Por
Ivanaldo Santos (ivanaldosantos@yahoo.com.br)
Durante a década de 1970 e boa parte
da década de 1980 havia um tipo muito específico de padre. Era o padre
revolucionário, um padre que fazia análises sociológicas das injustiças
sociais, que criticava as estruturas opressoras da sociedade, a miséria do
povo, a pobreza, as favelas e coisas semelhantes. Era um padre que criticava o
governo, os políticos e o Estado.
Era um tipo de padre que confundia o
reino de Deus com melhorias sociais e ampliação da renda do cidadão. É claro
que melhorias sócias compõem o reino de Deus, mas esse reino “feito de justiça”
(II Coríntios 5, 21) é bem mais amplo e completo do que simplesmente ampliar o
poder de compra dos cidadãos.
Apesar do discurso do padre
revolucionário ser incompleto e até mesmo ingênuo, era um discurso que
inspirava respeito e encontrava apoio em alguns setores da sociedade. No
entanto, o tempo passou e as coisas mudaram um pouco. Em 2002 chega ao poder
uma das estruturas de poder que eram apoiadas pela figura do padre
revolucionário, trata-se do Partido dos Trabalhadores (PT) e o seu respectivo
líder carismático, o Sr. Luiz Inácio Lula
da Silva. Com a chegada ao poder, em 2002, do PT é como se finalmente o reino
de Deus tivesse se materializado, se o reino de Deus tivesse chegado aos
homens. É como se o reino de “justiça, fé, amor e paz” (II Timóteo 2, 22), onde
“não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor e nem dor” (Apocalipse, 21, 4),
finalmente tivesse chegado ao homem e a sociedade.
Após o ano de 2002 quase não se viu o padre revolucionário fazer críticas
ao governo, aos políticos, ao Estado e as estruturas opressoras da sociedade.
Pelo contrário, grande parte do clero revolucionário ficou calado, uma outra
parte se dedica a elogiar o governo e apenas um número pequeno, dessa categoria
do clero, continua fazendo as suas críticas ao sistema político e econômico
opressor.
O compositor, músico e escritor João
Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão, num artigo publicado na revista Veja (A era do rebelde chapa-branca, Veja, 11/11/2013) cunhou o termo rebelde chapa-branca. Para Lobão
atualmente existe um tipo muito peculiar de rebelde, de pessoas que fazem
críticas ao Estado e a sociedade, que fazem passeadas e coisas parecidas. Esse
tipo é aquele militante, agitador social e coisa parecida que critica o Estado,
o governo, a sociedade, etc; mas, por incrível que pareça, é financiado pelo
próprio governo. É o rebelde chapa-branca. Aquele sujeito, meio idiota útil, que
tem seus próprios interesses (ganhar algum dinheiro, receber uma bolsa de
estudo, arrumar um emprego público, entrar para alguma agência do governo, etc)
que recebendo ordens dadas por estruturas oriundas do próprio governo, vai para
as ruas fazer passeatas, promover quebra-quebra e atos de vandalismo.
Historicamente, desde a antiguidade grega, o rebelde, a oposição, luta contra o
governo e contra a opressão oriunda do Estado. No Brasil, numa triste ironia da
história, o rebelde é financiado pelo governo e sua lista de reivindicações são
para atender os interesses do próprio governo.
Se é verdade que existe o rebelde chapa-branca,
também existe o padre chapa-branca. Trata-se do padre que fala em injustiça
social, que geralmente critica o imperialismo americano (coisa que realmente
tem que ser criticada), que critica a opulência dos ricos e coisas semelhantes.
Esse tipo de crítica é geralmente genérica, muito geral, sem grande
profundidade sociológica ou então com pouca penetração na realidade.
No entanto, o forte do padre chapa-branca não é a
crítica social e a denuncia das estruturas de opressão do homem. Pelo
contrário, se antes o padre revolucionário criticava o governo, a especialidade
do padre chapa-branca é elogiar o governo ou então, mais especificamente,
elogiar pessoas e líderes do governo.
Se pararmos para ouvir os discursos do padre
chapa-branca é como se vivêssemos no paraíso, no autêntico reino de Deus.
Depois de 2002, com a chegada ao poder de um setor influente da esquerda,
parece que todos os problemas sociais acabaram e que finalmente vivemos o reino
de Deus. Com isso, o padre que antes criticava o governo e suas ações injustas,
agora se dedica a elogiá-lo.
Apenas a guiça de conclusão, é bom lembrar que o
próprio Senhor Jesus Cristo deixou claro que o dia e a hora da sua segunda e
definitiva vinda “ninguém
sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente o Pai” (Mateus, 24, 36) e que, por
isso, o ano de 2002 não marcou o estabelecimento do reino de Deus na sociedade. Além disso, a missão do
padre e do fiel leigo é denunciar o pecado e qualquer situação de injustiça em
que o homem esteja mergulhado. O Brasil após o ano de 2002 continua sendo um
país mergulhado no pecado e na injustiça, inclusive injustiças cometidas pelos
membros do atual governo. Em algumas e específicas situações deve-se elogiar o
governo, mas deve-se sempre ter em mente que foi a Jesus Cristo, e apenas a
Ele, que foi dado “todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28, 18) e que, por
isso, “todo o joelho se dobrará” (Romano 14, 11) diante dele. Essa onda de
padre chapa-braba, que vive
elogiando o atual governo, fere a luta da Igreja contra o pecado e a injustiça.
E o mais grave, fere o princípio cristão que afirma que apenas Jesus Cristo
merece ser elogiado, justamente porque “todos pecaram e destituídos estão da gloria
de Deus” (Romanos 3, 23).
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