sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo Antônio de Pádua, presbítero e doutor.


Por Ana Maria Bueno Cunha

Sacerdote, Religioso e Doutor da Igreja

Próprio dos Santos: 13 de junho

Sugestão de leitura - Comum dos Santos: Isaías 61, 1 – 3a – O Senhor me ungiu para anunciar a Boa Nova e a Esperança; Lucas 10, 1 – 9 – Ide como cordeiro entres os lobos

“Ele Veio a Ti para Poderes ir a Ele“ 

“Fala em línguas quem está repleto do Espírito Santo. As diversas línguas são o testemunho que devemos dar em favor de Cristo, a saber, humildade, pobreza, paciência e obediência. Quando os outros virem em nós estas virtudes, estaremos nós falando a eles. Nossa linguagem é penetrante quando é nosso agir que fala. Eu vos conjuro, pois, deixai vossa boca emudecer-se e vossas ações falar! Nossa vida está tão cheia de belas palavras e tão vazia de boas obras”. (Santo Antônio de Pádua. Sermões sobre São Mateus 23,1-12 comentado pelo Santo Doutor).

Santo António com o Menino Jesus
em pintura de Stephan Kessler.
Santo Antônio é conhecido como o Santo de Lisboa. Nascido em Lisboa, Portugal em 1195, de família guerreira, seu nome de registro é Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo. Apesar de ter pais exemplares, o mesmo não ocorria no ambiente social da nobreza: a futilidade e o desperdício invadiam palácios e castelos. Decepcionado e desprezando aquela vida, Fernando dobrava o seu tempo de oração e pedia a Nossa Senhora que o iluminasse. Depois, decidido, renunciou à herança paterna e aos títulos de nobreza e ingressou na comunidade dos cônegos regulares de Santo Agostinho, no mosteiro de São Vicente de Fora, localizado nos arredores de Lisboa, onde permaneceu por dois anos. Fernando acabava de completar 16 anos.

Em razão da proximidade do mosteiro com a capital, Fernando recebia muitas visitas dos parentes e amigos, que perturbavam a paz que ele havia escolhido. Por este motivo decidiu abandonar aquele local e transferir-se para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sem trocar de ordem religiosa, onde permaneceu durante nove anos.

 Nesse mosteiro de Coimbra, hospedaram-se os frades Franciscanos do convento de Santo Antônio dos Olivais, quando viajavam para converter os muçulmanos no Marrocos, na África. Pouco tempo depois, os restos mortais desses frades - martirizados no Marrocos - voltaram a Portugal, para o sepultamento. Nessa ocasião, - Santo Antônio -, sentiu grande desejo de evangelizar Marrocos e imitar os mártires. Por isso, no verão de 1220, entrou para a Ordem dos Franciscanos de Santo Antônio de Coimbra, mudou seu nome para Antônio, que era o titular do convento franciscano dos Olivais e foi mandado para lá.

Igreja de Santo António, em Lisboa,
erguida sobre a casa onde segundo a
tradição nasceu o santo português.
No início de novembro de 1220, Santo Antônio desembarcou em Marrocos, mas terrível enfermidade o reteve na cama todo o inverno e resolveram devolvê-lo para Portugal.  Por pura providência divina, o navio de volta a Portugal foi levado pelos ventos para a Itália. Desembarcou na Sicília e se dirigiu para Assis, onde se encontrou pela primeira vez com São Francisco.

 Então, participou de um Capítulo Geral da Ordem, que começou a 20 de maio de 1221, em Assis. Inteligente, estudioso, carismático, humilde e um imitador inigualável de Cristo, Santo Antônio tinha um dom extraordinário para pregar o Evangelho.  Amante da pobreza e dos pobres, defendia os deserdados e explorados, amava a natureza e a solidão, talvez por influência de São Francisco da  qual era discípulo.

 Passava muitos dias em meditação e oração em lugares afastados, longe do barulho e da agitação das cidades. Viveu como eremita no convento e foi incumbido das humildes funções de cozinheiro vivendo na obscuridade até que seus superiores perceberam seus extraordinários dons de pregador. Em setembro de 1221, fazendo o sermão em Forli, na ordenação sacerdotal de franciscanos e dominicanos, surpreendeu o Provincial e todos ficaram maravilhados. Por conta disso, o Provincial o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da Romagna e no norte da Itália, quando se tornou extraordinário pregador popular.

Milagre dos peixes em Rimini.
Em Rimini, os hereges impediam o povo de ir aos seus sermões, então, apelou para o milagre. Foi à costa do Adriático e começou pregar aos peixes, que acorreram em multidão, mostrando a cabeça fora da água. Este milagre invadiu a cidade com entusiasmo e os hereges ficaram envergonhados.

Após alguns anos de frade itinerante foi nomeado, por carta, por São Francisco, o primeiro ‘Leitor de Teologia’ da Ordem. Mas, este magistério de teologia para os franciscanos de Bolonha demorou pouco porque o Papa mobilizou todos os pregadores dominicanos e franciscanos para combater a heresia albigense na França. Passou três anos lecionando, pregando e fazendo milagres no sul da França – Montpellier, Toulouse, Lê Puy, Bourges, Arles e Limoges. Como ocupava o cargo de custódio do convento de Limoges, foi para Assis participar do Capítulo Geral da Ordem, convocado por Frei Elias, a 30 de maio de 1227. Nesse Capítulo, foi eleito Provincial da Romagna, cargo que ocupou com êxito até 1230.

