Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney
Estamos
na Semana da Pátria, da nossa Pátria amada. Jesus, nosso divino modelo, amava
tanto sua pátria, que chorou sobre sua capital, Jerusalém, ao prever os
castigos que sobre ela viriam, consequência da sua resistência à graça divina.
É tempo oportuno para refletirmos sobre nossa nação, na qual vivemos e da qual
esperamos o nosso bem comum. Será que também não devemos chorar sobre nossa
pátria, ao vermos tanta falta de ética em nossa política, ao sentirmos e
pressentirmos a aprovação de leis iníquas, contra a Lei Divina, natural e
positiva?
Segundo
Aristóteles, “o homem é por natureza um animal político, destinado a viver em
sociedade” (Política, I, 1,9). Política vem do grego pólis, que significa
cidade. E, continua Aristóteles, “toda a cidade é evidentemente uma associação,
e toda a associação só se forma para algum bem, dado que os homens, sejam eles
quais forem, tudo fazem para o fim do que lhes parece ser bom”. E Santo Tomás
de Aquino cunhou o termo bem comum, ou bem público, que é o bem de toda a
sociedade, dando-o como finalidade do Estado. “A comunidade política existe...
em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado
e dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele
compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos,
famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição”
(Gaudium et Spes, 74). Daí se conclui que a cidade – o Estado - exige um
governo que a dirija para o bem comum. Não se pode separar a política da
direção para o bem comum. Procurar o bem próprio na política é um contrassenso.
Parecia
estar falando da política atual o notável Eça de Queirós, que, há muito tempo
atrás, escrevera com sua verve inconfundível: “Estamos perdidos há muito
tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão
dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos. A prática
da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja
desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita...
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos... A classe média abate-se
progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os
serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado
na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste
rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país
está perdido! Algum opositor do atual governo? Não!”. Falava ele assim em
1871!
Como
cristãos, nós sabemos que a base da moral e da ética é a lei de Deus, natural e
positiva, traduzida na conduta pelo que se chama o santo temor de Deus ou a
consciência reta e timorata. Uma vez perdido o santo temor de Deus, perde-se a
retidão da consciência, que passa a ser regida pelas paixões. Uma vez perdidos
os valores morais e os limites éticos, a política fica ao sabor das paixões
desordenadas do egoísmo, da ambição e da cobiça.
Pense
nisso: seu voto é coisa séria, pois terá sérias consequências para a política!
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