Por Emanuel
Jr.
Nesse
terceiro momento de falatório sobre o sofrimento, temos algo que está além de
nossa imaginação, seja ela sensitiva, seja ela mental.
O
inferno, o purgatório e o paraíso são algo tão além de nossa imaginação que
muitos resolveram simplesmente ignorá-lo. Seguem a filosofia esdrúxula de que
"o que os olhos não veem o coração não sente". Sinto muito, mas o
coração e outras partes vão sentir muito em um momento posterior.
O
sofrimento o qual passamos aqui, nada mais é do que uma breve e remota
preparação para um possível sofrimento no purgatório, esse sim infinitamente
maior que o daqui. O do inferno já passou disso.
Lembro-me
de ler algo de Gertrud von Le Fort
que dizia uma frase que nunca irei esquecer: “Felicidade só há no Céu e justiça
só há no Inferno; nesta Terra, somente a Cruz”.
Muitos
querem buscar a felicidade plena aqui. No mínimo vão dar com os burros n'água.
Pelo menos seria bom se chegassem a esse estágio. A maioria morre tentando o
impossível. Felicidade plena só em Deus. Não queira encontrar o amor
maravilhoso que vai te fazer feliz para sempre como nos contos de fadas. Não
seja tão pouco misericordioso como seu/sua esposo(a) cobrando dele(a) isso. Um
ser humano não pode lhe dar plena felicidade. Felicidade plena só em Deus. Só
Nele podemos dizer que chegamos à plena felicidade, isso para os que lá
chegarem.
A
mesma coisa podemos dizer dos que pretendem sistemas de governo que
prometem o
céu na terra. Não vão ter! O céu não descerá à terra pelo simples fato de um
idealista dizer que assim o será. Cuidado com quem faz tais promessas. Cuidado
com socialismos, comunismos e social-democracias que fazem esse tipo de
compromisso impossível de cumprir.
Diametralmente
oposto a isso, não queira que a justiça plena seja feita aqui. Aqui não é lugar
de justiça, mas de injustiças. Não queira que um mero julgador humano, ridículo
e limitado, parafraseando Raul Seixas, consiga atingir o ápice da justiça
plena. Tal justiça só pode advir de Deus e em Deus.
O
inferno passa a ser justiça plena uma vez que quem viveu uma vida querendo
distância de Deus não pode ter outra coisa senão eterna distância Dele. A vontade
é sua, não a de Deus. Deus apenas fez a sua vontade. Pra isso existe
livre-arbítrio.
O
grande problema de tudo isso é que a justiça plena de Deus cumprida no inferno
é eterna. O sofrimento que lá existe não só é perene como a dor é infinita. Uma
dor inimaginável de um fogo eterno que não consome, apenas queima sem nada
poder apagar.
Não
temos um Deus covarde, injusto e sádico como sugerem alguns e afirmam
claramente outros. Temos apenas um Deus que ama tanto suas criaturas que
poderia muito bem tê-las feito como marionetes, fazendo tudo o que Lhe
apeteceria, contudo não foi esse tipo de criatura, limitada e refém de seu
destino que Deus quis para o que tinha criado. Deus deu a Suas criaturas um sem
número de habilidades e dons além de uma liberdade que poderia levá-lo a
escolher seu destino da forma como lhe conviesse. O livre-arbítrio é nada menos
que a liberdade que temos de negar estarmos presentes ao lado de Deus ou
querermos ardentemente essa presença. Essa vontade é respeitada por Deus. Sempre
é respeitada. A questão são as consequências.
Ouvi
certa vez em um debate que se é mesmo assim, então Deus está fazendo
"pegadinhas" conosco, afinal não sabemos como é estar longe de Deus,
como é o inferno. Ora, como não sabemos?! Temos centenas de histórias, temos a
Bíblia, temos a tradição, temos as revelações particulares (que ninguém é
obrigado a acreditar, mas estão ai pra quem quiser ouvir) e temos esse texto
que você está lendo. Como não sabe? A questão não é não saber. A questão é não
querer que assim seja. É um problema único e exclusivo seu, não meu ou de Deus.
Por
esses motivos a justiça do inferno é a única realmente plena, potente e total.
O sofrimento dessa justiça é apenas o detalhe da distância de Deus. Quanto mais
distante de Deus, maior o sofrimento, quanto mais perto, menor. Isso para os
que já estão longe desse mundo e já cumpriram com suas missões.
O
purgatório é outro estado de total purificação e toda purificação é dolorosa.
Toda purificação é sofrível. Os sofrimentos do purgatório são mais leves que a
justiça divina do inferno, isso sem dúvida, contudo não são mais leves que nada
do que há de mais truculento nesse mundo. O purgatório é o estágio final de
purificação para estarmos definitivamente de frente para Deus, limpos de todo o
mal, de todo o pecado. Essa limpeza é dolorosa e o sofrimento inevitável. O
fogo novamente purificará o que está impuro.
Por
último, temos a cruz desse mundo. Nada mais terno e bonito. Se conseguir ver
beleza e ternura na cruz de Cristo e na sua própria, estará preparado para
entender o sentido do sofrimento. Sofra aqui o que for necessário, afinal o
sofrimento no purgatório ou no próprio inferno é infinitamente maior. As cruzes
que precisamos carregar por nosso caminho são nada menos que presentes de Deus
a uma alma a quem Ele muito ama. Quanto mais cruzes, mais amor. Quanto mais
sofrimento, mais salvação. Não foi a toa que Cristo sofreu tanto na cruz. Ele
não precisava de salvação; é Deus e não precisa ser salvo, mas o mundo
precisava. O pecado do mundo foi tão grande que o sofrimento de homens não seria
o suficiente. Era preciso o sofrimento do próprio Deus. Somente o sangue de
Deus poderia pagar o tamanho erro do ser humano em querer tomar o lugar desse
próprio Deus através do pecado.
Fugir
do sofrimento só acarreta fuga de Deus. Não que seja preciso uma vida de
profundos sofrimentos, afinal temos santos e santas que eram ricos e se
salvaram. Mas afinal, dinheiro é mesmo sinal de profunda felicidade?
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