sábado, 6 de dezembro de 2014

A saga de Percy Jackson.


Por André Brandalise

Antes de falar sobre os filmes, entendo que devemos fazer uma apresentação sobre a saga. Então vamos lá...

Percy Jackson & the Olympians (Percy Jackson e os Olimpianos no Brasil) é uma série de cinco livros juvenis de aventura escrita por Rick Riordan, retratando a mitologia grega no século XXI. O personagem principal é Percy Jackson, que descobre ser um meio-sangue, filho de Poseidon, deus do mar, com uma humana. Além dele, outros personagens notórios são Annabeth Chase, filha de Atena, Grover Underwood, um sátiro adolescente, Thalia Grace, filha de Zeus, Luke Castellan, filho de Hermes, entre outros.

Os livros fazem uma adaptação moderna das estórias de Hércules, Perseu, Aquiles, etc., que segundo a mitologia grega seriam filhos de deuses do Olimpo com humanos, portanto, semideuses. Estes personagens fizeram parte de diversos livros, filmes, seriados e desenhos durante muitos anos, o que veio a dar mais "graça" às aulas de história sobre a Grécia Antiga.

E essa releitura da mitologia, de que modo nos atinge? Bom, para chegarmos a esta resposta precisamos conhecer sobre os filmes, e por isso colocarei as sinopses de cada um.

Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief (no Brasil, Percy Jackson e o Ladrão de Raios)

Percy Jackson (Logan Lerman) é um jovem que enfrenta problemas na escola, devido ao que acredita ser dislexia e déficit de atenção. Ele foi criado por sua mãe, Sally (Catherine Keener), e vive com Gabe Ugliano (Joe Pantoliano), seu padrasto, que odeia. Após ser atacado em plena excursão escolar, é revelado a Percy que ele é um semideus, ou seja, filho do deus Poseidon (Kevin McKidd) com uma humana, e possui poderes. Protegido por Grover Underwood (Brandon T. Jackson), ele é levado ao acampamento dos meio sangue, onde está em segurança. Lá ele tem Chiron (Pierce Brosnan) como tutor e passa a treinar para se tornar um grande guerreiro. Só que Percy é acusado de ter roubado o raio de Zeus (Sean Bean), uma poderosa arma de destruição que pode fazer com que os deuses entrem em guerra. É quando Hades (Steve Coogan) visita o acampamento e oferece a Percy uma troca: que ele entregue o raio, o qual não possui, em troca da devolução de sua mãe, que faleceu em meio à fuga. Ele então parte para chegar ao Mundo Inferior, onde vivem Hades e Perséfone (Rosario Dawson), juntamente com Grover e Annabeth Chase (Alexandra Daddario), uma poderosa guerreira que conheceu no acampamento.

Percy Jackson: Sea of Monsters (no Brasil, Percy Jackson e o Mar de Monstros)

O aniversário de 17 anos de Percy Jackson (Logan Lerman) foi surpreendentemente calmo, sem ataques de monstros ou algo do tipo. Entretanto, uma inocente partida faz com que Percy e seus amigos se vejam desafiados a um jogo de vida ou morte contra um grupo de gigantes canibais. A chegada de Annabeth (Alexandra Daddario) traz ainda outra má notícia: a proteção mágica do Acampamento Meio-Sangue foi enveneada por uma arma misteriosa e, ao menos que seja curada, todos os semideuses serão mortos. Não demora muito para que Percy e seus amigos tenham que enfrentar o mar de monstros para salvar o local.

Quando falamos de filmes, desenhos, livros, etc, que envolve alguma mitologia, devemos lembrar que é essencial que as crianças que forem assistir devem receber antes uma preparação dentro da fé católica. Acredito que isso seria importante mesmo nos casos em que não se tratam de mitologias, pois se não soubermos lidar com os contos de fadas, deveríamos evitar que as crianças tivessem contato com este gênero do cinema e literatura.

