Por Denílson
Cardoso de Araújo
Lidar
com crianças e adolescentes exige precaução. Não esperar o mal, mas
antecipar-se à sua mera ameaça. Isso dá vigília, alma alerta, olheira em
plantão. Vale a pena. Pois a dor do descuido é sempre cruel. Bem o sabe o pai
do zoológico de Cascavel que incorreu nessa falta de precaução.
Aos
11 anos, seu filho já devia ser consciente de limites que, claramente,
desconhecia. Derramou-se em insana brincadeira à volta do tigre. Uma hora, fera
que é, o felino Hu reacendeu os instintos de selva, onde a lei dita que meninos
provocando presas de tigre dilacerados serão.
Consta
que o pai primeiro incentivou a brincadeira suicida! Quando viu o braço do
filho na boca do tigre, atirou-se na área reservada, para socorrer o atacado.
Hoje, aos prantos, o pai se desculpa com o mundo. E lembra que o filho, já sem
braço, ainda teve fôlego de revelar o bom coração (apto, portanto, a acolher
educação e limites), dizendo: não matem o tigre.
Após
a instigação irresponsável, o pai teria convocado o filho. Que não obedeceu.
Filho tem que obedecer a pai e mãe! É da necessidade de sobrevivência e
desenvolvimento de crianças e adolescentes, é do bom senso, e – acima de tudo,
por mais que digam o contrário – é da lei! Código Civil: pais devem exigir de
suas proles respeito, obediência e serviços. Exigir.
No
caso, temos um filho de pais separados. Problema dos tempos, o caso comprova.
Pais separados tendem a afrouxar disciplinas. Certa culpa se instala, e não
quer o pai, que não detém a guarda, gastar fim de semana a ser antipático
disciplinador. Um erro caro. Ao mesmo tempo, a mãe guardiã, a quem sobra o
encargo disciplinar, além de padecer tolerâncias hormonais femininas que
retardam o pronto castigo, também não quer ser a vilã nessa história em que o
pai visitante é sempre o divertido parque de diversões. Ou permissivo
zoológico.
Exigir
obediência, respeito e serviços significa determinar. De modo claro e audível.
Fazer lei familiar. E lei só tem eficácia, assim sabe o acadêmico de direito,
se sanção existir. Sanção é castigo. Pedagogia da consequência, hoje tão
esquecida. Quando aquele pai mandou frouxamente o filho sair da frente da jaula
da fera e não foi atendido, devia ter arrancado o menino de lá, se necessário
arrastando-o pela orelha. Na situação de extremo perigo, não há diálogo
possível. Primeiro, a disciplina e o socorro, depois, a conversa. Ele podia
espernear, reclamar, gritar, dar-se uma cena. E daí? Ah, não quero cair em
“bocas de Matilde”, como pai ditador. Então. Para evitar maledicentes, prefere
o filho na boca do tigre?
Ser
pai ou mãe produz indescritível prazer afetivo. Mas implica responsabilidades
graves e irrenunciáveis. Preços altos, que precisam ser pagos. Inclusive o da
incompreensão social aqui e ali, até o da inimizade do filho que recebe
disciplina necessária.
Tem
pai e mãe nesta cidade que, se não está empurrando a prole para a jaula da
fera, passivamente assiste ao filho brincar com a cabeça dentro da boca do
tigre. Presenteiam meninos com games proibidos, permitem filhas de
comportamento cachorra, autorizam álcool a meninos curiosos, consentem sexo precoce,
dão vista grossa ao pífio rendimento escolar, e deixam filhos se desperdiçarem
na maconha pública dos gramados desolados de autoridade.
Levante-se.
Vá arrancar seu filho da boca do tigre. Em alguns casos, talvez tenha que
arrastá-lo pela orelha. Faça. E dialogue. Mas faça.
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