Por Ives Gandra Martins
Na década de 90, Alvin Toffler
escreveu "Guerra e Antiguerra", no qual defendia a tese de que as
guerras futuras serão ganhas não por generais em campo de batalha, mas pelos
serviços de inteligência. Em eventual conflito, quem dispuser de mais
informações, prevalecerá.
Os serviços de inteligência, por
muitos denominados de espionagem, buscam ter as informações necessárias para
que os governos possam decidir as políticas a serem adotadas perante eventuais
adversários, criminosos ou inimigos externos. Até mesmo perante nações amigas.
Tem o governo federal seus
serviços de inteligência nas Forças Armadas, na Receita Federal, na Polícia
Federal e na Abin (Agência Brasileiro de Inteligência), que oferecem dados
relevantes para determinar as suas ações.
É bem verdade que o direito à
privacidade é uma cláusula pétrea no Brasil (artigo 5º, incisos X, XI e XII),
mas até mesmo essa cláusula pétrea pode ser oficialmente quebrada mediante
autorização judicial. Infelizmente, não poucas vezes é quebrada pelas mais
variadas ações públicas e privadas (hackers). Quando descobertas pela imprensa,
tornam-se escândalo público.
De rigor, com a evolução da
informática, o direito à privacidade tornou-se, melancolicamente, um segredo de
polichinelo, tendo, por exemplo, a Receita Federal mais informações sobre a
vida econômica de cada contribuinte do que o próprio contribuinte. E
legalmente.
No plano internacional, podem as
nações defender-se por meio de serviços de inteligência contra potenciais
inimigos, aliados ocasionais ou movimentos subversivos internos ou externos com
o aprimoramento de seus serviços de inteligência.
Depois do dia 11 de setembro de
2001 --quando os serviços de inteligência americanos detectaram a possibilidade
de ataque, mas as autoridades não avaliaram com o devido cuidado as informações
de que dispunham--, toda a estratégia dos Estados Unidos, que, a partir da
guerra da Coreia em 1952, tinha sido consideravelmente valorizada e alicerçada
nesses serviços secretos, foi definitivamente erigida como elemento chave na
defesa da nação.
Por variados motivos que não cabe
aqui analisar, tornou-se a nação preferencial de ataques no próprio território
ou no exterior.
É, pois, natural que cada país,
nos limites de sua tecnologia, busque ter informações sobre seus vizinhos ou
potências adversárias.
Os serviços de inteligência,
portanto, estão na essência da segurança do Estado e sabe-o não só a presidente
da República, como todos os órgãos responsáveis por garanti-la.
O encarregado da embaixada
brasileira na Bolívia arriscou-se a tirar de lá o senador exilado havia um ano
e meio, porque detectou os riscos concretos de sua permanência.
No Velho Testamento (livro de
Josué), os hebreus derrotaram Jericó depois de enviarem dois espiões até a
cidade e, tendo obtido informações de uma prostituta, trouxeram-nas para que
Josué pudesse invadir a cidade, preservando, inclusive, a vida da informante.
É de se lembrar que, o combate à
criminalidade, no Brasil e no mundo, faz-se a partir de serviços de
inteligência. Parece-me, pois, inviável a proposta da presidente Dilma de um
Código de Ética da Espionagem, a ser levada ao G-20, porque, até o fim dos
tempos, os serviços de inteligência (espionagem) continuarão a representar o
sistema de segurança de qualquer país.
Por essa razão, nenhum espião
pede autorização do espionado para espionar e todas as nações sempre negam que
espionam, a não ser quando descobertas. É tão utópico acabar com a espionagem
quanto acabar com a corrupção no poder.
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