Por Ian Farias
À pergunta antropológica O que é o homem? diversos
pensadores conseguiram albergar alguma característica, embora nem toda a
característica fosse bem colocada. Tivemos desde a visão de homem econômico,
com Marx, passando pelo homem instintivo com Freud, o homem angustiado com
Kierkegaard, homem utópico com Bloch, homem existente com Heidegger, homem
cultural com Gehlen e homem religioso com Luckmann, apenas alguns dos
principais conceitos aqui citados. Mas ainda assim, após tantas investigações,
podemos observar a lacuna que parece nunca ceder completar-se com tais
interpretações. O homem é apenas fruto de um capitalismo exacerbado, que visa o
lucro antes de toda a dignidade humana e que tende a fazer com que este mesmo
torne-se um servo dos prazeres do dinheiro? Ou poderíamos dizer que o homem é apenas
um ser cultural, ainda que seja realmente difícil acreditar que tenhamos algum
valor cultural com essa mentalidade de sociedade? Poderíamos dizer que o homem
é constituído apenas de sua religiosidade, ainda que para os fanáticos isso
seja aparentemente possível? Ou ainda será o homem apenas um ser angustiado,
ainda que a depressão seja tida como a doença do século, embora a angústia que
Kierkegaard expressa seja uma angústia da sede de buscar e não de um vazio
subjetivo? Ou será que o homem é um sujeito sempre desejante em busca de um
objeto de desejo e que sempre carregará consigo uma falta? Todos esses
pensamentos são válidos a partir do ponto de vista e do modo como associamos o
homem a cada uma dessas indagações.
O questionamento antropológico sempre esteve no cerne
das discussões religiosas, econômicas, políticas, culturais, há sempre um foco:
o homem. No entanto, cabe-nos ir além e perguntarmos se há uma saciedade já
neste mundo mediante tantas características para se afirmar o valor do homem.
Onde está então o valor do homem (e falemos aqui não apenas de uma perspectiva
religiosa, mas também antropológica)? A constituição da pessoa humana, corpo e
alma, são realmente basilares em se tratando do constitutivo da pessoa?
Sim, o homem tem sede de transcendência! Mesmo aqueles
que não acreditam na salvação podem pressupor que há uma metafísica a ser revelada e que por enquanto nos
parece oculta. Hoje, ao escutar a primeira leitura, ainda que com um pouco de
sono, coloquei-me a meditar nas palavras de São Paulo aos areopagitas: “Homens
atenienses, em tudo eu vejo que vós sois extremamente religiosos. Com
efeito, passando e observando os vossos lugares de culto, encontrei também um
altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’” (At 17, 22-23). Imediatamente
recordei-me daqueles que ainda hoje não conhecem a Cristo por não terem chegado
a eles a Boa Nova do Reino; mas recordei-me daqueles que conhecem a Cristo, mas
o ignoram. E quantos hoje continuam como os gregos a edificarem o altar a um
deus, mas nele cultuam outra coisa ou cultuam ao nada?
Diz-nos o provérbio antigo: In nihil ab nihilo quam cito
recidimus – No nada, do nada, quão cedo recaímos. A falta de
esperança e o vazio existencial têm sido um dos grandes problemas dos homens
hodiernos. O que procura quem nada tem no horizonte? Nas “Atenas” da vida
defrontamo-nos com uma realidade pior que a dos atenienses. Se eles adoravam a
um deus desconhecido hoje adora-se aos deuses do dinheiro, do poder, do
hedonismo, mas esquece-se do verdadeiro Deus, capaz de responder a todos os
anseios dos homens, doador da verdadeira felicidade.
Como poderemos exaltar os valores culturais do homem
quando vemos despontar um cenário de horror, que já não mais valoriza essa
expressão particular de um povo, mas que deturpa e impõe pensamentos que
desfavorecem a educação? Como podemos falar dos valores econômicos se o homem
transformou-se em um escravo, capaz de submeter-se ao poderio do dinheiro? Como
poderemos falar de existência se grande parte da sociedade perdeu por completo
o sentido do por que vivo? Hoje aquilo que seria um a quem buscamos
transformou-se em o que buscamos. Não buscamos alguém, buscamos
alguma coisa.
“Ex nihilo nihil fit
– Do nada, nada provém”. Este princípio metafísico dito outrora pelos gregos
manifesta que em tudo houve um princípio e haverá um fim. Só Deus, que está
além do tempo, não teve início e não terá fim, mas toda criatura Sua há de
findar-se um dia. Nossa vida não está pautada no aquém do mundo, mas tem a sua
fonte revigoradora em Deus. Também não está pautada nos detalhes, embora estes
possam colaborar com uma melhor vivência da centralidade da fé. Tenho percebido
que muitas brigas formaram-se nos últimos anos sobre alguns aspectos do melhor
modo de vivermos a liturgia. Creio eu que tudo o que o Santo Padre tem feito
pela Liturgia não está sendo em vão, mas busca nos levar a uma melhor vivência
do mistério celebrado. Devemos, no entanto, recordar-nos que a Liturgia gira em
prol de Cristo, e só n’Ele está o sentido verdadeiro do que se celebra.
Portanto, caros Padres, se vocês celebrarem corretamente a Missa (como nos pede
a Santa Igreja) pode-se evitar certos conflitos e
certas discussões sobre os aspectos litúrgicos e assim poderíamos
testemunhar mais e brigar menos.
Voltando, porém, a questão moral, vou instigar o
governo a pensar um pouco: Senhores políticos, não seria mais fácil evitarmos a
divulgação promíscua dos anticoncepcionais como uma das formas de diminuir a
prostituição? Quanto mais camisinhas e pílulas mais prostituição e
promiscuidade. Por que ao invés de estimular o uso desses métodos não se
estimula a valorização da castidade? Será que vocês não se envergonham de
lucrarem em cima da dignidade humana? Será que os políticos perderam tanto os
seus valores? Aliás, só pode se perder aquilo que se teve. Creio que os gastos
com a divulgação da vivência da castidade seriam muito menores do que os
investimentos na área dos anticoncepcionais e a verba destinada para esse fim
poderia ser enviada à saúde, à educação ou até mesmo às urgentes necessidades,
como a seca que agora tem devastado o Nordeste.
O povo não é animal para fazer sexo instintivo. Todos
são racionais e sabem que a sacralidade do sexo é tão grande que ele só deveria
ser usufruído no casamento. Quem quer usufruir de tudo acaba de nada usufruindo
bem. Por isso, ainda hoje vale o conselho de São Paulo: Examinai tudo, guardai o que
for bom (1 Ts 5, 21).
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