Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Em sua mensagem para
a celebração do 48º Dia Mundial da Paz, amanhã, o Papa Francisco, dirigindo-se
ao mundo todo, com o lema “Já não escravos, mas irmãos”, formula os
seus ardentes votos de paz e apela a todos para que, respondendo à vocação
comum de colaborar com Deus e todas as pessoas de boa vontade, promovam a
concórdia e paz no mundo.
Este tema, escolhido
pelo Santo Padre, foi tirado da Carta de São Paulo a Filêmon, cuja leitura
recomendo, onde o Apóstolo pede ao seu amigo Filêmon para acolher Onésimo, seu
escravo, que tornou-se cristão, merecendo, por isso mesmo, ser considerado como
um irmão. “Deste modo, a conversão a Cristo, o início duma vida de discipulado
em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2
Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como
vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social”.
filhos do mesmo Pai,
“como irmãos e irmãs, todas as pessoas estão, por natureza,
relacionadas umas com as outras, cada qual com a própria especificidade e todas
partilhando a mesma origem, natureza e dignidade. Em virtude disso, a fraternidade constitui
a rede de relações fundamentais para a construção da família humana criada por
Deus”.
O Papa lamenta:
“Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere
gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais
marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade”, pois o pecado veio perturbar essa
ordem criada por Deus: “Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro
do Gênesis e o novo nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos
e irmãs do ‘primogênito de muitos irmãos’ (Rom 8, 29) –, existe a
realidade negativa do pecado, que interrompe tantas vezes a nossa fraternidade
de criaturas e deforma continuamente a beleza e nobreza de sermos
irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não suporta o seu irmão
Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro fratricídio”. Sendo assim,
“os seres humanos não se tornam cristãos, filhos do Pai e irmãos em Cristo por
imposição divina, isto é, sem o exercício da liberdade pessoal, sem se
converterem livremente a Cristo. Ser filho de Deus requer que
primeiro se abrace o imperativo da conversão”.
Hoje como ontem, na
raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a
possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do
homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser
sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade,
passando a ser vistos como objetos. Com a força, o engano, a coação física ou
psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – é privada
da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como
meio, e não como fim”.
Só assim, teremos um
Ano Novo de paz, vivendo a nossa filiação com Deus e nossa fraternidade com os
irmãos. Feliz Ano Novo de Paz, como irmãos, filhos do mesmo Pai.
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