domingo, 17 de novembro de 2013

ECUMENISMO SIM; SINCRETISMO, NÃO! A importância do diálogo ecumênico sem ofensas às identidades de fé.

Por Paulo Henrique Cremoneze. 

ECUMENISMO (OU O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO) NÃO É A MESMA COISA QUE SINCRETISMO: Ecumenismo e diálogo inter-religioso, SIM; Sincretismo e universalismo, NÃO, jamais!

Ecumenismo não é a mesma coisa que sincretismo. Aquele é algo bom e necessário, algo que não fere a identidade de fé de cada pessoa que se dispõe a experimentá-lo, ao passo que o sincretismo é perigoso, para não dizer essencialmente ruim, não produz nada que possa ser aproveitado para a maior glória de Deus.  Confesso que não gosto do sincretismo religioso, pois isso significa perda de identidade, mas sou um entusiasta dos diálogos ecumênico (entre profissões de fé cristãs) e inter-religioso (entre uma profissão de fé cristã e outra não-cristã).

Não sou partidário do sincretismo porque vejo nele o perigo de se construir uma fé de conveniência, manietada e esvaziada de conteúdo (aliás, o grande projeto dos inimigos de Deus e das religiões). Costumo dizer que quem acredita em tudo, no fundo, não acredita em nada. O princípio da identidade é taxativo: o que é, é. Logo, o sincretismo tudo mistura e nada concreto apresenta.

Sou partidário do diálogo ecumênico porque Jesus é um só para católicos, ortodoxos e protestantes, razão pela qual devemos, senão nos amar, ao menos nos suportar dignamente por causa de Jesus, caminho, verdade e vida. (e não é a tolerância em si mesmo um ato de amor?).

Penso, seguindo conselho do amado Papa Bento XVI, que mais importante do que os problemas históricos e as diferenças doutrinárias, os cristãos têm o dever de mostrar ao mundo a cruz e a luz de Cristo. E ao se falar em unidade, em ecumenismo, fala-se, na esteira do que o Santo Padre afirmou em testemunho comum, não em imposição de uma forma de viver à fé à outra. Exatamente o que diz o Relatório sobre a quarta fase (1990-1997) do Diálogo internacional entre a Igreja católica romana e as Igrejas pentecostais tradicionais, bem como outros pentecostais, emitido pelo Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos: “O objetivo não é a unidade estrutural, mas antes a promoção do respeito e da compreensão mútua entre a Igreja católica e os grupos do pentecostalismo tradicional”.

O diálogo ecumênico abranda o escândalo que é os incréus estarem mais a par do que divide as Igrejas do que aquilo que as une, aproveitando-se disso para afastar a presença de Deus no mundo. Além disso, o diálogo ecumênico possibilita a conscientização da tristeza que é um testemunho dividido.

Um mundo que vive à sombra da ditadura do relativismo moral e que na sua porção ocidental se esforça em negar as próprias tradições e raízes, provocando a erosão de sua identidade, a morte dos valores morais judaico-cristãos responsáveis pelo seu desenvolvimento, mais do que nunca a unidade urge, pois é preciso não se permitir a retirada da experiência de Deus no espaço social, confundindo-se os benefícios do Estado laico, com os malefícios de um Estado laicista, um Estado absolutista e ateu ou uma sociedade marcada pelo hedonismo desenfreado, cuja simples menção da palavra Deus é uma ofensa profunda, porque dignifica o dique de contenção moral que ela não quer.

Minha identidade fortemente católica não me afasta, mas, ao contrário, me aproxima dos irmãos de fé ortodoxos e protestantes, pois se existem muitas Igrejas cristãs hoje certamente há um propósito de Deus maior para isso, um propósito tão elevado e profundo que sequer ouso me alongar refletindo a respeito. O tempo das acusações recíprocas já passou (ou, ao menos, deveria ter passado para a maior parte dos cristãos) e o tempo das discussões estéreis também. Agora, é o tempo de união, de todos os cristãos colocarem as vaidades de lado e comungarem de um mesmo objetivo: inserir a cruz de Cristo no mundo.

