sexta-feira, 11 de julho de 2014

A culpa é das estrelas.


Por Cleiton Robson

“Nos dias mais sombrios, o Senhor coloca as melhores pessoas na sua vida.”

“A Culpa é das Estrelas” se trata de uma obra para ser sentida.  Ainda que isso implique na possibilidade de você começar a soluçar no cinema. O importante é sentir. A trama apresenta Hazel (Shailene Woodley), uma jovem adolescente com câncer terminal, que conhece e se apaixona por um carismático jovem chamado Gus (Ansel Elgort). Juntos, o casal acaba descobrindo o prazer pela vida e pelo amor, à medida em que se apaixonam. O ator protagonista, “bonito e charmoso”, encarna perfeitamente o adolescente comum que se sente imortal depois de superar os obstáculos e com a certeza de que encontrou a mulher de sua vida.

Fazia tempo que não gostava tanto de um filme como gostei desse! Tudo bem que já fui predisposto a uma grande obra, como de fato foi… Mas este, realmente me surpreendeu pela fidelidade ao livro e ao uso dos jargões contidos nele. Chorei ao ver o olhar de apaixonados dos dois atores, ao ver os olhos brilhando, ao ver o amor dos pais deles e fiquei me questionando se realmente quero ser lembrado por todos ou se somente por uma pessoa. Se pelo que faço ou se por quem sou. Tanto no livro quanto no filme, um dos pontos-chave é: quem vai lembrar de mim, ou para quem eu quero ser importante? E, talvez, este seja o norte que tomo para esta reflexão.

Uma das temáticas que mais me chamou a atenção no livro e que fez com que esperasse ansiosamente pelo filme foi o que o autor – John Green (que estudou para ser Padre e daí entender o motivo do seu livro ser cheio de citações de filósofos e de metáforas existenciais) – tocou como problemática de todos nós: “o medo de ser esquecido”, pois podemos ser bem cegos quando o assunto são os sentimentos das outras pessoas, uma vez que, por natureza, nos fechamos em nosso egoísmo e  fazemos de tudo para que sejamos reconhecidos, seja pelo nosso jeito, seja pelo que lemos, escrevemos, pelo modo como trabalhos, falamos, agimos… Tudo na tentativa de sermos aceitos no meio em que convivemos.

Muitas vezes, somos metidos a “durões”, insensíveis… No fundo, somos mesmo é molengas e altamente sensíveis; Porém, por medo de não sermos aceitos, não mostramos quem ou como realmente somos; Criamos um personagem, uma imagem de quem ou como gostaríamos de ser. Por isso que, quando nos deparamos com cenas, pessoas, livros, situações, músicas que nos “tocam” de alguma maneira, choramos; E o choro é sinal de que algo nos tocou. Seja uma dor, seja algo muito bom. O choro é sinal visível do encontro com o nosso eu mais íntimo; Encontro este que é com a alma de Deus e que toca a nossa própria.

Toda a adaptação do filme é muito bem “costurada”, intercalando, como no livro, momentos de alegria, tristeza, decepção, ansiedade… Encontro! Encontro de almas! Fala-se de “amor verdadeiro e único”, daquele que é eterno. “Eterno” significa aquilo que não tem começo nem fim; Simplesmente sempre existiu e sempre existirá. O que acontece no filme e na nossa vida é uma “adaptação” do que seja este “eterno”, para algo “infinito”. Daí o autor colocar na boca do escritor querido pela Hazel que “Alguns infinitos são maiores que outros”, uma metáfora, entre tantas outras que a obra oferece. O que é infinito pode ter tido um começo, mas não terá um fim. Assim somos nós quando nos percebemos envolvidos pelo “Amor verdadeiro”, que nos toca e este toque é tão marcante que nos faz chorar.

Este choro que, numa trama robustecida pelo agravante de um câncer, nos faz pensar sobre o valor que damos às pessoas ao nosso redor, ao tempo que lhes dispensamos, a querer fazer mais coisas de que gostamos… A querer viver, a querer amar e ser amado – o grande dilema do ser humano. Nessa busca, nos permitimos sonhar e até poetizar alguns momentos da nossa existência. Neste sentido, John Green foi feliz ao nomear o livro com a negação da afirmação de Shakespeare: “A culpa é das estrelas”.

