O filósofo espanhol Ortega y Gasset, 82 anos atrás,
discerniu um fenômeno então novo: o culto à ignorância, que levou ao poder o
fascismo e o comunismo, unidos no ódio à tradição e no culto ao vigor da
juventude.
De lá para cá, este culto prosperou a olhos vistos:
as emoções irrefletidas tornaram-se a base de todo juízo, e “irreverente”
passou a ser um elogio. O sentido do casamento foi esquecido e substituído pela
fixação no prazer sexual. O de justiça pela vingança, o de belo pelo de
vendável, a religião por uma vaga sensação de bem-estar. Até mesmo a norma
culta da língua deu lugar a uma relativização paternalista, em que tudo é
“certo” porque alguém, em algum lugar, fala assim quando bebe um pouco demais.
Ao mesmo tempo, alguns grupos econômicos
poderosíssimos aproveitam o vazio de homens e ideias para atacar ainda mais a
ordem social. A mesma Fundação Ford, por exemplo, que tanto ajudou a campanha
do Obama (o mesmo que agora comprou uma guerra com a Igreja ao exigir que os
planos de saúde cubram o aborto), aqui no Brasil distribui dinheiro a mancheias
para financiar as ONGs que militem contra a visibilidade da religião e a favor
do aborto, da equiparação da união homossexual ao casamento, da legalização das
drogas etc.
Com o discurso público reduzido a apelos
emocionais e os dólares comprando consciências, o que se tem é a autodestruição
da sociedade, de cima para baixo. Os governantes, de mantenedores da ordem,
viraram paus-mandados de interesses estrangeiros, surfando nas emoções do eleitorado
e aproveitando o emocionalismo reinante para fazer exatamente o oposto daquilo
que a maioria da população gostaria que fosse feito. A mídia, dependente legal
e financeiramente do governo (quantos milhões as emissoras de tevê ganham por
dia para exibir comerciais estatais?), repete o mesmo discurso emocional,
ajudando a esgarçar ainda mais o tecido social.
Alguma ordem persiste, mas apesar do governo, não
por causa dele. Não fosse o saudável hábito brasileiro de guiar os atos pelos
costumes, não pela lei, o país inteiro estaria mergulhado em convulsões sociais
gravíssimas.
Como, contudo, o governo no Brasil é um domínio
separado da realidade cotidiana, um castelo no ar que só entra em contato com o
povo pelos impostos que cobra e serviços que não fornece, a destruição real não
corresponde à desejada. Ainda há alguma ordem, e é ela que é preciso preservar
para que nossos filhos possam viver em paz. De Brasília, nada de bom há de
sair.
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