Por Ian Farias
“O
que vimos e ouvimos nós vos anunciamos” (1Jo 1,3)
Por ocasião do Ano da
Fé faço chegar minha saudação cordial aos irmãos e irmãs que com ardoroso
empenho se dedicaram de forma corajosa e fiel para o bom êxito deste período de
graças abundantes. Tenho dito que o Senhor nos proporcionou prodígios imensos
com estes dias benéficos propostos pelo nosso querido Papa emérito Bento XVI e
abraçado por toda a Igreja como um convite para renovarmos a nossa fé no “Deus
de todas as consolações” (2Cor 1,3).
Agora tendo chegado à
conclusão deste ano de graça, desejamos auspicar os votos provenientes do nosso
íntimo para que se possam haurir todos os ensinamentos que usufruímos neste
tempo, sejam eles vindos do Magistério, sejam eles vindos da Sagrada Escritura
vivenciada no cotidiano. Por isso este artigo procura retratar a necessidade
primordial de conservar a fé no coração e na história do homem contemporâneo. Há,
indubitavelmente, uma lacuna no que tange ao sensus fidei no seio da humanidade. Temos muitos homens; temos
poucos humanos. Perdida a fé se esvai a esperança daquilo que chamo de metanóia da interioridade, ou seja,
mudança, conversão de costumes, hábitos e vida. Sem esta caímos na indiferença
do grito ecoante dos indefesos e pequenos nos negando à prática da caridade,
maior de todas as virtudes.
A crise de fé, entretanto,
não vem sozinha; antes, vem acompanhada de uma crise de grande magnitude: a existencial, que afeta a vida, os
direitos, a fé e a dignidade, de modo particular dos que são postos à margem de
qualquer posição. É comum (até necessário!) que a sociedade seja abalada por
esta crise. Cada homem é chamado a lutar contra si, descobrir-se em meio a tantas
propostas e tantas formas de propor; perguntas que caracterizam os percursos da
vida humana. Porém, temos percebido que tem ela ganhado uma força aparentemente
incontrolável, onde ressaem mais as inconstâncias e preocupações subjetivas do
que a fé que une a todos sob um mesmo amor redentor.
Não obstante, no
decorrer destes dois milênios a Igreja tem feito com que o homem questione-se a
si mesmo de forma sadia e coerente não para que se torne um agnóstico, alguém
descrente, mas para que possa dar razão e sentido à sua fé. Como bem nos
recordara o Bem-aventurado Papa João Paulo II na Carta Encíclica Fides et Ratio: “Na base de toda a
reflexão feita pela Igreja, está a consciência de ser depositária duma
mensagem, que tem a sua origem no próprio Deus (cf. 2Cor 4,1-2). O conhecimento
que ela propõe ao homem não provém de uma reflexão sua, nem sequer da mais
alta, mas de ter acolhido na fé a palavra de Deus (cf. 1Ts 2,13)” (nº 7).
Propus-me a meditar
sobre esta crise de fé, que está intrinsecamente unida a crise existencial,
para que este ano não seja um labor em vão, mas um momento oportuno onde a
palavra outrora pregada por São Paulo ecoe incessantemente no mundo hodierno:
“Prega a Palavra, quer agrade, quer desagrade” (2Tim 4,2).
Em uma de suas poesias,
Manoel de Barros escreveu: “No que o homem se torne coisal – corrompem-se nele
os veios comuns do entendimento”.
Também hoje fazemos
nossas as suas palavras. O que significa ser o homem “coisal”? Deveras, é o
fato de que este se torne tão somente uma “coisa”, um ser casual, produto da
sociedade consumista e capitalista; perde-se de si, perde-se dos outros; está
no mundo sem descobrir-se e sem redescobrir a beleza da vida e a finalidade da
sua existência. Este cenário despontou há alguns séculos e torna-se sempre mais
costumeiro e insensível à realidade dos sinais propostos pelas concepções
filosóficas ou pela religião a respeito de Deus. Gradativamente vai o homem
perdendo a esperança com relação a sua fé e ao “por que” das coisas. Neste consiste
o imperioso dever de fazermos com que o homem enverede novamente pelo caminho
da luz e da razão.
Seria demasiado extenso
tratarmos a fundo do problema da crise
existencial, além de desfocarmos da centralidade da nossa carta. Por isso,
procurarei explanar brevemente o tema limitando-me a enumerar alguns aspectos
que incidem de forma pungente em nosso cenário.
