sexta-feira, 25 de abril de 2014

Escatologia e Soteriologia agostinianas – Uma primeira aproximação


Por Sávio Laet

A nossa fé é uma fé pascal! Aos coríntios São Paulo diz: “E se Cristo não ressuscitou, vossa fé é ilusória, ainda viveis em vossos pecados” (I Cor 15, 17). Não há nada de especial em crer que Cristo morreu – exclama Santo Agostinho num Sermão. Isto – continua ele – qualquer homem, judeu, pagão ou não crente acredita sem dificuldade. Antes, a fé divina, a fé cristã consiste em crer que Cristo ressuscitou dos mortos. Esta é a fé que nos faz cristãos, esta é a fé salvífica, dom de Deus. Aos de Roma, diz o Apóstolo: “(...) se creres de coração que Deus o ressuscitou da morte, tu te salvarás” (Rm 10, 9). Ouçamos o Bispo de Hipona:

Não é grande coisa acreditar que Cristo morreu [Non magnum est credere quia mortuus est Christus]; também os pagãos, os judeus e todos os malvados acreditam. Todos acreditam que ele morreu. A fé dos cristãos consiste em crer na ressurreição de Cristo [fides Christianorum, resurrectio Christi est]. Consideramos importante crer que ele ressuscitou.[1]

Contudo, há algo que precisamos entender. A morte e a ressurreição do Senhor não são dois eventos separados. Como se deram no espaço e no tempo – e estamos no espaço e no tempo – eles se apresentam a nós como duas coisas distintas. Mas na realidade não é bem assim. A cruz é a hora em que se manifesta a divindade de Nosso Senhor: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu, Eu sou (...)” (Jo 8, 27). E, de fato, aconteceu. Com efeito, ante o Cristo morto, o centurião romano – seja qual for o alcance desse dito – confessa: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus [Vere homo hic Filius Dei erat]” (Mc 15, 39).

Quando fala da Cruz, Nosso Senhor revela ser ela o momento no qual Ele conquista, aos que creem, a vida eterna: “(...) é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele a vida eterna” (Jo 3, 14). Para o Senhor, a cruz é o instante da glória: “É chegada a hora em que será glorificado o Filho do homem” (Jo 12, 23). De mais a mais, o adorável Redentor disse ter Ele vindo exatamente para este momento: “(...) foi precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12, 27). Tanto é assim que, no instante anterior à sua morte salutífera, exclama “Está consumado!” (Jo 19, 18). Tudo está feito, Sua missão está cumprida! Agostinho, ao deparar-se com estes textos, constata que a vitória está na cruz e exclama: “(...) vencedor e vítima, e, justamente porque vítima, foi vencedor [victor quia vitima= vencedor porque vítima]”[2]. O Catecismo da Igreja Católica celebra: “Regnavit a ligno Deus= Deus reinou do alto do madeiro”[3].

É morrendo que se vive para a vida eterna, dizia São Francisco. “Deus é amor”, diz São João (I Jo 4, 8; I Jo 4, 16). Ora, o Senhor disse aos seus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Se Deus é amor – e Jesus é Deus – e a cruz é a hora em que Ele dá a sua vida por nós, entendemos, então, porque naquele momento a divindade de Cristo se manifesta maximamente. Na cruz, os séculos viram e veem Deus. Na cruz, Deus se apresenta à História. A morte – salário do pecado (Rm 6, 23) – ao tentar tragar Cristo, foi morta por Ele: “Aceitou a morte, e suspendeu-a na cruz, e os mortais foram libertados da morte”[4]. Cristo – “Verbo da Vida” (I Jo 1, 2), a própria Vida (Jo 14, 6; Jo 11, 25) – morrendo, matou a morte: “A vida assumiu pois a morte para matar a morte”[5]. Noutra parte, Santo Agostinho se aproxima do mistério desta forma:

Cristo não é a Vida? Todavia foi suspenso na cruz. Cristo não é a Vida? Todavia morreu. Mas a morte foi morta na morte de Cristo, porque a Vida que foi morta matou a morte. A plenitude da vida absorveu a morte. A morte foi absorvida no corpo de Cristo.[6]

