Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Já falamos no
assunto. Mas como a corrupção é um dos piores crimes, disseminada por toda a
parte, o Papa Francisco voltou a tratar do assunto na semana passada.
Ainda quando
Cardeal, o Papa falava de uma corrupção que é “o joio do nosso tempo”. E o
pior: “o corrupto não percebe sua corrupção. Ocorre como com o mau hálito:
dificilmente aquele que tem mau hálito o percebe. Os outros é que o sentem e
têm que lhe dizer. Por isso, também, dificilmente o corrupto pode sair de seu
estado por remorso interno. Seu bom espírito dessa área está anestesiado”.
Falando agora, o Papa diferencia a corrupção do simples pecado. Segundo ele,
“aquele que peca e se arrepende, pede perdão, se sente frágil, se sabe filho de
Deus, se humilha e pede a salvação a
Jesus”. Mas quem é corrupto, “escandaliza”, não pelas suas culpas, mas
porque “não se arrepende”, “continua a pecar e, mesmo assim, finge que é
cristão”. É alguém que leva, enfim, uma “vida dupla”. E isso “faz muito mal”
para a Igreja, para a sociedade e para o próprio homem.
“É inútil que alguém
diga ‘Eu sou um benfeitor da Igreja! Eu coloco a mão no bolso e ajudo a
Igreja’, se depois, com a outra mão, rouba do Estado, rouba dos pobres”. E o
Papa recorda a afirmação de Jesus no Evangelho: “Mais vale a esse que lhe
pendurem uma pedra de moinho ao pescoço e seja lançado ao mar!”. “Aqui não se
fala de perdão”, observa o papa, o que esclarece ainda mais a diferença entre
corrupção e pecado. Jesus “não se cansa de perdoar” e nos exorta a perdoar até
sete vezes por dia o irmão que se arrepende. No mesmo Evangelho, porém, Cristo
adverte: “Ai daquele que provoca escândalos!”. Jesus “não está falando de
pecado, mas de escândalo, que é outra coisa”, ressalta o papa. Quem escandaliza
engana, e “onde há engano não há o Espírito de Deus. Esta é a diferença entre o
pecador e o corrupto”: quem leva “vida dupla é corrupto”; quem “peca, mas
gostaria de não pecar”, é apenas “fraco”: este “recorre ao Senhor” e pede
perdão. “Deus o ama, o acompanha, está com ele”.
Todos nós “devemos
nos reconhecer pecadores. Todos nós”. Mas “o corrupto está amarrado a um estado
de suficiência, não sabe o que é a humildade”. Jesus chamava esses corruptos de
“hipócritas”, ou, pior ainda, de “sepulcros caiados”, que parecem “bonitos por
fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Uma
podridão envernizada: esta é a vida dos corruptos. E um cristão, que se gaba de
ser cristão, mas que não leva vida de cristão, é um desses corruptos”.
“Nós todos
conhecemos alguém que está nesta situação: cristãos corruptos, padres
corruptos... Quanto mal eles causam à Igreja, porque não vivem no espírito do
Evangelho, mas no espírito do mundanismo”. Mundanismo é um perigo a respeito do
qual São Paulo já alertava os cristãos de Roma, escrevendo: “Não se conformem
com a mentalidade deste mundo”. E, comenta o Papa: “Na verdade, o texto
original é mais forte, porque nos diz para não entrarmos nos esquemas deste
mundo, nos parâmetros deste mundo, ou no mundanismo espiritual”.
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