sábado, 5 de abril de 2014

O padre chapa-branca.


Por Ivanaldo Santos (ivanaldosantos@yahoo.com.br)

Durante a década de 1970 e boa parte da década de 1980 havia um tipo muito específico de padre. Era o padre revolucionário, um padre que fazia análises sociológicas das injustiças sociais, que criticava as estruturas opressoras da sociedade, a miséria do povo, a pobreza, as favelas e coisas semelhantes. Era um padre que criticava o governo, os políticos e o Estado.

Era um tipo de padre que confundia o reino de Deus com melhorias sociais e ampliação da renda do cidadão. É claro que melhorias sócias compõem o reino de Deus, mas esse reino “feito de justiça” (II Coríntios 5, 21) é bem mais amplo e completo do que simplesmente ampliar o poder de compra dos cidadãos.

Apesar do discurso do padre revolucionário ser incompleto e até mesmo ingênuo, era um discurso que inspirava respeito e encontrava apoio em alguns setores da sociedade. No entanto, o tempo passou e as coisas mudaram um pouco. Em 2002 chega ao poder uma das estruturas de poder que eram apoiadas pela figura do padre revolucionário, trata-se do Partido dos Trabalhadores (PT) e o seu respectivo líder carismático, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Com a chegada ao poder, em 2002, do PT é como se finalmente o reino de Deus tivesse se materializado, se o reino de Deus tivesse chegado aos homens. É como se o reino de “justiça, fé, amor e paz” (II Timóteo 2, 22), onde “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor e nem dor” (Apocalipse, 21, 4), finalmente tivesse chegado ao homem e a sociedade.

Após o ano de 2002 quase não se viu o padre revolucionário fazer críticas ao governo, aos políticos, ao Estado e as estruturas opressoras da sociedade. Pelo contrário, grande parte do clero revolucionário ficou calado, uma outra parte se dedica a elogiar o governo e apenas um número pequeno, dessa categoria do clero, continua fazendo as suas críticas ao sistema político e econômico opressor.

O compositor, músico e escritor João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão, num artigo publicado na revista Veja (A era do rebelde chapa-branca, Veja, 11/11/2013) cunhou o termo rebelde chapa-branca. Para Lobão atualmente existe um tipo muito peculiar de rebelde, de pessoas que fazem críticas ao Estado e a sociedade, que fazem passeadas e coisas parecidas. Esse tipo é aquele militante, agitador social e coisa parecida que critica o Estado, o governo, a sociedade, etc; mas, por incrível que pareça, é financiado pelo próprio governo. É o rebelde chapa-branca. Aquele sujeito, meio idiota útil, que tem seus próprios interesses (ganhar algum dinheiro, receber uma bolsa de estudo, arrumar um emprego público, entrar para alguma agência do governo, etc) que recebendo ordens dadas por estruturas oriundas do próprio governo, vai para as ruas fazer passeatas, promover quebra-quebra e atos de vandalismo. Historicamente, desde a antiguidade grega, o rebelde, a oposição, luta contra o governo e contra a opressão oriunda do Estado. No Brasil, numa triste ironia da história, o rebelde é financiado pelo governo e sua lista de reivindicações são para atender os interesses do próprio governo.

Se é verdade que existe o rebelde chapa-branca, também existe o padre chapa-branca. Trata-se do padre que fala em injustiça social, que geralmente critica o imperialismo americano (coisa que realmente tem que ser criticada), que critica a opulência dos ricos e coisas semelhantes. Esse tipo de crítica é geralmente genérica, muito geral, sem grande profundidade sociológica ou então com pouca penetração na realidade.

No entanto, o forte do padre chapa-branca não é a crítica social e a denuncia das estruturas de opressão do homem. Pelo contrário, se antes o padre revolucionário criticava o governo, a especialidade do padre chapa-branca é elogiar o governo ou então, mais especificamente, elogiar pessoas e líderes do governo.

Se pararmos para ouvir os discursos do padre chapa-branca é como se vivêssemos no paraíso, no autêntico reino de Deus. Depois de 2002, com a chegada ao poder de um setor influente da esquerda, parece que todos os problemas sociais acabaram e que finalmente vivemos o reino de Deus. Com isso, o padre que antes criticava o governo e suas ações injustas, agora se dedica a elogiá-lo.


Apenas a guiça de conclusão, é bom lembrar que o próprio Senhor Jesus Cristo deixou claro que o dia e a hora da sua segunda e definitiva vinda “ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente o Pai” (Mateus, 24, 36) e que, por isso, o ano de 2002 não marcou o estabelecimento do reino de Deus na sociedade. Além disso, a missão do padre e do fiel leigo é denunciar o pecado e qualquer situação de injustiça em que o homem esteja mergulhado. O Brasil após o ano de 2002 continua sendo um país mergulhado no pecado e na injustiça, inclusive injustiças cometidas pelos membros do atual governo. Em algumas e específicas situações deve-se elogiar o governo, mas deve-se sempre ter em mente que foi a Jesus Cristo, e apenas a Ele, que foi dado “todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28, 18) e que, por isso, “todo o joelho se dobrará” (Romano 14, 11) diante dele. Essa onda de padre chapa-braba, que vive elogiando o atual governo, fere a luta da Igreja contra o pecado e a injustiça. E o mais grave, fere o princípio cristão que afirma que apenas Jesus Cristo merece ser elogiado, justamente porque “todos pecaram e destituídos estão da gloria de Deus” (Romanos 3, 23).

Nenhum comentário:

Postar um comentário