quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Quem é o homem?

Por Ian Farias

À pergunta antropológica O que é o homem? diversos pensadores conseguiram albergar alguma característica, embora nem toda a característica fosse bem colocada. Tivemos desde a visão de homem econômico, com Marx, passando pelo homem instintivo com Freud, o homem angustiado com Kierkegaard, homem utópico com Bloch, homem existente com Heidegger, homem cultural com Gehlen e homem religioso com Luckmann, apenas alguns dos principais conceitos aqui citados. Mas ainda assim, após tantas investigações, podemos observar a lacuna que parece nunca ceder completar-se com tais interpretações. O homem é apenas fruto de um capitalismo exacerbado, que visa o lucro antes de toda a dignidade humana e que tende a fazer com que este mesmo torne-se um servo dos prazeres do dinheiro? Ou poderíamos dizer que o homem é apenas um ser cultural, ainda que seja realmente difícil acreditar que tenhamos algum valor cultural com essa mentalidade de sociedade? Poderíamos dizer que o homem é constituído apenas de sua religiosidade, ainda que para os fanáticos isso seja aparentemente possível? Ou ainda será o homem apenas um ser angustiado, ainda que a depressão seja tida como a doença do século, embora a angústia que Kierkegaard expressa seja uma angústia da sede de buscar e não de um vazio subjetivo? Ou será que o homem é um sujeito sempre desejante em busca de um objeto de desejo e que sempre carregará consigo uma falta? Todos esses pensamentos são válidos a partir do ponto de vista e do modo como associamos o homem a cada uma dessas indagações.

O questionamento antropológico sempre esteve no cerne das discussões religiosas, econômicas, políticas, culturais, há sempre um foco: o homem. No entanto, cabe-nos ir além e perguntarmos se há uma saciedade já neste mundo mediante tantas características para se afirmar o valor do homem. Onde está então o valor do homem (e falemos aqui não apenas de uma perspectiva religiosa, mas também antropológica)? A constituição da pessoa humana, corpo e alma, são realmente basilares em se tratando do constitutivo da pessoa?

Sim, o homem tem sede de transcendência! Mesmo aqueles que não acreditam na salvação podem pressupor que há uma metafísica a ser revelada e que por enquanto nos parece oculta. Hoje, ao escutar a primeira leitura, ainda que com um pouco de sono, coloquei-me a meditar nas palavras de São Paulo aos areopagitas: “Homens atenienses, em tudo eu vejo que vós sois extremamente religiosos. Com efeito, passando e observando os vossos lugares de culto, encontrei também um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’” (At 17, 22-23). Imediatamente recordei-me daqueles que ainda hoje não conhecem a Cristo por não terem chegado a eles a Boa Nova do Reino; mas recordei-me daqueles que conhecem a Cristo, mas o ignoram. E quantos hoje continuam como os gregos a edificarem o altar a um deus, mas nele cultuam outra coisa ou cultuam ao nada?

Diz-nos o provérbio antigo: In nihil ab nihilo quam cito recidimus – No nada, do nada, quão cedo recaímos. A falta de esperança e o vazio existencial têm sido um dos grandes problemas dos homens hodiernos. O que procura quem nada tem no horizonte? Nas “Atenas” da vida defrontamo-nos com uma realidade pior que a dos atenienses. Se eles adoravam a um deus desconhecido hoje adora-se aos deuses do dinheiro, do poder, do hedonismo, mas esquece-se do verdadeiro Deus, capaz de responder a todos os anseios dos homens, doador da verdadeira felicidade.

Como poderemos exaltar os valores culturais do homem quando vemos despontar um cenário de horror, que já não mais valoriza essa expressão particular de um povo, mas que deturpa e impõe pensamentos que desfavorecem a educação? Como podemos falar dos valores econômicos se o homem transformou-se em um escravo, capaz de submeter-se ao poderio do dinheiro? Como poderemos falar de existência se grande parte da sociedade perdeu por completo o sentido do por que vivo? Hoje aquilo que seria um a quem buscamos transformou-se em o que buscamos. Não buscamos alguém, buscamos alguma coisa.

Ex nihilo nihil fit – Do nada, nada provém”. Este princípio metafísico dito outrora pelos gregos manifesta que em tudo houve um princípio e haverá um fim. Só Deus, que está além do tempo, não teve início e não terá fim, mas toda criatura Sua há de findar-se um dia. Nossa vida não está pautada no aquém do mundo, mas tem a sua fonte revigoradora em Deus. Também não está pautada nos detalhes, embora estes possam colaborar com uma melhor vivência da centralidade da fé. Tenho percebido que muitas brigas formaram-se nos últimos anos sobre alguns aspectos do melhor modo de vivermos a liturgia. Creio eu que tudo o que o Santo Padre tem feito pela Liturgia não está sendo em vão, mas busca nos levar a uma melhor vivência do mistério celebrado. Devemos, no entanto, recordar-nos que a Liturgia gira em prol de Cristo, e só n’Ele está o sentido verdadeiro do que se celebra. Portanto, caros Padres, se vocês celebrarem corretamente a Missa (como nos pede a Santa Igreja) pode-se evitar certos conflitos e certas discussões sobre os aspectos litúrgicos e assim poderíamos testemunhar mais e brigar menos.

Voltando, porém, a questão moral, vou instigar o governo a pensar um pouco: Senhores políticos, não seria mais fácil evitarmos a divulgação promíscua dos anticoncepcionais como uma das formas de diminuir a prostituição? Quanto mais camisinhas e pílulas mais prostituição e promiscuidade. Por que ao invés de estimular o uso desses métodos não se estimula a valorização da castidade? Será que vocês não se envergonham de lucrarem em cima da dignidade humana? Será que os políticos perderam tanto os seus valores? Aliás, só pode se perder aquilo que se teve. Creio que os gastos com a divulgação da vivência da castidade seriam muito menores do que os investimentos na área dos anticoncepcionais e a verba destinada para esse fim poderia ser enviada à saúde, à educação ou até mesmo às urgentes necessidades, como a seca que agora tem devastado o Nordeste.


O povo não é animal para fazer sexo instintivo. Todos são racionais e sabem que a sacralidade do sexo é tão grande que ele só deveria ser usufruído no casamento. Quem quer usufruir de tudo acaba de nada usufruindo bem. Por isso, ainda hoje vale o conselho de São Paulo: Examinai tudo, guardai o que for bom (1 Ts 5, 21).

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