Por Dom
Fernando Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Todos defendemos a
justiça social. Mas há distinções a fazer nesse campo, sobretudo entre
socialização e socialismo. Socialização é o oposto de individualização.
Consiste na multiplicação das relações dentro da convivência social,
comportando a associação de várias formas de atividade e criação de
instituições jurídicas, dando origem a grupos, movimentos e instituições de
diferentes tipos. Tem muitas vantagens: torna possível satisfazer os direitos
da pessoa humana, especialmente ao sustento, saúde, educação, trabalho, etc. Ela
multiplica os organismos e torna possível uma regulamentação jurídica das
relações entre as pessoas. Existe o perigo de ela diminuir a liberdade de ação
dos indivíduos e sua responsabilidade. É preciso favorecer suas vantagens e
evitar suas consequências negativas. Daí a necessidade de um ordenamento
jurídico por parte das autoridades públicas, numa concepção exata do bem comum,
no sentido de favorecer o desenvolvimento integral da pessoa humana (Cf. S.
João XXIII, enc. Mater et Magistra, 59-67).
Assim sendo, a
Igreja é a favor da socialização, na sua noção correta, no sentido do
crescimento e interação de relações sociais e crescente desenvolvimento de
formas associativas, se se precisar recorrer em tudo ao Estado, grande e paternalista.
Mas não é a mesma
coisa socialização e socialismo. Para curar os males advindos da revolução
industrial do século XVIII, que prejudicou os operários, foi proposta uma falsa
solução: o socialismo, que é, em graus variados, contra a propriedade de bens
particulares e a favor do Estado grande proprietário e controlador de tudo,
inclusive da família (cf. Leão XIII, encíclica Rerum Novarum, 4 e 5). O
socialismo chegou ao seu auge com o comunismo, que prega a luta de classes e a
completa destruição da propriedade particular.
Alguns são contra o
comunismo, mas se dizem a favor do socialismo, versão, segundo eles, mais
mitigada do comunismo. Mas, na verdade e no fundo, são a mesma coisa. Basta
lembrar que o nome do país onde se instalou oficialmente o comunismo marxista
se chamava URSS, União das Repúblicas SOCIALISTAS Soviéticas. E o nome oficial
do Nazismo é Nacional-SOCIALISMO. Ambos, regimes totalitários. Os extremos se
tocam.
Eis o que ensina o
Papa Pio XI: “O socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato
histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se
aproximar da verdade e da justiça, não pode conciliar-se com a doutrina
católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade
cristã”. Mais: católico e socialista são termos contraditórios: “E, se esse
erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices
nunca negaram, funda-se, contudo, numa concepção da sociedade humana
diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo religioso,
socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo
bom católico e verdadeiro socialista” (Encíclica Quadragesimo Anno,
n. 116 e 119 - 15/5/1931).
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