Introdução
É fato que o homem seja capaz de chegar ao
conhecimento de Deus através da simples razão natural. O espírito humano é de
tal feitio que, após grande esforço e diligência, consegue investigar por si
mesmo e chegar ao conhecimento de certas verdade relativas a Deus. Nunca,
porém, poderia conhecer e distinguir, só com a luz natural, a maior parte das
verdades ou mistérios ligados a Ele, pois excedem a inteligência humana.
Sabemos pelo catecismo que os principais
mistérios da fé, são a Santíssima Trindade, a Encarnação e a Redenção. E que
eles chegam ao nosso conhecimento pela luz da fé, que por sinal, é mais elevado
e incomparável, daquele conhecimento que temos de Deus pela simples razão
natural. Vale lembrar, ainda, que dentre eles, o da Santíssima Trindade é o
maior, o mais impenetrável, o mais adorável; e que os demais lha são
subordinados. O mistério da Santíssima Trindade consiste em existir um só Deus
presente em três Pessoas.
Desenvolvimento
Vimos que o homem é capaz Deus através da
simples razão natural, mas que isso não é o suficiente. Afinal, existe outras
formas de conhece-lo. Na verdade, existem três graus de conhecimento que o
homem pode ter de seu criador, isto é, de Deus. O primeiro, é o conhecimento natural,
que lhe é dado pela luz da razão. O segundo, é conhecimento sobrenatural,
que ele recebe pela luz da fé. O terceiro, é a visão beatífica, que ele
recebe pela luz da glória.
Estes graus bem se assemelham aos diversos
modos com que nossos sentidos se aplicam ao conhecimento de um objeto sensível.
Chegamos ao conhecimento de um objeto material ou pelo tato, quando o
apalpamos; ou pelo ouvido, quando escutamos sua descrição por outrem; ou pela
visão, quando o vemos. Oras, esses três modos se encaixam perfeitamente aos
três graus de conhecimento de Deus que vimos acima:
a) A razão natural procura de certo modo
tocar a Deus, que está além de sua visão.
É como ter os olhos vendados e assim extrair informações apenas com o
tato, meio que as apalpadelas.
É o que diz São Paulo: “Que busquem a
Deus como que às apalpadelas.” (Atos XVII, 27). E mais, “As perfeições
invisíveis de Deus, como ensina o Apóstolo, se conhecem, desde a criação do
mundo, através das obras que foram criadas, assim como seu poder sempiterno e
Sua divindade.” [1]
São Paulo, com isso, deseja pintar como
que em um quadro a representação dos pobres pagãos, que às apalpadelas, como
cegos e tendo os olhos vendados, buscam atravessar a natureza procurando tocar
em Deus. Para isso, lhes mostra o meio
de O encontrar - Ele não esta longe, diz ele, pois vivemos, nos movemos e
existimos por ele. Entrem em si mesmos e O encontrarão, Ele que é o Pai de toda
a vida.
Quando apalpamos um objeto nos convencemos
da existência desse objeto; em seguida medimos aproximadamente suas dimensões e
dele extraímos informações. Dessa forma semelhante se da pela razão natural,
que apalpa Deus, estando em condições de
demonstrar sua existência. Ela chega até a alcançar algo de sua imensidade, de
sua eternidade, de seu poder infinito. Eis até onde puderam ir – segundo São
Paulo - os filósofos da antiguidade, pela investigação racional.( Rom I ,20)
b) Apesar de toda investigação
racional(que não é desprezada), é bom salientar, que para o Católico, este
estágio não pode o satisfazer. Afinal, somos chamados a ir além, subir o mais
alto e aprofundar sua busca pelo conhecimento sobrenatural. Trata-se do
conhecimento pela luz da fé, semelhante à que nos vem pelo sentido da
audição:”Fidex ex auditu”. É isso que atesta São Paulo quando ensina
que “a fé nos vem do ouvir”[2], ou seja, quando ouvimos a palavra de
Cristo, “audito autem per verbum Christi”. Ela nos traz um conhecimento mais íntimo de
Deus, na medida em que a palavra santa nos revela as maravilhas escondidas na
Sua essência, na medida em que ela nos inicia nos segredos dessa natureza
criadora, onde através dela aprendemos a adorar a Trindade.
Temos ainda, é verdade, um certa
dificuldade nos olhos, mas em vez de caminharmos às apalpadelas, agora, ouvimos
deslumbrados sua descrição, pelo menos até onde a nossa limitada inteligência,
presa as imagens terrestres, é capaz de penetrar. Em vez de nos esforçamos
sozinhos, Deus vem até nós e revela seus desígnios para que alcancemos nosso
fim último, e, que por sinal, jamais poderíamos entender ou alcançar sem
auxilio do próprio Deus.
c) Mas, ainda virá um dia em que a venda
será tirada de nossos olhos. Uma luz, chamada luz da glória, virá fortificar,
elevar, dilatar nossa inteligencia. Então, veremos Deus. Sim, diz São João, nós
o veremos como Ele é. “Videbimus eum sicuti est”( I Jo III, 2); Sim, diz São
Paulo, nós o veremos face a face. “Videbimus facie ad faciem” ( I Cor XIII,12).
O conheceremos como ele nos conhece.
É bom lembrar que este conhecimento
beatífico, tão grande, tão glorioso, está em germe no conhecimento que temos
pela fé, pois a fé, é um começo de possessão da verdade total que é o próprio
Deus. A fé, muita das vezes, pode até parecer obscura, visto que os mistérios
que ela propõe estão acima da capacidade da razão, no estado da vida atual.
Mas, ela é luminosa, pois esses mistérios, escondidos a nossos olhos pela
excessiva luz, iluminam com seus lampejos maravilhosos as coisas temporais e as
eternas.
Logo, não se deve considerar os mistérios
como pontos obscuros que atrapalhariam o olha de nossa inteligencia. Na verdade
são astros explodindo de luz e que se escondem de nós nessa própria luz, porém,
o reflexo nos revela todo um oceano de verdades escondidas aos sábios deste
mundo e reveladas aos humildes e aos pequenos.
Um dos mais luminosos desses astros é, sem
dúvida, o mistério da Santíssima Trindade. Tratar de tal mistério é sempre um
trabalho árduo para qualquer teólogo. Sendo, pois, doutrina revelada por Deus,
foi este mistério objeto de estudo durante toda a Cristandade. Dentre os Padres
da Igreja, veremos Santo Agostinho publicar um longo e rico tratado sobre o
principal dogma da fé católica. São Tomas de Aquino, por sua vez, levará o
estudo deste mistério às mais altas considerações do espírito humano, em sua
Suma Teológica. Espero, com o auxilio da Mãe, mestra e peregrina – a Igreja
Católica; colaborar no estudo e compreensão mesmo que limitado de tão profundo
mistério.
1) Rm 1,20;
2) Rm 10,14-15;
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