Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
No próximo dia 2
celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que
estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que
chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não
estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam
venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo
costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a
morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero, pensando que
tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente.
Para nosso consolo,
ouçamos a Palavra de Deus: “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não
lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte
não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15).
Os pagãos chamavam o local onde colocavam os
seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos inventaram outro
nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que dormem. É assim que
rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que nos precederam com o
sinal da fé e dormem no sono da paz”.
Os santos encaravam
a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no
cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal,
da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes
não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S.
Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco
mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições
nos dá a morte. Assim nos aconselha São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o
bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro...
Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o
que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam
como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se
alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os
que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo
passa” (1 Cor 7, 29-31). Diz A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem
dos falecidos: “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida
qual deseja que a morte o encontre!... Melhor é fazeres oportunamente provisão
de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos
outros” (I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não
deixarmos nossos falecidos no esquecimento.
Três coisas pedimos
com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o
prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas
que é o inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos
precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém
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