Nós anunciamos Cristo crucificado. Porque?
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
O fato é que, o mesmo Apóstolo que diz – se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé – afirma: “(...) nós, porém, anunciamos Cristo crucificado (...)” (I Cor 1, 23). Por quê? Porque ele via na cruz a vitória do amor – que é doação – e da vida, que só é vida, quando se vive para Deus e para os irmãos. Não foi isso que a Vida Encarnada nos ensinou? Como viveu a Vida entre nós? Doando-se. Desta forma, ela nos ensinou o que é viver: “Ora, ele morreu por todos a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (II Cor 5, 15). Outrossim, o Amor – amando-nos – ensinou-nos o que é amar: “Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12; Jo 15, 17). Na verdade, a compreensão do que é viver e do que é amar mudaram totalmente depois do evento Cristo. A História testemunha a vitória da cruz. E Santo Agostinho, com espanto, reconhece: “Escarnecido na cruz, a mesma (cruz) na qual sofreu insultos está marcada na fronte dos reis (...) [irrisus in cruce, ipsam crucem suam in qua irrisus est iam fixit in frontibus regum]” . Para Constantino, a cruz transformou-se em signo de vitória – “Neste sinal, vencerás [In hoc signo vinces]”. Para os cristãos, ela tornou-se a única esperança: “O crux ave, spes unicaSalve ó cruz, única esperança”. Cumpriu-se, enfim, o que profetizou o próprio Senhor: “(...) e, quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32).

Mas do que Jesus nos salvou e o que Ele nos deu? Sejamos, por um instante, sinceros com nós mesmos. Não é verdade – mesmo de um ponto de vista humano – o dito de São Paulo: “Se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (I Cor 15, 19)? O que mais buscamos senão sermos felizes? Ora, como pode alguém ser feliz, num mundo onde os bens que o apazíguam tendem fatalmente a caducar? Santo Agostinho – ainda recém-convertido – depara-se com esta triste realidade: “(...) todos esses bens sujeitos à mudança podem vir a ser perdidos. Por conseguinte, aquele que os ama e possui não pode ser feliz (...)”[7]. Por outro lado, o que não é perecível, num mundo onde todas as coisas, “(...) no exato momento em que nascem e começam a existir, quanto mais rapidamente crescem para o ser, tanto mais correm para o não ser”[8]? Existe alguma coisa que podemos amar – sem risco de perder – neste século onde todas as coisas "Nascem e morrem"[9]? Há algo que possamos abraçar sem que o percamos, num universo onde todas as coisas, “(...) nascendo, começam a existir e a crescer para chegar à maturidade; porém, uma vez maduras, decaem e morrem”[10]? Como escapar, enfim, a esta lei implacável? A que ou a quem podemos amar sem a certeza de que o perderemos, num orbe onde "Nem tudo envelhece (non omnia senescunt), mas tudo morre (omnia intereunt)"[11]?

E há mais. Na verdade, não só tudo passará, mas nós mesmos passaremos, pois “O homem começa a ser na morte no momento em que começa a ser no corpo”[12]. Esta vida é bela, é lindo viver, mas é vida passageira, “(...) vida que não passa de corrida para a morte (...)”[13]. Santo Agostinho não é pessimista; é realista. Viver é bom, mas esta vida passa, porque ela se apresenta – de forma iniludível – como um constante “(...) tender para a morte”[14]. Neste sentido, até seria mais adequado dizer que “(...) esta vida mortal (...)” mais parece uma “(...) morte vital (...)”[15]. De fato, nela a infância morre para dar lugar à vida adulta e esta para dar lugar ao sênior, e este, por fim, perece também. O Santo Bispo não escondia dos seus o que atestava em seus livros. Num Sermão, afirmou sem pestanejar: “Porque começamos a viver, logo morremos”[16].

Mas será que a morte é o fim? O que nos aguarda no além-túmulo? O nada? O desconhecido? Não assim para Nosso Senhor. Para Cristo, a morte é uma passagem para a verdadeira vida, a vida eterna. Diz Ele por ocasião do episódio de Lázaro: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11, 25-26). O mais interessante nesta passagem, além, é claro, da promessa da vida eterna, é que esta vida começa, aqui e agora, pela fé. Quem crê em Cristo e está vivo, jamais verá a morte. Quem passa pela morte, na verdade, passa da vida perecível à imperecível. Então, é como disse Santa Terezinha: Não morro; entro na vida! Mas como subtrair-se ao mundo que passa, com suas concupiscências, seu orgulho, suas riquezas e honras? Não há outro meio senão pelos sacramentos, a começar pelo Batismo. Afirma São Paulo acerca do Batismo: “Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 4). Antes de São Paulo, o próprio Senhor – em seu discurso eucarístico – afirma: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6, 51). Um pouco mais adiante, ratifica: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna (...)” (Jo 6, 54). Nosso Senhor diz: tem a vida eterna.