O relativismo e as
problemáticas diante da fé
O primeiro destes
aspectos é o relativismo, denunciado
inúmeras vezes pelo Sumo Pontífice o Papa Emérito Bento XVI. Uma das suas mais
famosas denúncias deu-se na Santa Missa Pro
Eligendo Pontifice, quando ainda era o então Cardeal Ratzinger:
“Ter
uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como
fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar ‘aqui e além
por qualquer vento de doutrina’, aparece como a única atitude à altura dos
tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada
reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e
as suas vontades”.
Sábias palavras estas!
O que é bom torna-se mal; o que é mal torna-se bom. É este o relativismo que
devasta a nossa crença e a nossa sociedade nos fazendo homens descrentes,
fechados à realidade da fé e da salvação. Se cremos devemos ter consciência de
que não cremos individualmente mas em comunidade eclesial. Crer, portanto, é adesão à base da nossa fé,
que é a Trindade, perfeita Comunidade. Se a fé torna-se sinônimo de isolamento
não subsiste porque torna-se discrepante com o Evangelho e com o modelo de
Igreja que nos foi transmitido na vicissitude dos séculos. É necessário que
aprendamos a sermos individuais sem sermos individualistas. “A fé não é um fato
privado, uma concepção individualista, uma opinião subjetiva, mas nasce de uma
escuta e destina-se a ser pronunciada e a tornar-se anúncio” (Cart. Enc. Lumen Fidei, 22).
Se por um lado é
demasiado perigoso que a fé se torne individualista, o é também que ela assuma
uma dimensão comunitária desvirtuada do seu real objetivo e deformada da sua
essencialidade, quando deixamos de crer com todos
para crer com alguns. O relativismo
permeia esses dois âmbitos. Evidencia-se desta feita que, para responder às
reais razões da problemática existencial do homem e para conduzi-lo à Verdade,
devemos fazer a correlação entre fé e
razão. Relembrando o saudoso João
Paulo II em sua já citada encíclica, também nós queremos reafirmar que “a
razão, privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o
risco de perder de vista a sua meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior
evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma
proposta universal” (nº 48).
Não prescinde do homem
sua fé, mas ela é dom de Deus que se manifesta e que se lê sapientemente com os
sinais dos tempos e guiada unicamente para a Verdade. Por isso, restringir a fé
de um caráter universal para uma particularidade é também delimitar espaços
para a verdade e interpretá-la ao nosso bel prazer, fazendo-nos descrentes com
a realidade imperiosa da salvação e tornando-nos crentes com a alucinógena
realidade do querer. O teólogo Jean Daniélou bem nos relatou esta realidade em
seu livro O futuro no presente da Igreja:
“O mistério da fé está, certamente, acima e para além de toda expressão humana;
nenhuma definição poderá jamais esgotar todo o seu conteúdo de verdade” (Ed:
Paulinas, 1974).
A Verdade primeira
consiste na Pessoa Daquele que diz: “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida”, acrescentando logo em seguida: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo
14,6). E aqui – embora não nos seja um momento exegético – deveríamos nos
perguntar, para assim melhor evidenciarmos o caminho da verdade: Por que diz
Cristo “vem” e não “vai” ao Pai? Desejaria ressaltar dois motivos pelos quais a
verdade torna-se inacessível se não for trilhado o caminho que Cristo evidencia:
a) O primeiro refere-se
àquela afirmação de caráter salvífico feita: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), reafirmado a sua unicidade com
Deus e de onde viera. Não de outro lugar, senão do seio do Pai. Ele e o Pai são
um! Diferença na Pessoa, igualdade na divindade. É um caminho que requer
autenticidade e o amor pela verdade e pelo conhecimento. Santo Agostinho bem
escrevera: “Onde existe o Amor existe a Trindade: um que ama, um que é amado e
uma fonte de amor” (De Trinitate).
b) A segunda frase é,
por assim dizer, um complemento quanto à primeira. Nenhum outro é o caminho
para o Pai senão em Cristo. Só Ele é a via de acesso para a salvação do homem,
como dissera Paulo: “Unus enim
Deus, unus et mediator Dei et hominum, homo - um só Deus e há um só mediador
entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem” (ITim 2,5). Embora muitos sejam os
ideais e as formas de buscar o conhecimento, todas resumem a ideia paulina dita
em algumas linhas antes desta citação, quando afirma que Deus é Aquele que
“deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”
(v.4). Um caminho é o da verdade e nós podemos adorá-lo porque é também uma
pessoa. Uma vez que “ninguém pode sinceramente ficar indiferente quanto a
verdade do seu saber” (Fides et ratio, 25),
a Sagrada Escritura fomenta um conhecimento ao homem que, provenha de Deus ou
provenha de sua consciência, são vias estreitas para chegar-se à esta Verdade
que Jesus se-nos apresenta. Porém, tendo conhecido o Evangelho, o homem é
convidado a refletir sua postura anterior para que, conscientemente avaliadas,
sejam aderidas ou não. Tendo aderido torna-se partícipe, mas se ignora então
persiste no erro.