As almas gritam por salvação, as pessoas perdem-se em manifestações difusas, pseudo-espirituais, retomam os caminhos do um panteísmo redesenhado e absorvem conceitos errados de fé, desprezando a Bíblia, deixando de lado o Senhor. Os cristãos têm culpa em parte nisso. Perdidos em suas disputas fratricidas deixam de dar ao mundo bons exemplos e cedem espaços para os lobos em pelo de cordeiros profetizados pelo Senhor. Durante muito tempo, católicos e protestantes viram-se uns como lobos dos outros e deixaram seus rebanhos para os oportunistas, os verdadeiros salteadores, os verdadeiros lobos.

É o tempo de reunir os rebanhos, de proteger os fiéis, de caçar os lobos ferozes e que só querem o mal. É chegado o tempo de o mundo voltar a se encantar com a pureza da fé da Igreja primitiva e reconhecer que não existe beleza maior do que a de Cristo Jesus.

Hoje, muito se fala, mas nada se conhece de espiritualidade, de mística. Ora, quem lê os escritos dos Padres da Igreja dos primeiros séculos, elaborados a partir de uma visão essencialmente espiritual da Bíblia, embriaga-se com a profundidade mística de cada texto e enxergar uma beleza sem precedentes na fé cristã.

Essa beleza decantada por muitos mestres espirituais católicos e, nos últimos quinhentos anos, também protestantes, sem se deixar de lado os irmãos cristãos ortodoxos, todos os cristãos devem apresentar ao mundo: a invulgar e oceânica profundidade da fé cristã. E tudo isso com um propósito eminentemente prático, voltado às lutas diárias e ao trabalho cotidiano. Tanto a Igreja Católica como as Igrejas Protestantes acreditam na santificação da vida por meio do trabalho.

Sobre o ecumenismo, o Papa Bento XVI disse no dia 2 de março de 2006, por ocasião do “Encontro com o clero da diocese de Roma”: “Isto é de grande importância: devemos suportar a separação que existe. São Paulo afirma que os cismas são necessários durante certo tempo e o Senhor sabe bem porquê: para nos por à prova, para nos exercitar, para nos fazer amadurecer, para nos tornar mais humildes. Mas ao mesmo tempo somos obrigados a caminhar no sentido da unidade e caminhar rumo à unidade é já uma forma de unidade”.

De fato, o desejo de compreender o outro e procurar mais o que nos aproxima do que o aquilo que nos separa é forma de unidade, é mostrar ao mundo o espírito cristão. Afinal, como falar de Jesus Cristo e Seu amor redentor se aqueles que se dizem cristãos não conseguem suportar uns aos outros, enxergando mais as diferenças históricas e doutrinárias do que aquilo que é mais importante, aquilo que é fundamental, a pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem?

Acaso, podemos ignorar as palavras do Senhor: “Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9, 40)? Não, não podemos e não devemos. Quem verdadeiramente se deixa infundir do Espírito Santo, quem confessa no nome de Jesus como O Senhor, O “Kyrios”, O “Pantokrator” (Senhor da vida, Senhor de tudo, Rei do Universo), não é contra outro que também confessa a mesma verdade, ainda que por meio de outra profissão de fé.

O ecumenismo não significa rejeitar as convicções herdadas de uma determinada profissão de fé, tampouco acutilar a própria identidade, mas abrir-se sinceramente ao outro e concentrar-se apenas na pessoa de Jesus. As demais questões podem e devem ser tratadas, mas num segundo momento. O primeiro é e sempre deverá ser a pessoa de Jesus, aquilo que une os cristãos em todo o mundo, católicos, ortodoxos e protestantes. Aquilo que une os autores deste livro, um católico, outro protestantes, os dois, cristãos.

Não, pelo contrário, significa a unidade de testemunho e a comunhão de elementos essenciais, respeitando-se a estrutura de cada profissão de fé. O objetivo do ecumenismo não é a unidade estrutural ou a adesão à Igreja católica romana, restaurando-se a unidade primitiva do primeiro milênio e que resultou na quase formação de um Estado supranacional cristão, o chamado Sacro Império Romano-Germânico, em que toda a cristandade estaria abraçada numa só identidade, credo, nação. Não, a unidade é antes de tudo espiritual. Com efeito, disse oficialmente o Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos: “Os pentecostais e os católicos têm a mesma preocupação de unidade da Igreja. O objetivo preciso destas discussões é desenvolver um clima de respeito mútuo e de compreensão quanto à fé e à prática, de encontrar pontos de acordo autêntico, bem como indicar os âmbitos nos quais convém prosseguir o diálogo”. (Diálogo católico-pentecostal: evangelização, proselitismo e testemunho comum).