Mas é preciso entender como Nosso Senhor via a morte. Seria demasiado longo arrolar todas as passagens em que Ele próprio diz que a morte é uma passagem desta vida para o Pai. Basta-nos citar a principal delas. Por ocasião do lava-pés, o Evangelista afirma algo digno de nota: “Antes da festa da Páscoa (Πάσχα= Páskha), sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar (μεταβῇ= metab) deste mundo para o Pai (...)” (Jo 13, 1). A morte é, pois, uma passagem. Uma passagem da transitoriedade deste mundo à vida imarcescível. A Páscoa é, portanto, precisamente este trânsito, e este trânsito dá-se justamente na Paixão de Cristo. Morte e ressurreição, eis indissociavelmente a Páscoa: “(...) Paixão e Ressurreição do Senhor, que é a verdadeira Páscoa (...)”[17]. Donde Santo Agostinho – valendo-se dos recursos semânticos de que dispunha em seu tempo – fazer uma síntese teológica perfeita:

Irmãos, a palavra Páscoa não é, como alguns julgam, uma palavra grega, mas hebraica. Todavia, deu-se no emprego desta palavra uma coincidência extraordinariamente oportuna das duas línguas. Em grego, o verbo πάσχειν significa sofrer, pelo que Páscoa foi interpretada no sentido de Paixão, como se a palavra Páscoa tivesse origem na palavra “Paixão”. Na língua hebraica Páscoa significa trânsito.[18]

Escutai ainda o mistério desta palavra. Segundo a língua grega, páskha parece significar a paixão; πάσχειν (páskhein) se traduz, de fato, por sofrer; de acordo, porém, com a língua hebraica, páskha se traduz por passagem. Com efeito, se interrogares com insistência os gregos, negam que páskha seja termo grego. Soa, de fato, πάσχειν (páskhein), isto é, sofrer, mas não se costuma deste modo se pronunciar; pois paixão em grego é πάθος (páthos). Portanto, páskha, conforme afirmam os que sabem, e que traduziram para que lêssemos, é passagem. Efetivamente, estando por acontecer a paixão do Senhor, o evangelista usa a própria palavra: “Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai” (Jo 13, 1).[19]

Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele
que desceu do céu, o Filho do Homem.
Para sermos mais exatos, a Páscoa é Cristo. Daí dizer São Paulo: “Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolado” (I Cor 5, 7). Com efeito, Cristo é a nossa Páscoa, porquanto Ele é o único Caminho (Jo 14, 6) da nossa passagem. De Cristo, diz o Doutor de Hipona: “(...) Aquele que se fez, a si mesmo, o nosso Caminho para o Céu”[20]. Destarte, não há duas Páscoas, uma vez que “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem” (Jo 3, 13). Ele próprio no-lo afirma: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6). Assim sendo, ou se passa com Cristo para o Pai ou se passa com o mundo que passa. Urge, pois, unir-se a Cristo e à Sua cruz. Exorta Santo Agostinho em duas passagens que se tornaram clássicas:

Ninguém pode passar através do mar do mundo, se não for transportado na cruz de Cristo. Por vezes até quem sofre dos olhos abraça esta cruz. Quem não pode ver ao longe a pátria para onde vai, nunca se afaste da cruz; ela por si mesma o conduzirá.[21]

Transitemos pois para Deus que é imutável, não suceda que transitemos com o mundo que é transitório. (...) Eis a Páscoa. Donde, e para onde? Desse mundo para o Pai. Na cabeça foi dada aos membros uma esperança, porque, transitando a cabeça, sem dúvida hão-de segui-la os membros. (...) Mas uma coisa é transitar do mundo, e outra é transitar com o mundo. Uma coisa é transitar para o Pai, e outra é transitar para o inimigo.[22]

Mister, outrossim, é entender que este trânsito não se dá tão somente na hora da morte, embora culmine nela. Esta passagem é a caminhada de uma vida inteira e é um evento eclesial, porque a nossa páscoa – conforme já dissemos – não é senão uma participação na Páscoa de Cristo, à qual começamos a nos associar pelo Batismo: “Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por ressurreição semelhante à sua (...)” (Rm 6, 5). E ainda: “Mas se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com ele (...)” (Rm 6, 19).

