segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Máscaras.


Por Paul Medeiros Krause

Prezado leitor, será que nós estamos plenamente convencidos de que Deus criou-nos para a felicidade suprema e completa? Será que nos conduzimos por essa verdade?

A nossa vocação inadiável é para a felicidade.
Estou me aproximando dos meus quarenta anos, no ano que vem os completo, se Deus quiser, e as leituras e a experiência de vida acumuladas até aqui levam-me a crer que a maioria de nós não nos convencemos da nossa vocação inadiável para a felicidade. Ou, dito de outra forma, estou convencido da existência de uma tentação sutil, sorrateira, que o demônio arma aos crentes: a ideia ilusória de que seguir o caminho de Deus significa negar a própria natureza, o aniquilamento do próprio eu, o sacrifício da espontaneidade e da criatividade, a mutilação da personalidade.

O demônio é como o PT, na verdade, o PT, verdadeira sucursal do inferno, é como o demônio: acusa os outros do que ele faz. A grande verdade é que o capeta, quanto mais uma pessoa a ele se confia, de forma tácita (talvez a mais comum) ou expressa, mais destrói a sua natureza, o seu eu, a sua identidade única, a sua liberdade e espontaneidade. As personalidades confiadas ao pai da mentira são fragmentadas, sem unidade e coerência. O diabo, astuto conhecedor da natureza humana, sugere continuamente aos homens a ideia de que Deus os quer tristes e frustrados, os quer mutilados, quer negar-lhes tudo. Lembremo-nos da primeira mentira da serpente no Livro do Gênesis: “É verdade que Deus vos proibiu de comer de toda árvore do jardim?”.

O Livro do Gênesis é de uma atualidade gritante. Aquela mentira é diuturnamente soprada aos ouvidos da nossa alma pelo inimigo do gênero humano. Desgraçado, derrotado, sumamente infeliz, invejoso, escravo dos seus vícios, Satanás deseja ver-nos desgraçados, destroçados, fragmentados, sumamente infelizes como ele.

Há uma máxima, salvo engano, da teologia escolástica: “A graça não anula a natureza, mas a leva à perfeição”, isto é, a ação de Deus, a ação do Espírito Santo na alma em estado de graça, não destrói a natureza humana, não a mutila, não a cerceia, mas eleva-a, aperfeiçoa-a. Nesse sentido, só pode ser uma tentação diabólica pensar que a ação do Espírito Santo na nossa alma aniquilará o nosso próprio eu, sufocará a nossa individualidade, destruirá os nossos gostos, as nossas inclinações, eliminará os nossos lazeres, lançará uma camisa de força em nossa criatividade. Nada mais falso! É justamente o contrário. O Espírito Santo tão somente aperfeiçoará os nossos mais legítimos anseios, orientando-os para o seu pleno atingimento.

Usamos máscaras, desconhecemos a verdade
e nos apresentamos a Deus como homens que não somos.
É por desconhecer essas verdades que muitas vezes usamos máscaras. É por ignorar isso que tantas vezes nos apresentamos diante de Deus e dos homens como nós não somos, exibindo virtudes que não possuímos e dissimulando nossos defeitos. Muitas vezes, até para rezar, utilizamos entonações sentimentais, piegas, esquisitas, pasteurizadas, como se a eficácia da nossa oração dependesse de uma certa homogeneidade, da opinião exterior da assembleia, e não da nossa nudez, da nossa tranquila simplicidade diante de Deus, que conhece até as dobras das nossas almas. Muitas vezes temos a ideia falsa de que Deus deseja um monte de robozinhos que O sirvam. Esses robozinhos, se olharem para o lado, já estariam pecando. Nada disso. Isso é escrúpulo.

 “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Deus não nos quer com máscaras. Deus não nos quer com poses de santos; quer-nos santos, sem pose. Santos ao natural, com os cabelos ao vento. Ele não quer entonações afetadas, sorrisos forçados, artificialismos. Ele quer que sejamos santos com toda a tranquila espontaneidade que emerge das nossas almas banhadas pela luz do seu Espírito. Deus quer expandir a nossa personalidade ao máximo, e não manietá-la.

O Espírito Santo é criativo por natureza, e Ele quer que sejamos livres, criativos também. Deus só nos proíbe a autodestruição. O pecado é uma espécie de automutilação, de autoflagelo ou suicídio espiritual. A Lei de Deus, portanto, só nos proíbe de ferirmos a nós mesmos e aos outros. O pecado nos desfigura; a graça nos cura.

É sempre bom lembrar as palavras do Papa João Paulo II no início do seu Pontificado: “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarai as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem 'o que é que está dentro do homem'. Somente Ele o sabe!”

O que Deus nos tira, meus irmãos, é o que não é Dele: são as falsas alegrias, os falsos gozos, as falsas amizades, as falsas esperanças neste mundo ilusório, pois, como diz São Paulo, “a figura deste mundo passa”.

Tenhamos a coragem de ser nós mesmos. De corresponder cada vez mais à nossa própria identidade, à nossa própria criatividade. Deus que nos criou com todos os nossos dons quer que os desenvolvamos ao máximo, e não que enterremos nossos talentos na terra. Ele mesmo disse isso no Evangelho. Ele não quer tolher a nossa personalidade, não quer vestir-nos uma camisa de força. Pelo contrário, o Espírito Santo é o espírito da abertura, da alegria, da liberdade calma, da espontaneidade tranquila, da simplicidade serena. Nosso Criador não nos deu dons para que nós os atrofiássemos.


Confesso a vocês, e talvez já tenha dito isso antes, para mim, as manhãs de domingo são uma metáfora, uma figura do paraíso, da eternidade. Quando vou fazer meu esporte nas manhãs de domingo, vejo tanta alegria, tanta espontaneidade, tanta criatividade nas pessoas: vejo bicicletas diferentes, skates diferentes, tantos tipos de brinquedos e diversões. Vejo coisas que eu nem imaginava que existissem. Estou seguro de que o paraíso é assim: uma explosão de felicidade, de criatividade e de espontaneidade, em que as nossas personalidades se mostram integralmente e encontram a sua plena realização e o seu pleno desenvolvimento, sob o sol luminoso da presença de Deus.

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