Por Carlos Ramalhete
Uma semana já
passada – vicissitudes de se ter uma coluna semanal –, escrevo sobre a multidão
que xingou Dilma não só na abertura da Copa, na presença dela, mas em vários
outros jogos.
As reações foram
impagáveis: petistas apelaram à decência, à moral, aos bons costumes e mesmo à
presença de criancinhas (!) no estádio. Antipetistas enfileiraram listas de
horrores perpetrados pelo PT como justificativa.
Ora, no Maracanã (ou
em qualquer outro estádio), já dizia Nélson Rodrigues, vaia-se até minuto de
silêncio. Nada mais normal. Mais ainda porque, graças aos altíssimos preços das
entradas, é garantido que a torcida seja composta por quem ao menos tem
condições de se informar. Gente que não vê a Dilma como “a mulher do Lula, que
me dá esta bolsa-família”; gente que o mais baixo populismo da história pátria
não pode comprar.
Além da já
tradicional irreverência – no bom e no mau sentido – que o anonimato e os
ânimos exaltados de um estádio de futebol ocasionam, contudo, há um elemento a
mais nessa vaia. Ela mostra que o discurso eleitoreiro e populista do PT, que
costumava atingir mais a classe média que as classes baixas, chegou ao limite.
Os fatos estão aí, para quem quiser ver. Não é necessário reiterá-los, mesmo
por não haver relação assim tão direta entre a criminalidade galopante – entre
tantos outros fatores – e a vaia. Mas o fato é que o PT perdeu as rédeas. Sem o
inegável carisma do Lula, tendo como figura pública o mau humor permanente de
nossa governanta, as péssimas escolhas políticas e a ausência total de
escrúpulos do Partido vieram à luz do dia. Aliás, aproveitando a Copa, eles
estão agora tentando inventar uma nova Constituinte! Você sabia? Pois é, é
disso que eu estou falando.
Eles vêm tentando
transformar o que já é ruim – pois nem um louco acreditaria que o sistema de
governo e a legislação brasileira atuais valham o papel em que foram escritos –
em algo ainda pior. Venezuelizar o país, cubanizar o país. Transformar, em
suma, o Brasil numa espécie de quintal do Partido, em que a população seja
tratada como as galinhas que ciscam no meu: assim que para de botar ovo, vai
pra panela.
E isso já se tornou
evidente a todos, talvez com a exceção de habitantes de grotões perdidos do
Nordeste. Mas seus coronéis – aliados desde criancinhas do PT, aliás, como
Maluf e Sarney – já estão vendo de que lado o vento sopra. Acabou a hegemonia.
Que bom!
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