O
testemunho como essência da fé.
Aqui
adentramos em um segundo aspecto da crise de fé que vai tentando
sorrateiramente corroer as estruturas da verdade na qual cremos: falta de testemunho. Para os que creem o testemunho não é
privilégio, mas exigência e necessidade de um autêntico discipulado. O verbo
crer é um sinônimo (para o cristão) do verbo testemunhar, e os dois se conjugam
na linguagem universal da fé.
A falta de testemunho, sobretudo por
parte dos membros, tem impactado muitos fiéis que, com a fé já atormentada pela
forma periclitante de questionamentos, se deparam com a incoerência de vida dos
que se dizem parte do Corpo Místico de Cristo mas que agem como se nele não
estivessem. Por essa razão este ano não nos convidou somente a um renovando
modelo de fé, mas a um testemunho convicto e convincente daquela mensagem que
nos foi dada e que deve por nós ser testemunhada.
A palavra não é nossa! A mensagem
não é da Igreja! Tudo lhe advém por Cristo, Senhor e Juiz da História. Afinal,
“quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu a sua luz, não pode
guardar este dom para si mesmo. Uma vez que é escuta e visão, a fé transmite-se
também como palavra e como luz” (Cart.
Enc. Lumen Fidei, 37). Aos que conheceram e se abriram à graça da salvação,
é outorgada uma necessidade de fé que não acomoda, antes incomoda, inquieta e
estimula a transmitir também o que já vem sido anunciado (cf. ICor 15,3).
Cristo, Senhor e juiz da história. |
Por isso, é imperioso o nosso dever
de advertir para que não se pregue aquilo que não nos convém ou não é de nosso
caráter missionário. Devemos, sim, pregar sobre a necessidade e a essência da
nossa missão cristã que consiste naquilo que pertence ao sagrado Depósito da
Fé. Quando
a religião deixa de pregar sobre Deus e o seu Evangelho e passa a ser
transmissora de suas convicções institucionais, ou de convicções pessoais de
seus membros, deixa de ser semente de Deus e passa a ser joio do Diabo (cf. Mt
13,39).
O
momento decisivo do encontro com Deus não deve estar esperançado somente na
expectativa de um mundo vindouro, mas deve sê-lo, já aqui, um preclaro sinal de
que Aquele em quem nós acreditamos não nos deixará no vazio, na obscuridade; ao
contrário, nos ilumina e revigora, nos dá luzes, mesmo que por vezes as trevas
pareçam predominar e o cheiro de morticínio, desprezo e ignomínia se elevem
como um clamor versado na desgraça alheia. Neste âmbito Paulo nos conclama a um
renovado olhar sobre a ação de Deus no mundo nos pedindo para não desprezar a
nossa fé e colocarmos em dúvida o querer de Deus em meio às adversidades: “Sei
em quem pus minha confiança” (II Tim 1,12).
Somos
chamados a unir-nos de forma particular aos nossos irmãos que sofrem pelas
perseguições por testemunharem sua fé no Cristo Ressuscitado e por isso são
injustiçados, humilhados e mortos. O Senhor olha também por estes mártires do
novo milênio que segue não menos rigoroso com quantos se põe a serviço do
Evangelho.
A concretude da fé na
caridade
A
verdadeira fé não se faz isolar. Ela nos descerra a um encontro com a verdade
centrada no Cristo, contemplada em sua vida e sentida pela sua presença. Santo
Tomás de Aquino, exímio em sua sabedoria e humilde em sua vida, fala a respeito
de uma oculata fides (uma fé que vê)
dos Apóstolos (cf. Summa theologiae,
III, q. 55, q. 2, ad 1) (cf Lumen Fidei,
30). Essa “visão” traduz-se na expressão máxima da fé que é a caridade. Por
isso, a advertência de São Tiago constitui, ainda mais para a nossa sociedade
capitalista e egoísta que não olha a necessidade dos desfavorecidos, uma
cartilha de caridade cristã, como o é toda a Escritura Sagrada: “Tu tens a
fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te
mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2,18).
