segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O filho na boca do tigre.


Por Denílson Cardoso de Araújo

Lidar com crianças e adolescentes exige precaução. Não esperar o mal, mas antecipar-se à sua mera ameaça. Isso dá vigília, alma alerta, olheira em plantão. Vale a pena. Pois a dor do descuido é sempre cruel. Bem o sabe o pai do zoológico de Cascavel que incorreu nessa falta de precaução.

Aos 11 anos, seu filho já devia ser consciente de limites que, claramente, desconhecia. Derramou-se em insana brincadeira à volta do tigre. Uma hora, fera que é, o felino Hu reacendeu os instintos de selva, onde a lei dita que meninos provocando presas de tigre dilacerados serão.

Consta que o pai primeiro incentivou a brincadeira suicida! Quando viu o braço do filho na boca do tigre, atirou-se na área reservada, para socorrer o atacado. Hoje, aos prantos, o pai se desculpa com o mundo. E lembra que o filho, já sem braço, ainda teve fôlego de revelar o bom coração (apto, portanto, a acolher educação e limites), dizendo: não matem o tigre.


Após a instigação irresponsável, o pai teria convocado o filho. Que não obedeceu. Filho tem que obedecer a pai e mãe! É da necessidade de sobrevivência e desenvolvimento de crianças e adolescentes, é do bom senso, e – acima de tudo, por mais que digam o contrário – é da lei! Código Civil: pais devem exigir de suas proles respeito, obediência e serviços. Exigir.

No caso, temos um filho de pais separados. Problema dos tempos, o caso comprova. Pais separados tendem a afrouxar disciplinas. Certa culpa se instala, e não quer o pai, que não detém a guarda, gastar fim de semana a ser antipático disciplinador. Um erro caro. Ao mesmo tempo, a mãe guardiã, a quem sobra o encargo disciplinar, além de padecer tolerâncias hormonais femininas que retardam o pronto castigo, também não quer ser a vilã nessa história em que o pai visitante é sempre o divertido parque de diversões. Ou permissivo zoológico.

Exigir obediência, respeito e serviços significa determinar. De modo claro e audível. Fazer lei familiar. E lei só tem eficácia, assim sabe o acadêmico de direito, se sanção existir. Sanção é castigo. Pedagogia da consequência, hoje tão esquecida. Quando aquele pai mandou frouxamente o filho sair da frente da jaula da fera e não foi atendido, devia ter arrancado o menino de lá, se necessário arrastando-o pela orelha. Na situação de extremo perigo, não há diálogo possível. Primeiro, a disciplina e o socorro, depois, a conversa. Ele podia espernear, reclamar, gritar, dar-se uma cena. E daí? Ah, não quero cair em “bocas de Matilde”, como pai ditador. Então. Para evitar maledicentes, prefere o filho na boca do tigre?

Ser pai ou mãe produz indescritível prazer afetivo. Mas implica responsabilidades graves e irrenunciáveis. Preços altos, que precisam ser pagos. Inclusive o da incompreensão social aqui e ali, até o da inimizade do filho que recebe disciplina necessária.

Tem pai e mãe nesta cidade que, se não está empurrando a prole para a jaula da fera, passivamente assiste ao filho brincar com a cabeça dentro da boca do tigre. Presenteiam meninos com games proibidos, permitem filhas de comportamento cachorra, autorizam álcool a meninos curiosos, consentem sexo precoce, dão vista grossa ao pífio rendimento escolar, e deixam filhos se desperdiçarem na maconha pública dos gramados desolados de autoridade.


Levante-se. Vá arrancar seu filho da boca do tigre. Em alguns casos, talvez tenha que arrastá-lo pela orelha. Faça. E dialogue. Mas faça.

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