sábado, 23 de agosto de 2014

Governo do Brasil condena guerra na Faixa de Gaza, mas se omite diante do genocídio dos cristãos no Oriente Médio.


Por Ivanaldo Santos

Inicialmente é preciso deixar bem claro que toda forma de guerra e toda forma de violência e de negação da dignidade da pessoa humana precisam ser rejeitadas. No lugar das guerras e da violência é preciso criar uma cultura de paz e de convivência entre os contrários.

Realizado esse esclarecimento é preciso observar que o atual governo do Brasil, no campo diplomático, tem uma postura no mínimo dúbia. Isso acontece porque a diplomacia brasileira condena algumas guerras e, diante de violências e massacres de maiores proporções, simplesmente se cala e se omite.

Diante da atual ofensiva das formas de segurança de Israel a Faixa de Gaza o governo brasileiro emitiu uma nota oficial condenado “energicamente” a guerra e o “uso desproporcional da força” por parte do exército de Israel. Além disso, o governo brasileiro convocou o embaixador de Israel no Brasil para prestar esclarecimentos sobre os rumos dos combates e, por conseguinte, sobre as vítimas civis. Vários seguimentos da impressa nacional e internacional deram ênfase a postura tomada pelo governo do Brasil diante da guerra na Faixa de Gaza.

Em tese, a mesma postura deveria ter sido tomada pelo governo do Brasil diante do atual genocídio dos cristãos e de outras minorias étnicas e religiosas no Oriente Médio, especialmente na Síria e no Iraque.

A situação dos cristãos no Oriente Médio e de outras minorias (curdos, yazidis, etc), especialmente no Iraque e na Síria, nunca foi fácil. Trata-se de uma minoria religiosa e, muitas vezes, étnica. No entanto, até o final da década de 1990 essa minoria gozava de certa tranquilidade e, apesar de todas as discriminações, as comunidades cristãs viviam em relativa paz.

O problema se agravou a partir de 2003 com a invasão do Iraque por uma coalisão militar liderada pelos EUA. Grupos extremistas islâmicos viram essa invasão como uma forma do Ocidente ajudar os cristãos e, por causa disso, lançaram uma violenta onda de perseguição e morte a essa minoria. A situação piorou com a eclosão da guerra civil na Síria em março de 2011. A guerra civil na Síria trouxe a toma uma onda de violência extremista, de fundamentalismo islâmico e de perseguição aos cristãos.

A vida dos cristãos piorou ainda mais com o anuncio da criação do chamado Estado Islâmico (EI) no dia 30/06/2014. Os extremistas ligados ao Estado Islâmico e a outras facções fundamentalistas têm sistematicamente perseguidos os cristãos. Os cristãos são expulsos de suas casas, as mulheres cristãs são estupradas, milhares de cristãos foram enforcados, fuzilados e até mesmo crucificados. Tudo isso pelo fato dessas pessoas serem cristãs. As casas dos cristãos são destruídas, suas igrejas, mosteiros, conventos e outras estruturas religiosas são destruídos, padres são assassinados e freiras e monjas estupradas, crianças cristãs estão sendo vendidas como escravas ou obrigadas a se casarem com militantes extremistas. Os líderes do Estado Islâmico deram apenas três opções para os cristãos permanecerem em suas casas na região do Iraque e da Síria, sendo elas: a conversão forçada ao Islã, a morte ou então pagarem um imposto muito elevado pelo fato de não serem seguidores de alguma doutrina radical do Islã.

Até o presente momento não se têm, com precisão, os números de quantos cristãos foram assassinados e de quantos fugiram de suas casas e comunidades. No entanto, os números preliminares são assustadores. Antes de 2003, ano da invasão ao Iraque pela coalisão militar, o Iraque tinha 1,5 milhão de cristãos. Hoje, após várias ondas e perseguição, calcula-se que existam apenas 400 mil. Na Síria que, antes do início da guerra civil, tinha uma população estimada de 3 ou 4 milhões de cristãos, hoje esse número caiu pela metade. Por causa desses tristes números, o massacre e a expulsão dos cristãos do Iraque e da Síria poderá ser o pior genocídio que a humanidade presenciou nas últimas décadas. O genocídio dos cristãos no Oriente Médio poderá superar o genocídio de Ruanda que, em 1994, matou mais de meio milhão de membros da minoria tutsis e membros de outros grupos étnicos.

O surpreendente de tudo isso é que o Brasil, ao menos oficialmente, é um país de maioria esmagadoramente cristã.  Por isso, o atual governo do Brasil deveria, além de condenar a guerra na Faixa de Gaza, deveria ter condenado o massacre dos cristãos no Oriente Médio. Espera-se uma postura mais diplomática e mais humanizada por parte do atual governo do Brasil. Espera-se que esse governo ajudasse os cristãos e outras minorias éticas e religiosas do Oriente Médio a escaparem do massacre perpetrado pelo Estado Islâmico e por outras facções fundamentalistas e extremistas.


Por fim, é bom relembrar que, nos últimos anos, o governo do Brasil tem tido uma postura um tanto quanto discriminadora com relação aos cristãos. O maior grupo humano no Brasil não tem encontrado muito apoio dentro do governo federal do Brasil. Recentemente tivemos mais um capítulo dessa postura discriminatória, ou seja, quando o governo do Brasil correu para ajudar os palestinos na Faixa de Gaza, uma justa atitude, mas não foi capaz de ajudar os cristãos, coirmãos do povo brasileiro, que estão sendo massacrados no Oriente Médio.

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