Por Dom
Fernando Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
A
coerência é uma virtude cristã que deve penetrar todas as nossas ações e
atitudes. Pensar, viver e agir conforme a nossa fé e nossas convicções cristãs.
Caso contrário, seremos hipócritas e daremos um grande contra-testemunho do
nosso cristianismo. A consciência é única e unitária, e não dúplice. Não se age
como católico na Igreja e como pagão fora dela.
“O Concílio exorta os cristãos,
cidadãos de ambas as cidades [terrena e celeste], a que procurem cumprir
fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho.
Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade
permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso
descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os
obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos
erram os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas,
como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam
consistir apenas no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais.
Este divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos
deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo” (Gaudium et Spes,
43).
O
ensinamento social da Igreja não é uma intromissão no governo de cada País. Não
há dúvida, porém, que põe um dever moral de coerência aos fiéis leigos, no
interior da sua consciência, que é única e unitária. “Não pode haver, na sua
vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida ‘espiritual’, com os
seus valores e exigências, e, do outro, a chamada vida ‘secular’, ou seja, a
vida de família, de trabalho, das relações sociais, do empenho político e da
cultura” (João Paulo II, Christif. Laici).
“Reconhecendo muito embora a autonomia da realidade
política, deverão se esforçar os cristãos solicitados a entrarem na ação
política por encontrar uma coerência entre as suas opções e o Evangelho” (Paulo
VI, Octogésima Adveniens, 46).
“Também para o cristão é válido que, se ele quiser
viver a sua fé numa ação política, concebida como um serviço, não pode, sem se
contradizer a si mesmo, aderir a sistemas ideológicos ou políticos que se
oponham radicalmente, ou então nos pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua
concepção do homem...” (cf. Paulo VI, Octogésima Adveniens, 26).
A
Igreja proclamou São Tomás Moro padroeiro dos Governantes e dos Políticos,
exatamente porque soube ser coerente com sua posição católica até ao martírio.
Nesse
clima de corrupção e venalidade que invadiu o nosso sistema político, eleitoral
e governamental, possa o exemplo de Santo Tomás More ensinar aos nossos
governantes e políticos, atuais e futuros, que o homem não pode se separar de
Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por nenhum
preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida. Isso se aplica aos
políticos, aos candidatos e a nós eleitores: voto não se vende nem se compra:
mas tem grandes consequências. Use o critério moral e cristão na hora de votar.
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