Por Ana Maria Bueno
“Conta-se
que, ao aproximar-se a ordenação de João Batista, o Vigário Geral de Lyon,
reunido com alguns padres, ponderaram a inconveniência em conceder-lhe o
sacramento da Ordem, porque “era muito burro”, conforme comentaram entre si num
momento de reunião, não com maldade, mas com a sinceridade de quem estava
convencido da incapacidade intelectual de quem iria assumir tão elevado cargo.
Nesse
momento, João Batista estava a chegar e ouviu ainda na sala de espera, o
constrangedor comentário. Aguardou a saída dos padres e foi ter com o Vigário.
Antes de iniciar a conversa, o Santo pediu licença para falar e disse: “Padre,
se com uma fisga feita da mandíbula de um burro, David conseguiu derrubar
Golias, imagine o que o Senhor poderá fazer tendo nas mãos um burro inteiro!” Estas
palavras foram suficientes para revogar a intenção do vigário que, logo de
seguida, o enviaria para a comunidade de Ars.
Apesar da
história se parecer a princípio
engraçada, e para alguns digna de comiseração, ela só nos mostra como Deus age
através de quem Ele quer, como e quando Ele quer. São João Maria Vianney é um santo, que pelo
menos a mim, causa compunção e desejo de ser humilde, simples e oculta. Sua
vida instigante, aos olhos do mundo até medíocre, nos faz ver com absoluta
certeza a ação divina nesta terra.
São João Maria Vianney nasceu em 1786
e morreu em 1859 - Sua memória é comemorada em 4 de agosto. Foi canonizado em
1925 e é considerado Patrono dos sacerdotes, porque soube ser um sacerdote
exemplar, por ter amado e se desgastado pelo seu ofício. Sua vida retrata o poder da graça divina que
o lapida a ponto de tudo perder para o mundo, para ganhar almas de Deus para
Deus. Sua humildade, suas lutas contra o demônio, sua luta para a santidade, seu
ardor pela Igreja e, sobretudo, pela Santa Eucaristia e pelo Sacramento da Confissão
devem ser sublinhadas e retratam bem este santo maravilhoso.
Nascido de família humilde, mas muito
devota, teve nos pais camponeses um exemplo de amor a Deus e serviço aos mais necessitados.
Em sua época, o terror imperava por conta da Revolução Francesa; padres eram
exilados, muitos eram mortos, Igrejas eram fechadas, havia, portanto, uma verdadeira
perseguição aos cristãos. E foi exatamente neste cenário que São João Maria
sente o chamado de Deus para o sacerdócio, aliás, desde garotinho gostava de se afastar para
rezar. Queria se desgastar, e este foi
sempre o seu lema. Recebeu a primeira comunhão aos 13 anos e a Crisma aos 20
anos, onde recebeu o nome “Batista”.
Após receber o consentimento dos pais
para ingressar no Seminário, enfrentou muitas dificuldades nos estudos, pois não
conseguia entender o latim e filosofia. Sua dificuldade era tal que chegou a
ser despedido do Seminário de Lyon. Deus então lhe envia um santo sacerdote que
o ajuda, e foi somente com esta ajuda amorosa do incansável do Pe. Balley, que
o ensinou em francês , pode, então, completar seus estudos. Ordenado sacerdote
aos 29 anos, em 1815, foi vigário de Ecully durante três anos, mas não obteve
permissão para ouvir confissões, pois não era considerado capaz de guiar consciências, o
que muito o entristeceu; mas como estava disposto a obedecer e tudo fazer pelas
almas, a mortificação e a obediência foram por ele escolhidas como meio.
Somente três anos depois conseguiu a liberação para confessar; seu carisma de
santidade já o fazia especial diante de alguns.
Deus então o envia a Ars – e foi ali
onde ficou por 42 anos que pode exercer seu papel de santo sacerdote. Santo no
sofrimento, santo nas injúrias, santo no desapego, santo no amor
incondicional. Ao chegar em Ars, a Igreja estava praticamente vazia e as
tabernas lotadas. A população distante de Deus precisou ser chamada pelo Santo
para reconhecer em Deus o Senhor. São
João percorria a cidade, visitava as pessoas, chamava-os ao Banquete do
Cordeiro – a Missa -, e sua pobreza e cuidados tocavam a todos.
Sua chegada a Ars em fevereiro de 1818 foi totalmente especial, numa
carroça, transportando alguns pertences e o que mais precisava: seus livros;
sem saber como chegar, encontra um menino que sem demora o ajuda. Conta a
tradição que na estrada ele se dirigiu a este menino pastor dizendo: “Tu me
mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu”. Hoje, um
monumento na entrada da cidade lembra esse encontro.
Por quatro vezes tentou a fuga da
cidade, por se considerar inapto para o serviço sacerdotal, mas a população que
já o amava e se opunha ferrenhamente a sua transferência e a sua fuga, não
permitiu. Passava horas rezando, se mortificava até o limite de seu físico, se
extenuava no Confessionário. Em resposta a sua fidelidade e luta, o Senhor
derramava suas graças copiosas fazendo daquele lugar um reduto de santidade e
conversão.