Fé e caridade. |
Quando o
homem se fecha para o grito daquele que sofre, fecha-se também ao grito de
Cristo que clama e é solícito para com os pequenos do seu Reino. O mundo tem
fome de pão e ainda mais esfomeado está pela Palavra viva que produz a fé. Aos
que padecem pela fome repetimos o apelo paternal do Servo de Deus Papa Paulo
VI: “Não
basta alimentar os esfomeados: ainda é preciso assegurar a cada homem uma vida
conforme a sua dignidade” (Discurso à ONU, 04/10/1965).
Se, por
um lado, urge a necessidade de um olhar pelos irmãos necessitados e pelos
locais em via de desenvolvimento, mas que sofrem empecilhos por parte daqueles
que detém grande parte do poder econômico; por outro faz-se também atenciosa a
situação daqueles que faltam à caridade para com o próximo em estado
espiritual. Tantos são os que, fechados à comodidade de suas situações
estáveis, não atentam ao apelo dos irmãos sofridos e privados do anúncio de
Jesus Cristo. Se a fé é dom de Deus não deve ser retida. Podemos reter o que é
nosso, mas jamais o que pertence a todos. “A fé torna-se operativa no cristão a
partir do dom recebido, a partir do Amor que o atrai para Cristo (cf. Gl 5,6) e
torna participante do caminho da Igreja, peregrina na história rumo à perfeição”
(Lumen Fidei, 22).
Novamente
apelo para a consciência moral dos povos, sobretudo dos governantes, para que escutem
o brado dos irmãos que são tratados como aquele da parábola do rico epulão e do
pobre Lázaro (cf. Lc 16,19-31), deixado à margem e do qual vinham os cachorros
para lamber as suas feridas. No dia da
morte, nada ficará sem que se preste contas a Deus. E então, Lázaro é "levado"
para o alto pelos anjos, ao seio de Abraão. Finalmente, o pobre entra na jubilosa
comunhão do banquete messiânico; o rico, ao contrário, "foi sepultado...
na morada dos mortos, achando-se em tormentos..." (Lc 16, 22-23).
O Santo Padre Bento
XVI em sua homilia na Missa dos aposentados alertou que há de ter-se cuidado
com três pontos fundamentais em que o dinheiro pode prejudicar a vida do homem
e do qual vemos bem frisado no Evangelho:
a) A riqueza faz definhar a vida do
pobre: O Evangelho faz a descrição do homem rico como
ornado de ouro, abastardo de alimento, fechado em sua comodidade; ignorava o
grito do pobre em sua porta, não tinha compaixão para aquele seu irmão, filho
do mesmo Deus, que lá estava atirado. Aqueles desfavorecidos não possuem o
capital e os recursos necessários para a sobrevivência, podendo tão somente
contar com a ajuda dos que são bem ressarcidos em seu meio de trabalho ou em
suas posições sociais. A Igreja se solidariza com estes e lhes faz estreitar
com o Cristo sofredor, que não os ignora, mas é presente em suas necessidades
cotidianas.
b) A riqueza faz definhar a vida
dos ricos: Neste segundo aspecto retratemos o prejuízo da
riqueza para a vida dos ricos. Novamente fazemos ecoar as palavras do Servo de
Deus Paulo VI, que duramente exortou os povos a recobrarem o senso caritativo
da humanidade: “A solidariedade universal é para nós não apenas um fato e um
benefício, mas também um dever” (Carta Enc´. Populorum Progressio, 17). Quando as pessoas de condição social
elevada menosprezam o grito de desespero dos povos que padecem pela fome, pela
falta de oportunidade, pelo desemprego e tantas outras desgraças a que são
lançados, perdem a sua dimensão humanística e cristã. Aliás, é isso que tende o
homem soberbo: sua autossuficiência não o faz reconhecer-se filho de Deus e faz
desconhecer nos irmãos o sinal complacente do Cristo sofredor. Como nos faz
saber o Santo Padre Bento XVI: “À aspiração frustrada dos pobres durante a vida
corresponde o desejo dramaticamente negado aos ricos, de acederem ao banquete
messiânico: ‘Ai de vós, ricos, porque já dispondes da vossa consolação’ (cf. Lc
6, 25)” (Homilia na Missa para os aposentados).
