Por Carlos
Ramalhete
Nada é mais cruel
que crianças em bando, especialmente na escola. Afinal, uma das coisas que a
escola – com seus uniformes, sua separação por idade etc. – ensina é a rejeitar
o diferente. Uma criança que tenha qualquer diferença vai certamente sofrer
bastante, por mais que professorinhas bem-intencionadas tentem lutar contra o
“bule”, a chaleira e a leiteira. Esse comportamento, que já é parte da natureza
humana, é exacerbado na escola.
Pois agora, além dos
problemas de sempre – gordurinhas a mais ou a menos, cor de cabelo, espinhas,
nomes estranhos... –, o STJ acaba de acrescentar mais um, ao fazer com que um
pobre menino, já vitimado pelo medonho sistema de “abrigos” para órfãos, se
veja com uma certidão de nascimento em que constam dois “pais”. Ele foi
entregue em adoção formal a dois homens.
Família constituída por pai-homem, mãe-mulher e filho. Uma cena cada vez mais atacada pelo Estado em seus excessos. |
Os pais de uma
criança já esticam ao limite seus poderes naturais ao criar empecilhos para os
filhos. Conheço uma moça que há décadas (é, não é tão moça assim) tem de
explicar que se chama Kristiany, com “k” no começo e “y” no fim.
Uma mãe até pode
entregar seus filhos para que uma dupla de amigos do mesmo sexo ou uma
comunidade religiosa ou hippie os crie. Ela vai estar criando uma dificuldade
para a criança, mas ainda estará dentro dos limites de seu poder de mãe.
Esticando-os, é verdade, mas dentro dos limites.
Quando o Estado o
faz, contudo, não está mais agindo dentro de seus limites. O Estado não pode
registrar como “mães” de uma criança todas as freiras de um convento em que ela
seja criada, nem como “pais” uma dupla do mesmo sexo. Uma certidão de
nascimento em que constem os nomes do pai e mãe adotivos é uma mentira piedosa,
que serve para evitar constrangimentos.
Por outro lado, por
mais que haja quem tente “desconstruir a família tradicional”, continua sendo
biologicamente impossível ser filho de 20 freiras ou dois barbados. Uma
certidão em que constem dois “pais” e nenhuma mãe – ou 20 “mães” e nenhum pai –
é um absurdo patente, um abuso de autoridade por parte do Estado.
O Estado reconhece a
família porque é nela que a vida é gerada. Um homem e uma mulher se unem, geram
filhos e os criam, e é do interesse de toda a sociedade que isso funcione bem.
Quando falta uma família, o Estado pode entregar a criança a outra família, que
a adota como nela houvesse nascido. Conventos, comunidades hippies e uniões de
pessoas do mesmo sexo, contudo, podem ser modos de convívio agradáveis para
quem neles toma parte, mas certamente não são famílias. Isso é abuso, não
adoção.
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