Por Emanuel Jr.
Dia desses, lendo um pouco
sobre o sofrimento, me deparei com a seguinte frase que não encontrei autor:
A tristeza é dom de Deus. No
início Deus deu esse dom para o homem, para quando ele ficasse triste ele voltasse
para a verdadeira felicidade. Deus ama tanto o homem que ele jamais quer
perdê-lo.
O sofrimento é sentimento e
estado muito questionado pelo homem desde o princípio. Obviamente que não
entendido pela maioria e manipulado por alguns para atacar Deus. A ideia é
simples: a partir do momento que somos criaturas e Deus é O Criador, a partir
do momento em que Deus é onipotente e onisciente, impossível não chegar à óbvia
conclusão de Deus não é bom pelo simples fato de que sofremos.
Não é uma sequência difícil de
seguir, pense bem: Deus em Sua onipotência pode acabar com o sofrimento, mas
não acaba. Deus em Sua onisciência sabe que iremos sofrer, mas não usa Sua
onipotência para acabar com esse sofrimento e nos deixa sofrer. Se Deus nos
permite o sofrimento, fica muito claro que Deus não é bom. Se Deus não é bom
como afirmam as religiões, então elas são falíveis. Se são falíveis podem estar
errando inclusive quanto a existência desse Deus que dizem ser bom, mas não é
porque permite o sofrimento. Simples, não?
A sequência falaciosa que fiz
acima é repetida inúmeras vezes de forma mais rebuscada, obviamente, para
fisgar os desavisados e armar os mais espertinhos que querem ter munição contra
a religião. Isso, falemos de religião como um todo para depois irmos para a
Igreja Católica que é o que interessa aqui.
Voltando à frase destacada
acima, temos que é difícil para cada um de nós termos um Deus que nos dá um dom
da tristeza. Porque Deus quereria que sofrêssemos? Porque Deus quereria que nos
entristecêssemos?
O sofrimento é dom. Entender
isso é condição indispensável para entender Deus e o catolicismo (agora sim,
vamos a ele).
Deus morreu para nos salvar.
Deus não ressuscitou para nos salvar. O que celebramos na missa, por exemplo, é
a memória da ressurreição e a verdadeira crucificação de Cristo. Não outra
crucificação, mas a mesma que Ele sofreu a mais de dois mil anos. Entender isso
depende de um estudo do tempo que Santo Agostinho faz primordialmente em sua
obra eterna e autobiográfica intitulada Confissões, mais
especificamente no livro XI.
Pois bem, quando Cristo morreu
para nos salvar, morreu com extremo sofrimento. Já se perguntaram por que
Cristo tinha que sofrer tanto para nos salvar sendo que a onipotência de Deus
permite que bastaria Sua vontade para que todos fôssemos salvos? Pois então,
houve um motivo para que Cristo tanto sofresse na Cruz (ler artigo Jesus tinha que
morrer para nos salvar? Porque?). Esse motivo, resumidamente, era
simples: pelo sofrimento se paga a pena temporal pelos pecados cometidos. Diria
o incrédulo agora mesmo: mas vocês crentes (eles não perdem a mania de chamar
assim achando que é pejorativo) não consideram que Deus é perfeito? Então como
poderia ele ter que pagar temporalmente pelos pecados cometidos? Se pensaram
assim, por favor, usem um pouquinho da massa cinzenta tão esquecida nesse seu
cérebro. Acabamos de dizer que Ele morreu para nos salvar, por obviedade que o
sofrimento de Cristo foi o pagamento pelo pecado temporal da humanidade, não
Dele que não tinha, não tem nem e nunca terá pecado algum justamente por ser
Deus.
É nesse ponto que bifurcam o
catolicismo e o protestantismo, seja ele de qual das cinquenta milhões de
denominações for. Pensam muitos que Cristo morrendo na Cruz, com tal e qual
sofrimento, pagando temporalmente por nossos pecados, nos salvou
definitivamente e daqui pra frente basta crer para garantir a definitiva
salvação.
