Por Carlos
Ramalhete.
...teriam
prevalecido sobre a Igreja?!
Tem gente que acha
que sim...
Dada a confusão que
se seguiu ao Concílio, as barbaridades litúrgicas perpetradas na maioria das
paróquias, será que seria correto dizer que as portas do Inferno teriam
prevalecido sobre a Igreja?
Seria gravíssimo, se
fosse esse o caso. É exatamente por isso que - além de lutar contra os abusos -
devemos também lutar contra o cisma, que parte da premissa de que as Portas do
inferno teriam prevalecido. Explico.
Nosso Senhor disse
que as portas do Inferno não prevaleceriam sobre a Igreja, não que ela não passaria
por maus pedaços. O Papa Paulo VI disse que "uma fumaça de Satanás entrou
na Igreja", mas não disse que Satanás prevaleceu sobre a Igreja. O Santo
Padre João Paulo II disse que Igreja está vivendo o seu Calvário... mas o
Calvário é um período de dor e sofrimento, não uma derrota.
O Papa Paulo VI
mandou fazer uma liturgia nova com um intuito nobre mas mal guiado (não devemos
nos esquecer que a infalibilidade papal não significa impecabilidade papal;
Papas erram, e erram de montão. Só o que eles não conseguem fazer é pregar o
erro como se fosse verdade, e vice-versa): ele achava que se a liturgia da
Igreja fosse simplificada ela atrairia mais facilmente os protestantes.
Infelizmente, além da ideia ser péssima o sujeito que ele botou para fazer isso
não era lá muito confiável. O primeiro texto da Instrução Geral do Missal novo
foi recusado pelo Papa e teve que ser parcialmente reescrito, por quase deixar
de lado pontos essenciais da Fé católica em sua explicação da Missa. O Bispo
que o fez foi mais tarde acusado de ser maçom. Ele jura de pés juntos que não
é. O Papa acreditou que era ao menos ao ponto de dar a ele a nobre missão de
núncio apostólico no Irã de Khomeini (fanático muçulmano, perto de quem o Osama
era uma coisinha fofa).
A Missa que saiu
daí, ainda por cima, foi levada às mãos das Conferências Episcopais. Elas
começaram a traduzir *a Missa toda* (não só as leituras) e a inserir coisas que
não estavam lá, tirar coisas que estavam, etc. Isso era a década de setenta; no
mundo o movimento hippie havia
atingido seu auge, e surgia o punk.
Todo o mundo estava em um processo de mudança social e cultural acelerada, e a
liturgia da Igreja viu-se agarrada neste movimento pelas Conferências
Episcopais. O Papa Paulo VI, que Deus o tenha, via-se completamente desprovido
de poder de fato desde que havia condenado bravamente a contracepção artificial
e sido desobedecido por quase todos. As Conferências Episcopais (no Brasil a
CNBB) faziam e aconteciam, mandavam e desmandavam. Para tornar a coisa pior,
nas Conferências estavam muitíssimos hereges, e eles - aproveitando a fraca
liderança do Papa - conseguiam aumentar os seus números, fazendo novos Bispos
no mesmo estilo.
A ação deles na
liturgia também foi apavorante. Além dos erros propositais de tradução (como na
Consagração, quando o "Sangue, que será derramado para vós e para
muitos" virou "Sangue, que será derramado por vós e por todos",
ou o Cordeiro que Deus, que passou a tirar "o pecado" - único? - do
mundo, ou, ou, ou...); os padres foram incentivados (para não dizer forçados) a
celebrar em português, enfiando-se atrás do altar, de costas para o Sacrário,
como se fossem apresentar o Sacrifício para os fiéis, não em benefício dos
fiéis para Deus; as invencionices aumentaram por todo lado - especialmente na Europa,
onde os bispos holandeses chegaram a lançar um catecismo herético que
continuaram a vender mesmo depois de ele ter sido condenado por Roma - e, com a
facilidade de comunicação dos dias de hoje, rapidamente avançaram por todo
lado. Os fiéis passaram a receber o Santíssimo de pé e na mão, dado por um
leigo. As Missas passaram a ter bandas de rock, com violão e bateria na igreja.
E por aí vai.
Em suma, o Demônio
atacou, e com vontade.
Atacou mas não
venceu. O Papa Bento XVI, desde o começo de seu pontificado, tentou tomar
novamente as rédeas. Lançou o novo Catecismo, que desmancha cuidadosamente os
erros do Catecismo Holandês (veja como o Catecismo de JPII dá muita ênfase à
Cristologia, por exemplo, que é a área onde havia mais heresias no Catecismo
Holandês); já deu ordens (que não são obedecidas, mas estão aí para ajudar os
bons padres e bons Bispos que as queiram impor) contra o uso de leigos em
ministérios do Sacerdote, etc.
A técnica dele é a
polonesa: manter firmemente o essencial, ceder no acidental e procurar
lentamente recuperar o terreno perdido quando algo acidental foi cedido. É
assim que a Polônia sobrevive até hoje, tendo sido sempre atacada e invadida
pelos alemães e pelos russos.
A Missa de Paulo VI
é válida, ou seja, é uma missa verdadeira, por mais que seja fácil fazer dela
ocasião de desrespeito. Há padres que a celebram de maneira respeitosa e digna,
e até mesmo um movimento que busca incentivar que ela seja celebrada de maneira
100% católica (se você lê inglês visite o site
do Adoremus, associação dedicada à
luta pela ortodoxia na Missa Nova). A Igreja, mesmo durante esta confusão, não
ensinou jamais nada de errado. A fumaça já está se dissipando, e a diferença
entre a nossa situação atual e a de há vinte anos é gigantesca!
Assim, podemos sim
dizer que a Igreja sofreu um dos ataques mais fortes que o Inferno já tentou
contra ela, mas não que as Portas do Inferno tenham prevalecido.
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