Por Paul Medeiros Krause
Prezado leitor, será que nós estamos plenamente
convencidos de que Deus criou-nos para a felicidade suprema e completa? Será
que nos conduzimos por essa verdade?
A nossa vocação inadiável é para a felicidade. |
Estou me aproximando dos meus quarenta anos, no ano
que vem os completo, se Deus quiser, e as leituras e a experiência de vida
acumuladas até aqui levam-me a crer que a maioria de nós não nos convencemos da
nossa vocação inadiável para a felicidade. Ou, dito de outra forma, estou
convencido da existência de uma tentação sutil, sorrateira, que o demônio arma
aos crentes: a ideia ilusória de que seguir o caminho de Deus significa negar a
própria natureza, o aniquilamento do próprio eu, o sacrifício da espontaneidade
e da criatividade, a mutilação da personalidade.
O demônio é como o PT, na verdade, o PT, verdadeira
sucursal do inferno, é como o demônio: acusa os outros do que ele faz. A grande
verdade é que o capeta, quanto mais uma pessoa a ele se confia, de forma tácita
(talvez a mais comum) ou expressa, mais destrói a sua natureza, o seu eu, a sua
identidade única, a sua liberdade e espontaneidade. As personalidades confiadas
ao pai da mentira são fragmentadas, sem unidade e coerência. O diabo, astuto
conhecedor da natureza humana, sugere continuamente aos homens a ideia de que
Deus os quer tristes e frustrados, os quer mutilados, quer negar-lhes tudo.
Lembremo-nos da primeira mentira da serpente no Livro do Gênesis: “É verdade
que Deus vos proibiu de comer de toda árvore do jardim?”.
O Livro do Gênesis é de uma atualidade gritante.
Aquela mentira é diuturnamente soprada aos ouvidos da nossa alma pelo inimigo
do gênero humano. Desgraçado, derrotado, sumamente infeliz, invejoso, escravo
dos seus vícios, Satanás deseja ver-nos desgraçados, destroçados, fragmentados,
sumamente infelizes como ele.
Há uma máxima, salvo engano, da teologia
escolástica: “A graça não anula a natureza, mas a leva à perfeição”, isto é, a
ação de Deus, a ação do Espírito Santo na alma em estado de graça, não destrói
a natureza humana, não a mutila, não a cerceia, mas eleva-a, aperfeiçoa-a.
Nesse sentido, só pode ser uma tentação diabólica pensar que a ação do Espírito
Santo na nossa alma aniquilará o nosso próprio eu, sufocará a nossa
individualidade, destruirá os nossos gostos, as nossas inclinações, eliminará os
nossos lazeres, lançará uma camisa de força em nossa criatividade. Nada mais
falso! É justamente o contrário. O Espírito Santo tão somente aperfeiçoará os
nossos mais legítimos anseios, orientando-os para o seu pleno atingimento.
Usamos máscaras, desconhecemos a verdade e nos apresentamos a Deus como homens que não somos. |
É por desconhecer essas verdades que muitas vezes
usamos máscaras. É por ignorar isso que tantas vezes nos apresentamos diante de
Deus e dos homens como nós não somos, exibindo virtudes que não possuímos e
dissimulando nossos defeitos. Muitas vezes, até para rezar, utilizamos
entonações sentimentais, piegas, esquisitas, pasteurizadas, como se a eficácia
da nossa oração dependesse de uma certa homogeneidade, da opinião exterior da
assembleia, e não da nossa nudez, da nossa tranquila simplicidade diante de
Deus, que conhece até as dobras das nossas almas. Muitas vezes temos a ideia
falsa de que Deus deseja um monte de robozinhos que O sirvam. Esses robozinhos,
se olharem para o lado, já estariam pecando. Nada disso. Isso é escrúpulo.
“Conhecereis
a verdade e a verdade vos libertará”. Deus não nos quer com máscaras. Deus não
nos quer com poses de santos; quer-nos santos, sem pose. Santos ao natural, com
os cabelos ao vento. Ele não quer entonações afetadas, sorrisos forçados,
artificialismos. Ele quer que sejamos santos com toda a tranquila
espontaneidade que emerge das nossas almas banhadas pela luz do seu Espírito.
Deus quer expandir a nossa personalidade ao máximo, e não manietá-la.
O Espírito Santo é criativo por natureza, e Ele
quer que sejamos livres, criativos também. Deus só nos proíbe a autodestruição.
O pecado é uma espécie de automutilação, de autoflagelo ou suicídio espiritual.
A Lei de Deus, portanto, só nos proíbe de ferirmos a nós mesmos e aos outros. O
pecado nos desfigura; a graça nos cura.
É sempre bom lembrar as palavras do Papa João Paulo
II no início do seu Pontificado: “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir,
melhor, escancarai as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins
dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos
de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem 'o
que é que está dentro do homem'. Somente Ele o sabe!”
O que Deus nos tira, meus irmãos, é o que não é
Dele: são as falsas alegrias, os falsos gozos, as falsas amizades, as falsas
esperanças neste mundo ilusório, pois, como diz São Paulo, “a figura deste
mundo passa”.
Tenhamos a coragem de ser nós mesmos. De
corresponder cada vez mais à nossa própria identidade, à nossa própria
criatividade. Deus que nos criou com todos os nossos dons quer que os
desenvolvamos ao máximo, e não que enterremos nossos talentos na terra. Ele
mesmo disse isso no Evangelho. Ele não quer tolher a nossa personalidade, não
quer vestir-nos uma camisa de força. Pelo contrário, o Espírito Santo é o
espírito da abertura, da alegria, da liberdade calma, da espontaneidade
tranquila, da simplicidade serena. Nosso Criador não nos deu dons para que nós
os atrofiássemos.
Confesso a vocês, e talvez já tenha dito isso
antes, para mim, as manhãs de domingo são uma metáfora, uma figura do paraíso,
da eternidade. Quando vou fazer meu esporte nas manhãs de domingo, vejo tanta
alegria, tanta espontaneidade, tanta criatividade nas pessoas: vejo bicicletas
diferentes, skates diferentes, tantos tipos de brinquedos e diversões. Vejo
coisas que eu nem imaginava que existissem. Estou seguro de que o paraíso é
assim: uma explosão de felicidade, de criatividade e de espontaneidade, em que
as nossas personalidades se mostram integralmente e encontram a sua plena
realização e o seu pleno desenvolvimento, sob o sol luminoso da presença de
Deus.
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