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue,
permanece em mim e Eu nele.
O que nos é proposto, pois, é viver a vida ressuscitada de Cristo já este mundo, ainda que de modo incoativo. Este começo se dá pelo Batismo e aprofunda-se pela Eucaristia. Nosso Senhor é claro: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta, viverá por mim” (Jo 6, 56 e 57). Não há vida fora de Cristo e é preponderantemente pelos sacramentos que prouve a Cristo fazer passar a circular em nós a vida divina. A propósito da Eucaristia, não falamos da “santa ceia” de algumas confissões. O que nos torna partícipes da vida trinitária é aquele sacramento no qual Cristo não somente é sacerdote, senão sacerdote e vítima. Daí Santo Agostinho, quando fala da Eucaristia, não usar de meias palavras para dizer: “Cristo era levado em suas próprias mãos, quando, ao entregar seu próprio corpo, disse: ‘Isto é o meu corpo (Mt 26, 36). Aquele corpo era sustentado em suas mãos”[23]. E ainda: “Ele se carregava, de certo modo, ao dizer: ‘Isto é o meu corpo’ (...)”[24].  O que significa isso? Responde o mesmo Santo Bispo: “(...) o próprio Sacerdote fez-se sacrifício”[25]. Noutro lugar, afirma igualmente: “(...) ele foi sacerdote e sacrifício, e justamente sacerdote enquanto sacrifício”[26].

Sendo assim, é pelos sacramentos que nos tornamos membros da Cabeça que é Cristo e passamos a participar da Sua vida ressurreta. Comentando o Salmo 140 que, na tradução que tinha em mãos, tinha um versículo que dizia “Quanto a mim, estou sozinho até que passe”, Santo Agostinho – atribuindo esta frase a Cristo – afirma que, Cristo estava só apenas até abrir às portas do Céu pela Sua paixão. Doravante – enquanto Cabeça – confessa que muitos membros o seguirão em Seu triunfo sobre a morte: “Depois da páscoa já não estarei mais sozinho, depois da passagem não estarei mais isolado. Muitos me imitarão, muitos me seguirão”[27]. Noutro lugar, o Santo Doutor lembra a mesma verdade:

Pela paixão, no entanto, o Senhor passou da morte à vida; e abriu-nos um caminho para acreditarmos em sua ressurreição e passarmos também nós da morte à vida.[28]

É certo que, se prevalentemente realizamos a nossa passagem do mundo para o Pai unindo-nos a Cristo pelos sacramentos, isto se dá também pela prática das virtudes, pela ruptura com o pecado e pelas obras de misericórdia. Por exemplo – da virtude infusa da fé – Cristo diz: “(...) aquele que crê tem a vida eterna” (Jo 6, 47). Desta feita, Santo Agostinho pôde dizer também: “Presentemente, nós realizamos esta passagem por meio da fé, que nos obtém o perdão dos pecados e a esperança da vida eterna, se amamos a Deus e ao próximo”[29].

Do quanto dissemos, que podemos dizer ainda acerca da felicidade? Se não se pode ser feliz apegando-se às coisas passageiras, posto que – quando as conquistamos – já sabemos que vamos perdê-las, qual bem poderá nos fazer felizes senão Aquele que – sendo o Sumo Bem – não passa e não permite que passemos também nós? Sim – responde Agostinho – “(...) O nosso Deus, que não passa (...)”[30], eis a quem podemos e devemos amar sem perigo algum de perder. Por isso – conclui – só “(...) quem possui a Deus é feliz”[31], pois Ele somente é "(...) aquele que nunca perdemos (qui non amittitur)"[32]. Terminamos com uma das belas passagens das Confissões, onde Santo Agostinho celebra a Encarnação do divino Redentor – nosso bem incomutável –, pois Cristo iniciou a nos salvar quando se fez um de nós. A salvação consumou-se na morte e ressurreição, mas começou na Encarnação:

