Por Dom Henrique Soares.
Meditemos hoje sobre
a oração.
O Senhor no-lá
indica: “rezar sempre, e nunca desistir”, rezar perseverantemente, sem jamais
desfalecer, diz o Evangelho! E aqui se trata, de modo especial, do mais
escandaloso de todos os tipos de oração para o mundo atual, tão
autossuficiente: a oração de súplica; aquela que somente tem coragem de fazer
quem é pobre e sabe que depende de Deus em tudo; somente tem coragem de fazê-la
quem crê realmente que Deus Se preocupa é Se ocupa com Suas criaturas e, de
verdade, age neste mundo, age, presente na nossa vida tão pequena...
Eis: a oração de
súplica é coisa de gente simples, de gente que tem coração de criança, que tem
fé humilde e atitude de pobre diante de Deus; é coisa de quem não tem vergonha
de pedir, de teimar, de insistir! Bem que Jesus disse que somente os simples,
somente os que têm um coração de criança podem compreende os segredos do Reino!
Eu lhe digo: a
oração de súplica é tropeço para os sábios segundo a carne, para os
inteligentes do mundo, para os não abrem sua razão ao infinito de Deus!
Talvez você já tenha
ouvido aqueles que, cheios de si, dizem assim: “Na minha oração, eu nunca peço,
só agradeço!"
Pois é! São
soberbos, são autossuficientes, não se conhecem, não percebem a miséria, a
limitação, a debilidade da humana natureza, que necessita continuamente do
socorro do Senhor, Daquele que nos ordenou expressamente: “Pedi e vos será
dado! Procurai e encontrareis! Batei e a porta vos será aberta! Se vós, que
sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que
está nos céus dará coisas boas aos que Lhe pedirem!” (Mt 7,7.11)
Sim, caro! É
necessário pedir ao Senhor, e pedir com a insistência da viúva pobre e
necessitada do Evangelho, com a persistência de Moisés, que passou todo o dia
com as mãos erguidas, como Cristo na cruz, suplicando a vitória para Israel!
Mas, talvez, você
pergunte, curioso: “Por que pedir, se o Senhor já sabe do que temos
necessidade? E por que ainda pedir com insistência se já suplicando uma vez,
Ele decide o que fazer, Ele que tudo sabe eternamente, Ele que não muda? Pode o
homem mudar a vontade de Deus, alterar o desígnio do Altíssimo?”
Obedeçamos, irmãos
caríssimos! O Senhor, no Seu insondável mistério, sabe por que nos manda pedir
e insistir no pedido!
No entanto, mesmo
nós, na nossa pouca sabedoria, podemos perceber um pouco a necessidade absoluta
de suplicar. Penei um momento:
Suplicando,
reconhecemos que somos totalmente dependentes e tudo nos vem do Senhor, Daquele
que dá a vitória e a derrota, que faz o rico e faz o pobre, que fere e cura a
ferida, que faz morrer e faz viver!
Suplicando, vamos
aprendendo a confiar Nele, a Nele esperar e, assim, vamos experimentando a Sua
presença real na nossa vida e vamos crescendo no nosso amor para com Ele.
Suplicando com
insistência, vamos desenvolvendo a certeza de que Ele nos escuta, de que nos
envolve com Sua presença e nos socorrerá na nossa necessidade.
Ainda mais: de tanto
suplicar e teimar na súplica, nos vamos abandonando aos Seus tempos
misteriosos, à Sua vontade que nos ultrapassa, aos Seus modos que nos
desconcertam e, então, vamos interiormente nos dispondo a acolher o que Ele
quer, a aceitar a Sua santa vontade, ainda que não seja a nossa nem na medida
das nossas expectativas humanas.
Sim! Bom amigo de
Deus não é o que só aceita o que pediu, mas aquele que, pedindo com
perseverança e amor confiante, acolhe o que o Senhor concede, tendo a firme
convicção – nascida da oração teimosa – de que o Senhor nos dá o que é melhor
para nós, ainda que muitas vezes não o compreendamos bem!
Por isso a
misteriosa palavra do nosso Salvador no Evangelho: “Deus não fará justiça aos
Seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Será que vai fazê-los esperar?
Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa!”
Palavra espantosa!
Jesus não somente afirma que Deus nos escuta e vem em nosso socorro, mas também
que vem bem depressa!
E nós pensamos: “Mas
isto não acontece assim! Quanta oração fiz que não foi ouvida! Quanta oração
demorada na resposta! Não é a própria Escritura Santa que nos diz: “Suporta as
demoras de Deus, agarra-te a Ele e não O largues”? (Eclo 2,3)
O Senhor nos ouve
sim, o Senhor vem logo em nosso socorro sim, o Senhor Se compadece do que a Ele
suplica! Mas, os tempos de Deus não são os nossos, a pedagogia do Senhor nos
ultrapassa, a ação do Senhor não pode ser totalmente alcançada por nós: Ele é
Deus; nós, pó que o vento leva! Por isso mesmo, a misteriosíssima pergunta de
Jesus: “Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?” Eis: O
Senhor nos ouve, o Senhor Se compadece de nós – Ele nos deu tudo no Seu Filho
por nós morto e ressuscitado! Como ainda nos seria possível duvidar Dele?
Ele vem em nosso
socorro, mas no Seu tempo, do Seu modo, segundo o Seu sábio e misterioso
desígnio! Mas, encontrará fé em nós? Saberemos reconhecê-Lo? Sei eu, sabeis
vós, sabemos nós reconhecer o Senhor nas Suas vindas? Ele vem na alegria e vem
também na tristeza; no sorriso, ei-Lo aqui, mas também é Ele ainda no pranto; é
Ele na vitória e ainda é Ele na derrota; é Ele presente no nosso nascer e no
nosso morrer! E isto nos escapa, como o Salmista exclama, admirado e perplexo:
“Como são profundos para mim Teus pensamentos, como é grande seu número, ó
Deus! Se os conto, são mais que a areia, se acho que terminei, ainda estou
Contigo!” (Sl 138/139,17s).
Sejamos pobres
diante do Senhor Deus! Sejamos humildes! Oremos sempre, oremos suplicando,
oremos com um coração confiante, oremos sem desfalecer, oremos esperando contra
toda esperança, oremos na certeza de que o Senhor nos ouve e no acode, do Seu
modo, no Seu tempo, para o nosso bem, segundo o Seu misterioso desígnio!
Para o homem soberbo
tudo isto é tolice; para o autossuficiente e o racionalista, tudo isto é
loucura sem sentido!
Cuidado! Tomemos
seriamente o conselho do santo Apóstolo a Timóteo: “Permanece firme naquilo que
aprendeste e aceitaste como verdade! Conheces as Sagradas Escrituras: elas têm
o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo
Jesus!”
Eis aqui! Esta é a
diferença entre crer e não crer: o verdadeiro crente tem a coragem ousada de
abrir-se à lógica de Deus, de por Ele deixar-se conduzir; o descrente, ao
invés, deseja medir a ação de Deus e compreendê-la e abarcá-la na medida da sua
lógica, na estreiteza de sua própria racionalidade!
Creiamos, irmão;
rezemos, irmão; com perseverança supliquemos, irmão, com inteira confiança
esperemos, elevando as mãos como Moisés e os olhos como o Salmista, certos de
que “do Senhor é que nos vem o socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra,
pois não dorme nem cochila o Guarda de Israel!” Seja Ele sempre bendito na
Igreja e no nosso coração!
Reze o Salmo 4
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