Por Kairo Neves
A estola é um dos paramentos mais ricos
de significado no Rito Romano, consiste de uma faixa estreita de tecido de
acordo com a cor da liturgia do dia decorada, geralmente com bordado. É usado
na celebração da missa, dos sacramentos e dos sacramentais.
Papa Bento XVI usando estola sobre as vestes corais |
História
A estola não possui a mesma origem da
casula, da dalmática e da alva, isto é, do hábito romano antigo; ao contrário,
ela vem do oriente. Assim se explica que também nos ritos orientais existam
paramentos muito semelhantes com a estola ocidental. Como a grande maioria dos
paramentos, vem do uso profano. No princípio a estola, provavelmente, era uma
tira de tecido muito fino destinada a limpar o rosto ou resguardar o pescoço; era
distinta das classes mais altas.
Passado para o uso litúrgico ainda no
oriente, logo deixou seu formato original e, já no século IV, passou ao formato
de faixa.
Seu nome em grego é “Orárion”, até hoje
assim se chama o paramento relativo à estola diaconal no rito bizantino. Por conta deste nome, que os nórdicos
acreditavam vir do verbo latino “orare” (orar, mas também, falar, pregar), o
uso da estola logo passou a ser distintivo daqueles que tinham autoridade para
pregar à assembleia dos fiéis, isto é os diáconos, presbíteros e bispos. Assim,
ao fim do século VI, a estola já é tida como distintivo dos ordenados, ainda
que houvesse já diferenças no uso por cada uma das ordens.
O Sínodo de Laodicéia proibia os
clérigos menores, entre eles os sub-diáconos a usarem estola e regulamentava
seu uso pelos diáconos, isto é, a tiracolo sobre o ombro esquerdo. O Concílio de Braga II no século VI, que
ordenou que os diáconos usassem a estola sobre a alva para distingui-los dos
sub-diáconos.
Lembrando que quando falamos do uso da
estola diaconal sobre o ombro esquerdo, nessa época, nos referimos estola que
saindo de baixo do braço esquerdo, cruza as pontas sobre ombro esquerdo cai com
as pontas tremulantes do lado esquerdo do corpo, como ainda se usa no oriente.
Orarion usado por diáconos do Rito Bizantino |
Apenas no século XII, a estola diaconal
no ocidente, por conta na grande necessidade de simplificação do pensamento romano
se encurtou, passando a ser preso sobre o braço direito. E no século XIV,
passou para baixo da dalmática.
Os sacerdotes, porém, já nessa época
usavam a estola sob a casula; os bispos sob a dalmática e a casula. Assim já se
representou Santo Ambrósio em sua catedral no século V. O uso de os presbíteros
cruzarem a estola sobre o peito surgiu no século VII, por ordem no Concílio de
Braga III, apesar de só ser escrito no missal romano no século XVI, por São Pio
V.
Em relação ao nome, apesar de seu nome
primitivo ser usado para regulamentar o uso da estola, entre os séculos VI e
VII, nos países nórdicos da Europa já se usava o nome estola no lugar de
“orarium” que seria o termo latinizado de deu nome grego. Em meados do século
XIII, o termo antigo foi completamente abandonado e o nome estola passou a ser
exclusivamente usado no mundo latino.
O diácono
O diácono põe a estola a tiracolo,
apoiada no ombro esquerdo e preza debaixo do braço direito. O diácono usa a
estola assim com alva sempre que oficia em uma missa; nas celebrações solenes
sobre a estola endossa com dalmática.
Estolão diaconal do rito romano |
No rito antigo, durante períodos de
penitencia, os diáconos não utilizavam a dalmática, então a estola diaconal
usada era mais encorpada, chamada de estolone, estola larga, estolão. No rito
novo, pode-se ter diácono oficiando em todas as celebrações eucarísticas, mas não
necessariamente sempre usa a dalmática, tendo-a como um elemento de “solenização”.
Assim, nas missas ferais, memórias e mesmo nos domingos da quaresma, segundo o
costume, pode fazer uso de uma estola maior e mais larga, mas sempre, presa da
forma convencional.
Fora da celebração eucarística, o
diácono pode usar a estola com a dalmática para ministrar sacramentos e
sacramentais e ainda liturgia das horas. Para celebração das LH em que se dá a
bênção eucarística, o diácono usa estola diaconal com o pluvial. Para
distribuir a comunhão ou tocar nos vasos que contém a sagrada eucaristia, ou
ainda para receber a comunhão em missa que não oficie, faz uso da estola sobre
batina e sobrepeliz.
Na forma extraordinária, os
diáconos-assistentes não vestem estola, na forma ordinária, vestem-se como os
diáconos oficiantes.