Numa situação de um câncer, não há quem ou o que culpar; Como o poeta inglês afirma, a “culpa” das escolhas feitas em nossa vida é realmente nossa. Porém, que culpa têm as pessoas que são acometidas por doenças como o câncer? Nenhuma. Este é o paradoxo que o autor da trama procura desenvolver ao longo de todo o livro e pouco tocado no filme, pois esta não foi a preocupação no momento da adaptação, mas mostrar que, mesmo aquelas pessoas que têm alguma enfermidade como um câncer, ainda que terminal, têm a possibilidade e o direito de amar e de serem amadas, de viverem um amor tão intenso, que supera os momentos de dores físicas e emocionais, ainda que com os pés no chão, de modo bem concreto e como enfatizado no filme, “a dor precise ser sentida”.

Com maestria, John Green levanta problemáticas filosóficas e existenciais, tanto no livro quanto no filme. Um destes momentos é quando Gus se declara para Hazel:

“… sei que o amor é apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fazemos voltará ao pó, e sei que vai engolir a única Terra que podemos chamar de nossa…”

Fazendo um paralelo com o que afirmou o teólogo alemão Rudolf Otto, citado no livro e no filme, em relação ao que seja o Amor, podemos dizer que é um “discreto sussurro do espírito no coração, mas que é possível encontrá-lo em eventos, fatos, pessoas…”. Neste sentido, é que entendemos que “alguns infinitos são maiores que outros”, pois, só na eternidade dentro dos dias numerados” é que conseguimos enxergar a ação do “amor verdadeiro”, que, ao contrário do que muitos afirmam, liberta e não aprisiona, não é possessivo, tudo alcança.

É inegável que a declaração de Augustus a Hazel se faz a partir da consciência que ele tem do que é realmente sagrado e crê nisso, como afirma. Se forçarmos um pouco, também é possível fazer uma analogia de tal declaração e de todo o romance dos dois com o hino de São Paulo à Caridade, em Coríntios 13.

É muito fácil em momentos de crises e dores, nos perguntarmos onde está Deus… E, neste questionamento, esquecer da Sua existência ou de que, independentemente da nossa fidelidade, Ele continua a nos amar e jamais abandona, pois é o Puro Amor, é o Verdadeiro Amor, é Amor.

No entanto, como afirmei acima, no fundo de tudo, “o que nós queremos é ser notados pelo universo, fazer com que o universo dê alguma bola para o que acontece com a gente, como indivíduo”; Essa carência, na maior parte das vezes, só é suprida quando entendemos que “o verdadeiro amor supera e lança fora todo temor” (Cf.: 1 Jo 4,18b); Só amamos porque e quando nos percebemos amados. E isto, em vista de que, nos momentos de tristeza, percebemos que ela não nos muda, mas nos desvela e nos revela tais quais somos. Daí entendermos que “as marcas que as pessoas deixam em nós, com frequência, são cicatrizes”. Por isso tememos amar… E não permitimos sermos amados.

O grande desafio que a obra e o autor deixam para cada um de nós é aquele já tão falado e, por vezes, calejado: o desejo de amar e de se permitir ser amado e, a partir disso, aceitar as escolhas feitas, pois devem ser mostras livres do Amor em Si: Deus mesmo. E nisto seremos lembrados: pelo quanto e não pelo como amamos.

Recomendo vivamente este filme e a leitura das obras do John Green, uma vez que seus dramas existenciais tocam e mexem não somente com adolescentes, mas – por tratarem de vidas – com cada um que se aventura a querer buscar a eterna juventude, amando.

Ficha Técnica:

Gênero: Drama.
Direção: Josh Boone.
Roteiro: Michael H. Weber, Scott Neustadter.
Elenco: Allegra Carpenter, Amber Myers, Ana Dela Cruz, Ansel Elgort, Apurva Padubidri, Bethany Leo, Camera Chatham Bartolotta, David Whalen, Emily Bach, Emily Peachey, Eric Filo, Frankie Palombi, Garit Rathmell, Jean Brassard, Johanna McGinley, Laura Dern, Lotte Verbeek, Maddox Rathmell, Mike Birbiglia, Milica Govich, Nat Wolff, Randy Kovitz, Sam Trammell, Shailene Woodley, Silvio Wolf Busch, Viviana Cardenas, Willem Dafoe, Wyatt McClure.
Produção: Marty Bowen, Wyck Godfrey.
Duração: 125 min.
Ano: 2014.
País: Estados Unidos.
Estreia: 05/06/2014 (Brasil).
Estúdio: Temple Hill Entertainment.
Classificação: 12 anos.
Informação complementar: Baseado no best-seller homônimo de John Green.

Assista ao trailer.



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