Por Felipe de Oliveira Ramos
"Tu és Petrus et super hanc petram
aedificabo Ecclesiam meam"
O discurso contemporâneo tenta
colocar a figura de Jesus Cristo como figura subversiva que, atualizada a
nossos tempos, acabaria por ser a favor de certas “pautas”, e irremediavelmente
incomodaria aqueles que estão contra essas “pautas”.
De fato, Jesus Cristo mesmo
tomado apenas como ser histórico é aquele que dá claridade e visibilidade à lei
e “rompe” – seria mais correto falar de amadurecimento e perfeição da lei -, de
certa forma, com a lei dada por Moisés aos homens, segundo o coração duro
daqueles que estavam com ele. Mas Cristo vai muito além do que isso: Ele incomodaria a você e a mim mesmo, Ele diria
coisas e colocaria diante de nós questões que nos tirariam do eixo. Jesus não
esteve e nem está comprometido com uma pauta ideológica, mas sim com a verdade,
e como diria Santo Agostinho, "a verdade tem poucos amigos".
Por dizer a verdade, sabemos onde
Cristo foi parar, e hoje acabaria morrendo da mesma forma, não por causa de um
lado conservador ou um lado progressista, não por uma direita ou uma esquerda,
mas por que a verdade incomoda o ser humano, tira-o do seu eixo de estagnação.
Queremos enfim, a preguiça das ideias relativas, das opiniões infundadas e das
relações superficiais; Cristo quer dinâmica das verdades concretas, das
opiniões cheias de sentido (significado e também DIREÇÃO) e das relações
pessoais e íntimas (empatia, fraternidade, caridade, justiça).
Não seria surpresa que os dois
últimos papas de nossa Igreja tenham sido ao mesmo tempo tão louvados e odiados
pela maioria das pessoas. Esse misto entre admiradores e perseguidores de ambos
acabou por criar um clima nada católico dentro da Igreja. Considero-a uma
divisão que só existe nos olhos daqueles que insistem em criar uma profunda
cisão no seio da Igreja. Bento XVI e Francisco podem ter perfis diferentes, mas, fica
claro a qualquer observador atento que ambos sempre tiveram e têm o mesmo
objetivo: mostrar o perigo do pensamento moderno para a fé e para a dignidade
humana.
Embora visto como conservador,
Bento XVI não deixou de lado os temas sociais, e muitas vezes se posicionou de
forma clara como pontífice da Igreja. Não havia, no entanto, uma perseguição ao
Papa Emérito nesse sentido: seu viés intelectual e teológico sustentava de
forma sólida tudo que dizia, e até hoje muitos abrem os ouvidos para ouvi-lo
movidos pelo respeito e reconhecimento a esse grande homem da razão. Bento XVI
foi a misericórdia de Deus em sua divina providência, conservando a Igreja nas
mãos de um homem que soube defender a doutrina, a teologia e os dogmas da fé
cristã, diante de um mundo que perdia a fé e relativizava tudo.
Agora, temos o Papa Francisco. Se
atacavam Bento XVI chamando-o de conservador, à Francisco atacam-no chamando-o
de comunista. As suspeitas surgirem graças ao seu viés mais pastoral, e por
Francisco ser um fiel seguidor da Doutrina Social da Igreja. É novamente um
presente da providencia divina que coloca Francisco, homem da verdadeira
caridade, à frente da Igreja em um tempo em que precisamos reaprender com Ela e
com a palavra de Cristo sobre o sentido da verdadeira caridade, e das
implicações de vivermos esse amor. Diante da crise no mundo, Francisco
afirma-se e reflete de forma cada vez mais profunda a respeito de sua
responsabilidade como pontífice da Igreja de Cristo. O meio pelo qual Ele
encontrou para curar os males do mundo é o caminho do exemplo, da vida como
evangelho último, e talvez o único evangelho que alguém poderá ler na vida. Em
resumidas palavras: o que comove o mundo é o exemplo.
Francisco e Bento XVI não estão
opostos, pois seus esforços são para combater os problemas no mundo. Francisco
incomoda por que lembra ao mundo que ele se tornou egoísta e que ser egoísta é
uma falta de caráter, mesmo no mundo em que se esconde o egoísmo por trás do
"amar a si mesmo", "se você não gostar de si não vai gostar de
mais ninguém" e etc.; Bento XVI incomoda o mundo por lembrar a eles da
verdade, não só da verdade de que Cristo é amor (suas cartas DEUS CARITAS EST e CARITAS IN VERITATEM lembram-nos desse papa apaixonado pelo Deus
amor), mas a verdade de que a lógica do mundo não está em conformidade com a de
Cristo: "o mundo vos odiará por que primeiro odiou a mim” (Jo 15,18). No
mundo egoísta e relativista em que vivemos, quase nunca haverá espaço para
homens como Francisco e Bento XVI: amantes de Deus e da verdade, apóstolos dos
últimos dias, que precisam lembrar ao mundo muitas das coisas que ele esqueceu.
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