Por Evelyn Mayer.
Reza a história que um dia um
dos discípulos de São Francisco
pediu para ir até a aldeia com
o nobre santo para evangelizar.
Preparou-se no dia anterior com
jejuns e orações.
Ao chegarem na aldeia, ficou
aguardando o momento
em que iriam evangelizar.
Porém, não disseram nada; apenas caminharam
diante dos aldeiantes. Injuriado,
o discípulo perguntou por que não
haviam dito coisa alguma. Não
esperava tal resposta:
"Devemos falar só quando
for necessário. Antes, evangelizemos
com o nosso testemunho, pois é
este quem arrasta".
Dias desses uma amiga me disse que não
ligava muito para o que as pessoas pensavam sobre ela. "Ah, dane-se sobre
o que pensam ou deixam de pensar sobre mim. O que importa é o que eu penso
sobre mim mesma". A princípio parece autoconfiança, mas depois
nota-se que nada mais é que um orgulho tremendo, além de autosuficiência. Temos
consciência suficiente para sabermos que não nos conhecemos plenamente. Então
por que agirmos desta forma quando alguém diz o que pensa sobre nós?
Não preciso dizer que todos nós temos
o desejo de esconder o que somos até de nós mesmos. Tentamos, inclusive,
esconder até de Deus, mas como Ele tudo sonda (Cf. Sal 138), de nada adiante
nosso vão esforço.
Se você for sincero consigo, saberá
que todos sempre procuram uma máscara para vestir. Ninguém, por mais que se esforce,
é 100% autêntico. Todos sobre a face da Terra tem vergonha de algo, não quer
que alguém saiba disso ou aquilo, e então se maquia, veste a máscara que bem
quiser e posa de bom-moço, boa-praça...
É natural que façamos isso. A
decorrência deste fato nasce do nosso pecado. Quando lemos nos primeiros
capítulos de Gênesis vemos que, ao pecarem, Adão e Eva cobriram-se, pois
viram-se nus. Essa nudez não é apenas corporal, mas sobretudo de espírito. Eles
viram o que realmente eram. Eles perceberam que eram pó. O ato de cobrirem-se
não foi por humildade, e sim, vergonha. Sentiram-se descobertos, ou seja, foram
revelados sem que tivessem permitido (é verdade que desejaram livremente o
fruto proibido, porém quando digo "sem que tivessem permitido", quero
dizer que não haviam autorizado tal revelação, já que não haviam pensado nesta
hipótese).
A partir de Adão e Eva continuamos a
repetir este "cobrir-se", "mascarar-se". Prosseguimos
imitando-os com a diferença de que sabemos o que pode ocorrer caso
"comamos do fruto proibido".
Como continuamos nos mascarando,
queremos crer na pessoa que vemos em nossa imaginação e não a que vemos no
espelho. Logo, é natural que o que os outros pensam a nosso respeito
não nos interessa, porque eles veem o que somos e não o que gostaríamos
que vissem. Um exemplo disso é quando alguém chega e diz em nossa cara tudo o
que passamos a vida inteira escondendo. A primeira coisa que fazemos, movidos
pela ira, é negar. Negamos até o último instante. Contudo, lá no fundo, o que
verdadeiramente sentimos é vergonha de termos sidos descobertos. Sabíamos que
aquilo não era bom, mas insistíamos em escondê-lo até o dia em que fomos
revelados. E a revelação dói porque não nos preparamos para ela, e sim, para
ocultá-la até o fim. Outro exemplo disso é quando alguém está se envolvendo com
alguma pessoa que não vale a pena. Todos instruem-na a se distanciar; no
entanto, ela insiste. Não é só porque a pessoa "se faz de cega" que
não se afasta enquanto for revelada, descoberta toda a verdade, e
sim porque esta pessoa insiste em enxergar o que quer ver, e não o que é.
Estes dois exemplos mostram o quão orgulhosos e sentimentalistas somos.
O intuito deste texto é dizer que o
que as pessoas pensam sobre nós também é importante, principalmente se
aspiramos a santidade. É verdade que nem tudo o que pensam o é. Já ouvi pessoas
dizendo que sou uma feminista disfarçada, quando luto ardentemente contra este
mal. É preciso "peneirar" tudo o que pensam e falam sobre nós. Não
podemos seguir nossa vida apenas sobre o que pensam ou dizem sobre nós. Até
porquê muitas pessoas dizem e pensam embasadas em seu egoísmo, enxergam em nós
a vida que desejariam ter, a personalidade que queriam ser, e movidas pela
inveja, cravejam palavras vãs. Contudo, muitas outras coisas que se falam e
pensam sobre nós refletem aquilo que achamos que encobrimos, quando na verdade
estão mais expostos que mulher pelada em revista pornográfica.
Façamos o exercício de extinguir o
egoísmo, a vaidade e o orgulho que há em nós e nos esforcemos por exercitar o
dom da humildade. Antes de se autodefender de ataques e palavras torpes,
humilhe-se e reflita sobre o que as pessoas dizem ou pensam sobre você. Analise
se o que elas dizem não tem lá um fundo de verdade. Questione se você é o único
que se esforça em esconder o que não é assim tão necessário. E lembre-se que há
muitas pessoas que se espelham em nós. Se não vigiarmos nossa conduta, poderemos
perder muitas almas. E Deus nos pedirá conta de cada uma delas.
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