Por Dom
Henrique Soares.
Hoje, para o nosso
caminho quaresmal, tomo as palavras de São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena, no
século IV. Gostaria que elas nos guiassem numa avaliação de como estamos nas
observâncias deste tempo sagrado. Eis:
"Há três
coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e
perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia.
O que a oração pede,
o jejum alcança e a misericórdia recebe.
Oração,
misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.
O jejum é a alma da
oração e a misericórdia dá vida ao jejum.
Ninguém queira
separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma
delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse.
Por conseguinte,
quem ora também jejue; e quem jejua pratique a misericórdia. Quem deseja ser
atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que
não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas
próprias súplicas.
Quem jejua, pense no
sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja
sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem
pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros.
Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.
Homem, sê para ti
mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como
quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças
dos outros com generosidade e presteza.
Peçamos, portanto,
destas três virtudes – oração, jejum, misericórdia – uma única força mediadora
junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração
sob três formas distintas.
Reconquistemos pelo
jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas pelo
jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus, como ensina o Profeta: “O
sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um
coração arrependido e humilhado” (Sl 50,19).
Ó homem, oferece a
Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura,
um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é
oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem
se oferecer a si mesmos.
Mas, para que esta
oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá
frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar
o jejum. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais
que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as
virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da
misericórdia.
Tu que jejuas, não
esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo
contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros.
Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti,
distribui aos outros, para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos
pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não o
possuirás".
Nenhum comentário:
Postar um comentário