VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO SRI LANKA E ÀS FILIPINAS
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
AO SRI LANKA E ÀS FILIPINAS
(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
SANTA MISSA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Rizal Park, Manila
Domingo, 18 de Janeiro de 2015
Domingo, 18 de Janeiro de 2015
«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado»
(Is 9, 5). Sinto uma alegria particular por celebrar convosco o
domingo do «Santo Niño». A imagem do Santo Menino Jesus acompanhou a difusão do
Evangelho neste país desde o início. Vestido com os trajes reais, coroado e
ornado com o ceptro, o globo e a cruz, recorda-nos continuamente a ligação
entre o Reino de Deus e o mistério da infância espiritual. Disto mesmo nos fala
Ele no Evangelho de hoje: «Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino,
não entrará nele» (Mc 10, 15). O «Santo Niño» continua a
anunciar-nos que a luz da graça de Deus brilhou sobre um mundo que habitava nas
trevas, trazendo a Boa-Nova da nossa libertação da escravidão e guiando-nos
pela senda da paz, do direito e da justiça. Além disso, recorda-nos que fomos
chamados para espalhar o Reino de Cristo no mundo.
Ao longo da minha visita, ouvi-vos cantar: «Somos
todos filhos de Deus». Isto é o que o «Santo Niño» nos vem dizer. Recorda-nos a
nossa identidade mais profunda. Todos nós somos filhos de Deus, membros da
família de Deus. São Paulo disse-nos hoje que, em Cristo, nos tornamos filhos
adoptivos de Deus, irmãos e irmãs em Cristo. Isto é o que nós somos. Esta é a
nossa identidade. Vimos uma belíssima expressão disto, quando os filipinos se
uniram em torno dos nossos irmãos e irmãs atingidos pelo tufão.
O Apóstolo diz-nos que fomos abundantemente
abençoados porque Deus nos escolheu: «no alto do Céu [Ele] nos abençoou com
toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo» (Ef 1, 3). Estas
palavras têm uma ressonância especial nas Filipinas, porque é o maior país
católico na Ásia. E isto é já um dom especial de Deus, uma bênção especial; mas
é também uma vocação: os filipinos estão chamados a ser exímios missionários da
fé na Ásia.
Deus escolheu-nos e abençoou-nos com uma
finalidade: ser santos e irrepreensíveis na sua presença (cf. Ef 1,
4). Escolheu cada um de nós para ser testemunha, neste mundo, da sua verdade e
da sua justiça. Criou o mundo como um jardim esplêndido e pediu-nos para cuidar
dele. Todavia, com o pecado, o homem desfigurou aquela beleza natural; pelo
pecado, o homem destruiu também a unidade e a beleza da nossa família humana,
criando estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção.
Às vezes, vendo os problemas, as dificuldades e as
injustiças, somos tentados a desistir. Quase parece que as promessas do
Evangelho não são realizáveis, são irreais. Mas a Bíblia diz-nos que a grande ameaça
ao plano de Deus a nosso respeito é, e sempre foi, a mentira. O diabo é o pai
da mentira. Muitas vezes, ele esconde as suas insídias por detrás da aparência
da sofisticação, do fascínio de ser «moderno», de ser «como todos os outros».
Distrai-nos com a vista de prazeres efémeros e passatempos superficiais. Desta
forma, desperdiçamos os dons recebidos de Deus, entretendo-nos com apetrechos
fúteis; gastamos o nosso dinheiro em jogos de azar e na bebida; fechamo-nos em
nós mesmos. Esquecemos de nos centrar nas coisas que realmente contam.
Esquecemo-nos de permanecer interiormente como crianças. Isto é pecado:
esquecer-se, no próprio coração, de que somos crianças de Deus. Na realidade,
estas – como nos ensina o Senhor – têm uma sabedoria própria, que não é a
sabedoria do mundo. É por isso que a mensagem do «Santo Niño» é tão importante.
Fala profundamente a cada um de nós; recorda-nos a nossa identidade mais
profunda, aquilo que somos chamados a ser como família de Deus.
O «Santo Niño» recorda-nos também que esta
identidade deve ser protegida. Cristo Menino é o protector deste grande país.
Quando Ele veio ao nosso mundo, a sua própria vida esteve ameaçada por um rei
corrupto. O próprio Jesus viu-Se na necessidade de ser protegido. Ele teve um
protector na terra: São José. Teve uma família aqui na terra: a Sagrada Família
de Nazaré. Desta forma, recorda-nos a importância de proteger as nossas
famílias e a família mais ampla que é a Igreja, a família de Deus, e o mundo, a
nossa família humana. Hoje, infelizmente, a família tem necessidade de ser
protegida de ataques insidiosos e programas contrários a tudo o que nós
consideramos de mais verdadeiro e sagrado, tudo o que há de mais nobre e belo
na nossa cultura.
No Evangelho, Jesus acolhe as crianças, abraça-as e
abençoa-as. Também nós temos o dever de proteger, guiar e encorajar os nossos
jovens, ajudando-os a construir uma sociedade digna do seu grande património
espiritual e cultural. Especificamente, temos necessidade de ver cada criança
como um dom que deve ser acolhido, amado e protegido. E devemos cuidar dos
jovens, não permitindo que lhes seja roubada a esperança e sejam condenados a
viver pela estrada.
Uma criança frágil trouxe ao mundo a bondade de
Deus, a misericórdia e a justiça. Resistiu à desonestidade e à corrupção, que
são a herança do pecado, e triunfou sobre elas com o poder da cruz. Agora, no
final da minha visita às Filipinas, entrego-vos a Jesus que veio estar entre
nós como criança. Que Ele torne todo o amado povo deste país capaz de trabalhar
unido, de se proteger mutuamente a começar pelas vossas famílias e comunidades,
na construção dum mundo de justiça, integridade e paz. O «Santo Niño» continue
a abençoar as Filipinas e a sustentar os cristãos desta grande nação na sua
vocação de ser testemunhas e missionários da alegria do Evangelho, na Ásia e no
mundo inteiro.
Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Deus
vos abençoe!
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