quarta-feira, 30 de julho de 2014

“Culturas”


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Cultura é uma palavra oriunda do latim – colere, cultivar –  usada para várias acepções, podendo significar um complexo de conhecimento, culto, crenças, artes, moral e costumes de uma sociedade, geralmente associada ao conceito de civilização, incluindo todas as áreas do comportamento humano.

Santo Agostinho, na célebre obra sobre as civilizações - “A Cidade de Deus” – resume a História do mundo na notável frase: “Dois amores fundaram duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo de Deus, construiu a cidade terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, construiu a cidade celestial” (A Cidade de Deus, XIV, 28).

Seguindo a diretiva de São Paulo – “Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12,2) - o Papa Francisco tem falado nas “culturas” que caracterizam a civilização atual, com as quais não devemos nos conformar. “Tenham a coragem de ir ‘contra a corrente’”. Hoje domina a “cultura do provisório, do relativo, onde muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, ‘para sempre’... Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação é caminhar para a realização feliz de si mesmo... Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família por meio do sacramento do matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está ‘fora de moda’... O Senhor chama alguns ao sacerdócio, outros para servir os demais na vida religiosa, nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo...” (JMJ Rio, 28/7/2013). Compromissos definitivos! 

“A civilização mundial ultrapassou os limites porque criou tal culto do deus dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos... a exclusão dos jovens” (JMJ Rio, 25/7/2013). 

Contra a cultura do descartável, da exclusão, do individualismo, devemos promover a cultura do encontro: “Hoje vivemos em um mundo que está se tornando cada vez menor... Os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos mais próximos... Todavia, dentro da humanidade, permanecem divisões...”. A cultura do encontro requer acolhida e amor ao próximo (Mensagem para o dia mundial das comunicações, 24/1/2014).


Assim, contra a cultura do egoísmo, promovamos a cultura da caridade. Contra a cultura do interesse, a cultura da gratuidade e do amor. Contra a cultura do barulho e da velocidade, a do silêncio, da serenidade e da oração. Contra a cultura da violência e da guerra, a cultura da paz. Contra a cultura da malandragem e da esperteza, a cultura do estudo, da disciplina, do empenho e do esforço. Contra a cultura do desleixo e da sujeira, a cultura do capricho e da limpeza. Contra a cultura do feio, a cultura da beleza. Contra a cultura do protecionismo, do populismo e da demagogia, a cultura do mérito, do bem comum e da caridade social.     

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