Agora preciso confessar uma
coisa: nunca entendi porque essa salvação por simples crença em Cristo só
atinge denominações protestantes (segundo eles, claro). Se basta crer para ser
salvo, porque ir à cultos? Porque o católico não está salvo, já que crê? Bom,
mas ai já é outra história e outro artigo.
Voltando ao tema, Cristo pagou
pelos pecados temporalmente através do Seu sofrimento sim, contudo não foram os
meros pecados que cometemos todo dia liberando-nos a cometê-los daqui pra
frente com a salvação garantida. Nada disso! Cristo pagou temporalmente com Seu
sofrimento pelos pecados, mas não para toda a humanidade (nisso os protestantes
seguem o catolicismo), pagou os pecados para aqueles que O aceitam. A partir
daí não quer dizer que são só flores.
A grande questão é que todo
pecado vem da vontade de ser Deus. Explico! A partir do momento que você
pretender ir contra a lei de Deus, que é Criador, você está pecando indo contra
as leis sob as quais fomos criados. Quando um engenheiro concebe um relógio
para não ser molhado, se você vai contra as leis do criador daquele projeto e
enfia o relógio em um tanque, simplesmente você corrompe com aquela criação.
Quem estabelece as leis para a criação é o criador. Acho que ficou bem claro!
O pecado, então, é a vontade de
ser o Criador, isso porque você pretende mudar as leis daquela criação, no caso
nós mesmos. O pecado original, claramente foi isso. Adão e Eva comeram o fruto
proibido (que não era necessariamente uma maça) não porque estavam com fome ou
se esqueceram da lei, mas porque queriam conhecer tanto quanto ou mais que Deus
(Gn 3, 5). Esse pecado foi tão grande que pena temporal alguma, de homem algum,
martírio algum de qualquer que fosse o ser humano ou de uma legião de seres
humanos poderia pagar. O pecado foi de tal amplitude que só o sofrimento do
próprio Deus poderia pagar por tamanha petulância da própria humanidade. Eis ai
um Deus tão bom que permite a própria humilhação se tornando humano e depois o
sofrimento extremo para salvar a humanidade que O renega até hoje.
A partir desse dia, a partir do
dia em que Deus sofre na Cruz um sofrimento aterrorizante, Ele nos abre as
portas dos céus para que, aceitando-O possamos seguir Seus passos e não só
ganhar o reino dos céus, mas fazer parte, intimamente, desse plano salvífico
como membros em profunda unidade.
Para chegar a tanto precisamos
merecer. Cristo nos abre essa oportunidade quando sofre e morre por nós na
Cruz. Devemos fazer a nossa parte a partir de agora. Continuamos pecadores e
continuamos a ser o soldado que finca a lança no lado de Cristo quando pecamos,
contudo agora temos a possibilidade do perdão através de um profundo e
verdadeiro arrependimento que vem após um não menos profundo exame de
consciência. Só isso? Não. Após isso a confissão com um sacerdote, a absolvição
e a penitência que é justamente um pequeno tipo de pagamento pela pena
temporal, afinal toda criança quando desobedece precisa de um pequeno “sermão”,
castigo ou até uma palmada para lembrar temporalmente que aquele erro não deve
mais ser cometido.
Ai está o sofrimento e o porquê
dele. O sofrimento nada mais é do que Deus nos dando a palmada necessária para
que possamos, como acontece com os pais em relação aos filhos, nos ajudar a
crescer como pessoas realmente dignas da bondade desse Deus que morre por nós.
É assim que a tristeza, motivo
desse artigo e centro da citação acima, é dom. A tristeza é dom porque leva ao
sofrimento. Esse sofrimento deve ser elevado e oferecido a Deus, a verdadeira e
única felicidade, para ser convertido em pena temporal e salvação das almas: a
sua e do resto da humanidade.
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