Aparição do menino Jesus a Santo Antônio de Pádua.
Autor da imagem desconhecido.
Na solidão do claustro, Santo Antônio entregou-se com empenho à oração e ao estudo. Aprofundou-se na doutrina do grande doutor da igreja, santo Agostinho, e começou a saborear a doçura e a suavidade do Senhor. Dedicou sua aguda inteligência a conhecer mais profundamente as Sagradas Escrituras. Vale destacar que, na leitura dos Santos Padres da Igreja, guardava na memória tudo o que lia, levantando a admiração dos monges que o cercavam. Os anos que permaneceu em Coimbra foram determinantes para o conhecimento das ciências sagradas. Entretanto, esses progressos eram mais frutos da graça de Deus e de seu esforço pessoal do que do ambiente monacal e do trabalho dos mestres competentes, pois naqueles anos os monges do mosteiro estavam envolvidos nas intrigas políticas de seu país, muito nefastas e cruéis.

 Foi chamado “arca do Testamento” pelo Papa Gregório IX e Tomás de Vercelli, por causa de seu método de exegese e também de “martelo dos hereges.” Foi considerado exímio teólogo, perito exegeta e perfeito frade menor, porque num tempo de grave crise da Ordem, fez da pregação como que uma cátedra itinerante, considerando -a como uma lição de teologia.

Passava muitos dias em meditação e oração e enquanto rezava em um desses eremitérios recebeu a visita do Menino Jesus. Em razão dessa aparição, Santo Antônio é representado carregando o Menino Jesus nos braços. O lírio que aparece nos braços ou nos pés é o símbolo da pureza.

Em 1231 quando sua pregação atingiu o vértice, Santo Antônio retirou-se para uma localidade perto da cidade de Pádua. Com a saúde debilitada pelo excesso de trabalho apostólico, pelo jejum e pela penitência, recolheu-se no convento de Arcela dos frades franciscanos, em Camposampiero, perto do castelo de um amigo nobre e conde. Havia perto ao castelo um bosque com uma grande árvore onde Santo Antonio obteve do amigo uma pequena cela construída sobre sua copa, onde passava horas em contemplação. Ali escreveu uma série de sermões para domingos e dias santificados, alguns dos quais seriam reunidos e publicados entre 1895 e 1913. Dentro da Ordem Franciscana, Santo Antônio liderou um grupo que se insurgiu contra os abrandamentos introduzidos na regra pelo superior Elias.

Um dia, enquanto fazia a refeição no convento de Argela foi acometido por um forte mal-estar, que paralisou todos os membros do seu corpo. Os frades o levantaram e deitaram sobre um leito de palhas. Santo Antônio foi piorando progressivamente. Pediu a presença de um religioso para se confessar, que lhe ministrou também o sacramento da unção dos enfermos e depois de ter comungado, entoou seu hino predileto dedicado a Nossa Senhora, a quem sempre demonstrara grande devoção: ("Ó Senhora gloriosa excelsa sobre as estrelas").

A língua, bem como todo o aparelho vocal de
Santo Antônio de Pádua encontra-se incorrupto.
Depois com um sorriso e uma expressão de paz imensa, disse aos que o cercava: "Vejo o meu Senhor", e entregou a alma a Deus, o que aconteceu em 13 de junho de 1231. Tantos foram seus milagres e tal sua popularidade, que foi canonizado no ano seguinte, 1232, pelo Papa Gregório IX. É chamado de "doutor do Evangelho”, pela grandeza com que soube pregá-lo. A profundidade dos textos doutrinários de Santo Antônio fez com que em 1946 o Papa Pio XII o declarasse Doutor da Igreja. Apesar de sua erudição, o monge franciscano conhecido tem sido, ao longo dos séculos, objeto de grande devoção popular.

Brasil e Portugal o veneram de forma mais intensa, sendo muito amado pelo reconhecimento de sua cultura, de sua nobreza espiritual e pelo seu amor aos pobres. Santo Antônio é invocado também para o encontro de objetos perdidos. Sobre seu túmulo, em Pádua, foi construída a basílica a ele dedicada. Quando o corpo foi desenterrado sua língua foi encontrada intacta e é venerada há mais de 700 anos. Tal foi seu amor ao Filho de Deus feito homem, que a pregação sobre o mistério da Encarnação de Verbo era o ponto mais excelente.

Ensinamentos de Santo Antonio:

-"Ele veio a ti, para poderes ir a Ele"

-"Quem ama não conhece nada que seja difícil"

-"Se alguém se retira do mundo inquieto para a solidão e aí descansa a este aparece o Senhor"

-"Desde o sacrifício de Cristo, está aberto o portão para o reino de Deus"

-"A face do Pai é o Filho"

-"A criatura carregou no seio seu Criador e a pobre Virgem o Filho de Deus. Tu és ao mesmo tempo o mais alto e o mais humilde. Senhor dos Anjos e súdito dos homens! O Criador do mundo obedece a um carpinteiro, o Deus de eterna majestade se submete a uma Virgem"

-"Onde há excesso de riqueza e de prazeres, aí se instala a lepra dos vícios"

-"O pregador fala com dois lábios, com sua vida e com sua boa fama"

-"A vida do corpo é a alma, a vida da alma é Deus"

-"O amor a nós O prendeu tão intimamente à nossa natureza que o fez descer até nossa miséria, como se no céu já não pudesse permanecer sem nós"

-"A confissão é semelhante a uma travessia, pois o homem atravessa pela confissão da margem do pecado para a margem da reparação".

"Santo Antonio de Pádua: Rogai por nós!:

Responsório de Santo Antonio
Se milagres desejais,
Recorrei a Santo Antônio,
Vereis fugir o demônio,
E as tentações infernais

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo, são.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

V.: Rogai por nós, bem-aventurado Santo Antônio.

R.: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo, Amém!

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