Por Dom
Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Amanhã
começa a Copa do Mundo no Brasil, ocasião para refletirmos um pouco sobre os
valores cristãos no futebol e no esporte em geral.
Será
imperfeita e mesmo prejudicial qualquer consideração filosófica, pedagógica ou
esportiva que não considere o homem na sua realidade completa, na sua dimensão
corporal e espiritual. Espírito e matéria, corpo e alma, assim Deus nos criou e
nos quer sadios corporal e espiritualmente. Se a alma é mais importante nem por
isso podemos descurar a saúde do corpo:
“alma
sã num corpo sadio”, diziam os romanos. “A saúde do corpo é melhor que todo o
ouro e a prata; e um espírito vigoroso, mais do que imensa fortuna. Não há
riqueza maior que a saúde do corpo, nem contentamento maior que a alegria do
coração” (Ecl 30,15-16).
São Paulo Apóstolo
partilhou a admiração das multidões pelos atletas olímpicos. A agilidade deles,
estimulada no estádio pela perspectiva da vitória, sugeria-lhe a beleza moral
do combate espiritual, onde desenvolvemos nossas energias para alcançar a coroa
incorruptível no Reino do Céu. É esta a finalidade do verdadeiro esporte:
tornar o corpo sadio e dócil para que paralelamente a alma possa se robustecer
e enobrecer. Assim compreendemos como o espírito cristão pode ser muito eficaz
para dar ao esporte o seu verdadeiro sentido e finalidade.
Pedro de Coubertin,
o renovador dos Jogos Olímpicos, escreveu que a Idade Média conheceu um
espírito desportivo superior à própria antiguidade grega, devido à influência
da religião, que criou uma atmosfera favorável ao desenvolvimento do espírito
cavalheiresco, que consiste na lealdade e na sinceridade. Era o verdadeiro jogo
limpo, o “fair-play”, efeito do cristianismo que conseguira disciplinar e
adoçar os costumes dos bárbaros belicosos.
E ser cristão,
cultivar os verdadeiros valores morais, não é só fazer o sinal da cruz ao
entrar no campo e elevar os braços ao Céu após o gol. É muito mais do que isso.
Porque sem os valores cristãos, sem a salutar dependência das diretivas da
religião e das regras morais, o esporte entra em decadência, cai no
embrutecimento e no mercantilismo. Os profissionais tornam-se vulgar mercadoria
de negócio, sujeitos à compra de quem mais oferece. As transações e intrigas de
bastidores põem em perigo a personalidade do atleta. Toda a ideia educativa,
todo o objetivo moral, todo o ideal superior ao do ganho imediato ficam
esquecidos. Aí então o esporte deixa de ser esporte; torna-se batalha e
comércio. O jogador deixa de ser esportista para ser mercenário. A nobreza do
esporte assim desaparece.
Pio XII enumera as
virtudes cristãs próprias do esporte: a lealdade, a docilidade, a obediência, o
espírito de renúncia ao próprio eu em favor da equipe, a fidelidade aos
compromissos, a modéstia nos triunfos, a generosidade para com os vencidos, a
serenidade na derrota, a paciência com o público, a justiça e a temperança.
Com essas virtudes,
poderemos ter a “Copa da Paz”, desde que o dinheiro não prevaleça como objeto
final, como nos alerta o Papa Francisco.
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