Por Dom
Henrique Soares.
At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Mt 28,16-20
Estamos ainda nos
dias pascais, nas alegrias da Ressurreição do Senhor. A Solenidade que hoje
celebramos – a Ascensão – e aquela do Domingo próximo – Pentecostes - são ainda
partes, aspectos do mistério da Páscoa: Ressurreição, Subida ao Céu e Dom do
Espírito são três aspectos do mesmo Mistério. Celebramo-lo num arco de
cinquenta dias porque, enquanto o Senhor Jesus deixou este nosso tempo, feito
de ontens, de hojes e de amanhãs, nós continuamos presos às horas, dias, meses
e anos deste mundo...
Eis: Jesus
ressuscita no Pai; não ressuscita para depois ir ao seu Deus e Pai! Ressuscitar
é, precisamente, sair da morte, entrando na Vida, que é o Pai. Isso aparece
claro em alguns textos dos próprios evangelhos. Em Lc 24,44, Jesus
ressuscitado, conversando com Seus apóstolos e sendo tocado por eles, diz
claramente que com eles não está mais: “São estas as palavras que Eu vos falei
quando estava convosco...” No próprio Evangelho deste hoje, o Senhor,
aparecendo aos Seus sobre o monte, dá a entender que já está no céu: “Toda
autoridade me foi dada no céu e na terra!” Vede: Ele já recebeu tal autoridade!
Ele, durante quarenta dias aparece aos Seus, mas já não está entre os Seus do
modo como estava antes! Seu novo modo de permanecer conosco é na potência do Seu
Espírito Santo, também fruto da Sua Ressurreição e entrada no Pai...
Se é assim, qual o
sentido desta Solene Ascensão do Senhor? Eis o seu significado, tão importante
para nós e para a nossa salvação: ressuscitado, Jesus foi glorificado na Sua
Pessoa, isto é, em Si mesmo. Na Ascensão, aparece o que Sua Ressurreição
significa para nós, o que o Cristo Se torna em relação a nós. Vejamos:
Em primeiro lugar, a
Ascensão marca o fim daquele período de encontros que o Ressuscitado teve com
Seus discípulos para fortalecer-lhes a fé explicar-lhes a missão. É, portanto,
uma despedida! Como já foi dito, a partir desse momento o Senhor estará com os
Seus e poderá ser por eles percebido de uma forma nova: na potência do Seu
Espírito Santo, presente na força da Palavra anunciada e nos sacramentos da
Igreja. É assim, que a Ascensão abre caminho para o Pentecostes, quando o
Espírito, de um modo visível e barulhento, marca a inauguração da missão da
Igreja, que é testemunhar e anunciar o Senhor, tornando-O presente nos gestos
sacramentais.
Segundo: a Ascensão
nos revela aquilo que aconteceu no Céu com Jesus e que, na terra, somente pela
fé podemos saber e crer, isto é, Sua glorificação como Senhor do Céu e da
terra, Senhor da história humana e da Igreja. Ele ressuscitou e subiu ao céu
para tudo recapitular e de tudo ser a Cabeça, fonte de vida e salvação! São
Paulo nos disse na segunda leitura que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai a Quem pertence a glória ressuscitou Jesus Cristo dentre os
mortos e fê-Lo sentar-se à sua direita nos céus. Ele pôs tudo sob os Seus pés e
fez Dele, que está acima de tudo, Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo...” É
assim que hoje, cheios de alegria, proclamamos Jesus ressuscitado como Cabeça
de toda a criação, Cabeça da humanidade toda, Cabeça e sentido da história
humana. E tudo isso Ele o é enquanto Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo! Isso
significa que toda a criação caminha para Ele e Nele será um dia glorificada;
que toda história somente Nele encontra a direção e o sentido profundo; e que a
Igreja participa da Sua obra universal de salvação! Se toda salvação neste
mundo somente pode vir através de Cristo, vem desse Cristo que é,
inseparavelmente, Cabeça da Igreja. Assim, podemos e devemos dizer que sem o
ministério da Igreja não há salvação possível! Isso mesmo: fora da Igreja não
há salvação, porque ela é o Corpo do Cristo, sua Cabeça e único Salvador. Em
outras palavras: todo ser humano de boa vontade e consciência reta pode
salvar-se, mas pode-o somente porque Cristo, Cabeça da Igreja, morreu e
ressuscitou e está à Direita do Pai em favor de toda a humanidade, até de quem
não crê Nele!
Em terceiro lugar,
glorificado, o Senhor é nosso Juiz! Para Ele caminham a história humana e as
nossas histórias. Somente Ele pode ver nosso caminho neste mundo com Seu
sentido profundo, somente Ele nos julgará, porque, à Direita do Pai, somente
Ele abarca toda a história com o Seu Espírito e desvela seu sentido pleno.
Quarto: desaparecendo de nossa vista humana, ele nos dá o seu Espírito, inaugurando
um novo modo de estar presente entre nós, mais profundo e eficaz: agora Ele nos
é interior, age em nós pela energia do Seu Espírito Santo: “Eis que Eu estarei
convosco todos os dias, até o fim do mundo!” – Essa promessa não é palavra
vazia; é, sim, uma impressionante realidade!
Em quinto lugar, Sua
presença na glória, à Direita do Pai, o constitui para sempre como nosso
Intercessor, como diz o Autor da Epístola aos Hebreus: “Cristo entrou no
próprio Céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor!”
(9,24)
Caríssimos, a
hodierna Solenidade é também nossa festa e motivo de alegria para nós! Aquele
que hoje sentou-Se à Direita do Pai é o Filho eterno feito homem, é um de nós!
Que coisa impressionante: hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos
Anjos! Aquele que, como Deus, foi colocado no presépio e no sepulcro, hoje,
como homem, foi colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Ora,
alegremo-nos: onde já está o Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós,
membros do Seu Corpo! Era isso que rezava a oração inicial da Missa de hoje: “Ó
Deus todo-poderoso, a Ascensão do Vosso Filho já é a nossa vitória: membros do
Seu corpo, somos chamados a participar da Sua glória!” E a oração que faremos
após a comunhão dirá claramente que junto do Pai já se encontra a nossa
humanidade, no Cristo glorificado.
Irmãos e irmãs!
Elevemos o olhar para o Céu: à Direita do Pai, Deus como o Pai, encontra-Se o
homem Jesus, nosso irmão, um de nossa raça... Ele é o objetivo para o qual se
dirigem a nossa existência e a historia humana, Ele é o nosso Juiz, Ele é o
nosso Intercessor! Que nossa vida, neste mundo que passa, seja cheia do gosto
da eternidade, porque Nele, nossa esperança é certíssima! Não temamos: Aquele
que está no céu Se nos dá em comunhão para que o experimentemos, O anunciemos e
O testemunhemos, até sermos plenamente unidos a Ele quando aparecer em Sua
Glória e entregar o Reino a Deus Seu Pai. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e
hoje; Ele o será por toda a eternidade” (Hb 13,8). Amém.
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