A estola diaconal de Paris
Estola diaconal de Paris |
Existe na França, um modelo de estola
diaconal em uso no rito romano e ao que parece aprovado para a arquidiocese de
Paris, mais próximo ao formato antigo.
Apesar de parecer um interessante meio
de retorno às fontes, essa estola têm mostrado-se um grande mal. Primeiramente
por que nos parece um arqueologismo litúrgico, um paramento retirado do “túnel
do tempo”, que já não se usa a muitos séculos em nosso rito por conta da
própria evolução paulatina do rito. Ademais, essa estola tem dispensado o uso
da veste que é própria do diácono, a dalmática.
A estola diaconal no Rito Ambrosiano.
Diáconos de Milão usando a estola semelhante ao uso oriental. |
Algo interessante da Arquidiocese de
Milão é que, apesar da mudança do uso da estola ocorrida no universo romano, no
rito ambrosiano a estola mante seu uso mais próximo ao dos ritos orientais,
isto é, sobre a dalmática e com as pontas pendentes do lado esquerdo.
Outra diferença é que os
diáconos-assistentes, apesar de não usarem alvas, portam a estola sobre a
dalmática.
O presbítero.
O presbítero usa estola com casula
sobre alva sempre que celebra ou concelebra a Eucaristia. Usa ainda com pluvial
para procissões, para expor o Santíssimo de forma solene, para dar a bênção
eucarística solene e para alguns sacramentos celebrados de maneira mais solene,
se esses se realizarem fora da missa.
Estola presbiteral cruzada sobre o peito. |
A maneira de usar estola com alva é
tradicionalmente cruzando-a sobre o peito e prendendo-a com o cíngulo. Embora
esse detalhe não conste mais nas rubricas do missal é vivamente recomendado aos
sacerdotes manter este uso.
Sempre de cor roxa, usa-se com
sobrepeliz para os sacramentos da confissão e unção dos enfermos. Para bênçãos
em geral, e para a exposição e bênção eucarística, para tocar num recipiente
com a sagrada eucaristia e para receber a comunhão usa-se de cor branca,
igualmente com sobrepeliz.
Uso da estola com sobrepeliz |
Quando se usa com sobrepeliz, os
sacerdotes deixam a estola cair sobre o peito, paralelamente. A estola que se
usa com sobrepeliz, pode ser a mesma que se usa com alva e casula. Existe,
entretanto, um costume antigo de usar um modelo que é um pouco maior e possui
por vezes um pequeno detalhe que liga as pontas da estola; é conhecida como
estola pastoral.
O bispo
O papa com a estola à mostra após retirar a casula para a adoração da Santa Cruz |
O bispo usa a estola ao redor do pescoço caindo paralelamente
sobre o peito, seja com alva seja com sobrepeliz. Entre as duas partes da
estola, o bispo usa a cruz peitoral, ainda que se possa fazer uso dela sobre a
casula.
As ínfulas
O triregnum de Bento XVI, com seu brasão bordado nas ínfulas. |
Mitra com as ínfulas à mostra |
As mitras latinas, bem como o
triregnum, possuem duas tiras atrás, as chamadas ínfulas (infulae: do latim, tiras). Essas tiras são por muitos liturgistas
relacionadas com a estola, seu uso é relacionado com a plenitude do sacerdócio.
Assim, as ínfulas seriam uma reafirmação do simbolismo presente na estola.
A estola papal
Papa usando mozeta branca, por ocasião do tempo pascal, com estola dourada |
Papa usando tradicionalmente estola vermelha com mozeta vermelha |
O papa, enquanto bispo, usa a estola
sempre com as pontas paralelas. Existe, entretanto, um uso próprio do Sumo
Pontífice. O papa usa estola sobre vestes corais, pode usá-la toda vez que
aparece em público, mesmo para alguma função não estritamente litúrgica. Apesar
disso, não a tem usado para a oração do ângelus e outras ocasiões mais sociais
e menos litúrgicas, mesmo usando vestes corais.
Essa estola é longa, até abaixo do
joelho, ricamente bordada com arabescos, flores e folhas com extremidades mais
alargadas e munida de franjas. A cor é sempre branca ou vermelha, de acordo com
a ocasião, sem uma regra específica. Existe, porém, o costume de o papa usar
mozeta branca durante o tempo pascal e com ela sempre estola branca (dourada);
com a mozeta vermelha usa-se geralmente a estola vermelha, mas por vezes o Papa usa também a estola branca.
Pouco usual, estola branca sobre mozeta vermelha. |
Referências
Bibliográficas:
·
Stefano
Sanchirico, Cerimoniario papal, L’Osservatore Romano;
·
Pe. João
Batista Reus, Curso de Liturgia;
·
Pietro Siffrin,
Stola, Enciclopedia Cattolica, XI;
Belíssimo.
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