se a ajuda que déssemos ao necessitado fosse uma de espécie de “transferência” dos nossos bens a Deus. Aliás, Nosso Senhor mesmo no-lo afirma: “Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40). Deus é o único a quem, com segurança, podemos confiar os nossos bens. Só Ele nos promete o cêntuplo e a vida eterna (Mc 10, 30) se deixarmos tudo. Sobre o tesouro, o Santo Bispo ainda diz:

Dá ao pobre, diz ele [i.é., Deus], para que não o arrebate o fraudulento, ou o diabo, ou o ladrão, ou por fim, a morte. Enquanto o retiveres, não o conservas com segurança; se, porém, *o transmitires a mim, através dos pobres, reservar-te-ei tudo cuidadosamente e em tempo oportuno restituí-lo-ei com muitos juros. Não o aceito para tirá-lo, mas para aumentá-lo e guardá-lo com garantia e reservá-lo para aquele tempo em que não haverá quem possa emprestar, nem ter compaixão.[36]

Observemos que a peleja entre Deus e o Dinheiro dá-se em nosso próprio coração! É aí onde tudo se decide.

Mas a comunhão dos santos não se encerra apenas nos bens temporais. O amor nos une, sobretudo, espiritualmente. A caridade causa uma circulação de vida entre os membros de Cristo. Ela irriga o Corpo de Cristo como o sangue o nosso corpo. A caridade distribui de forma proporcional: os méritos da Igreja triunfante são comunicados à militante. Assim, a caridade une o Céu e a terra, une o passado ao presente. De modo que não só a paixão e os méritos da vida de Nosso Senhor, mas também os méritos uns dos outros – participação nos méritos de Cristo, pois “Que possuis que não tenhas recebido?” (I Co 4, 7) – são comunicados uns aos outros, porquanto formamos um só Corpo místico. Aliás, quando dizemos da nossa comunhão uns com os outros, não nos referimos apenas aos que vivem em nosso tempo e espaço. Na verdade, o enlace da caridade faz com que os méritos dos santos de todos os tempos sejam postos em nosso benefício. Sendo assim, quem participa do Corpo de Cristo pela caridade, tem a seu proveito todo o bem praticado no mundo inteiro sob a graça de Cristo. E há mais. Tem, além disso, à sua disposição, todo bem praticado em Cristo pelos séculos. Está claro que a condição de estarmos inseridos nesta circulação de vida é estarmos em Cristo. Agora bem, estar em Cristo é estar na Igreja de Cristo (“Ecclesiam mea”= “A minha Igreja) [Mt 16, 18]), vale dizer, naquele Corpo que tem Cristo por Cabeça (Cl 1, 18). Ora, nela somos enxertados pelo Batismo (Rm 6). É mister dizermos isso, a fim de não nos esquecermos de que a fonte de todos os nossos méritos é Cristo, nossa Cabeça. Ela é a Videira; nós, os Seus ramos. Sem estarmos nEle, nada podemos fazer: “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Santo Tomás comenta belamente acerca da comunhão dos santos:

Devemos saber que não apenas a paixão de Cristo nos é comunicada, mas também o mérito da sua vida. O que também de bom fizeram todos os Santos, pela caridade comunica-se aos que aqui vivem, porque todos são um (...). Por isso, quem vive na caridade participa de todo bem que se faz no mundo. Por meio dessa comunicação conseguimos dois efeitos: primeiro, o mérito de Cristo que se comunica a todos; depois, o bem de um se comunica ao outro.[37]

Santo Agostinho prezava tanto este comungar da mesma seiva que é Cristo, que exortava os seus: “Amai a Cristo, e amai-me nele, pois nele também sois amados por mim[38].
  
