Por Cláudio Cássio e Igson Mendes
A concepção de
que a alma é imortal, foi aplicado primeiramente pelo filósofo
Platão. No
platonismo a alma é um princípio puramente espiritual e distinto do corpo. Já
outro reconhecido filósofo Aristóteles, afirma em seu pensamento que a alma está
unida ao corpo, porém a espiritualidade e imortalidade são menos visíveis. Todavia,
tais visões foram revistas e cristianizadas pela filosofia cristã, se tornando
teocêntrica.
Platão e Aristóteles. |
A bíblia não
pretende fazer ciência sobre o homem nem sobre Deus, ela nos mostra aspectos
relevantes para uma concepção de homem. Seu enfoque é religioso. Enquanto os
filósofos definem o homem como "animal racional”, a bíblia o define como “imagem
de Deus". Na narrativa sacerdotal do gênesis, quando descreve que viemos
do barro nos mostra nosso vínculo terrestre, que animado pelo sopro divino, é
um "vivente" vinculado a Deus.
Essas questões
são antigas e surgem porque o homem é o único vivente que indaga sobre sua
própria natureza, que se torna problema para si mesmo. Somente nós somos
conscientes de si mesmos. Somente nós podemos refletir sobre as ideias e ações.
Nós entendemos
que nossa fé está vinculada a uma conversão radical, isto implica também a
quebra de paradigmas pré-concebidos por "falsa cultura", mudança de
pensamentos e atitudes, é a metanóia.
Somos livres
para debater, mas jamais forçar ou impor o que pensamos. Um homem só jamais
será maior que o todo.
Etimologicamente,
o termo “alma” é usado para traduzir o hebr. Nefesh. A tradução é infeliz; alma, na linguagem comum, reflete o
complexo de ideias que à filosofia grega passada através do escolasticismo
medieval. No AT, o conceito grego de alma (psyché) basicamente é o “eu pessoa”
(Sb 3,1; 8,19s). Já no NT, a psyché é associada á vida. (Mt 2,20; At 4,32; Rm
11,3; Fl 2,30; Ap 12,11;20,4;27.10.22). Categoricamente, a Igreja afirma que a
esperança, certeza da salvação, é a âncora da psyché (Hb 6,19). Concretamente, a novidade da fé do NT não deriva de uma nova
ideia de nefesh-psyché, mas da
Revelação Divina ao longo da história da Salvação em Cristo e do significado da
vida.
Nos estudos que fizemos,
percebemos que a doutrina agostiniana da imagem de Deus
é uma das mais
completas e coerentes de toda a Patrística. Agostinho ordena e sistematiza os
textos bíblicos sobre o tema desenvolvendo toda uma antropologia ao mesmo tempo
metafísica e espiritual. Segundo ele, a imagem encontra-se no interior da alma,
no que há de permanente e imortal, ou seja, nas três potencias: memória (mens),
inteligência (notitia) e vontade (amor), que formam por assim dizer, a sua
textura natural. O que faz que a alma seja imagem de Deus é o fato de ela ser
capaz de Deus e poder participar de Deus.
Imagem de Deus em: a criação. |
Já Tomás de
Aquino vê a semelhança do homem com Deus fundamentado na unidade física e
espiritual. Tomás acolhe o pensamento de Aristóteles, que diz que o homem é
homem, por sua natureza, em potência, e que somente por seus atos livres se
transforma em homem, em ato.
Compreender que
os dois elementos que se distinguem no ser humano, “corpo e alma” não é
separa-los, pois ambos constituem a unidade radical da pessoa, e quando se
“separam” ocorre à morte.
Na sociedade
moderna temos os pensamentos do materialismo e idealismo que afirmam a
homogeneidade radical do ser, reduzindo tudo á matéria ou ao espírito. Eliminam
a transcendência e imortalidade da alma.
Através dos
estudos das causas primárias (metafísica), afirma-se a autotranscendência
do
homem, quanto aos elementos: mente alma, espírito. Mas, dentro da temática que
abordamos aqui para não fugirmos da centralidade do conteúdo, entendemos então,
como autotranscendência a afirmação de que a matéria torna-se corpo humano
apenas no instante em que começa a existir a alma: graças ao seu ato de ser,
adquire consistência e autonomia também corpo.
“Por vezes ocorre que
a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso
"ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado
irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A Igreja ensina que esta
distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa
que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que
sua alma é capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CIC § 367).
A verdade,
amigos, é que só tomamos conhecimento do fundamento espiritual do ser humano,
em questão, quando dirigimos nossa atenção não para aquilo que conhecemos, mas
para o conhecimento como tal.
O dualismo
corpo-alma na tradição filosófico-religiosa é a tentativa de esclarecer a
ambivalência do homem a partir do conceito de união de diferentes substâncias.
Contra toda a forma de dualismo, devemos salientar que o homem ou a pessoa
singular é a única substância que tem propriedades psíquicas e físicas, ou
seja, não se reduz ao corpo nem à alma. A alma humana está em um corpo, e o
corpo humano é animado. Como humanos somos, em corpo, seres encarnados. O corpo
é a nossa maneira se ser no mundo. Através do corpo estamos em comunhão com
todo o universo material. Sem corpo não há mundo nem consciência.
A alma é a forma
do corpo, permanece um só com ele, e essa forma é o espírito de um homem, um
espírito individual.
A alma humana
une a finitude do homem, enquanto começou no tempo, com a infinitude de Deus,
enquanto é imortal.
“A Igreja ensina que cada alma espiritual é
diretamente criada por Deus - não é "produzida" pelos pais - e é
imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá
novamente ao corpo na ressurreição final.” (CIC § 366)
O homem é "corpore
et anima unus" (uno de corpo e alma). A doutrina da fé afirma que a
alma espiritual e imortal é criada diretamente por Deus. (CIC § 382)
Resumindo também
a questão do homem "imagem de Deus", lemos que O homem é parecido com
Deus (Gn 5,1), como o filho com seu pai (Gn 5,3), porque recebeu do seu Criador
algo divino (Gn 2,7). Sendo imagem de Deus, ele representa Deus entre as demais
criaturas, mas não é Deus. Por isso, a vida do homem é inviolável. (Gn 9,1).
A semelhança de
Deus da pessoa é antes de ser um conceito antropológico, um conceito teológico.
Tal semelhança manifesta-se na diferença sexual e na comunhão das pessoas.
Desde a criação, ser pessoal consiste na diferença sexual e na relação mútua.
Deus aparece para a humanidade em sua imagem feminino-masculina. Diante disto,
o lógico é compreender que a profunda e verdadeira realização do ser se dá
somente na convivência entre homem e mulher.
Enfim, Cristo é
a imagem perfeita de Deus. Nós nos tornamos imagem de Cristo pelo Batismo e
mais próximos dessa perfeição.
REFERÊNCIAS:
1. ARDUNI, Juvenal. Antropologia: ousar para
reinventar a humanidade. 5.edição. Paulus.2009.
2. Zilles, Urbano. A crítica da religião. Porto
Alegre. EST, 2009.
3. COMBLIN, José. Antropologia cristã. Petrópolis.
Vozes, 1985.
4. RAHNER, Karl. Teologia e Antropologia. Paulinas, 1976.
5. Zilles, Urbano. Antropologia teológica. Paulus, 2011.
6. Mondin, Battista.1926. O homem, quem é ele? :
elementos de antropologia filosófica. Ed. Paulus.1980
7. McKenzie, John L. Dicionário Bíblico. Ed.
Paulus,1983.
8. Fernandez, Aurélio. Moral Fundamental – Iniciação
Teológica. Ed. DIEL, 2004.
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