Por Paulo
Henrique Cremoneze.
O Bolsa-família é
uma "sacada de mestre". Do mal, é verdade, mas maquiavelicamente
inteligente. Justifico: investir na saúde, por exemplo, demanda tempo,
estratégia, muito dinheiro, seriedade e comprometimento. Um bom hospital - bem
equipado, com médicos, enfermeiros e atendentes qualificados - é algo coletivo,
impessoal, difuso e não é uma garantia de voto para um governo populista. Já o
Bolsa-Família é algo sem risco: por cerca de cem reais, o governo literalmente
ganha o voto do beneficiado. Trata-se de algo pessoal, concreto, direto. Quem
recebe, sente-se bem e não tem e não consegue enxergar que em verdade ele não
ganha 100,00, mas perde 1.500,00 em saúde e educação. O dinheiro sangra sem
retorno algum para a sociedade. Todo o mundo perde, a começar pelo bolsista. Eu
não culpo, nem desmereço quem recebe, mas sim quem manipula ou apoia a
manipulação. Eu só confiaria minimamente no governo e na parolagem do
Bolsa-Família se os beneficiados fossem impedidos de votar. Acaso tem real
liberdade e autêntica autonomia para votar quem recebe dinheiro do governo? Não
se trata de elitismo, mas de por as coisas nos devidos lugares.
Nunca a ideia de
Platão sobre a estrutura política da sociedade se fez tão necessária como no
Brasil de hoje.
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