terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A importância do diálogo.

Por Rodrigo Pedroso. 

       
Aristóteles e seu livro A Política:
o homem é o mais social de todos os animais.
O incomparável Aristóteles, no primeiro capítulo de sua Política, ressalta que o homem é o mais social de todos os animais, pois apenas ele, entre todas as espécies, possui o dom da palavra. Com efeito, é comum aos outros animais o uso da voz, pela qual exprimem a dor e o prazer; porém, unicamente o homem é capaz de fazer uso da linguagem articulada, do lógos, pela qual pode exprimir não apenas as sensações de dor e prazer, como também discernir o conveniente e o nocivo, o justo e o injusto, o bem e o mal.

           Esse registro nos permite compreender o próprio sentido pedagógico e civilizatório do direito e das instituições jurídicas: o direito serve para ensinar os homens a resolver seus problemas não pela agressão e pela violência, mas pelo uso da palavra. Em lugar de recorrer ao desforço físico, que nem sempre dá a vitória a quem tem razão e nunca dá razão ao mais fraco, as partes se colocam uma em frente da outra e, por intermédio da palavra, põem seus argumentos e sua causa diante de um juiz imparcial. O direito faz com que as pessoas aprendam a resolver suas questões, não pela agressão física ou verbal, mas conversando. O direito espiritualiza o homem porque submete a força material à força do lógos. O direito prepara o homem para ser governado pela razão.

        Destarte, aquilo que chamamos conversa ou diálogo representa um patamar mais elevado e mais humano de convivência. É fundamental para a eficácia do diálogo a existência de uma verdade objetiva. Se não existe verdade objetiva, não vale a pena dialogar, pois, numa conversa em que ambas as partes não confiam ser possível encontrar a verdade, o diálogo se reduz a um jogo de enganação recíproca. Se a verdade é rejeitada a priori, não se poderá chegar senão à falsidade. E, se o diálogo torna-se inócuo, recai o homem na tentação de atingir seus objetivos pela agressão. Por isso o relativismo não é uma inspiração de liberdade, mas uma porta aberta para a violência e o caos, na medida em que inviabiliza o diálogo.

         
Igreja dialogante x Igreja magisterial. Não há conflito. 
No campo eclesiástico há os que gostam de opor uma Igreja dialogante a uma Igreja magisterial, como se uma coisa impedisse outra. Isso é coisa de gente de fraca inteligência ou de pouco conhecimento, pois sabe-se que Platão, o mestre de Aristóteles, ensinava dialogando, o que prova que o diálogo pode conferir ao magistério especial eficácia. O mesmo Aristóteles conservou tal método em sua escola, de modo que seus discípulos ficaram conhecidos como os “peripatéticos”, pois eram ensinados dialogando com o mestre em agradáveis passeios. O próprio Cristo usou o diálogo em seu ensino, interrogando e permitindo ser interrogado. «E todos os que ouviam, estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas» (Lc 2,47).

        Como não é possível dissociar a Igreja dialogante da Igreja magisterial, é preciso destacar que a Igreja dialoga com o mundo como um mestre dialoga com seus discípulos. Ela não pode, nem convém, desvestir-se de sua condição magisterial, que pertence à sua própria essência, para dialogar. Aliás, seria um erro entender que precisamos abdicar de nossa identidade para encetar o diálogo. Se assim o fizermos, subtraímos de nosso interlocutor as riquezas que só nós lhe poderíamos oferecer e que ele só de nós poderia esperar.


         O diálogo na Igreja é uma das formas da evangelização e nesse contexto é que deve ser entendido. Nesse sentido, a ambição maior do diálogo é a de transformar. Jesus transformava as pessoas com as quais dialogava, como no episódio da Samaritana (cf. Jo 4,7-30). Se o nosso diálogo já não transforma ninguém, é hora de parar para pensar se estamos mesmo dialogando ou apenas jogando conversa fora.

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