Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
“Louvado sejas, meu
Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz
variados frutos com flores coloridas e verduras”. Assim se exprimia São
Francisco de Assis, no seu célebre “Cântico do Irmão Sol” ou “Cântico das
criaturas”, no qual expressa o seu louvor a Deus através de suas obras.
Inspirado nesse cântico, o Papa Francisco escreveu sua encíclica “Laudato si”,
sobre o zelo que devemos ter com as criaturas que Deus nos deu, sobre o cuidado
da casa comum, “a nossa irmã, a terra”.
Numa posição de equilíbrio
entre os ambientalistas e ecologistas com visão apenas naturalista da questão e
os gananciosos pelo dinheiro que visam apenas o lucro sem se preocuparem com os
danos ambientais, ambos muitas vezes esquecidos da centralidade e dignidade da
pessoa humana, o Papa adota uma correta posição teológica e antropológica
diante do problema da natureza criada por Deus e dada ao homem, rei da criação.
O Papa nos lembra que “esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por
causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou” (n. 2).
“Se o ser humano se
declara autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a
própria base da sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de
colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste
modo acaba porprovocar a revolta da natureza”
(n. 117).
Desta encíclica,
cuja leitura integral recomendo a todos, ressalto alguns pontos significativos,
como, por exemplo, quando o Papa condena os defensores da contracepção e do
controle artificial da população: “Em vez de resolver os problemas dos pobres e
pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da
natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento,
que condicionam as ajudas econômicas a determinadas políticas de ‘saúde
reprodutiva’” (n. 50).
O Papa defende,
sobretudo, a vida humana: “Uma vez que tudo está relacionado, também não é
compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável
um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às
vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião
humano ainda que a sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades” (n.
120). “Além disso, é preocupante constatar que alguns movimentos ecologistas
defendem a integridade do meio ambiente e, com razão, reclamam a imposição de
determinados limites à pesquisa científica, mas não aplicam estes mesmos
princípios à vida humana. Muitas vezes justifica-se que se ultrapassem todos os
limites, quando se faz experiências com embriões humanos vivos. Esquece-se que
o valor inalienável do ser humano é independente do seu grau de
desenvolvimento. Aliás, quando a técnica ignora os grandes princípios éticos,
acaba por considerar legítima qualquer prática. Como vimos neste capítulo, a
técnica separada da ética dificilmente será capaz de autolimitar o seu poder”
(n. 136).
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