Por Ivanaldo Santos
Inicialmente é preciso deixar bem claro
que toda forma de guerra e toda forma de violência e de negação da dignidade da
pessoa humana precisam ser rejeitadas. No lugar das guerras e da violência é
preciso criar uma cultura de paz e de convivência entre os contrários.
Realizado esse esclarecimento é
preciso observar que o atual governo do Brasil, no campo diplomático, tem uma
postura no mínimo dúbia. Isso acontece porque a diplomacia brasileira condena algumas
guerras e, diante de violências e massacres de maiores proporções, simplesmente
se cala e se omite.
Diante da atual ofensiva das formas
de segurança de Israel a Faixa de Gaza o governo brasileiro emitiu uma nota oficial
condenado “energicamente” a guerra e o “uso desproporcional da força” por parte
do exército de Israel. Além disso, o governo brasileiro convocou o embaixador
de Israel no Brasil para prestar esclarecimentos sobre os rumos dos combates e,
por conseguinte, sobre as vítimas civis. Vários seguimentos da impressa
nacional e internacional deram ênfase a postura tomada pelo governo do Brasil
diante da guerra na Faixa de Gaza.
Em tese, a mesma postura deveria ter
sido tomada pelo governo do Brasil diante do atual genocídio dos cristãos e de
outras minorias étnicas e religiosas no Oriente Médio, especialmente na Síria e
no Iraque.
A situação
dos cristãos no Oriente Médio e de outras minorias (curdos, yazidis, etc), especialmente no Iraque e na
Síria, nunca foi fácil. Trata-se de uma minoria religiosa e, muitas vezes,
étnica. No entanto, até o final da década de 1990 essa minoria gozava de certa
tranquilidade e, apesar de todas as discriminações, as comunidades cristãs
viviam em relativa paz.
O problema
se agravou a partir de 2003 com a invasão do Iraque por uma coalisão militar
liderada pelos EUA. Grupos extremistas islâmicos viram essa invasão como uma
forma do Ocidente ajudar os cristãos e, por causa disso, lançaram uma violenta
onda de perseguição e morte a essa minoria. A situação piorou com a eclosão da
guerra civil na Síria em março de 2011. A guerra civil na Síria trouxe a toma
uma onda de violência extremista, de fundamentalismo islâmico e de perseguição
aos cristãos.
A vida dos
cristãos piorou ainda mais com o anuncio da criação do chamado Estado Islâmico (EI) no dia 30/06/2014.
Os extremistas ligados ao Estado Islâmico e a outras facções fundamentalistas
têm sistematicamente perseguidos os cristãos. Os cristãos são expulsos de suas
casas, as mulheres cristãs são estupradas, milhares de cristãos foram
enforcados, fuzilados e até mesmo crucificados. Tudo isso pelo fato dessas
pessoas serem cristãs. As casas dos cristãos são destruídas, suas igrejas,
mosteiros, conventos e outras estruturas religiosas são destruídos, padres são
assassinados e freiras e monjas estupradas, crianças cristãs estão sendo
vendidas como escravas ou obrigadas a se casarem com militantes extremistas. Os
líderes do Estado Islâmico deram apenas três opções para os cristãos
permanecerem em suas casas na região do Iraque e da Síria, sendo elas: a
conversão forçada ao Islã, a morte ou então pagarem um imposto muito elevado
pelo fato de não serem seguidores de alguma doutrina radical do Islã.
Até o
presente momento não se têm, com precisão, os números de quantos cristãos foram
assassinados e de quantos fugiram de suas casas e comunidades. No entanto, os números
preliminares são assustadores. Antes de 2003, ano da invasão ao Iraque pela
coalisão militar, o Iraque tinha 1,5 milhão de cristãos. Hoje, após várias
ondas e perseguição, calcula-se que existam apenas 400 mil. Na Síria que, antes
do início da guerra civil, tinha uma população estimada de 3 ou 4 milhões de
cristãos, hoje esse número caiu pela metade. Por causa desses tristes números,
o massacre e a expulsão dos cristãos do Iraque e da Síria poderá ser o pior
genocídio que a humanidade presenciou nas últimas décadas. O genocídio dos
cristãos no Oriente Médio poderá superar o genocídio de Ruanda que, em 1994,
matou mais de meio milhão de membros da minoria tutsis e membros de outros
grupos étnicos.
O
surpreendente de tudo isso é que o Brasil, ao menos oficialmente, é um país de
maioria esmagadoramente cristã. Por
isso, o atual governo do Brasil deveria, além de condenar a guerra na Faixa de
Gaza, deveria ter condenado o massacre dos cristãos no Oriente Médio. Espera-se
uma postura mais diplomática e mais humanizada por parte do atual governo do
Brasil. Espera-se que esse governo ajudasse os cristãos e outras minorias
éticas e religiosas do Oriente Médio a escaparem do massacre perpetrado pelo
Estado Islâmico e por outras facções fundamentalistas e extremistas.
Por fim, é
bom relembrar que, nos últimos anos, o governo do Brasil tem tido uma postura
um tanto quanto discriminadora com relação aos cristãos. O maior grupo humano
no Brasil não tem encontrado muito apoio dentro do governo federal do Brasil.
Recentemente tivemos mais um capítulo dessa postura discriminatória, ou seja,
quando o governo do Brasil correu para ajudar os palestinos na Faixa de Gaza,
uma justa atitude, mas não foi capaz de ajudar os cristãos, coirmãos do povo
brasileiro, que estão sendo massacrados no Oriente Médio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário