Por Dom Henrique Soares
Tomemos a leitura da Missa de hoje:
1O Senhor falou a
Moisés, dizendo:
2“Fala a toda a
Comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque Eu, o Senhor
vosso Deus, sou Santo.
11Não furteis, não
digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros.
12Não jureis falso por
Meu Nome, profanando o Nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor.
13Não explores o teu
próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado
até o dia seguinte.
14Não amaldiçoes o
surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o
Senhor.
15Não cometas injustiças
no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso.
Julga teu próximo conforme a justiça.
16Não sejas um
maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu
próximo. Eu sou o Senhor.
17Não tenhas no coração
ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de
pecado por causa dele.
18Não procures vingança,
nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Eu sou o Senhor” (Lv 19,1-2.11-18).
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Observe, caro Irmão, a insistência deste texto
sobre o monoteísmo radical da fé de Israel: “Eu sou o Senhor!” Quatro vezes
aparece esta solene exclamação neste breve trecho!
“Eu sou o Senhor!” exprime a grandeza do Senhor
Deus, expressa Seu absoluto senhorio sobre Israel como um todo e sobre a vida
de cada membro do povo da aliança. “Eu sou o Senhor!” exprime a unicidade
absoluta do Deus vivo e santo: só Ele é Deus, para além Dele não há Deus, nada
é Deus além Dele!
Assim, neste primeiro momento, convido-o a escutar
com o coração a solene declaração do Eterno: “Eu sou o Senhor!”
Você vive, realmente, sua vida centrado no Senhor,
Nele alicerçado? Ele é realmente o seu Senhor? Para saber se Ele é o seu Deus,
observe se não outros senhores, que dominam sua existência, suas ações, seu
modo de viver...
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Agora, num segundo momento, escute ainda o Senhor:
“Eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo!”
Santo, kadosh, isto é, o que é único, além de tudo,
o que não tem comparação, o que é totalmente diferente de tudo quanto se possa
imaginar, o Imenso, o Infinito, o Incomensurável, o Incompreensível, o que é o
Outro e, por isso mesmo, absolutamente livre, absolutamente reto, absolutamente
fiel a Si próprio: “Eu sou o que sou!”
Pare ainda diante do Senhor! Deixe-se tocar pelo
sentimento da Sua presença, da Sua soberania, da Sua santidade única,
incomparável, incompreensível!
Basta repetir calmamente diante Dele: Tu és o
Santo, Tu és o Senhor, Tu és o Único! Tu és o meu Deus!”
Repita calmamente, deixando que o Espírito do
Senhor, que ora nos cristãos, encha da Sua doce e forte presença essas
palavras...
Reze o Salmo 98/99: aí três vezes se exclama:
“Santo é o Senhor!”
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Demos um passo a mais: o Deus que é Único,
absolutamente Único, o Deus que é Santo, totalmente Santo, ordena-nos: “Sede
santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo!”
Como é possível isto? Nunca poderemos ser santos na
medida do Eterno; mas, podemos participar da santidade Dele: “Sede santos na
Minha santidade! Sede santos, participando da Minha santidade, acolhendo na
vossa vida a santidade que brota de Mim e que Eu derramo em vós!” – eis o
sentido deste preceito, desta exortação, deste desafio!
Nós, cristãos, sabemos que a Santidade pessoal de
Deus é o Seu Espírito, chamado “Santo” por antonomásia: Ele é o Santificador, o
Santificante! É o Espírito que o “Pai Santo” derramou sobre o Filho Jesus na
Sua ressurreição, e Jesus no-Lo dá nos sacramentos para nos santificar da
santidade de Deus!
Somente no Espírito podemos ser santificados, pois
é o Espírito Quem nos faz agir com o sentimentos de Cristo e as atitudes de
Cristo. É no Espírito que podemos cumprir o preceito do Senhor Deus de Israel:
“Sede santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo!”
Suplique, portanto:
“Senhor Jesus, derrama novamente no meu coração, no
coração da minha vida, o Teu Espírito santificador!
Onde está o Espírito que recebeste do Pai e sobre
nós derramaste, aí está a Vida do Pai, a Santidade do Pai, a Energia do Pai, a
Glória do Pai! Tudo isto recebeste do Pai na Tua santíssima humanidade quando
da ressurreição; recebeste e derramaste e derramas sobre nós nos santos
sacramentos que instituíste!
Unge-nos, ó Cristo-Ungido,
Unge-nos com a unção que é o Teu Santo Espírito
santificador,
para que nós sejamos santificados e vivamos
santamente,
ó Tu que vives e reinas para sempre
e de Eternidade em Eternidade és Deus com o Pai e o
Santo Espírito. Amém.
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Agora, um último passo.
Essa comovente e absoluta unicidade do Senhor e Sua
santidade, nós a acolhemos e proclamamos quando, com santo temor e tremor,
honramos a imagem sagrada do Deus Santo!
Que imagem é esta? O próximo, sobretudo o mais
necessitado!
O próximo é Adão – bicho frágil, feito da terra, da
adamah!
Mas, ele, tão frágil, traz em si o sopro do Eterno:
ele é imagem do Deus Único e Santo!
Crês que o Senhor é Único, que Ele é o teu Senhor?
Não furtes, não mintas ao próximo, não enganes, não
roubes o teu irmão!
Confessas de todo o coração que o Senhor é Santo?
Então, mostra isto na tua vida, com teus atos: não
pratiques extorsão contra o teu próximo, não amaldiçoes o surdo, que não ouve e
não pode te responder; não ponhas tropeços ao cego, que não enxerga e não pode
se livrar; não sejas injusto com o teu próximo, não o calunies, não o difames,
não alimente nunca e sob pretexto algum ódio e malquerer contra o teu próximo!
Que coisa impressionante: o Deus verdadeiro somente
pode ser honrado verdadeiramente quando honramos a Sua imagem: o homem criado
por Ele! Atenção: não somente os irmãos em Cristo, mas todo e cada ser humano,
pelo simples fato de ser humano, imagem de Deus!
Pense nisto e faça um sério exame de consciência
sobre o modo como você tem tratado as pessoas... Você as honra como imagem do
Deus único e santo ou, ao invés, procura as utilizar como objetos, usá-las em
seu proveito ou descartá-las e desprezá-las porque não lhe são úteis?
São coisas a serem pensadas com muita seriedade!
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