sexta-feira, 27 de junho de 2014

“Ei, Dilma...”


Por Carlos Ramalhete

Uma semana já passada – vicissitudes de se ter uma coluna semanal –, escrevo sobre a multidão que xingou Dilma não só na abertura da Copa, na presença dela, mas em vários outros jogos.

As reações foram impagáveis: petistas apelaram à decência, à moral, aos bons costumes e mesmo à presença de criancinhas (!) no estádio. Antipetistas enfileiraram listas de horrores perpetrados pelo PT como justificativa.

Ora, no Maracanã (ou em qualquer outro estádio), já dizia Nélson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Nada mais normal. Mais ainda porque, graças aos altíssimos preços das entradas, é garantido que a torcida seja composta por quem ao menos tem condições de se informar. Gente que não vê a Dilma como “a mulher do Lula, que me dá esta bolsa-família”; gente que o mais baixo populismo da história pátria não pode comprar.

Além da já tradicional irreverência – no bom e no mau sentido – que o anonimato e os ânimos exaltados de um estádio de futebol ocasionam, contudo, há um elemento a mais nessa vaia. Ela mostra que o discurso eleitoreiro e populista do PT, que costumava atingir mais a classe média que as classes baixas, chegou ao limite. Os fatos estão aí, para quem quiser ver. Não é necessário reiterá-los, mesmo por não haver relação assim tão direta entre a criminalidade galopante – entre tantos outros fatores – e a vaia. Mas o fato é que o PT perdeu as rédeas. Sem o inegável carisma do Lula, tendo como figura pública o mau humor permanente de nossa governanta, as péssimas escolhas políticas e a ausência total de escrúpulos do Partido vieram à luz do dia. Aliás, aproveitando a Copa, eles estão agora tentando inventar uma nova Constituinte! Você sabia? Pois é, é disso que eu estou falando.

Eles vêm tentando transformar o que já é ruim – pois nem um louco acreditaria que o sistema de governo e a legislação brasileira atuais valham o papel em que foram escritos – em algo ainda pior. Venezuelizar o país, cubanizar o país. Transformar, em suma, o Brasil numa espécie de quintal do Partido, em que a população seja tratada como as galinhas que ciscam no meu: assim que para de botar ovo, vai pra panela.


E isso já se tornou evidente a todos, talvez com a exceção de habitantes de grotões perdidos do Nordeste. Mas seus coronéis – aliados desde criancinhas do PT, aliás, como Maluf e Sarney – já estão vendo de que lado o vento sopra. Acabou a hegemonia. Que bom!

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