Por Rodrigo Pedroso.
Aristóteles e seu livro A Política: o homem é o mais social de todos os animais. |
Esse
registro nos permite compreender o próprio sentido pedagógico e civilizatório
do direito e das instituições jurídicas: o direito serve para ensinar os homens
a resolver seus problemas não pela agressão e pela violência, mas pelo uso da
palavra. Em lugar de recorrer ao desforço físico, que nem sempre dá a vitória a
quem tem razão e nunca dá razão ao mais fraco, as partes se colocam uma em
frente da outra e, por intermédio da palavra, põem seus argumentos e sua causa
diante de um juiz imparcial. O direito faz com que as pessoas aprendam a
resolver suas questões, não pela agressão física ou verbal, mas conversando. O
direito espiritualiza o homem porque submete a força material à força do lógos. O direito prepara o homem para
ser governado pela razão.
Destarte,
aquilo que chamamos conversa ou diálogo representa um patamar mais elevado e
mais humano de convivência. É fundamental para a eficácia do diálogo a
existência de uma verdade objetiva. Se não existe verdade objetiva, não vale a
pena dialogar, pois, numa conversa em que ambas as partes não confiam ser
possível encontrar a verdade, o diálogo se reduz a um jogo de enganação
recíproca. Se a verdade é rejeitada a
priori, não se poderá chegar senão à falsidade. E, se o diálogo torna-se
inócuo, recai o homem na tentação de atingir seus objetivos pela agressão. Por
isso o relativismo não é uma inspiração de liberdade, mas uma porta aberta para
a violência e o caos, na medida em que inviabiliza o diálogo.
Igreja dialogante x Igreja magisterial. Não há conflito. |
Como
não é possível dissociar a Igreja dialogante da Igreja magisterial, é preciso
destacar que a Igreja dialoga com o mundo como um mestre dialoga com seus
discípulos. Ela não pode, nem convém, desvestir-se de sua condição magisterial,
que pertence à sua própria essência, para dialogar. Aliás, seria um erro
entender que precisamos abdicar de nossa identidade para encetar o diálogo. Se
assim o fizermos, subtraímos de nosso interlocutor as riquezas que só nós lhe
poderíamos oferecer e que ele só de nós poderia esperar.
O
diálogo na Igreja é uma das formas da evangelização e nesse contexto é que deve
ser entendido. Nesse sentido, a ambição maior do diálogo é a de transformar.
Jesus transformava as pessoas com as quais dialogava, como no episódio da
Samaritana (cf. Jo 4,7-30). Se o nosso diálogo já não transforma ninguém, é
hora de parar para pensar se estamos mesmo dialogando ou apenas jogando
conversa fora.
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