Desceu até nós a nossa vida, a vida verdadeira; tomou sobre si a nossa morte para matá-la com a superabundância de sua própria vida. E com voz de trovão chamou para que voltássemos a ele, ao lugar inacessível de onde veio até nós, entrando primeiro no seio da Virgem para unir-se à natureza humana, à carne mortal, para torná-la imortal; e de lá “como o esposo que sai da câmara nupcial, exulta, como um herói, para percorrer o caminho”. Não se deteve, mas correu, clamando com palavras, com obras, com a própria morte, com a vida, com a descida aos infernos, com a ascensão, para que retornássemos a ele: para isso havia descido, e para isso tornou a subir e desapareceu da nossa vista para que entremos no coração e aí o encontremos.[33]




[1] AGOSTINHO. Comentário aos Salmos. Trad. Monjas Beneditinas. Rev. Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1998. v. III. 120, 6. p. 558. 
[2] AGOSTINHO. Confissões. 2ª ed. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. Rev. Antônio da Silveira Mendonça. São Paulo: Paulus, 1997. X, 43, 69. p. 325.
[3] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. # 550. p. 155.
[4] AGOSTINHO. Comentário do Evangelho de São João: O Verbo de Deus. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1954. v. I. XII, 11. p. 322.
[5] AGOSTINHO. Comentário do Evangelho de São João: Médico e Alimento. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1954. v. II. XXVI, 10. p. 248.
[6] Idem. Comentário do Evangelho de São João: O Verbo de Deus. XII, 11.  p. 323. 
[7] AGOSTINHO. A Vida Feliz. Trad. Nair de Assis Oliveira. Rev. H. Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1998. II, 11. p. 130.
[8] AGOSTINHO. Confissões. IV, 10, 15. p. 101.
[9] Idem. Ibidem
[10] Idem. Ibidem.
[11] Idem. Ibidem.
[12] AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Trad. Oscar Paes Leme. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. v. II.  XIII, 10. p. 104.
[13] Idem. Ibidem. XIII, X. p. 105.
[14] Idem. Ibidem.
[15] Idem. Confissões. I, 6, 7. p. 24.
[16] AGOSTINHO. Comentário de São João: A Ceia do Senhor. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica Coimbra, 1952. v. IV. LXXV, 3. p. 147. 
[17] AGOSTINHO. A Instrução dos Catecúmenos. 2ª ed. Trad. Maria da Glória Novak. Rio de Janeiro: Petrópolis, 2005.  II, XXIII, 41. p. 104.
[18] AGOSTINHO. Comentário de São João: A Ceia do Senhor. LV, 1. pp. 7 e 8. (Quanto à transliteração do termo grego, optamos por seguir o original latino).
[19] Idem. Comentário aos Salmos. 140, 25. p. 942. (Quanto à grafia seguimos o original latino e, na transliteração, preferimos deixar o χ por “kh”, conforme a regra de transliteração adotada pela maioria dos eruditos). De fato, como citamos acima, em João 13/1, o Evangelista usa o termo Πάσχα (Páskha) relacionando-o com o termo μεταβῇ (metab). 
[20] Idem. Ibidem. II, XXII, 40. p. 103.
[21] Idem. Comentário de São João: O Verbo de Deus. II, 2. p. 38.
[22] Idem. Comentário de São João: A Ceia do Senhor. LV, 1. pp. 8 e 9. 
[23] AGOSTINHO. Comentário aos Salmos. 2ª ed. Trad. Monjas Beneditinas. São Paulo: Paulus, 2005. v. I. 33, I, 10. p. 431.
[24] Idem. Ibidem. 33, II, 2. p. 434.
[25] AGOSTINHO. Comentário de São João: Luz, Pastor e Vida. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1960. v. III. XLI, 5. p. 146.
[26] Idem. Confissões. X, 43, 69. p. 325.
[27] Idem. Comentário aos Salmos. 140, 25. p. 942.
[28] Idem. Ibidem. 126, 6. p. 558. 
[29] AGOSTINO. Lettera 55. 2, 3. Disponível em: < http://www.augustinus.it/italiano/lettere/lettera_055_testo.htm>. Acesso em: 21/04/2014. (A tradução é nossa).
[30] Idem. Confissões. IV, 11, 17. p. 103.
[31] Idem. De Beata Vita. II, 11. p. 131.
[32] Idem. Confissões. IV, 9, 14. p. 100.
[33] Idem. Ibidem. IV, 12, 19. p. 104.

Nenhum comentário:

Postar um comentário