c) A riqueza faz definhar a fé dos
ricos: Por fim desejamos acender a este terceiro aspecto
que se manifesta no que concerne à fé do rico. Deveríamos esclarecer aqui que a
riqueza e a pobreza não devem apenas ser vistas num contexto exterior, mas
também interior, para que não caiamos numa utopia ou numa concepção ideológica
de pobreza e riqueza. De fato, é
imperioso que tenhamos cuidado para não valorizarmos o pobre que é soberbo e esquecermo-nos
do rico que é pobre. Voltemos mais uma vez à parábola. O rico, já na mansão dos
mortos, pede que Abraão mande Lázaro alertar seus familiares para que também
eles não caiam no tormento. Mas não lhe é concedido tal, uma vez que – segundo
a narração – eles já possuíam a palavra dos profetas. Não necessitamos de
mensagens dos mortos para orientarmos a nossa vida nos caminhos do Evangelho;
hoje temos a Igreja, os ensinamentos dos santos e diversos meios de combatermos
o nosso egoísmo e o amor ao deus-dinheiro. Por isso, se o rico deposita a sua
fé mais na riqueza do que em Deus, ouvirá aquelas palavras outrora proferidas
por Jesus: “Louco! Ainda esta noite será pedida conta de tua vida; e para quem ficará
o que deixastes?” (Lc 12,21). A verdadeira humildade não consiste
tão somente na renuncia de bens materiais, mas sobretudo no serviço a Verdade.
Conclusão
Enfim, queremos novamente elevar aos céus nossos singelos
e sinceros agradecimentos a Deus pelo dom do Pontificado do Santo Padre Bento
XVI que, com o raio da sabedoria divina, nos presenteou com este ano
oportuníssimo à nossa fé e comunhão eclesial. Em nossa sociedade que menospreza
o crer em Deus como fruto de uma “ilusão” e “se bem que nos encha de amarga dor
o ver a fé definhar nos bons, e contemplar como, pelo falaz atrativo dos bens
terrenos, lhes decresce nas almas e aos poucos se apaga o fogo da caridade
divina, muito mais nos atormentam as maquinações dos ímpios, que, agora mais do
que nunca, parecem incitados pelo inimigo infernal no seu ódio implacável
contra Deus, contra a Igreja e, sobretudo, contra aquele que representa na
terra a pessoa do divino Redentor e a sua caridade para com os homens” (Carta
Enc. Haurietis Aquas, 67).
Por isso, em comunhão de caráter universal, queremos
que esta iniciativa do Ano da Fé seja um momento de perpétua renovação onde já
não mais possam contar as nossas vantagens, mas predomine o serviço renovado e
ardente ao evangelho. “Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se
revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida,
senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada
vez maior porque tem a sua origem em Deus” (Carta Apost. Porta Fidei, 7).
Que nosso crer não seja uma apologia, uma forma de
engrandecimento, mas um sinal de que Deus não está restrito a um passado. Ele
nos alcança, fala também a nós e nos chama a sermos cristãos de firmes
convicções. Não idealizemos a fé, mas a testemunhemos! Se a fé se projeta
apenas no passado é uma mera lembrança; se se projeta apenas no presente é
inteligível; se se projeta apenas no futuro é utopia. Ela deve albergar essas
três realidades: aprender com o passado em um olhar de esperança para o futuro
e uma ação no hoje da história.,
Invoquemos a Maria, Mãe da fé, para que junto ao Seu Filho
faça crescer nos homens o desejo de procurarem trilhar cotidianamente, a passos
vagarosos, mas firmes, os caminhos de Deus. Que todos se abram à graça
salvífica e sintam Sua estreita proximidade para conosco, mesmo diante dos
tormentos da sociedade contemporânea. Que este ano deixe-nos a certeza de que a
vida cristã deve sempre nos ensinar a conjugarmos a fé com a esperança e o
amor. Essas são as virtudes basilares para conhecer o Cristo e apresentá-Lo ao
mundo. O conhecimento perpassa antes de tudo a experiência do encontro. Só
conhece, de fato, quem encontra e quem convive. Nós devemos conviver com Deus!
Em Cristo Jesus, peço
sobre vós as saúdes e bênçãos do céu.
Jequié, 9 de novembro – Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão – do Ano do Senhor de 2013
Jequié, 9 de novembro – Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão – do Ano do Senhor de 2013
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