Muito se fala sobre o ecumenismo, mas pouco realmente dele se conhece. Não raro, o ecumenismo é distorcido e confundido com sincretismo. Sabemos o verdadeiro significado do ecumenismo: o diálogo fraterno e compreensivo entre as diferentes profissões de fé cristã. E acrescentamos, sem perdas de identidades. Assim como valorizamos o ecumenismo, corretamente compreendido e vivido, conferimos invulgar importância ao diálogo inter-religioso, isto é, o diálogo entre os cristãos e os partidários de outras profissões de fé, especialmente os mulçumanos (os quais constituem, hoje, a maior religião do mundo em termos de fiéis) e o judeus (e com especial carinho, pois além do judaísmo ser a religião da qual as demais religiões monoteístas nasceram, os judeus são, segundo palavras do Papa João Paulo II, hoje beato, os irmãos mais velhos dos cristãos na fé).

Sabemos todos, também, que existem diferenças significativas entre as visões de fé dos católicos e protestantes, mas procuramos, sem ignorar as diferenças, aquilo que nos une. E o que nos une? O amor por Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Nosso desejo, sem enveredar pelo proselitismo religioso, é levar ao mundo a beleza da cruz e da luz de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ao fazermos, seguimos a vontade do próprio Jesus.

Por isso acredito que o diálogo ecumênico é o caminho para nós, cristãos em geral, diminuirmos os efeitos negativos de uma cultura anti-religiosa que se espalha no mundo contemporâneo como veneno.

A visão ecumênica é a resposta ao anseio de nossas almas e o carinho que a amizade gera, de tal forma que um não se preocupou em mostrar a sua fé ao outro, mas os dois, conscientes das diferenças, buscaram a unidade, em nome de um mesmo e verdadeiro amor.

Mais uma vez, invoco o Relatório sobre a quarta fase (1990-1997) do Diálogo internacional entre a Igreja católica romana e as Igrejas pentecostais tradicionais, bem como outros pentecostais, emitido pelo Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos: “Sensíveis ao problema do testemunho dividido, os participantes deste Diálogo compartilham o sofrimento que sentem diante dessa situação. Sofrimento este que moveu sobretudo a buscar meios de superar as divisões, em conformidade com a exortação paulina “a guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4,3)”.

O mundo, hoje mais do que nunca, é contaminado pelo o que se pode chamar de ditadura do relativismo moral. E essa mesma “cultura” tem por objetivo fundamental banir a presença de Deus no mundo, ferindo o que é substancial para o equilíbrio da vida: os valores morais judaico-cristãos. Por isso, o diálogo ecumênico precisa ser incentivado e exercido com base nas virtudes teologais da fé, esperança e caridade.

Nesse sentido, lembro mais uma vez o discurso que o Papa Bento XVI proferiu num encontro ecumênico profundamente rico e imantado de simbolismo. O Papa, ao visitar apostolicamente sua terra natal, a Alemanha, escolheu o mosteiro agostiniano em que Martinho Lutero, pai da reforma protestante, estudou para transmitir aos líderes religiosos católicos, ortodoxos e protestantes (luteranos, presbiterianos, metodistas e outros) presentes a importância de os cristãos unirem forças, deixando de lado as diferenças doutrinárias, teológicas e históricas de lado, em prol da defesa dos valores cristãos e com vistas a exibirem ao mundo a pessoa de Jesus Cristo.


A nova evangelização passa necessariamente pelo caminho de união e fraternidade entre os cristãos. Acredito, ao menos assim espero em Deus, fazer nossa parte dos esforços para toda a Cristandade pensar a unidade ainda que sob bandeiras d fé distintas e a partir dela a integração saudável com as profissões de fé não cristãs.

Nenhum comentário:

Postar um comentário