BIBLIOGRAFIA


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[1] CIRILO DE JERUSALÉM. Catequeses Mistagógicas. 2ª ed. Trad. Frederico Vier. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004. III, 1.
[2] TEÓFILO DE ANTIOQUIA. Primeiro Livro a Autólico. 2ª ed. Trad. Ivo Storniolo e Euclides M. Balancin. Rev. Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1995. 12. 
[3] ORÍGENES. Contra Celso. Trad. Orlando Reis. São Paulo: Paulus, 2004. VI, 79.
[4] IRENEU DE LIÃO. Contra as Heresias. 2ª ed. Trad. Lourenço Costa. Rev. H. Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1995. III, 18, 3. 
[5] BÁSILIO MAGNO. Tratado Sobre o Espírito Santo. Trad. Monjas Beneditinas. Rev. Iranildo B. Lopes. São Paulo: Paulus, 1999. 12, 28.
[6] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1954. v. II. XIX, 6.
[7] AGOSTINHO. A Trindade. 2ª ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. Rev. Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1995. VIII, 8, 12. 
[8] Idem. Ibidem. VIII, 10, 14.
[9] Idem. Ibidem. IX, 2, 2.
[10] Idem. Ibidem. XV, 17, 31.
[11] Idem. Ibidem.
[12] Idem. Ibidem. VIII, 10, 14. 
[13] Idem. Ibidem. XV, 18, 32.
[14] Idem. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. XXXII, 8.
[15] IRENEU DE LIÃO. Op. Cit. III, 17, 1.
[16] BÁSILIO MAGNO. Tratado Sobre o Espírito Santo. 16, 39 
[17] IRENEU DE LIÃO. Op. Cit. III, 24, 1.
[18] AGOSTINHO. Comentário aos Salmos. 2ª ed. Trad. Monjas Beneditinas. São Paulo: Paulus, 2005. v. I. 26, II, 2. 
[19] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: A Ceia do Senhor. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1952. v. IV. LXXXI, 2.
[20] Idem. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. XXVIII, 1.
[21] AGOSTINHO. Carta 185. 11, 50. In: Obras de San Agustin Tomo XI: Cartas (2.º). Trad. Lope Cilleruelo. Madrid, Biblioteca de  Autores Cristianos, 1953. p. 659. (A tradução, para o português, é nossa. Como a edição é bilíngue, o mais das vezes preferimos ir direto ao original latino). 
[22] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. XXVI, 13.
[23] Idem. Ibidem. XXVII, 6. 
[24] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: A Ceia do Senhor. LXXIV, 2.
[25] TOMÁS DE AQUINO. Super Epistolam B. Pauli ad Galatas lectura. cap. 5. lectio. 7. Disponível em: < http://www.corpusthomisticum.org/cgl.html >. Acesso em: 02/12/2013. (A tradução é nossa).
[26] BÁSILIO MAGNO. Op. Cit. 16, 40. 
[27] AGOSTINHO. Sermón 267. 4. In: Obras Completas de Sant Agustin: Sermones (4º) (184- 272 B). Trad. Pio de Luis. Madrid, Biblioteca de  Autores Cristianos, 1983. p. 735. (A tradução, para o português, é nossa. Como a edição é bilíngue, preferimos ir direto ao original latino).  
[28] TOMÁS DE AQUINO. Exposição Sobre o Credo. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1997. p. 73.
[29] TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Trad. Aimom- Marie Roguet et al. São Paulo: Loyola, 2001. III, 8, 1, ad 3.
[30] AGOSTINHO. A Trindade. VIII, 10, 14. 
[31] Idem. Ibidem. IX, 2, 2.
[32] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: O Verbo de Deus. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1954. IX, 10.
[33] Idem. Ibidem. XV, VIII. 
[34] BASÍLIO MAGNO. Homilia do Evangelho Segundo Lucas. Trad. Monjas Beneditinas. Rev. Iranildo B. Lopes. São Paulo: Paulus, 1999. 7. 
[35] JOÃO CRISÓSTOMO. Homilias sobre a Carta aos Romanos. Trad. Mosteiro de Maria Mãe do Cristo. Rev. Iranildo Bezerra Lopes. São Paulo: Paulus, 2010. 7ª Homilia. p. 142. (Os colchetes são nossos). 
[36] Idem. Op. Cit. p. 137. (Os colchetes e o asterisco são nossos). 
[37] TOMÁS DE AQUINO. Exposição Sobre o Credo. pp. 82 e 83.
[38] AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de João: O Verbo de Deus. XIII, 17.

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Sávio Laet é Bacharel-Licenciado e Pós-Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT], cursou ainda algumas disciplinas teológicas [Revelação e Fé; Transmissão da Revelação e Teologia do Direito Canônico] no SEDAC [Studium Eclesiástico D. Aquino Corrêa]. Foi pesquisador do Grupo de Estudos Polis-Éthos [registrado no CNPq] da UFMT. Também participou como estudioso da filosofia medieval no grupo de “Pesquisas em Filosofia Antiga e Medieval” [com registro no CNPq] vinculado à mesma instituição.