Por Ives Gandra Martins
Não é a primeira
vez, nestes 20 séculos, que a Igreja Católica parece perder relevância, fiéis e
atualidade na mensagem. Isso aconteceu na queda do Império Romano do Ocidente
(476 DC) e do Oriente (1453 DC), na invasão da Europa pelos mouros (711 DC), na
invasão dos povos bárbaros, na crise da Renascença, com o aparecimento dos diversos
ramos do protestantismo (Lutero, Calvino, Zwinglio), no Iluminismo, nas Revoluções
Francesa, Mexicana ou Espanhola, na perda dos Estados Pontifícios e mesmo
durante a 2ª. guerra.
Voltaire tinha
certeza de que acabaria com a religião católica e Nietzsche proclamava que Deus
morrera.
Tem, porém,
sempre ressurgido com força maior e com santos renovadores, como São Francisco
de Assis, São Bernardo, Santo Inácio de Loyola, São José Maria Escrivá,
mostrando a permanência de uma mensagem que não necessita de marketing, pois
penetra no íntimo dos homens de boa vontade, dispostos a viver valores familiares,
profissionais e sociais.
Mesmo a grande
crítica que se fez à Idade Média, não se sustenta, se tivermos presente que
graças à Igreja Católica, criou-se o maior instrumento de cultura da
civilização ocidental, que é a Universidade. Quase todas as ciências evoluíram
a partir de cientistas sacerdotes, desde a astronomia à física, matemática ou
genética.
O próprio
processo de Inquisição –a história demonstra que o número de condenados, em
séculos de Inquisição, foi muito menor do que os mortos em qualquer batalha sem
expressão daquela época- permitiu a evolução do direito processual moderno, com
a eliminação das ordálias, substituídas pelo contraditório.
O certo é que a
Igreja Católica tem conhecido um renascer fantástico, como as últimas jornadas
da juventude em Madrid demonstraram.
Por outro lado,
as figuras dos dois últimos Papas (João Paulo II e Bento XVI), quando se
pensava que a Igreja Católica estaria desaparecendo, levaram e levam multidões,
que acolhem com entusiasmo a figura de Sua Santidade por onde passa.
É bem verdade que
vivemos período de múltiplos choques, que procurei retratar no meu livro “A era
das contradições”. Hoje, o egoísmo e a auto-realização, alimentados por uma
expansão da desfiguração familiar, do avanço das drogas, da corrupção e da
falta de fidelidade, tanto na família como nos negócios, fizeram com que muitos
se afastassem da religião católica, que não transige no que há de permanente em
seus valores.
O homem tem,
todavia, uma necessidade fantástica de Deus e, quando não busca o verdadeiro,
elege outros deuses como ocorreu com o nacional socialismo ou os deuses do
cotidiano (dinheiro, sexo, poder, drogas etc.).
Tal choque entre
o mundo das virtudes e o mundo do egocentrismo é algo que permanecerá até o fim
dos séculos. Mas, como as estações se renovam, renova-se, de igual forma, a
mensagem de Cristo, que se torna sempre nova, apesar de seus 2.000 anos. Esta é
a razão pela qual, nada obstante as críticas e ataques que recebe de todos os lados,
a nave da Igreja singra buscando os homens, não como uma empresa busca
clientes, mas, desinteressadamente, para que encontrem um sentido de vida que
lhes dê a verdadeira dimensão da existência.
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