De qualquer forma, é sempre importante lembrar o que já citamos no texto sobre A Origem dos Guardiões:

(...) Contos de fada, pois, não são responsáveis por levar às crianças medo, ou qualquer dos contornos do medo; contos de fada não dão à criança a ideia do mal ou do feio; isso já está nela, porque já está no mundo. Contos de fada não dão à criança sua primeira noção de bicho-papão. O que os contos de fada lhe dão é sua primeira ideia clara da possível derrota do monstro. O bebê conhece o dragão em seu íntimo desde o momento em que sobreveio a imaginação. O que o conto de fada lhe proporciona é um São Jorge para matar o dragão. O que o conto de fada faz é exatamente isso: habitua-o, por uma série de imagens claras, à ideia de que esses terrores ilimitados têm um limite, de que esses inimigos sem forma têm inimigos nos cavaleiros de Deus, de que há algo no universo mais místico que a escuridão e mais forte que o medo. (...)
(CHESTERTON, G.K. "Tremendous Trifles", XVII: "The Red Angel")

Sobre os filmes propriamente ditos, gostaria de fazer duas analogias que me chamaram a atenção:

- o distanciamento dos deuses do Olimpo com seus filhos

Zeus proibiu os deuses do Olimpo de manter contato com seus filhos, o que causa para alguns dos adolescentes decepção, tristeza, raiva, desejo de vingança ou como fazem alguns, vivem sua vida na esperança de ter a atenção de seus pais.

Fazendo um paralelo com a nossa vida cristã, vemos que muitos reagem da mesma forma que os personagens (adolescentes) dos filmes. Muita gente diz que Deus esqueceu da humanidade e não consegue enxergar o que Ele faz e como se faz presente, e diante disso se rebelam com seu Pai. 

O que precisamos ver é que Deus não nos trata como formigas em um aquário, mas sim que cuida de cada um de nós de forma especial e única. O Papa Bento XVI já nos lembrou essa situação:
“Deus não é um ser obscuro ou impassível, mas manifesta-se como uma pessoa que ama as suas criaturas”.

Os filmes nos mostram o risco que corremos ao não vermos a presença de Deus em nossas vidas, e de não reconhecer sua ação de Pai. Ao mesmo tempo, ao nos distanciarmos de Deus estamos nos afastamos de nós mesmos, como já nos alertou o Papa Bento XVI:

"Isto é importante: quem está longe de Deus também está longe de si mesmo, alienado de si mesmo, e só pode encontrar a si se se encontra com Deus. Deste modo, consegue chegar a seu verdadeiro eu, sua verdadeira identidade."

- a disputa entre os filhos dos diferentes deuses do Olimpo

Os filhos de cada deus do Olimpo moram juntos no acampamento, formando uma família de meio-irmãos que defendem a sua "casa", lutando para mostrar aos demais que seria o melhor. Claro que entre as casas existem algumas amizades, mas a rivalidade é gigante. Uma única diferença está em Percy Jackson, que mesmo tentando mostrar seus valor e vencer as provas para a sua casa (que a princípio só tem a ele mesmo, já que é o filho único de Poseidon - sem nenhuma comparação ou referência a Cristo), muitas vezes deixa a rivalidade de lado para ajudar alguém de outra família que precisa de ajuda, e assim perder a disputa.

Se fizermos um paralelo com o que temos entre as diferentes religiões no mundo, vemos algo semelhante. São conflitos entre judeus e muçulmanos, muçulmanos e cristãos, e por aí vai. Hoje o Papa Francisco nos lembrou de algo muito importante:

"Jesus quer-nos dizer com esta afirmação quase paradoxal que a fé não é algo de decorativo. A fé obriga-nos a uma opção fundamental a escolher Deus como critério-base. Com Jesus o ser humano passou a conhecer Deus. E um Deus com rosto humano. Jesus trás a paz e a reconciliação mas não a qualquer preço. E seguir Jesus - continuou o Papa Francisco - implica renunciar ao mal, ao egoísmo e escolher o bem, a verdade, a justiça mesmo quando isso nos obriga a sacrifícios. E isto divide, mesmo as relações mais próximas. Mas, atenção não é Jesus que divide!

Desta forma, esta palavra do Evangelho não autoriza ao uso da força para difundir a fé. É precisamente o contrário: a verdadeira força do cristianismo é a força da verdade e do amor, que comporta renunciar a todo o tipo de violência. Fé e violência são incompatíveis!"

Ou seja, de certa forma o Papa Francisco nos pede para agirmos como Percy Jackson, e em vez de mostrar a todos o valor do cristianismo à força, devemos agir conforme Cristo nos deu o exemplo e escolher fazer o bem. Esta é a melhor forma de mostrar o nosso valor, e assim não criar divisão. Manter-se nos caminhos da fé, sem dúvida, mas respeitar quem pensa diferente (ainda que não concordemos com seu pensamento e nos posicionemos de forma contrária). ·


ENFIM, os filmes não são obras que causam risco à fé se forem visto como mitologia/conto de fadas, mas ao mesmo tempo não apresentam tantos elementos que mereçam destaque.

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