Denilson
Cardoso de Araújo
Disse Dilma que
educação seria prioridade suprema, com ações de governo formadoras, cidadãs,
éticas e republicanas: pátria educadora. É... O que a Dilma fala não se
escreve. Mas não ria. Tente não chorar com o capítulo atual da crise das
escolas e universidades brasileiras.
Nem direi da
amalucada combinação de o MEC lançar o Plano Nacional de Educação, e depois vir
a Secretaria de Assuntos Estratégicos gerar o Pátria Educadora conflitando com
coisas do PNE. Muito cacique para pouca educação. Dá frio na espinha. Estou com
Tania Zagury: “Só de ouvir falar em reforma na educação, sinto arrepios”.
Como fazer educação
com esse recorde de professores com depressão? Com o desengajamento afetivo de
mestres massacrados por exigências de desempenho irreais, classes selvagens,
famílias algozes, direções incapazes, secretarias omissas e governos capatazes?
Que educação se
quer, com o grau máximo de violência entre alunos e de alunos contra
professores, sexo em salas de aula e tráfico de drogas nos pátios, que faz
crescer o clamor por câmeras de segurança, detectores de metal e polícia dentro
da escola?
Que educação
faremos, com esses currículos inchados de temas transversais, modismos
pedagógicos, modernidades decrépitas, projetos de escolas suíças para fazer de
conta em escolas etíopes? De tão fora da realidade, o que ocorre no ensino
parece realidade paralela, surrealismo sem dono.
Como educar em
escolas com cara de presídio - como é o clamoroso caso da Escola Jandira
Bordignon, em Quitandinha, a cuja equipe heroica mando meu abraço - e escolas
com cara de barraco, pardieiros espetados em barrancos, saletas de aula, becos
de aula, fazendo vezes das salas faltantes? De tão vexatórias, levam alunos a
tirar o uniforme na saída, para não serem apontados na rua.
Que educação
teremos, em escolas sem quadras, a educação física desperdiçada no queimado
pueril, sem, por exemplo, o atletismo – esporte barato e eficaz porta de acesso
social a pobres, desde a Jamaica até aos guetos norte-americanos?
Como educar se
quebramos as bússolas do senso de autoridade e do respeito, ao martelo das
nefastas interpretações do ECA? Professores com medo de alunos, porque crianças
e adolescentes lhes chegam desses criadouros de egoístas exigentes que se
tornaram as desorientadas famílias.
Que educação é
possível na escola onde os problemas sociais do entorno são tão graves que a
equipe escolar é estimulada a suprir tudo, dar colo à comunidade e maior amor a
alunos, como se um punhado de palavras carinhosas e alguns abraços pudessem
suprir as profundas carências deixadas pela falta de serviços públicos
decentes?
Que educação teremos
com o número de alunos aumentado só para ficar bem na foto dos índices da
UNESCO? Reduzir a idade de acesso escolar, usar o Bolsa Família para
incrementar a matrícula, não ajuda à escola desprovida de adequados recursos e
corretas políticas, que acaba virando um depósito superlotado de gente
desmotivada.
Parodiando Bordieu,
educação virou causa-ônibus: todos a favor, multidão na causa aglutinadora, que
vira senha para o nada e para os desmandos. O governo, que não é ético, nem
republicano, nem tem prática cidadã, deseduca. Atira para todos os lados sem
acertar alvo algum. Sugiro a meta primária. Resgatar a autoridade do professor
e a responsabilidade da família. Sem isso, não se vai a lugar algum. A não ser
ao bueiro do meio milhão de notas zero no ENEM.
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