segunda-feira, 7 de abril de 2014

Do que é que meu filho pode brincar?


Por Evelyn Mayer

A foto ao lado gerou a maior polêmica no FaceBook de uma amiga. Ela quis comprá-lo para a sua filhinha de um ano e pouquinho. Houve pessoas que acharam o fim da picada. Teve, também, os que defenderam arduamente. Achei tão interessante o debate que resolvi transformá-lo em artigo, que agora faço.

As feministas, que tanto acreditam terem feito um bem às mulheres, dando-lhes a oportunidade de trabalhar fora, mal sabem quanto mais ocupações colocaram nas costas das mesmas. Se elas vissem este brinquedo certamente quereriam queimá-lo em praça pública, de preferência se a mesma fosse em frente a uma Igreja Católica. Aproveitariam até para levarem cartazes apoiando aborto (porque vc sabe, feminista, quando vai a manifestação, mesmo que seja para reclamar do preço da carne, luta pelo aborto. Impressionante!).Costumo dizer que o dia que eu encontrar a feminista que teve a 'brilhante' ideia de queimar sutiã em praça pública vou encher a cara dela de sopapo. Por causa dela, eu, Evelyn, tenho que ter dezenas de turnos: em casa, no serviço fora de casa, com filhos... E quem é mãe sabe como isso é corrido.

Particularmente, eu a-do-ra-ria ficar em casa mais tempo, sabiam? Nossa, como eu queria ter um serviço meio período pra poder cuidar da casa, do marido, do filho... Mas nos dias de hoje o mercado de trabalho não ajuda nossos maridos. Cada dia mais exigem experiência disso, curso daquilo, e vai afunilando, e o salário é baixo... Infelizmente a gente acaba tendo que sair de casa mesmo. Por isso eu acho interessante a ideia de o marido ajudar a esposa em casa quando a mesma trabalha fora para ajudá-lo financeiramente. Se o casal não agir como uma equipe, em que um ajuda o outro, e por amor, fica difícil ser feliz... Agora, como um marido vai ajudar a mulher se nunca brincou com algo 'próprio' de menina, como 'fazer comidinha'?

A grande questão que me fica é: por que não brincar de casinha (a menina E o menino)? Em miúdos: Será que dar aos filhos um brinquedinho que remeta ao serviço doméstico é formar a criança para um destino "amélico"? Cruel?

Eu não tenho filha ainda. Só tenho um menino. E ele adora me ajudar. Quando me vê com uma vassoura em mãos, corre e diz: "Dá, mãe! Minha vez!". Ele ainda não fez três anos, mas está perto. Muitas mulheres poderiam achar isso um absurdo. Os machistas, então.. me crucificariam. Mas qual o problema? Nesta brincadeira o meu filho está aprendendo que cuidar da casa é algo bom. Se não o fosse, eu, sua mãe, não estaria fazendo. Da mesma forma, quando meu marido vai lavar o carro ou limpar suas ferramentas, ele corre ajudar. Acha um barato. E nessa brincadeira ele vê que é bom o que o pai faz.

A questão é que além de ser uma brincadeira em que as crianças imitam seus pais, referenciais por excelência - ou que deveriam ser - é próprio da mulher os afazeres domésticos, bem como o do homem os outros afazeres. Instigar a criança a 'brincar' com coisas que fará na vida adulta não é, nem nunca será, uma forma de 'atrasá-la' intelectualmente, e sim, prepará-la, formá-la para os outros desempenhos que deverá tomar.

Sendo assim, não vejo problema algum em pais que dão às suas filhas brinquedos que arremetam aos afazeres domésticos, nem aos filhos com serviços próprios dos homens (como oficina, jardinagem...). Aliás, eu, como mãe e professora, sou super a favor que os pais, além de darem brinquedos próprios dos sexos, troquem os brinquedos também. Exemplificando: o filho também precisa saber brincar de boneca. Não vai virar um afeminado por isso. A filha também pode ganhar um carrinho sem com isso crescer masculinizada. Vejo isso como uma preparação para o futuro. Quando adulto, seu filho será pai. E se for menina? Como saberá brincar de boneca com ela se nunca teve a experiência? E a menina? Como vai saber lidar com o carro se na infância o pai nunca lhe deu um?

Eu pretendo ensinar o meu filho não só a brincar com brinquedos 'próprios' de meninas, como também os afazeres domésticos, bem como exigirei que meu esposo o ensine tudo que um homem tem que saber (desde trocar uma lâmpada a fazer uma gambiarra no motor do carro até chegar à oficina). Contudo, vou me esforçar em colocar no coração dele que não seja como muitos casais que ficam disputando quem trabalha mais fora e/ou dentro de casa sob pretexto de não se ajudarem. Quero que ele aprenda tudo para fazer por AMOR, além de ser livre, pois quanto mais aprendemos, mais livres somos.

Penso que as brincadeiras - e os brinquedos - ajudam a quebrar paradigmas e tabus que muitas vezes colocamos. Dar aos meninos brinquedos 'típicos' de meninas, e às meninas, 'típicos' de meninos, é fazer com que ambos aprendam como lidar com o mundo do outro. Dar às crianças brinquedos domésticos e/ou que façam menção a profissões é dar-lhes na infância gosto para possíveis profissões  e ações inatas que exercerão no futuro.

Por fim, eu sou gêmea com um menino. Nós brincávamos de carrinho e de boneca juntos. Não desvirtuamos nossa sexualidade por isso, nem somos retrógrados intelectuais por este motivo. Certamente, quando ele tiver um filha, lembrará quando brincava de bonecas, pois brincar de carrinho na infância foi muito útil para mim quando o meu menininho chegou.


Agora, por favor, com licença. Meu neném tá querendo brincando de trator comigo. Fui!

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