Suas homilias eram simples e fortes e
focavam que muito na conversão exigida pelo reino de Deus e no juízo final. No
início, São João Maria tendia a incutir o medo nos seus paroquianos, mas depois
superou o rigor e cheio de misericórdia exalava em suas pregações e atos, brandura
e amor. Sua pregação simples e objetiva chamava à vida e como ele mesmo dizia:
“ Não eram mais que a união com Deus”.
Por conta do grande número de
conversões, as tabernas esvaziaram, os fiéis aprenderam a amar a Igreja, a
Deus, os Sacramentos, a Santa Missa e com elas vieram as calúnias ao Bispo, as
perseguições sem tamanho, tanto das pessoas como do demônio. Sofreu amargamente
as cruzes, mas ao pedir a Deus que desse a ele amor por ela, aprendeu a ser
feliz no meio de toda esta tribulação. Ele dizia: “Precisamos pedir amor das
cruzes; então as cruzes passam a ser suaves. Eu fiz essa experiência durante
quatro ou cinco anos. Fui bastante caluniado, bastante desmentido. Oh! Como
tinha cruzes; mais do que poderia carregar. Comecei a pedir o amor das cruzes e
fui feliz” (Mensagem dos Santos – Paulus – Pedro Teixeira Cavalcante – pag 223)
São João
fundou a Confraria do Rosário
para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens. Resultado: perseguições e mais perseguições.
Mas, ao contrário de que queriam estes perseguidores, Ars virou centro de
peregrinações e o Santo mais rezava, mais se mortificava, mais fazia do Confessionário
seu lugar. Chegava a ficar 14 horas confessando os paroquianos e peregrinos. Chegou
a confessar mais de 200 pessoas num só dia.
São João viveu o que pregou e soube ganhar as
almas de Deus para Deus, servo fiel no pouco de si e no muito de Deus. Muitas e
muitas vezes, dizia: “Deixai uma paróquia sem padre durante vinte anos e seus
habitantes adorarão animais” e isto o impulsionava a servir, ele sabia o valor
de um sacerdote nas mãos de Deus. Sabia de suas limitações, mas também sabia do
poder da graça. Seu lema: orar sem cessar, se desgastar, morrer para que muitos
possam viver. Criou orfanatos, escolas para pobres, catequese, ajuda aos necessitados,
tudo isso fez o santo com a ajuda da Divina Providência. Um simples homem, sem
nada, materialmente falando, e, no entanto, tão cheio de graça. Deus de fato, estava
presente em Ars.
Sua catequese englobava três pontos:
a luta contra o trabalho nos dias de festas e guarda, contra o hábito das blasfêmias - para ele sinais de ateísmo prático, e a
luta contra as tabernas e contra os
bailes, considerados por ele como obra diabólica que leva à imoralidade.
No dia 2 de agosto de 1859, aos 73
anos, recebe a unção dos enfermos, no dia 3 assina seu testamento deixando seus
bens aos missionários e seu corpo à paróquia. Falece no dia 4 - mais de trezentos padres e uma multidão
veio despedir-se, bem diferente daquele dia em que chegou a cidade.
Foi proclamado venerável pelo Papa
Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo Papa
Pio XI em 1925 e por ele foi declarado padroeiro de todos os párocos, em 1929.
Sua vida confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é
loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza
no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil
e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de
que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29).
“Para a honra de Deus e para o bem
dos fiéis , o santo Cura restaurou a igreja e edificou várias capelas,
dedicando-se ao Ecce Homo, aos santos anjos, a são João Batista e a santa
Filomena, à qual atribuía seus milagres, para encobrir sua fama de santidade. Sua vida foi, pois ,
não só penitente e mística, mas também
cheia de obras de zelo pelo próximo: foi
a plenitude da vida apostólica desse herói do ministério sacerdotal paroquial
que realizou uma de suas palavras: “ É belo morrer depois de ter vivido na
Cruz” ( Os santos do Calendário Romano – Paulus – pag 293)
São Cura D’Ars – Rogai por nós!
Frases de São João Maria Vianney:
“Se entendêssemos na terra o que é um padre,
morreríamos não de susto, mas de amor”
“As pessoas acreditam no inferno, mas vivem
como se ele não existisse”
“Apliquemo-nos como São Paulo a consolar a
Igreja”
“O homem manda em Deus quando tem o coração
puro”
“Há muita gente que saiu deste mundo sem
saber o objetivo de sua vinda e não se preocupou com isso. Não podemos fazer a
mesma coisa”
“Você não entra num prédio sem falar com o
porteiro; pois, então, a Virgem Maria é a porteira do céu”
“Na oração bem feita, os sofrimentos se
dissolvem como a neve no sol”
“Onde passam os santos, Deus passa com eles”
“Precisa-se de menos esforço para se salvar,
do que para se perder”
“Nunca devemos desdenhar do pobre, porque
este desdém recai sobre Deus”
“Virá um tempo em que os homens estarão tão
cansados dos homens que não poderão falar de Deus sem que chorem”
“Somente as cruzes vão nos tranquilizar no
dia do julgamento. Quando este dia chegar, quão felizes seremos de nossas
desgraças, santamente orgulhosos de nossas humilhações e ricos de nossos sacrifícios.
“A Cruz abraça o mundo; ela é plantada nos
quatro cantos do universo; tem um pedaço para todos”
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